Kiss discografia 24a parte – Álbum: Hot In The Shade

 
O último capítulo da década de 80 mostra o KISS confuso em busca do direcionamento mais apropriado para a seqüência de sua carreira:  

A capa do nosso vinil brasileiro.

 Álbum: HOT IN THE SHADE  

  • KISS: Paul Stanley, Gene Simmons, Eric Carr e Bruce Kulick
  • Lançamento: 17/10/1989
  • Produtores : Paul Stanley ou Gene Simmons
  • Primeiro Single: “Hide Your Heart” – Outubro de 1989
  • Segundo Single: “Forever” — Janeiro de 1990
  • Terceiro Single: “Rise To It” – Abril de 1990
  • RIAA Gold Certification em Dezembro de 1989

 Faixas:

1- Rise To It  – 4:08 9-  Cadillac Dreams – 3:44
2- Betrayed  – 3:38 10- King Of Hearts – 4:26
3- Hide Your Heart – 4:25 11- The Street Giveth And The Street Taketh Away- 3:34
4- Prisoner of Love  – 3:52 12- You Love Me to Hate You – 4:00
5- Read My Body – 3:48 13- Somewhere Between Heaven And Hell – 3:52
6- Love’s A Slap In The Face – 4:04 14- Little Caesar– 3:08
7- Forever– 3:52 15- Boomerang  – 3:30
8- Silver Spoon– 4:38  
Hot in the Shade Cd Capa e Contracapa

O Cd importado - uma edição simples

Depois da coletânea SMASHES, TRASHES & HITS e da primeira turnê solo de Paul Stanley, o grupo encontra-se para iniciar as gravações do novo álbum, sem ao certo saber que rumo tomar.  A estratégia do álbum anterior CRAZY NIGHTS, embora mantivesse a banda no mesmo patamar que os demais álbuns de cara limpa, não atingiu o desejado, que era incrementar suas vendas ao nível das bandas do gênero da época. O KISS troca de empresários durante a turnê em 1988, que apenas obteve maior repercussão na Europa. A coletânea SMASHES, TRASHES & HITS obteve maior êxito, mais pelo resgate dos sucessos antigos, que notoriamente trouxeram mais repercussão na citada turnê acima em relação aos novos singles. Desta forma, Gene e Paul começam a produzir suas demos de 24 canais, assim como Eric Carr, ajudado por vezes por Bruce Kulick.  Paul Stanley se mostra bastante satisfeito com a repercussão de Hide your Heart, que fez parte de sua turnê solo e havia sido descartada em CRAZY NIGHTS, e resolve apostar suas fichas nesta música como novo single. Ele havia gravado junto a um grupo de músicos auto-intitulados The Dudes of Wrath a música-título do filme Shocker, que compôs com Desmond Child (que também dividiu os vocais na gravação), Jean Beauvoir (co-autor de Thrills in The Night do álbum ANIMALIZE) e Guy Man-Dude. Esta banda tinha além de Stanley e Child, Vivian Campbell nas guitarras (junto com Guy Man-Dude), Tommy Lee na bateria e Rudy Sarzo no baixo, além de backing-vocals de Michael Anthony e Kane Roberts. De volta ao novo álbum do KISS, algo era claro: Ron Nevison, produtor de CRAZY NIGHTS, era carta fora do baralho.  Gene, mesmo ainda às voltas com sua gravadora e atuando, contribui muito mais neste novo álbum (sendo autor ou co-autor de oito das quinze músicas), trazendo novamente o KISS como sua atividade principal. Num dilema entre escolher alguém de fora para produzir o trabalho ou não, a banda resolve, até por uma questão de custo, novamente se produzir, a partir das demos que haviam sido feitas, buscando aperfeiçoá-las para reuni-las em um álbum. Não se pode dizer que o trabalho é produzido por Stanley e Simmons, pois na verdade cada um se envolveu basicamente com a produção de suas próprias canções. Gene conta novamente com Tommy Thayer na co-autoria de Betrayed e The Street Giveth and the Street Taketh Away, resgatando Boomerang das sessões de CRAZY NIGHTS e Paul novamente é ajudado por Desmond Child, na citada Hide Your Heart e também em You Love Me To Hate You. Há outras participações, em especial de Vini Poncia (produtor de DYNASTY e UNMASKED) na co-autoria de diversas músicas, mas desta vez o trabalho de Poncia se restringe às composições. Uma das canções de Eric Carr é aprovada, tendo o baterista finalmente a chance de cantar uma composição própria após nove anos de KISS. 

Little Ceasar na verdade só contem alguns backings vocals de Paul Stanley e Gene Simmons, pois Bruce Kulick gravou todas as guitarras e Eric Carr se encarregou do baixo e vocal principal, além da bateria.

Hot in the Shade Cd Interno e Cd

O Tema Leon The Sphinx também ilustra o silk do cd.

A banda prioriza o formato de CD, uma vez que o formato de vinil estava com os dias contados e contando com maior espaço disponível neste formato e da tendência na época de lançar um álbum com maior extensão, lança o maior número de músicas inéditas de um trabalho do KISS em toda a sua carreira. Como conseqüência, este é o segundo maior álbum em duração do grupo, perdendo apenas para CARNIVAL OF SOULS. O trabalho é uma mistura de estilos de Simmons e Stanley, em busca do direcionamento ideal, mas definitivamente deixando o excesso de teclados de lado. Ambos não ficaram satisfeitos com o resultado e Gene atribui nota 2 numa escala de 5 ao mesmo, não sendo conhecida a avaliação de Paul. A capa é idéia de Eric Carr e terá papel decisivo no conceito da turnê subseqüente.

Hot in the Shade Vinil ContraCapa Web

O vinil brasileiro com as 15 músicas inéditas - algo inusitado para este formato.

HOT IN THE SHADE, nome sugerido por Stanley, é lançado em outubro de 1989, junto ao lançamento em videoclip e single de Hide your heart, como havia sido planejado, mas este só atinge o 66º lugar nas paradas. O álbum atinge o 29º lugar nos charts, algo semelhante aos trabalhos anteriores, e consegue o certificado de disco de ouro em dezembro, mas é o primeiro álbum desde LICK IT UP a não atingir status de platina.

A banda resolve filmar no fim do ano os videoclips de Forever e Rise To It, optando por lançar o primeiro como single no início de 1990. Até então a receptividade morna de HOT IN THE SHADE era um empecilho para o começo da turnê, que desta vez apenas visitaria cidades americanas e algumas cidades do Canadá.  Forever (parceria de Stanley com Michael Bolton) atinge um excelente 8º lugar nas paradas, o melhor desempenho desde Beth (do álbum DESTROYER, de 1976). O videoclip, calcado em tons pastéis, é um dos mais veiculados do ano na MTV, e ambos os desempenhos trazem o fôlego que faltava para o início da turnê.

Os shows começam em abril, junto ao lançamento em videoclip e single de Rise To It. Este videoclip tem em seu prólogo uma cena que simula um diálogo no backstage de uma apresentação do KISS em 1975, tendo tanto Simmons quanto Stanley utilizando máscaras novamente depois de seis anos, questionando um ao outro se a banda faria sucesso desmascarada, mas apesar do estilo retrô, as roupas utilizadas aqui não respeitem o padrão das utilizadas em 1975.

Os três videoclips estão disponíveis no homevideo X-treme Close Up, de 1992.  A turnê traz um KISS consistente como nunca, trazendo o melhor show em anos, mesclando os antigos sucessos com os novos singles e alguns hits da fase sem máscara.Abaixo um vídeo raro, com momentos de passagem de som da banda durante a tour :

A banda tenta tocar Betrayed e Little Caesar no início uma única vez, mas ambas são descartadas. O show traz um número de canções normalmente bem maiores que as turnês anteriores, durando cerca de 2 horas com mais de 20 músicas, resgatando diversos clássicos da década de 70, como o opening-act de I Stole Your Love, não tocada desde 1978. Os trajes estão mais sóbrios, há o uso de instrumentos mais tradicionais, como a Gibson Les Paul usada por Paul Stanley e definitivamente deixando os exageros da recente fase poser da banda. O palco traz uma grande esfinge apelidada de Leon – The Sphinx (de onde a banda surge no início do show) numa relação direta com o conceito da capa de HOT IN THE SHADE e divide as atenções cênicas com o símbolo tradicional da banda, o logotipo luminoso, que é apenas visto no bis. Nesta turnê, os lasers que eram outro desejo da banda desde a turnê de DYNASTY, são finalmente incorporados e trazem um grande espetáculo visual ao show. Não há também a abertura tradicional com a famosa frase “You wanted the Best…” Também não há solos individuais nos shows, pois a banda prioriza as canções, exceto pelo excelente solo de bateria de Eric, que mesmo não sendo o mais técnico baterista que o KISS teve, sempre soube se destacar ao vivo, desta vez aliando a incursão de sons eletrônicos que já vinham sendo usados desde a turnê de ASYLUM, mas sendo incrementados ano a ano. Os sons são usados de forma bastante criativa por Carr, trazendo talvez o melhor solo de baterista de Eric na banda.

Hot in the Shade Vinil Encarte Web

No encarte do vinil brasileiro, as letras do álbum - não há fotos da banda.

No total, são 123 shows (outros 5 foram cancelados)  durante mais de 6 meses, e está disponível no KISSOLOGY Vol 2 um show de 14/10/90 em Detroit praticamente na íntegra, embora o solo de bateria esteja um pouco reduzido na edição do DVD. 

A turnê termina em novembro, em Nova York, no Madison Square Garden, sendo este o último show de Eric Carr no KISS, uma vez que o baterista viria a falecer cerca de um ano depois, mas isto é assunto para o próximo post, com o próximo álbum.

Hot in the Shade Vinil Web

O vinil brasileiro - nosso penúltimo neste formato.

N.R: Em nossa opinião, HOT IN THE SHADE é um trabalho muito irregular, com a banda atirando para várias direções e não acertando na maioria delas.  O álbum peca, principalmente pelo excesso de músicas, pois um trabalho com menos e mais selecionadas canções teria uma qualidade e uniformidade muito melhor. A falta de foco faz HOT IN THE SHADE ter vários momentos dispensáveis, como a inclusão de metais na faixa Cadillac Dreams, um backing vocal gospel feminino em Silver Spoon e uma tentativa mal sucedida de soar como o Def Leppard (em clara referência a Pour Some Sugar On Me) nos toques raps na dispensável Read My Body. O arranjo de Love Is A Slap In Your Face chega ao absurdo de trazer uma bateria eletrônica, o que deixou Eric Carr bastante contrariado. Aliás, independente de Little Caesar talvez ser um dos destaques do álbum, Eric merecia uma despedida de maior qualidade. Mas há outros momentos bons: Podemos citar Betrayed e  Somewhere Between Heaven and Hell como trabalhos dignos de menção de Gene Simmons.  Os pontos fortes de Paul Stanley são justamente os singles, em especial Forever, balada acústica onde a banda acerta a mão, com um perfeito solo de violão de Kulick (que, aliás, também é responsável pelo baixo da música) e uma grande interpretação vocal. O clip de Forever também é um destaque, mostrando a banda em um galpão, fazendo o que melhor sabe – tocando a música. Se o álbum é irregular, não se pode dizer o mesmo da turnê que o sucedeu: esta formação nunca esteve em melhor forma, mostrando uma consistência que faltou em estúdio. Era notória a busca da banda pela retomada das raízes do som do Kiss, fato este demonstrado claramente no set list ao vivo, recheado de músicas clássicas, como Deuce, Black Diamond, Strutter, Cold Gin, Rock and Roll All Nite, Shout It Out Loud, Detroit Rock City, God Of Thunder (com um extenso solo de bateria), I Want You, Calling Dr. Love, I Stole Your Love, Love Gun e outras.  Do período mais recente, ainda caberiam Tears Are Falling, Crazy Crazy Nights e Hide Your Heart, Rise To It, além de Forever. Um show extenso e compensador, mostrando uma banda com muita disposição, que continuava com sede na conquista dos fãs ao vivo.  Depois do final desta turnê, porém, a banda viria a passar pelo pior momento de sua carreira, com a morte de Eric Carr, mas voltaria a se superar artisticamente em ótima forma com um dos seus melhores trabalhos. Semana que vem, os detalhes deste momento de tragédia e superação.

Alexandre Bside e Flávio Remote. 



Categorias:Curiosidades, Def Leppard, Discografias, Kiss, Resenhas

17 respostas

  1. É, o velho e Bom Eric se foi, espero o próximo post, pois com certeza vou saber mais detalhes do ultimo ano de vida desse cara que me inspirou a tocar bateria. precisamente foi dito que ele não era tão técnico com o outro Eric, o Singer, mas a raça e a pegada pesada fazem falta aos bateras de hoje, sinceramente, técnica é muito bom, mas bateria é Pau na Pele, fazem falta esses deuses que se foram e nos mostraram que técnica se aprende na escola, pegada já se nasce com ela, como Jonh Bohan e Eric Carr.
    Velhos, valeu por mais esse post, mas dessa época só me lembro de Forever, que aliás, é uma musica que gosto muito, justamente por ser comercial que a conheci, pois o disco também acho que nunca o ouvi.

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  2. É Brunão – sabemos o quanto o Eric Carr o influenciou – principalmente pelo CREATURES, que nos inspirou a todos. Estamos montando o próximo post neste momento e saiba que não está sendo fácil escrever sobre esta tragédia.
    Sobre o HOT IN THE SHADE, Forever é disparada a melhor – tem mais algumas legais, mas tem muita coisa dispensável também. Na realidade, como vc mesmo disse – tava faltando a tal pegada para a banda…
    Bom saber que você está assíduo no acompanhamento dos posts, continue contribuindo, pois vc é fã de respeito da banda.
    Abraços
    Flávio

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  3. Gosto muito do Hot in The Shade. Creio que neste album o único pecado da banda tenha sido o excesso de músicas. Realmente tem algumas que não dá pra digerir: Read My Body é o melhor exemplo como vcs citaram. Enfim, este CD é muito mais do que Forever (como ele ficou conhecido), e embora, tenha uma bateria eletrônica eu adoro Love Is A Slap In Your Face. Se esse disco tivesse umas 10 músicas seria ideal.

    Abraços.

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  4. Galeria de fotos da década de 1980 do fotógrafo David Plastik: http://erockphotos.photoshelter.com/gallery-image/G0000sCroX5NdHbY/I0000oiNPsKsR1lM/51#.TxmnFhGEKcU.twitter

    Obs.: o site é bem legal e traz, além do Kiss, diversas galerias de outros artistas e bandas nesta década de ouro do heavy metal: http://www.erockphotos.com/gallery-list

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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  5. Acho o Hot in the Shade um dos melhores discos do KISS, Eric Carr tocou muito neste album!!!
    Eh preciso ouvir cm atencao as “ghost notes” q o lendario batera toca…
    P qm manja de batera eh um baita disco do grande CARR!

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  6. Só “Hide Your Heart” já vale a audição. De todo o disco, claro.
    Em linhas gerais, uma despedida do pequeno grande Eric Carr.

    Um abraço e

    I Believe in Rock n’ Roll!

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  7. Gosto de Hide your heart e concordo que o álbum vale a aquisição, mesmo tão irregular. Obrigado pelos comentários.
    Abraços

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  8. só ouvi a versão remixada deste cd que está disponivel na net..

    achei um CD bom, melhor que muitos que eles lançaram na decada de 80..

    novamente gostei muito de sua resenha e lerei as seguintes assim q ouvir os CDs, em ordem cronologica..

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    • Obrigado Fernando pelo comentario elogioso, e a intenção de rever a discografia na ordem dos posts – coisa que fizemos tb na época que escrevemos, Sempre que puder participe, estaremos atentos aos comentários
      Abraços
      Remote

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  9. Hide your heart é mais uma das músicas resgatadas na tour do KISS KRUISE 3. Eles a tocaram na segunda noite , apenas, e não haviam tocado a canção de forma elétrica desde a tour de 1990. A faixa, no entanto, chegou até a ser figurinha fácil nos concertos acústicos , embora não esteja no unplugged mtv da banda.

    Nesta versão, o vocal de Stanley mostra claros sinais de dificuldade. Antes de tudo, é preciso citar que o auge da voz do co-líder e guitarrista da banda foi justamente nos anos 80, ali sobrava voz. Trago abaixo três versões: A original, com a afinação padrão , onde o tom da música é Bm ( SI menor) . A outra versão, live, onde a voz realmente ” sobra”, está na afinação em meio tom abaixo do tradicional e era esse o tom que a banda normalmente fazia seus shows. Facilita para o vocal, dá mais peso para a música, aqui Hide your heart, ao vivo na última tour com Eric Carr, está em Bbm ( Si bemol menor). Nos atuais shows, a banda desceu mais meio tom, e hide your heart no cruzeiro está em Am ( Lá menor) . Ainda assim, com afinação mais grave, Stanley tem muita dificuldade em atingir as notas mais altas e ” joga ” muita coisa para a galera.
    No entanto, até gostei da versão , fã acaba gostando mesmo, mas outro ponto que jogou contra são os solos de Thayer, que não demonstra a mesma desenvoltura quando o assunto não é clonar Ace Frehley, A versão live com Kulick é muito mais legal e com solos muito mais inspirados. Enfim, um tempo que não volta mais. Seguem abaixo as três versões , em ordem cronológica : Em estudio ( 1989), ao vivo ( 1990, quem quiser ver o show todo, está no post, e eu aconselho, é um dos grandes shows da banda, apesar do álbum ser irregular) e por último, a versão do KISS KRUISE.

    A minha versão favorita? A da tour em 90, fácil….

    Saudações

    Alexandre

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  10. Depois das discussões vim ler aqui de novo
    Muito bom

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  11. [ ] ‘ s,

    Eduardo.

    Curtir

  12. [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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