Discografia Scorpions – [CAPÍTULO 9]

 

Dúvidas pairam sobre o futuro da banda… Recordando:

Próximo do Natal de 1980, após um show na França, Klaus Meine subitamente perde sua voz quase que por completo, mal podendo falar. Levado a um especialista é constatada a presença de um pólipo e alguns nódulos que se formaram em suas cordas vocais.

Meine passa por duas longas cirurgias nas cordas e em seu período pós-cirúrgico é aconselhado pelo corpo médico que comece a considerar uma nova profissão.

Dali até o término de 1980 não havia mais shows marcados, apenas uma volta programada ao estúdio para o novo álbum, ainda sem nome. A imprensa alemã inunda a mídia anunciando precocemente a aposentadoria do ilustre vocalista dos SCORPIONS.

Preocupados com o futuro negro a qual a banda apresentava, a Mercury rapidamente cria uma compilação para venda exclusiva na Alemanha intitulada Rock Galaxy (Galáxia do Rock) combinando em um único álbum o segundo e o terceiro trabalho dos alemães, Fly to the Rainbow e In Trance, respectivamente.

Enquanto isso, Klaus Meine ainda na fase pós-operatória se limita a repousar e participar de alguns eventos de rock, apenas como espectador, obviamente. Sua auto-estima também se encontra severamente debilitada já que a imprensa já o havia ‘aposentado’ e ainda lhe causava muita dor local manter uma simples conversação.

Na maré contrária, o selo Mercury pressionava os outros integrantes para que o trabalho de estúdio e gravações do próximo álbum se iniciassem o mais breve possível. Dieter Dierks mais uma vez se mostrou peça chave nas negociações, evitando atritos entre os músicos e os executivos, ao mesmo tempo em que procurava atender a ambos.

Dias antes do Natal de 1980 Klaus começa uma viagem de repouso pelo interior da Alemanha e próximo ao fim do mesmo ano, Michael Schenker recebe a pior notícia de toda a sua carreira: uma carta manuscrita por Meine, colocando-se fora do caminho dos SCORPIONS para que estes escolhessem um novo vocalista.

O mundo ruía.

Piorando a situação, Dierks traz a todos o ultimato dos executivos no início de Fevereiro de 1981: primeiras gravações ou rescisão contratual. Assim como uma família em luto, os alemães do heavy metal voltam suas atenções para um novo trabalho, chamando Don Dokken para cubrir a gigantesca lacuna deixada por Klaus.

Nascido em Los Angeles, EUA, Don era apenas um vocalista expoente que estava trabalhando na Alemanha no exato momento em que os alemães de Hanover precisaram de ajuda.

Klaus retorna de suas férias indesejadas e se depara com inúmeras cartas de apoio, enviadas por fãs, amigos de longa data e mais longa distância além de uma correspondência especial, escrita por uma ex-namorada que vivia atualmente na Alemanha Oriental, onde lhe desejava melhoras e que nunca abandonasse seus sonhos. Um estalo surge à mente de Meine: ele poderia talvez ajudar nas turnês dos SCORPIONS!

Com esta injeção de ânimo, começa a procurar auxílio médico para que voltasse à condição inicial de conseguir manter uma conversação sem maiores complicações. Algumas consultas insatisfatórias até que surgem alguns pareceres adeptos a que inicie um treinamento para se acostumar a usar as cordas vocais e quem sabe evoluir ainda mais.

Enquanto isso, os SCORPIONS não podem parar. Eles gravam (com Don Dokken nos vocais) os primeiros demos das músicas que figurariam no novo álbum.

Treinos, exercícios exaustivos e a pura e famosa dedicação alemã trouxeram o virtuoso vocalista original dos SCORPIONS de volta à velha forma, inacreditavelmente – no parecer clínico e milagrosamente – no parecer dos fãs.

Em meados de Junho Klaus se junta novamente a seus companheiros de lineup, Don generosamente abre mão de qualquer participação no novo trabalho, e no estúdio permanecem até o término de 1981, para a gravação de…

{ Blackout – álbum & tour: 1982 }

Virando a mesa no cenário musical, a banda conseguiu aproveitar a esposição da mídia sensacionalista para mais uma vez, e agora ainda mais, ganhar visibilidade com seu trabalho, de forma no mínimo surpreendente. O Blackout (apagão) explode em vendas.

Klaus expõe a seus companheiros a satisfação pessoal que teria em tocar para os velhos e distantes amigos que o apoiaram de forma tão significativa. Todos concordam e somam motivos e razões, porém, são imediatamente ceifados desta grande realização por um famoso substantivo: Muro de Berlim.

Lineup:

Klaus Meine: Vocal                                                                                              Matthias Jabs: Guitarra, backing vocal                                                              Rudolph Schenker: Guitarra-base, backing vocal                                                      Francis Buchholz: Baixo, backing vocal                                                              Herman Rarebell: Bateria, percussão

Tracklist:

 

Faixa Título Compositor Duração
1 Blackout Kittelsen*, Meine, Rarebell 3:47
2 Can’t Live Without You Meine, Schenker 3:46
3 No One Like You Meine, Schenker 3:56
4 You Give Me All I Need Rarebell, Meine 3:38
5 Now! Meine, Nichols*, Pitchford* 2:33
6 Dynamite Meine, Rarebell, Schenker 4:12
7 Arizona Rarebell, Schenker 3:52
8 China White Meine, Schenker 6:56
9 When the Smoke is Going Down Meine, Schenker 3:49

*Kittelsen, Nichols e Pitchford: renomados compositores musicais, à época do álbum, sugeridos pela Mercury para auxiliarem os SCORPIONS nesta obra.

A capa deste trabalho não se apoiou em polemizar pela imagem mas sim realmente transmitir a energia do trabalho da banda tendo em vista todo o contexto histórico.

Resultou em uma grandiosa explosão de vendas, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos.

A faixa título (e o nome do álbum, é claro) trabalham justamente fazendo menção ao período negro em que os alemães se encontraram durante este hiato de novas publicações, com sérios problemas envolvendo um dos líderes da banda. Esta tarefa atinge seu objetivo de forma sutil, uma vez que o conjunto de músicas novas não transmite tão claramente esta filosofia.

Tour:

Cientes do impacto que teriam com a publicação do novo disco, os SCORPIONS fizeram alguns shows com casa cheia ainda na Alemanha antes de rumarem aos Estados Unidos, em 1982.

E lá fizeram bonito. Na segunda turnê na terra do Tio Sam, agora atuando como os principais dos eventos, os alemães escolheram ninguém menos que Iron Maiden para a abertura e suporte de suas apresentações. A Europa tomava de assalto o cenário heavy rock americano, ao menos nestas ocasiões.

Foi nos EUA que um crítico disse, em resenha pós-show publicada: “They have given Klaus Meine metal vocal chords.”

De volta ao velho continente, a tradicional turnê européia colocou os alemães de Hanover mais uma vez no topo do cenário musical mundial, visitando novamente os tradicionais destinos de anteriormente.

Avaliação:

SCORPIONS, o mundo é seu! O Blackout foi a maior explosão em vendas, exposição, abrangência e todas as variáveis que diferem um sucesso do maior sucesso da banda (até este momento), já em termos mundiais!

As estrelas associadas a este trabalho, bem como sua importância e sucesso de crítica se devem ao fato de que constitui um trabalho completo: heavy metal harmonioso (No One Like You, Blackout) e tradicionais baladas à moda da própria banda (When the Smoke is Going Down).

Apesar de parecer clichê, a performance de Klaus Meine neste disco é memorável. Ele consegue ressurgir das cinzas de uma maneira impressionante. Caso ainda reste suspeitas sobre o clichê, re-leia os parágrafos introdutórios deste capítulo e depois ouça as músicas da seção Ipod. Para completar compare com as músicas da mesma seção mas do álbum anterior (Animal Magnetism). Poste se sua dúvida permanecer.

O sutil trabalho com o nome da música título também é de elevada qualidade. Qual o sentido destes trechos, conhecendo o histórico de dificuldade enfrentada pela banda no seu último trabalho (tradução livre):

“Minha cabeça explode, meu ouvido zumbe
Eu não consigo lembrar nem onde eu estive
A última coisa que me lembro                                                                                  É que eu fiquei perdido em um buraco profundo e escuro”

“Eu peguei minhas coisas e corrí para o meu único caminho afora
Eu gostaria de saber antes de parar
Eu faria isso ou eu fracassaria”

E trecho original:

My head explodes, my ears ring
I can’t remember just where I’ve been
The last thing that I recall
I got lost in a deep black hole
Don’t want to find out

I grab my things and make my run
On the way out, another one
Would like to know before I stop

Rock Galaxy: A publicação desta compilação é o maior expoente da criticidade da situação enfrentada pela banda naquele momento. A ponto de deixar a Mercury completamente indecisa com o rumo a seguir. É nítida a falta de lógica na escolha das músicas a integrarem o disco, já que o melhor da fase Roth acabara por ficar de fora.

Premiações:

Após um período maior de intervalo para seu último álbum, o Blackout voltou ao palco trazendo muito mais notoriedade à banda: Disco de ouro na Alemanha e disco de platina nos Estados Unidos!

Além disso, o single No One Like You alcançou a posição número 64 do hot 100 da Billboard e Can’t Live Without You abocanharia a 17a. posição também nos EUA.

O álbum seria mais tarde premiado com a décima posição do Billboard 200 na edição de 1982. Outras posições de destaque foram obtidas nos charts de França (1ª posição), Canadá (3ª posição) e diversos outros países, comprovando que a música dos alemães era realmente harmoniosa e de qualidade.

Bem mais tarde, em 1984, o álbum retornaria às paradas com a 112a. posição, alavancado por… outro trabalho… e diversas razões as quais veremos no próximo capítulo da saga!

Para seu iPod:

Avaliação do álbum: 5 estrelas ( * * * * * )

Você JÁ ouviu: No One Like You.

Ouça: Blackout; No One Like You; Dynamite; When the Smoke is Going Down.

Colaborou: Denis Fernandes e Mayra Scheidt.

[ ]’s

Julio.



Categorias:Curiosidades, Discografias, Iron Maiden, Letras, Músicas, Resenhas, Scorpions

15 respostas

  1. Excelent Post e Álbum.
    Acho que o Scorpions acertou em cheio no que queria fazer em termos de estilo com Blackout. Um album sem pontos fracos, e com grandes destaques – eu gosto muito de You Give Me All I Need, que botaria nas do IPOD do Julio.
    Para resumir – o melhor album da fase Mathias para mim e o primeiro que acertadamente comprei. Esperemos o proximo, muito conhecido ….
    Parabens a vocês todos Julio e colaboradores

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  2. Simplesmente adoro este álbum, inclusive e principalmente as músicas menos cotadas como You give me all I need e China White ( uma ótima perfomance do vocal característico de Meine, pra tirar qualquer dúvida sobre sua recuperação).No One Like You é um grande single, pena que nem sempre eles continuem tocando nas turnês. Blackout é provavelmente a mais clássica do álbum e When The Smoke is going down uma das mais belas baladas da carreira dos alemães.
    O post está excelente como sempre,super parábéns

    Alexandre Bside

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  3. Cara,
    Esse disco é muito bom, concordo em gênero, número e grau.
    Eu conheço um pouquinho dessa fase mas a forma como está se desenrolando tá muito da hora, fico sempre ansioso pra ler os caps seguintes…
    Scorpion Rocks!
    Muito 10 Julio!

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  4. Julio (e amigos que contribuiram), parabéns pelo excelente post deste excelente disco.

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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  5. Legal:

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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  6. Blackout é o melhor disco dos Scorpions na minha opinião, não aquela porcaria que eles lançaram em 1984 (Love at First Sting) e que os tornou mundialmente famosos…

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    • Igor – eu não acho o LAFS uma porcaria, mas concordo que o Blackout é o melhor da fase Oitenta em diante. Já com o Ulrich Roth….

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      • Meu problema com LAFS é um só: a balada corta-pulsos “Still Loving You” é a responsável pela minha dificuldade em tentar gostar deste disco todo, que pra mim não é de audição fácil como o Blackout e outros discos de bandas diversas durante os anos 1980. Daí surgiram as minhas opiniões contrárias em relação ao LAFS. Aliás, este disco nem sequer está no meu top 5 dos melhores do grupo alemão, justamente por causa da música citada. Caso não saiba, em termos de “baladas”, a melhor do Scorpions pra mim é “Wind of Change”, já meu pai gosta mais de “Send me an Angel”, ambas de Crazy World (1990).

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        • Legal Igor, você a primeira pessoa que conheço que não gosta da balada. Eu lembro na época no Rio de Janeiro, que eu já conhecia I still love you do Kiss e logo depois, na época do Rock In Rio, “surgia” a do Scorpions. Na minha cabeça (que era fã radical do Kiss), a balada do Scorpions era um desafio como a melhor de rock.
          Lembro de um dos meus amigos, quando eu perguntei se era melhor, ele disse que não sabia, pois as duas eram muito boas.
          Ao ouvir Still Loving You não teve jeito, eu passei a adorar a música. Mas até hoje considero I Still Love You melhor.
          Eu também não considero o LAFS nem de perto melhor que o Blackout e gosto dos anteriores, mesmo sem o gênio Ulrich Roth. Pensando na fase pré World Wide Live e Pós Tokyo Tapes, talvez colocasse o Lovedrive (um pouco mais pesadinho) em 2o, o LAFS em terceiro e o Animal Magnetism em 4o. Os três são albuns parelhos, e nesta fase o Blackout se destaca facilmente.
          Continue participando – temos bastante discografia do Scorpions aí a frente num trabalho genial do Júlio
          https://minutohm.com/?s=“Discografia+Scorpions”&x=0&y=0

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          • Como eu disse, melhor do que Still Loving You pra mim é “Wind of Change”!

            Porém eu prefiro discos bem mais equilibrados do que LAFS, mesmo sendo de outras bandas: como por exemplo, “Screaming for Vengeance” do Judas Priest (esse sim é mil vezes melhor que LAFS) e “Balls to the Wall” do Accept, que pra mim é a melhor banda da Alemanha, não os Scorpions.

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