Enjoy the Silence*

jeffhannemanA notícia da morte de Jeff Hanneman, guitarrista do Slayer, vítima de falência hepática, acendeu aquela luz que vez por outra a gente fala por aqui: a velocidade com que nossos ídolos se despedem. Na verdade, parece que a conta não pára nunca. Numa roleta russa anual, somos atropelados com despedidas involuntárias, na maioria das vezes.

Slayer nem era das minhas bandas preferidas mas será que isso importa? O músico que estava na banda desde o clássico Show No Mercy (1983), se afastara da banda para cuidar das complicações de saúde que obtera após a picada de um aranha venenosa. Tal incidente causou-lhe quase a perda de um dos membros superiores. Trágico.

Gary Holt (Exodus) era o responsável pelas seis cordas juntamente com o monstrengo Kerry King. O Slayer sempre teve uma importância gigantesca na história da música pesada e quem viu o Big Four se apresentar (juntamente com Metallica, Megadeth e Anthrax) viu um dos capítulos mais lindos e emocionantes da histórica do rock em uma das suas vertentes mais significativas.

Mas, pelo menos para Hanneman, isso agora é um epitáfio. Confesso: a sensação que tenho neste momento é da perda de um parente próximo, de um amigo querido, de alguém com quem joguei bola na escola… Por isso, um certo desabafo:

Amigo amante de boa música, aproveite todo o tempo que você puder, vendo, admirando, curtindo seus ídolos. Alguns ainda estão entre nós e não perderam a majestade. Busque os LPs, CDs, dvds, blu-rays e tudo que você puder. O cheiro de arte e vida ainda podem estar impregnados em todos os produtos que você tiver ou quiser obter.

Não abra mão de fazer esforços para ver quantas vezes for possível sua banda preferida. Garanto: a emoção é diferente em cada espetáculo. O set list pode até não variar, mas certamente as histórias circunstanciais do que envolveu sua ida até aquele lugar ficarão marcadas na sua mente.

Não se arrependa do que você não fez. Escute os discos ruins. Aqueles que você menos gosta. Entenda as mensagens. Busque explicações. Leia as biografias. Procure depoimentos, imagens, estórias e histórias. Na história do rock and roll raramente você concordará que tudo “não tem lógica”. A única irracionalidade da vida é quando eles se despedem sem nos avisar.

Eles são humanos mas também são deuses. Alteram o nosso humor, mudam nossa rotina, aumentam nosso batimento cardíaco, emocionam em meio aos decibéis, libertam o pensamento, nos interessam em todo tempo, são parentes melhores que parentes, são melhores que as drogas que eles geralmente consomem, são eternos mesmo mortos e quando estão aquém do que gostaríamos, ouvimos, ouvimos e ouvimos. Não nos convencemos.

Evangelize o seu próximo com petardos do seu rock star. É tão bom quando temos alguém para compartilhar do gosto e que no final acaba AMANDO também. Jogue a semente do rock and roll (ou seja do que for) no coração ávido por música. Torne repleta de luz musical as trevas acesas dos que não conhecem seus ídolos. Dê uma camisa preta. Dê uma camisa branca. Dê uma camisa. Presenteie com um CD. Contagie e contamine. A causa é nobre, boa, digna.

Guarde lembranças, mas só guarda quem tem. Vivencie. Lembre-se. Aquele show, naquele dia. Aquele disco, naquela hora. Aquele música, naquele tempo. Tudo que você ouvir transformará você por anos, por dias e por segundos. A soma das faixas vira um medley na sua cabeça, daqueles que você há de se reter até se tocar em um comercial, mesmo que seja daqui a 50 anos.

… Mas não deixe de viver a sonzeira que eles produzem. Não deixe de sentir a inspiração da transpiração do rock and roll. Porque um dia ele pode parar mas só se você deixar.

RIP Jeff Hanneman

* o título é paradoxal de propósito citando uma canção do Depeche Mode para demonstrar respeito a um grande ídolo do metal.



Categorias:Anthrax, Exodus, Off-topic / Misc, Sepultura, Slayer

13 respostas

  1. Emocionado aqui… procurava pelas palavras certas. Encontrei aqui, como sempre.

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    • Caio, que bom ver você por aqui, comentando. Sentimos muito sua falta no blog. Realmente é um momento que nos faz procurar canais para nos expressarmos e dividirmos um pouco da dor.

      Engraçado que seu reaparecimento é como na vida real, onde muitas pessoas só acabam se encontrando em casamento / enterros… mas digo isso nas melhores das intenções, já que realmente sua ausência é muito sentida, my friend.

      [ ] ‘ s,

      Eduardo.

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  2. Belas palavras!
    Ele fará muita falta para os fãs do Thrash Metal…
    E eu ainda tinha esperança de vê-lo finalmente recuperado, e ainda esse ano, nos palcos para a Tour Sul-americana =(
    R.I.P. Jeff Hanneman.

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  3. Palavras, expressões e figuras de linguagem diretas e certeiras para aquele que é o pior momento retratado no Minuto HM: sempre que temos uma porta que se fecha, uma voz que se cala e pelo menos pra mim, o sentimento de que “eu devia ter conhecido mais”.

    Requiescat in pax.

    Julio.

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  4. Daniel, seu texto aqui está maravilhoso e, como você mesmo me “confessou”, ficou assim justamente pelo fator de momento, por estar carregado de emoções.

    Muito do que você disse, na verdade tudo, é o que eu sempre falo e o que a gente vem falando cada vez mais no blog, seja nos podcasts (que surgiram basicamente com a morte de Dio, uma forma da gente se falar, procurar um alívio espiritual), seja por palavras nos posts e comentários por aqui.

    Parabéns por conseguir traduzir em poucas mas maravilhosas sentenças um pouco deste sentimento. Precisamos realmente nos apoiar nisso e infelizmente irmos cada vez mais nos “acostumando” com isso – são coisas que não estão em nosso controle, então, nos resta aprender a lidar da maneira menos dolorida possível.

    O legado é sempre imortal e, enquanto em vida, vamos sim prestigiar nossos ídolos. Eu posso dizer que estou fiz, faço e farei muito ainda, muitas vezes tendo que fazer um grande esforço em todos os aspectos, principalmente financeiro, mas é um esforço que se paga sempre, desde que você realmente tenha em seu coração o amor por aquilo que está vendo/ouvindo. Você foi brilhante ao comentar dos “discos ruins” e explicou o que chamamos aqui de “cada show é um show”. Eu só posso concordar e aplaudir.

    Obrigado por compartilhar isso conosco. É um marco por aqui.

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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  5. Daniel, é muito bom ter pessoas como você e como a Suellen para nos trazerem de formas distintas algum tipo de conforto com a notícia que é tão triste até para aqueles como eu que não são tão fãs assim da banda.
    Isso de forma alguma pode desmerecer a importância da banda para o Metal e a importância de Jeff para o surgir do Trash Metal. O Slayer é sem dúvida uma expressão plena do gênero e Jeff foi figura fundamental no processo, assim, acaba de entrar para o hall dos eternos heróis do heavy metal.
    O trecho do post que fala de aproveitarmos todas as oportunidades é perfeito e emocionante . Que sirva de conforto sempre que passarmos por situações trágicas como essa. Sem dúvida, atingiu o objetivo. Parabéns pela qualidade e sensibilidade do texto!

    Ah, enjoy the silence.. Gosto muito da versão do Lacuna Coil.

    RIP, Jeff !

    Alexandre

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    • Muito interessante o texto e como a doença, o problema com o alcool e o relacionamento de Jeff com fãs, imprensa, familiares e também parceiros de banda o levaram a ter o triste fim de forma tão precoce.
      Recomendável a todos que querem entender um pouco mais do que aconteceu com Jeff.

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  6. Daniel, este é mais um dos maravilhosos posts que temos aqui no blog que eu ainda não havia lido… Estou aplaudindo em pé, tamanha a sensibilidade e coerência de seu texto.

    Os anos vão passando rápido, nossos ídolos nos deixando e fazendo falta… Também não sou fã do Slayer, mas admiro tudo o que a banda e seus músicos representam na evolução da música moderna.

    Concordo com tudo que você disse e compartilho desta filosofia de vida totalmente. Acredito que isso possa ser notado naquilo que produzo aqui para o blog, tanto nas vinhetas e clips, como na discografia Rush, que nada mais é que dar algo em retorno por tudo de ótimo que recebi destes músicos que tanto admiro.

    E o paradoxo do Depeche Mode foi sensacional…

    keep writin’

    Abilio Abreu

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  7. Assistindo ao SepulQuarta desta semana, com Scott Ian como convidado, saiu uma coisa interessante: o primeiro nome que chegou a ser “ventilado” para substituir Jeff no Slayer foi o do Andreas Kisser.

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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  8. Músicos não se aposentam… nunca… nem o Slayer cumpriu a tal aposentadoria…

    TOM ARAYA’s Wife Fires Back At ‘Trolls’ Over SLAYER Reunion: ‘I Have Harassed Him For Over A Year’ To Make It Happen:

    https://blabbermouth.net/news/tom-arayas-wife-fires-back-at-trolls-over-slayer-reunion-i-have-harassed-him-for-over-a-year-to-make-it-happen

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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Trackbacks

  1. Sempre é hora de dizer ‘adeus’ « Minuto HM

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