Minuto Reflexão HM: O que aconteceu?

Por Daniel Cordeiro

Foi lendo aqui no Minuto HM a resenha do show do MetallicA que decidi pegar este texto, que era apenas um esboço, e transformar num artigo mais consistente. Na resenha abordava-se algo notório para qualquer headbanger que frequenta shows a mais de dez anos: O que aconteceu? Por que os shows de metal estão sendo inundados por frequentadores que não estão nem aí para o que está acontecendo lá?

Extrapolarei a questão: O que está acontecendo com os ouvintes de heavy metal? Onde estão os headbangers comprometidos com o estilo? Percebo nos mais jovens um relacionamento bem mais superficial com o que estão escutando. Vejo cada vez mais pessoas usando camisetas das minhas bandas favoritas e com quase nenhum conhecimento sobre sua obra e história. Observo também um maior número de pessoas que conhecem as poucas músicas mais comerciais do estilo dizendo-se headbangers por aí e (como mencionado no começo da matéria) indo passear em shows como se aquilo fosse uma voltinha no shopping.

Divagando em minha mente sobre isso achei uma hipótese que acredito fazer sentido: o acesso irrestrito e ilimitado à música vai acabar com o amor à mesma. Se o leitor é um headbanger-dinossauro-pré-internet, sabe do que estou falando: O acesso à música e informações sobre heavy metal era dificílimo. Eram poucas publicações, poucos discos nas lojas e tudo muito caro. Lembro-me que sabíamos que o Dio, um dia, teve uma banda chamada Elf, mas imaginávamos que seria quase impossível um dia ouvir sequer uma música dessa banda numa fita K7 mal gravada, hoje, eu tenho toda a discografia da banda no meu iPod.

Tudo ficou muito, muito, muito mais fácil e acessível. E é da natureza humana tratar com descaso tudo que podemos ter sem ter que fazer esforço. Se um garoto se encanta por Iron Maiden hoje, em uma hora ele tem em seu HD toda a discografia da banda, incluindo singles, b-sides ,etc. Eu tive que ir trabalhar pra comprar os discos. Quem vai dar mais valor à obra da banda?

O fácil acesso à música tem inúmeras vantagens, mas, na opinião deste que vos escreve, vai transformar ouvintes comprometidos (seja com o heavy, seja com jazz, clássica, MPB) em uma espécie rara. E, infelizmente, nós dessa espécie rara vamos ver, nesses novos tempos, obras-primas da música, receberem o mesmo tratamento dos ouvintes, que recebe o hit do verão: serão apreciadas superficialmente, brevemente, e logo depois colocadas de lado.

[]´s

Daniel Cordeiro



Categorias:Artistas, Black Sabbath, Iron Maiden, MetallicA, Off-topic / Misc, Resenhas

16 respostas

  1. Daniel,
    Excelente post – concordo com quase tudo. Damos mais valor ao mais dificil de adquirir, conquistar, alcançar etc…
    Acrescento um detalhe: O facil acesso a discografias de todos artistas que quisermos parece permitir uma busca incessante a novos acervos de forma que por exemplo, horas depois que conseguimos dispor da discografia do Gary Moore, já temos a disposição a do Eric Clapton, do Yngwie Malmsteen, do Steve Vai, do Joe Satriani e assim vai. A coisa quase nunca termina, e não há tempo disponível para ouvir criteriosamente nenhuma das discografias ou mesmo dos álbuns chave.
    Eu gosto do estilo HM/Hard Rock/Rock desde o início dos anos 80 e fui adquirindo coleções dos vinis e cds paulatinamente ao longo dos anos. Conheço a fundo cada vinil que tenho, nos cds já não houve o mesmo aprofundamento, existem cds que não conheço com tanta profundidade, depois com o advento do mp3 e da banda larga, passamos a ter como gravar em um HD/PEN DRIVE/DVD/Blu-Ray/SD e inúmeras outras mídias uma quantidade imensa de informação, impossível de conseguir apreciar da mesma forma.
    Então cabe a questão – vale a pena dispor de tanta informação e não conseguir apreciar nem 10% dela?

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  2. Daniel, primeiramente, bem-vindo ao mundo dos posts aqui no Minuto HM, é sempre muito bom ter uma nova pessoa contribuindo por aqui, e fico feliz de poder lhe abrir o espaço.

    Com relação ao post e ao assunto, bom, ele é basicamente um complemento do meu anterior e, assim, também estou contigo na ideia principal dele. O Remote foi muito acertivo no comentário acima, resumiu bem o quadro.

    Lembro que, no meu primeiro estágio, me sobrava algo como R$ 90,00 por mês livre, depois dos descontos de cursos, cesta básica, etc… e assim eu fui comprando minha coleção de discos do Iron Maiden, 1 por mês… os meses não passavam e era minha diversão finalmente poder ir na Galeria do Rock em SP ou em alguma loja de shopping e comprar um álbum.

    Tudo que você comentou no post é sim a realidade e sim, quanto mais abundância de material, menos é possível se dedicar. E isso, apesar de ser natural (podemos trocar discos por livros, seriados, qualquer coisa que se tem em abundância), é ruim, pois cada vez temos mais gente metida a saber tudo sem saber é nada.

    Fazendo um paralelo com nossa realidade, trago o assunto “Twitter”: as pessoas seguem “n” contas no Twitter e, a partir dos títulos apenas dos tweets, saem por aí falando do assunto como se tivessem sabendo tudo. E isso é realmente terrível – há muita coisa para se ler e ouvir, cada vez mais gente lendo menos (e pior) e achando que sabe mais de algo…

    De uma forma geral, cabe a nós não cairmos nunca nessa onda e mantermos alguns bons hábitos… e, se possível, fazer com que as pessoas mais próximas também não caiam em certas armadilhas…

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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  3. Nada tenho a acrescentar, a não ser elogiar tanto o post quanto os perfeitos comentários do Flávio e do Eduardo.
    Parabéns aos três !!

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  4. Como sempre acho que não podemos generalizar. Não são todos que, por conta do acesso mais facil às discografias, não valorizam e não se dedicam em conhecer melhor uma banda.
    O exemplo eu vejo na minha própria casa. Minha irmã tem 20 anos, cresceu na era da Internet, sempre fazendo download de tudo e é uma fã muito dedicada de Aerosmith. Escreve em blog, compra cds e outros itens, vai a shows entre outras coisas. Claro que foi muito mais facil pra ela se aprofundar na trajetória da banda do que foi pra mim com Iron Maiden, por exemplo. Bastou um torrent e ela tinha toda a discografia do Aerosmith à sua disposição!

    Discordo que o fácil acesso à música ocasionará na extinção dos ouvintes comprometidos. Pessoas dedicadas, que gostam realmente de música sempre existirão e tirarão um bom proveito dessas facilidades que existem agora. Não é porque eu penei pra conhecer a discografia da minha banda preferida que sou mais fã do que um cara que, sorte dele, teve a facilidade dos downloads. Que bom q esse cara fez um bom uso dessa facilidade!

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    • Suellen, seu comentário é excelente e muito correto / coerente. Sem dúvida alguma, não devemos generalizar.

      O post do Daniel, tenho certeza, não é no sentido de generalizar o tema. Mas é inegável como teve um aumento nisso que ele comentou após o advento das facilidades eletrônicas, principalmente da internet.

      Entretanto, o exemplo da sua irmã é perfeito. E há vários outros.

      O mais importante é a mensagem, o “recado”: há várias armadilhas e precisamos estar atentos para não perdermos alguns bons hábitos, como comentei. Um deles é escutar música por álbum, coisa que com a chegada da música em formato digital, começou a ficar cada vez mais difícil de ser ver…

      [ ] ‘ s,

      Eduardo.

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  5. Concordo plenamente com a Suellen. O fenômeno de pessoas que consomem temporariamente coisas sobre o gênero (sejam shows, camisetas, CDs e qualquer coisa relacionada) não é de hoje e não tem a ver com a acessibilidade do material de uma determinada banda. Basta que na ocasião, algum processo de “propaganda/marketing” seja difundido. Pronto! bastou para atrair pessoas que nada tem a ver. Quando vemos bandas com uma grande organização por tras e um grande material de divulgação sendo difundido nas rádios e na imprensa em geral, isso, na minha humilde opinião, tem uma influência crucial para este vermos este fenômeno ocorrendo, mas quem com certeza, é passageiro. Aquele sujeito que escutou alguns CDs, comprou a camisa e foi ao show, voltará ao “normal” em poucos dias, esperando ouvir na imprensa qual é o “novo” show ou a “nova” banda. Infelizmente o Metallica é uma banda muito bem organizada do ponto de visto promocional e tende a ser mais afetada por este fenômeno. Pessoas que não conhecem o gênero transitarão entre aqueles que verdsdeiramente possuem alguma ligação com o gênero toda vez que um marketing for certeiro.

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  6. Olá, galera!
    o post é bem legal, a Suellen faz um comentário bacana tambem!
    Queria dizer que dias desses atrás, pensei mais ou menos nessa linha de raciocínio. Que foi o seguinte. Declarei em outro post que sou fã de OZZY e me peguei na seguinte situação, antes morria, suava, pedia pros outros, pedia de aniversário um cd ou até antes um LP do OZZY. E hoje por exemplo [EDITADO] ‘pode se conseguir’ o álbum SCREAM antes mesmo de estar nas lojas, já ouvi algumas vezes, e não me conformei que não consigo lembrar um nome sequer de alguma música desse álbum, ou mesmo quase me esqueci do BLACK RAIN, cantar as musicas ? de q jeito? Antes cada cd eu curtia demais, durmia abraçado, chegava a quebrar a caixa pq esquecia do meu lado na cama e durmia em cima, cada música eu acompanhava com o encarte e adorava quando vinham as letras das músicas, ouvia dez vezes a mesma música e coisa de menos de uma semana já estava com “todas” as letras na ponta da língua. Por isso achei super interessante o título “O que aconteceu?”, já vi vários comentários sobre outras pessoas que não são fãs e etc, mas e EU “O que aconteceu” comigo ???? O caminho da facilidade pega todos, inclusive a gente, ficou mais fácil? Ficou! conheci inúmeras bandas que se não fosse a facilidade jamais teria escutado sequer uma música pra saber se vou gostar ou não!
    Não sei se a idéia do Daniel foi apenas citar as modas, ou foi num pensamento perto do que estou! De qualquer forma, deixo mais uma pra vocês pensarem e quem sabe concordarem ou já me criticarem tambem ! rsrs
    4br4ços

    Ricardo

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    • Ricardo, creio que o post do Daniel tenha sido exatamente no sentido que você trouxe no seu comentário quanto ao exemplo do disco do Ozzy.

      Acho que todos nós temos histórias e histórias como esta que você contou – todos nós sempre tivemos muitas dificuldades para ter acesso ao material de rock e metal, antes dos nos 90 então, nem se fala… cada mídia adquirida (vinil, k7, VHS) era um motivo de muita alegria e vibração…

      [ ] ‘ s,

      Eduardo.

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  7. Oi, pessoal!
    Estou já há algum tempo pra comentar esse post, mas sempre acaba passando… Bom, agora resolvi escrever.
    Já começo dizendo que sei que, sobre o que vou comentar, o público não tem nada a ver com o do rock e metal, e não há nem como comparar o estilo, mas a idéia é a mesma.
    Há duas semanas fui ao show da Shakira em São Paulo… sim, já se espera ver um público de moda sem nem chegar nas imediações do Morumbi, mas o negócio foi muito pior do que eu esperava.
    Fui de pista VIP e, ao começar o show, já vi que a única pessoa cantando, entre todas as pessoas que conseguia ver, era eu. O som das pessoas cantando vinha de trás, ou seja, que era fã mesmo, não conseguiu comprar o ingresso da (cara) pista VIP, ficou de longe.
    Na pista VIP, o que mais se via era o pessoal “tuitando” ou postando no Facebook, ou tirando a sua “auto-foto” (embaixo da maior chuva… veja bem), nem aí pro que estava acontecendo.
    Vejo os comentários e posts daqui, vejo que no mundo do rock e metal a situação está diferente e estranha, mas que no mundo pop, a coisa está muito pior.
    Acompanho a carreira dela já vão bem uns 15 anos ou mais e paguei um dinheirão pra conseguir vê-la de perto, depois de tanto tempo de espera. Fico imaginando o que uma pessoa que pagou o mesmo dinheirão está fazendo lá “tuitando”… Só pra dizer que foi.
    É triste de ver e ficar imaginando o que o artista pensa quando “abre” o microfone pro público cantar e nada acontece, nem mesmo nas músicas mais populares e conhecidas.
    Ainda em linha com o que foi comentado acima, o acesso ao material está cada vez mais fácil… Como a pessoa vai para o show sem nem ao menos tentar conhecer o que vai ver lá?
    Alê [Mrs. Minuto HM]

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