Cobertura Minuto HM – Alice In Chains no SWU 2011 (resenha)

Assim que encerrou o SWU de 2010, Eduardo Fischer, idealizador do festival, em um vídeo no canal do SWU no YouTube, declarou que para 2011 traria o System Of A Down e o Alice In Chains. Bom, o SOAD acabou indo para o Rock In Rio e o Alice, lembro claramente quando recebi uma ligação com a notícia de que a banda havia sido confirmada como uma das atrações do festival. Era de manhã, eu havia acabado de chegar ao trabalho, não consegui segurar a emoção… Alice é a minha banda preferida não-Metal/não-Beatles e desde que voltou à ativa com a chegada do vocalista William DuVall eu aguardava, ansiosa, a passagem deles aqui pelo Brasil. E enfim o dia 14 de Novembro chegou e finalmente eu teria a chance de conferir ao vivo todas aquelas músicas que foram muito importantes na minha vida e me emocionaram por muito tempo.

Claro que a ausência de Layne Staley sempre será sentida fortemente pelos fãs. A sua voz inigualável, a força e emoção que transmitia quando cantava eram únicas. Sempre me emociono ao ver vídeos de Staley, principalmente o MTV Unplugged que devo conhecer de cor de tanto que já assisti. Mas infelizmente ele não está mais entre nós e a vida tem que seguir. A decisão da banda de prosseguir com o ótimo William DuVall foi mais do que acertada. Prova disso é o excelente disco lançado em 2009 por esta nova formação – Black Gives Way To Blue. E apesar do timbre semelhante ao de Staley, DuVall tem personalidade e estilo próprio. Por isso fico muito brava quando leio coisas por aí tentando comparar a performance dos dois vocalistas, chamando o Alice de banda “recauchutada”, “cover de si mesma”, como se o retorno com um novo vocal fosse somente uma atitude oportunista, uma forma de “caça-níquel” ignorando completamente o fato de que o principal compositor da banda, o talentoso guitarrista Jerry Cantrell, continua vivo e ainda tem muita coisa a mostrar. E que bom que William DuVall consegue dar conta da responsabilidade de substituir um talento único como Layne Staley. Não haveria melhor forma de homenagear Staley do que seguir em frente. Após este desabafo, vamos ao show.

Depois de uma apresentação rápida, porém arrasadora do Megadeth, foi difícil segurar a ansiedade durante o Stone Temple Pilots. Não conseguia me concentrar em curtir o show uma vez que não parava de olhar para o outro palco que já estava sendo preparado para receber o AiC.

E um dos pontos positivos do SWU sempre foi a pontualidade então assim que acabou o STP, a movimentação em frente ao palco Consciência ficou intensa.

Finalmente por volta de meia-noite, o Alice In Chains entrou no palco, já com o berro que marca a introdução de “Them Bones”. E o início do show não poderia ter sido melhor do que com a trinca que abre o disco de maior sucesso da banda, o “Dirt”: as pesadas “Them Bones” e “Dam That River” seguida pela intensa “Rain When I Die”. Por alguns segundos até cheguei a acreditar que a banda tocaria o “Dirt” na íntegra – o que acabou não acontecendo mas pelo menos mais da metade deste álbum marcou presença visto que mais 4 músicas dele ainda seriam executadas naquela noite. E que legal ver o público participando e cantando empolgadamente. Sem dúvidas o Alice In Chains era a banda mais aguardada da noite, afinal foram 18 anos de espera!!! E essa animação dos fãs levou a William DuVall dizer, em um português esforçado, “Estamos muito felizes em estar aqui… finalmente!”

A sequência “Dirt” foi quebrada pela empolgante “Again”, com a plateia pulando muito debaixo de uma chuva bem pesada. Mas quem disse que o temporal atrapalhava algo? Diria até que combinava perfeitamente com o clima das músicas do Alice e as constantes chuvas de Seattle. E parece que Jerry Cantrell também achava o mesmo pois brincou dizendo que, apesar de estarmos alí em pé, debaixo do temporal, há muito mais tempo que eles, tudo parecia muito bem.
Hora de música “nova”, “Check My Brain”, que teve uma ótima recepção, com a plateia cantando bastante o refrão grudento, mostrando a força desta atual formação da banda, seguida por mais uma da fase Layne, “It Ain’t Like That”.

Quebrando um pouco o clima mais agitado que ditava o show até então, Jerry Cantrell assume o microfone e canta a belíssima “Your Decision”. E conforme eu já havia previsto, impossível segurar as lágrimas nesta canção. Em seguida “Got Me Wrong”, ainda com Cantrell no vocal principal, brincando com os fãs antes do refrão, perguntando “How do you feel?” (“I haven’t felt like this in so long…”). Mais perfeito, impossível!

O show seguiu com “We Die Youg”, colocando a galera para pular novamente, e “Last Of My Kind” do “Black Gives Way to Blue”.

E então viria o momento mais emocionante para mim em todo o show e talvez um dos mais emocionantes da minha vida. Logo no primeiro dedilhado eu reconheci imediatamente “Down In A Hole”. Se até então eu ainda não havia sentido tanto a ausência de Layne Stanley, aquele foi o momento. Down In A Hole é minha música preferida do Alice e muito por conta da emocionante perfomance de Layne no MTV Unplugged, além de a letra ser uma das coisas mais lindas e tristes que existem neste mundo! E a banda executou esta canção de forma perfeita naquela noite levando as lágrimas muitos dos que estavam alí presentes.

E quando eu achava que nada poderia mais emocionar tanto, Jerry Cantrell fala que aquele é um novo dia e eles nunca se esqueceram de onde vieram, “This one is for Layne and Mike…” a belíssima balada “Nutshell”. E só mesmo o Alice In Chains pra fazer 70 mil pessoas berrarem “I’d feel better dead…” como se a fosse a coisa mais natural do mundo. No final da canção, um Jerry Cantrell bastante emocionado diz que uma coisa certa é que eles voltarão bem em breve ao nosso país.

O clima arrastado continuou com  “Acid Bubbles”, a música mais estilo Black Sabbath do útimo disco do AiC e “Angry Chair” (mais uma do “Dirt”, a quinta até então). E sem nenhuma pausa, emendando com a distorção do fim de “Angry Chair”, o maior hit da banda, “Man In The Box”, presente em qualquer festinha rock até hoje, aqui no Rio. Hora de se esgoelar com o refrão. O maior coral do noite!

William DuVall, já com o jogo ganho naquela noite, em um momento fofura, diz em português, “Alice In Chains ama o Brasil” e Jerry Cantrell pergunta se queremos cantar mais. A música que veio depois disso foi “Rooster”, mais uma forte letra com a assinatura de Cantrell sobre as experiências vividas por seu pai na Guerra do Vietnam. Outro belo e emocionante momento que termina com muitos aplausos e a palavra PEACE no fundo do palco.

E o show vai encaminhando para o seu fim com “No Excuses” que tem um dos versos mais fofinhos de todas as músicas já feitas pelo Alice. “You, my friend, I will defend/And if we change, well, I love you anyway”. Verso que gritei com quase toda a força que ainda tinha dentro de mim.

Quase toda porque o melhor eu tinha que guardar para o final.

Duvall, novamente em português, nos agradece por ficarmos na chuva e pede ajuda para cantar só mais uma, a última. E claro que todos já sabiam qual era. Baixo e batera – aliás, Mike Inez (vestido com uma camisa do Manifesto, o bar) e Sean Kinney foram perfeitos durante todo o show – compondo uma introdução inconfundível e tão forte que dá pra sentir a vibração no peito, “Would?”, a sétima música do marcante ‘Dirt” a ser tocada naquela noite e para mim, uma das mais marcantes dos anos 90. Não haveria melhor maneira de encerrar esse memorável show, que termina com a banda sendo ovacionada e músicos emocionados com William DuVall afirmando que somos a plateia mais bonita para qual já tocou.

É claro que é bastante suspeito eu falar que este foi o melhor show do SWU mas sem dúvidas foi o mais emocionante e o que mais gerou expectativa. Afinal, era uma espera desde 1993 e uma perda irreparável de um vocalista com um talento único e muito querido pelos fãs. No fim foi tudo lindo! Clássicos e músicas novas combinaram perfeitamente. Não teria como ser melhor!

Obrigada Eduardo Fischer por cumprir sua promessa e trazer o Alice para mim, apesar de todos os percalços e desorganização que tanto discutimos por aqui. No fim das contas, mesmo com toda a lama, chuva, frio, estacionamento caríssimo e carro atolado, aquelas algumas horas em que nos emocionamos com músicas tão queridas compensam todos esses obstáculos.

E que Jerry Cantrell cumpra sua promessa também e volte muito em breve. Com disco novo, de preferência.

Vida longa ao Alice In Chains!

Confira o setlist:

Abraços,

Su



Categorias:Alice in Chains, Artistas, Cada show é um show..., Curiosidades, Músicas, Nirvana, Pearl Jam, Resenhas, Setlists

25 respostas

  1. Excelente post Suellen!! Acho q vc conseguiu transmitir toda a emoção do show pra galera q não pode presenciar!! Foi realmente muito legal poder ouvir ali bem de perto, músicas q tb marcaram minha adolescencia!!!

    Abs.,
    Wagnão

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  2. Um show de resenha , mais uma vez, Suellen.
    Da minha parte , considero Jerry Cantrell ,juntamente talvez com o Chris Cornell, com o maior talento de seu tal propalado movimento, conhecido como grunge. E se a vida do Alice in Chains tem de seguir, seguir com William sem dúvida foi a melhor escolha. Ainda que parte da alma da banda tenha ido com Layne, o grupo vem fazendo bonito tanto no novo álbum, quanto nos shows, algo que pude sentir lendo a sua resenha.
    Parabéns, outro texto com a qualidade Minuto HM !

    Alexandre

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    • B-Side, poderíamos incluir o nome do Eddie Vedder também como um dos grandes talentos? Ou em sua opinião ele não está no mesmo nível?

      Para mim, está.

      [ ] ‘ s,

      Eduardo.

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      • Eduardo, na minha modesta opinião eu diria que não. Acho Cornell e Jerry acima tanto de Vedder quanto ( e agora talvez eu vá mexer num vespeiro…) de Kurt Cobain….
        Mas gosto muito do primeiro álbum do Pearl Jam e acho sensacional quando temos Cornell junto de Vedder no projeto The Temple of the Dog, um senhor álbum!

        Alexandre

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        • B-Side, não havia nem colocado Kurt neste “bolo” por uma simples questão que considero o Nirvana uma banda que não é ESSENCIALMENTE grunge, sabe?

          E eu gosto muito de Kurt, mas não o colocaria neste bolo. Estaria EU errado em não considerá-lo essencialmente parte deste “movimento”?

          [ ] ‘ s,

          Eduardo.

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          • Eduardo , pelo simples fato de você gostar de Kurt e certamente por isso conhecer bem melhor o grupo em questão do que eu é muito provável que você esteja certo em não categorizar o Nirvana como uma banda essencialmente grunge.
            Na minha nem tão avalizada opinião, eu consideraria o Nevermind um expoente do movimento, assim como o Badmotorfinger do Soundgarden, o Ten do Pearl Jam e o Dirt dos muito bem resenhados acima Alice in Chains . Se eu tivesse de elencar um ” big-four” do movimento grunge, eu citaria as bandas acima . O próprio Ten me parece bem diferente dos demais álbuns do Pearl Jam, assim essa questão é bastante subjetiva e rotular pura e simplesmente normalmente não abrange a carreira dessa ou daquela determinada banda . Mas considerei este aspecto para não colocar num mesmo patamar que Cantrell e Cornell tanto Vedder quanto Cobain.
            A questão é muito subjetiva mesmo , você tem todo o direito de achar o Nirvana não simplesmente uma banda grunge.

            Um abraço, amigo

            Alexandre

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            • Concordo, B-Side… e eu também fico meio sem “base” para uma discussão mais aprofundada, pois das “Big Four” citadas por você, a única que realmente ouvi e acompanhei um pouco (considerando minha idade) foi o Nirvana que, no auge dos meus 9, 10 anos de idade, insistia em confundir com MetallicA… hahahaha.

              [ ] ‘ s,

              Eduardo.

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    • Bside,

      concordo com você que Jerry Cantrell e Chris Cornell são figuras que se destacam no movimento grunge. Inclusive Chris Cornell também tocou no SWU, no dia anterior ao Alice, em um show que, na minha opinião,acompanhando pela TV, não funcionou muito bem. Só voz e violão, naquele palco enorme para um público de 50 mil pessoas, realmente não foi a condição mais apropriada. E a voz de Cornell infelizmente não é mais mesma. Nesse sentido. o Eddie Vedder está bem mais em forma.

      Sobre o Alice, para mim o estilo da banda transcende o grunge. Está mais para uma mistura de Hard Rock e Heavy Metal e mais a harmonia vocal que tanto gosto. E por isso, por este som único, que cativa não somente a galera grunge mas tambem o pessoal do metal como os caras do Metallica, fãs declarados da banda.

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  3. Excelente show, resenha, set list – o Alice in Chains de volta em grande estilo – considero de longe a melhor banda do movimento, e pelo que li, continua como sempre impecávavel. Que venha mais vezes para o Brasil, e como dessa vez não pude, espero aproveitar estas novas oportunidades, pelo que eu li, a vontade de assistir um show deles aumentou ainda mais…
    Parabens Suelen!
    FR

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  4. Suellen, primeiramente, parabéns pelo ótimo texto! Seu primeiro post (post mesmo, não comentário) por aqui foi justamente do SWU 2010 e agora temos um ótimo texto da edição deste ano, e de uma banda que você ama tanto.

    Sei que “só” o Alice In Chains já faria você sair do Rio para qualquer lugar do Brasil, então a resenha ficou nas melhores mãos mesmo.

    Da minha parte, gostei muito do show, mais até do que achei que gostaria, mesmo com as “condições climáticas” adversas. A chuva estava feia e engrossou na terceira música, acompanhada de um frio bem razoável. Mas como você bem disse, nada disso atrapalhou a ótima performance da banda e do público, ambos bastante “conectados” durante esta uma hora e pouco de show.

    Muitas músicas legais no set, muito bem escolhido, por sinal. Gostaria de destacar Them Bones, Nutshell, Angry Chair, Rooster e Would? como grandes momentos, mas Man In The Box especialmente me fez também viajar no tempo, como o Wagner disse. Não, não esqueci de Down In A Hole, sua preferida e para mim, a grande música da noite realmente, com uma bela versão que pudemos presenciar.

    Aos que não puderam ver e curtem, realmente tentem assisti-los em uma próxima oportunidade – e que ela não demore 18 anos para acontecer!

    Parabéns novamente pelo texto!!!

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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    • Eduardo, obrigada mais uma vez pelo espaço. Sempre fico muito feliz em dividir com todos a emoção daquele lindo dia.

      É até difícil dizer isso, num ano com tantos shows importantes como Iron, Paul, Metallica, mas para mim o Alice foi o mais emocionante do ano.
      Quase 3 semanas depois e ainda continuo ouvindo as músicas e vendo os vídeos sem parar.
      As músicas do Alice in Chains sempre me emocionaram muito, não somente pela performance e entrega de Layne Staley mas tambem pelas letras e melodias. E ver aquilo tudo ao vivo, poder cantar com toda a força, a participação e entrega dos fãs que lá estavam e os belíssimos solos de Jerry Cantrell, foi tudo lindo demais! Me emociono novamente aqui só em lembrar.

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      • Muito bom, Su. Quem também ganha com tudo isso somos nós, com esta excelente resenha, sem dúvida alguma a melhor que li sobre a apresentação do AiC. O espaço está sempre aberto!

        Realmente foi um ano de shows excepcionais, vários deles muito emocionantes. Em termos de emoção, meu voto fica com o show no Engenhão de Sir Macca. Mas entendo perfeitamente sua emoção neste show, de uma banda que você genuinamente ama e que não tinha tido a oportunidade de ver ao-vivo, assim como a esmagadora maioria do público.

        Foi realmente especial ver a emoção das pessoas durante o show da banda. Não há como não dizer que houve sim muita emoção neste show, como poucas vezes pude presenciar ao-vivo.

        [ ] ‘ s,

        Eduardo.

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  5. Lindo post!! Eu amo demais essa banda, foi o melhor show do SWU para mim, foi emocionante e eles fizeram um setlist certeiro!! Só música fod****!! Quando eles tocaram Down in a Hole e Nutshell foi impossível segurar as lágrimas até para quem assistiu pela tv(que foi meu caso), pois ela lembra muito o nosso amado Layne Staley,,,Sem dúvidas foi histórico e rezo para que eles voltem em breve para o Brasil!!

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