Discografia Rush – Parte 2 – álbum: Fly By Night – 1975

1970. O baterista Neil Peart desembarca aos 18 anos de idade no centro mundial do Rock Progressivo, Londres, para tentar a sorte grande. Bandas como Emerson, Lake and Palmer, Yes, Pink Floyd e King Crimson se estabeleciam no mercado com suas composições conceituais longas, de estruturas sinfônicas e temas etéreos; ao mesmo tempo, o Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath (the “unholy trinity of British hard rock and heavy metal in the early to mid-Seventies”)  já haviam emergido das sombras para mudar a história do Rock ‘n Roll com suas músicas pesadas e guitarras distorcidas.

Assim como tantos outros jovens músicos Canadenses que almejavam um lugar ao sol na terra da Rainha, Peart acabou não encontrando por lá muita receptividade, fazendo ocasionalmente alguns shows e gravações. Acabou até vendendo souvenirs para turistas em Carnaby Street para garantir o pão de cada dia.

Não obstante, os 18 meses passados em Londres não seriam em vão, pois o destino lhe reservara uma inusitada surpresa: certo dia, transitando no famoso “Tube” – o metrô Londrino – Neil achou o livro intitulado “The Fountainhead” (“A Nascente”) da controversa novelista Russa Ayn Rand. Inspirado pelos aspectos objetivistas e individualistas dos personagens em suas batalhas para manterem a integridade própria, Neil iniciava, ainda que inconscientemente, um processo filosófico-existencialista que acabaria o moldando no futuro letrista do Rush.

Desiludido com a música, em seu retorno à terra natal Neil pondera em tornar-se um baterista apenas semi-profissional, e começa a trabalhar em outros empregos para se sustentar e ao mesmo tempo continuar tocando o que realmente lhe dava prazer.

Lembrava-se que aos 12 anos trocara o piano pela bateria após assistir a um filme sobre a vida do lendário baterista de jazz Gene Krupa. Quando conheceu o The Who, imediatamente notou que seu baterista Keith Moon, que viria a ser indubitavelmente sua maior influência, era um “Gene Krupa moderno”. O estudo dos seus distintos estilos, assim como de bateristas de Rock como Carl Palmer (Emerson, Lake and Palmer), Bill Brufford (Yes), Phil Collins (Genesis),  John Bonham (Led Zeppelin) e de jazzistas como Billy Cobham e Steve Gadd, fez com que se tornasse um baterista extremamente técnico, o que, somado ao seu interesse por literatura, o transformava no músico com as exatas características que em breve o Rush necessitaria.

1974. Cerca de duas semanas antes do inicio da primeira turnê nos EUA, o baterista John Rutsey sai da banda, e o Rush inicia um processo de seleção para substituí-lo. Vale lembrar que um dos principais motivos da saída de Rutsey foi o fato do mesmo não querer evoluir para a direção que Geddy e Alex estavam indo, ou seja, um som pesado, progressivo e original.

Peart já era conhecido no circuito local por tocar na banda coincidentemente chamada “Hush”, que tocava covers do “The Who”, dentre eles, a ópera-rock “Quadrophenia” na íntegra. Como demonstrava ser um baterista adequado para a proposta do Rush, um amigo em comum organizou uma audição para Peart.

Geddy e Alex contam que, no segundo dia de audições, “um sujeito estranho, de cabelos bem curtos e vestindo shorts, empregado de uma loja de tratores, descarrega um pequeno kit de bateria Rogers e sai tocando que nem um maníaco!” Nessa primeira jam, o três já criam partes do que viria a ser “Anthem”, a primeira música do próximo LP.

No dia 29 de Julho de 1974, dia do 21º aniversário de Geddy, Neil entra oficialmente na banda. No dia seguinte, com uma boa quantia de dinheiro avançada pela gravadora, o Rush compra novos equipamentos para a turnê que logo se iniciaria, dentre estes, o primeiro baixo Rickenbaker 4001 preto de Geddy, uma Gibson Les Paul Deluxe devidamente acompanhada por amplificadores Marshall para Alex, e o drum kit Slingerlands prateado de Neil. Com o novo equipamento, a banda passou o restante das duas semanas ensaiando para a turnê norte-americana.

A banda então começa sua viagem pelos EUA em um carro, acompanhados pelos roadies em um pequeno caminhão com o equipamento de som e luz. Na segunda semana de estrada, Neil já não era somente o baterista substituto, mas sim, um membro da banda. A cada show, a qualidade sonora e a integração dos músicos entre si e com a equipe técnica melhorava, as músicas do primeiro disco começavam a adquirir uma nova roupagem, com os arranjos diferenciados de Peart devidamente acompanhados por Alex e Geddy. Segundo Lifeson, no tempo livre eles ficavam horas a fio “sentados em quartos de hotel compondo músicas de Heavy Metal em violões”.

Neil, notando o desinteresse dos demais em escrever letras, resolve arriscar e escreve a letra da música “Fly by Night”, a qual foi bem recebida pela banda. Naturalmente, acabou assumindo a função de principal letrista da banda já neste momento.

Com material novo suficiente para a gravação de um LP, a banda entra novamente no Toronto Sound Studios, com o engenheiro de som Terry Brown na produção, o qual já havia trabalhado com a banda na remixagem do primeiro álbum. O estúdio havia sido modernizado naquele ano com um gravador analógico Studer de 24 canais e uma mesa de mixagem Neve, equipamentos state-of-the-art de última geração. Após 10 dias de trabalho árduo no estúdio, o LP “Fly by Night” é lançado em 15 de Fevereiro de 1975.

Lado A

1. “Anthem” (Música: Lifeson e Lee / Letra: Peart) 4:21

2. “Best I Can” (Música: Lifeson e Lee / Letra: Lee) 3:25

3. “Beneath, Between & Behind” (Música: Lifeson / Letra: Peart) 3:01

4. “By-Tor & the Snow Dog (Música: Lifeson e Lee / Letra: Peart) 8:37
I. “At the Tobes of Hades”
II. “Across the Styx”
III. “Of The Battle”
a. “Challenge and Defiance”
b. “7/4 War Furor”
c. “Aftermath”
d. “Hymn of Triumph”
IV. “Epilogue”

Lado B

5. “Fly by Night” (Música: Lee / Letra: Peart) 3:21

6. “Making Memories” (Música: Lifeson e Lee / Letra: Peart) 2:57

7. “Rivendell” (Música: Lifeson e Lee / Letra: Lee) 4:57

8. “In the End” (Música e Letra: Lee, Lifeson) 6:46

Geddy Lee – vocal, baixo, violão clássico, “By-Tor”
Alex Lifeson – guitarra, “Snow Dog”
Neil Peart – bateria, percussão

Produzido por Rush e Terry Brown.

O LP começa com “Anthem”. Os primeiros compassos em 7/8 já demonstram que a banda que gravou o primeiro disco cerca de um ano antes sofreu drásticas transformações. A introdução tem um fraseado rápido de guitarra e baixo, recheado com viradas de bateria precisas que aos 0:12 se transforma numa levada progressivamente nervosa. Após a parada da cozinha aos 0:33, o riff principal de guitarra culmina numa complexa levada em 4/4 com feel de 12/8 (0:40) – o que historicamente seria uma ponte entre “The Return of the Giant Hogweed” do Genesis Foxtrot e “Where Eagles Dare” do Iron Maiden – Piece of Mind. Notamos desde o início a “fúria controlada” com que toca Peart. Aos 0:53 a dinâmica cai para a entrada do vocal, que é tão rasgado quanto melódico; Geddy faz um fraseado intenso no baixo enquanto Alex solta as despojadas notas abertas dos acordes maiores que compõe a estrofe principal. O refrão (1:07) é pontuado com marcações precisas, mostrando o incrível entrosamento adquirido na turnê e durante o processo de criação que antecedeu as gravações. Aos 1:36, temos os stop-times, com repetições da guitarra através de um efeito de delay. Após o retorno da estrofe principal e refrão, uma ponte pré-solo marcada pelo grito primitivo de Geddy (2:19) nos leva a um excelente solo de guitarra com wha-wha, que fica até difícil de ser ouvido com a devida atenção em face à complexidade da cozinha que inevitavelmente captura o ouvinte. Aí somos confrontados com mais uma forte característica do som do Rush: não é na primeira vez (nem na segunda) que se assimila tudo o que está acontecendo… A estrofe principal e refrão retornam pela terceira e última vez e, na volta dos stop-times, aos 3:52, a voz de Geddy também é processada com o efeito delay. Aos 4:06, Peart desencadeia um preciso mini-solo de bateria, os três finalizem a faixa com grande determinação. A primeira música já mostra que aqui nasceu o verdadeiro e definitivo Rush.

A letra expõe a temática individualista absorvida por Neil através da leitura da obra de Ayn Rand, e, com um vocabulário diferenciado, mostra que também há espaço para filosofia no Rock (“Live for yourself, There’s no one else more worth living for” – “Anthem of the heart and anthem of the mind / A funeral dirge for eyes gone blind / We marvel after those who sought / The wonders of the world, wonders of the world / Wonders of the world they wrought”).

Vejamos o video oficial de “Anthem”:

A segunda música, “Best I Can”, é uma das composições remanescentes da época de Rutsey.  Após a virada de bateria inicial, a música entra numa levada enxuta e swingada, com os devidos acentos nos fraseados importantes. Aí constato que Peart é realmente um baterista diferenciado, e posso citar alguns exemplos do seu detalhismo minimalista: aos 0:57, a súbita virada nos cowbells; aos 1:43, a precisa virada de dois bumbos na preparação para o solo de guitarra  que se repete aos 2:43 com a adição dos “cymbal chokes” nas cabeças dos tempos. São tantos os detalhes, que fica impossível listar tudo; e isso se aplica para o disco todo (leia-se: discografia toda). Uma excelente faixa, com um solo de guitarra dramático denotando que já estava sendo moldado o estilo próprio de Lifeson, um vocal impecável de Geddy e um final cromático muito bacana.

A letra de Geddy e Alex demonstra que o Rush já tem como objetivo seguir sua linha própria, e que, ao contrário do que pensavam aqueles que não acreditavam na banda, todo o trabalho duro estava sendo recompensado: (“Blankers and boasters, all the bluffers and posers / I’m not into that scene” – “You can tell me that I got no class / Look around, you’ll see who’s laughin’ last”).

Aqui temos “Best I Can” numa versão ao vivo, em 1975:

“Beneath, Between & Behind”, a faixa nº 3, é uma das melhores do álbum. Iniciando com um riff de guitarra na exata sequência de acordes do lendário solo de Jimmy Page em “Heartbreaker”, qualquer referência ao Led Zeppelin cai por terra quando a bateria e baixo entram aos 0:08 numa levada original, com Neil alternando acentuações na caixa e tom-toms, preparando para a entrada do vocal não menos incrível de Geddy Lee aos 0:17. O refrão (0:33) com acordes acentuados é costurado com runs precisos de toda a banda (0:40). Interessante o fato da música não ter um solo de guitarra, mas um interlúdio com um fraseado rápido (1:37 a 1:58). A parte C (2:08), com sua levada no chimbáu aberto no contratempo, é Rock ‘n Roll puro. A cada passagem, Neil nos traz uma virada diferente, mostrando que já tinha muita carta na manga. Nos runs finais, Alex adiciona aos 2:52 uma terça na guitarra (me lembra Iron Maiden, mas esta ainda nem existia…) A letra tem um vocabulário complexo, com uma ambientação típica de livros de fantasia medieval.

A última faixa do lado A, beirando os nove minutos, “By-Tor and the Snow Dog”, é o primeiro épico da carreira da banda, um verdadeiro clássico do Metal Progressivo. A curva proposta desde o início do álbum aqui atinge seu clímax, numa música com 4 capítulos (o 3º com 4 sub-títulos), ou seja, houve a preocupação da banda em nomear cada mudança sofrida no decorrer da música, como capítulos em uma obra literária. A letra conta a batalha do Príncipe By-Tor, o filho de Satã, com seu nemesis, The Snow Dog.

A faixa inicia com uma virada de bateria rápida, indo sem qualquer enrolação para a primeira estrofe do vocal – parte I – “At the Tobes of Hades”. Numa virada de tom-toms que finaliza em um leve ralentando aos 0:23, temos o primeiro refrão: Geddy grita “By-tor, knight of darkness!”; e aos 0:35 já estamos na parte II – “Across the Styx”, que tem a mesma estrutura melódica e harmônica da parte I. A parte III – “Of the Battle” começa aos 1:10, aonde somos presenteados com diversas seções instrumentais: a) “Challenge and Defiance” é composta de frases de guitarra e baixo, permeadas com viradas de bateria. Aos 1:23, o baixo tem um maior destaque com frases rápidas e intrigantes. Aos 1:35 inicia-se uma sequencia progressiva de acordes até os 1:46 – b) “7/4 War Furor”, aonde o baixo entra numa levada com a bateria numa dinâmica baixa que serve de base para o solo cacofônico de guitarra com wha-wha em notas bem agudas (“Snow Dog”) a qual virtualmente trava uma batalha contra o Fender Precision de Geddy bastante distorcido com fuzz, phaser e pedal de volume criando um peculiar efeito de “monstro” (“By-tor”). Aos 3:05, entra um riff de guitarra bastante bizarro, atonal, parecendo que Alex propositadamente escolheu as notas mais estranhas numa escala cheia de meio-tons. Aos 3:29, sua guitarra com bastante efeito delay preenche os stop-times de Geddy e Neil. Aos 3:50 começa uma série de viradas monstruosas de bateria, que se alternam com um complexo padrão rítmico em oitavas alternadas, até, aos 4:19, este padrão começar a ser descontruído e reduzido nota por nota. Aos 4:29, o que parece ser o final da música dá lugar ao quase silêncio, entrando a parte c) “Aftermath”. Peart em seu primeiro disco já trouxe ao estúdio seus peculiares elementos de percussão:  os wind-chimes cintilam ao fundo, junto com notas soltas do baixo, fazendo um clima para as notas que Alex vai gradativamente introduzindo com seu pedal de volume e delay, num crescendo até se transformar em uma sequência de acordes que aos poucos ganham mais e mais distorção. Após um longo rufar de caixa com phaser (6:15), inicia-se aos 6:28 um excelente solo de guitarra, numa levada lenta e carregada ao melhor estilo Progressivo. Aos 7:24, notamos que a guitarra solo que estava na caixa direita se encontra com a base que caminhava pelo lado esquerda, num pequeno riff que conduz à parte IV – “Epilogue” (7:32), com harmonia e melodia similares às partes I e II, para encerrarem a faixa com a vitória do Bem (Snow Dog) sobre o Mal (By-Tor) aos sinos de Neil Peart. A versão original do LP contava com uma “pista travada” no final do disco, aonde os sinos ficavam tocando num loop eterno – o tipo de coisa que só o bom e velho LP era capaz de proporcionar.

Aqui, a versão ao vivo de “By-tor and the Snow Dog” do DVD R30 de 2004:

O lado B nos traz uma proposta um pouco mais comercial e não tão pesada, começando com um grande hit, a música que deu título ao álbum: “Fly by Night”. O som da guitarra com um leve tube overdrive e chorus na introdução, já trazendo os acordes abertos que se tornariam uma característica marcante de Lifeson, antecede a entrada da bateria, que neste track apresenta-se mais simplista, porém não menos genial, e do baixo, com seu fraseado criativo. A letra, de acordo com Peart, é inspirada no período em que viveu em Londres. A música tem um refrão pegajoso (0:35), o solo construído de Alex aos 1:23 é permeado com interessantes detalhes do baixo e bateria. A faixa possui uma estrutura interessante, com uma parte mais calma aos 2:06 e diferentes repetições do refrão no final. E quando você pensa que Geddy já chegou ao máximo de sua extensão vocal, ele sobe à notas ainda mais altas na última estrofe.

Aqui temos o video oficial de “Fly by Night”:

A música 6, “Making Memories”, me lembra um Led Zeppelin III, com seus violões de aço correndo soltos. Geddy canta sem rasgar no início. Aos 0:48, na entrada da seção rítmica, uma linha de baixo provando que Geddy já havia alcançado plenamente a independência baixo/voz. A música também conta com um arranjo mais simples de bateria, mas perfeito para a proposta. Aos 1:29 um solo de guitarra com slide bem ao estilo de Jimmy Page. Ao final, um segundo solo de guitarra também numa pegada Page, e a música acaba em fade-out, o que é incomum na discografia da banda. A letra fala do sentimento de quem vive na estrada, e nota-se que eles já tem a perfeita noção que estão no início de uma aventura musical sem precedentes.

A 7ª faixa, “Rivendell”, é um tema com clima erudito, e tem sua base tocada no violão de nylon por Geddy. A bela letra de Peart nos transporta à mítica Rivendell, a cidade dos Elfos da trilogia de J.R.R. Tolkien – “O Senhor dos “Anéis”. É uma canção muito bonita, com Geddy cantando com sua voz natural, quase sussurrada, mostrando que não era apenas um “rockeiro gritão” e também tinha capacidade de cantar melodias mais complexas e sutis.

Não obstante, faltou mais empenho no arranjo desta faixa, uma vez que Alex já começa permeando os vocais com pequenas frases de guitarra com reverberação e pedal de volume, e a canção não evolui de forma alguma, sendo estendida desnecessariamente por quase 5 minutos. Poderiam ter criado um arranjo mais progressivo, com outros violões e guitarras entrando gradativamente para torna-la mais interessante, ou corta-la aos 2:52, por exemplo. Portanto, ela realmente acaba sendo apenas uma faixa “filler“. Geddy conta em uma descontraída entrevista coletiva que eles estavam tão cansados após dez dias de trabalho ininterrupto que, durante a mixagem, os três não conseguiam ficar acordados até o final da faixa para dizer ao produtor Terry Brown se a música havia ficado de acordo… Obviamente, é uma das únicas músicas da discografia que o Rush nunca tocou ao vivo. Também, é uma das únicas gravações da banda que não tem bateria.

Chegamos à última faixa, “In the End”. A introdução aproveita a calmaria da faixa anterior, num clima que lembra “Over the Hills and Far Away” (Houses of the Holy – Led Zeppelin), com violões de 6 e 12 cordas fazendo a base para um vocal melódico e contido de Geddy. Aos 1:42, um tom acima, a guitarra com distorção e flanger entra pesada, para a entrada magistral da bateria, baixo e vocal aos 2:06. A bateria e baixo aqui também são mais simples, e na medida certa. Geddy levanta a voz em agudos cortantes, e aos 2:33 o refrão “I know , I know, I know” é carregado de um certo saudosismo que lembra bastante o Led Zeppelin. Aos 3:59, Alex sola no modo mixolídio, misturando com uma pentatônica menor, mostrando sua evolução musical desde o primeiro disco. A música acaba como inicia, com os violões de aço como base para o vocal característico de Geddy alcançando notas altas. Ao final, Peart sustenta a vibração dos pratos de ataque, que desaparecem em fade-out…

Minha conclusão é que este é realmente o disco de estreia do Rush. Com sua formação definitiva, e já trazendo elementos característicos do som da banda que sobreviveram até os dias de hoje, noto os fortes traços de Rock Progressivos e de Heavy Metal. Com a entrada de Peart, os talentosos componentes da banda em muito pouco tempo se entrosaram, o que elevou suas novas composições a níveis anteriormente inimagináveis, com Geddy e Alex melhorando tecnicamente. E Geddy Lee já revela ser um ótimo e versátil vocalista. É um disco recomendado para todos que curtem Heavy Metal, Hard Rock e Rock Progressivo.

Músicas como “Anthem”, “By-tor and the Snowdog” e “Beneath, Between & Behind” permaneceram no setlist dos shows da banda durante várias turnês futuras.

Noto que, em “Fly by Night”, os aspectos filosóficos individualistas de Ayn Rand são efetivamente aplicados, mas não através de um “individualismo simples”, em sentido estrito, e sim de um “individualismo coletivo”, em sentido amplo, aonde 1+1+1=1 (Geddy + Alex + Neil = Rush). Também devo ressaltar a importância do produtor Terry Brown, o “quarto-elemento”, que produziu a banda ininterruptamente até 1982.

Logo após as gravações, a banda caiu na estrada novamente. Dessa vez, o Rush havia sido escalado como banda de abertura do Aerosmith e Kiss. Todos sabem que não era fácil ser a banda de abertura do Kiss que, com suas maquiagens e atos teatrais, faziam um show de Rock sem comparação. Mas o Rush, com seu virtuosismo e integração ao vivo, superou as expectativas.  A banda foi bem recebida pelo público, e o LP aos poucos foi ganhando espaço nas rádios, alcançando o 103º lugar nas paradas americanas.

Aqui, neste teaser do documentário Beyond the Lighted Stage de 2010, Gene Simmons e Alex Lifeson falam da relação do Kiss com o Rush:

Durante a turnê, Alex Lifeson casa-se com Charlene, sua antiga namorada, mãe de seu primeiro filho. Certo dia, com o Aerosmith em Michigan, a banda recebe por telefone uma ótima notícia de seu manager Ray Danniels: a banda havia recebido o Prêmio Juno (o Grammy Canadense) de banda mais promissora do Canadá.

Após a turnê americana, a qual já teve o Rush como ato principal da noite em algumas datas, a “Fly by Night Tour” foi encerrada em 25 de Junho de 1975, no Massey Hall, Toronto, Canadá.

Rush 002

Vejamos o setlist desta última data da “Fly by Night Tour”:

Rush Setlist Massey Hall, Toronto, ON, Canada 1975, Fly by Night Tour

O Rush, então, agora com seu lineup completo e a todo o vapor, já começa a compor novas músicas ainda no ano de 1975, para dar início a um projeto extremamente ambicioso.

Veremos no próximo post que no LP seguinte – “Caress of Steel”, a banda tomará uma direção mais ousada, e tal estratégia poderá coloca-la em risco de extinção…



Categorias:Curiosidades, Discografias, Entrevistas, Kiss, Led Zeppelin, Pink Floyd, Resenhas, Rush, Setlists, The Who

19 respostas

  1. Valeu pelo “detalhe” tão atencioso, Abilio! E parabéns antecipadamente, pois o que passei os olhos é de encantar…

    Como diria Arnold Schwarzenegger, “I’ll be back”.

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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  2. Eduardo, você já ouviu falar da capa do Fly By Night ter uma edição em que essa coruja é branca?
    Ouvi isso décadas atrás e lendo o artigo lembrei disso. Curiosidade idiota talvez…rs
    Um abraço.

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    • Ayrton, não, nunca ouvi falar. Você teria alguma foto ou indicação de leitura para esta curiosidade?

      De qualquer forma, fica um “fórum” aberto aqui para os especialistas da banda, como o autor do post, Abilio.

      Obs.: nada destas coisas é idiota… são os diferenciais, na verdade :-).

      [ ] ‘ s,

      Eduardo.

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  3. Ayrton, obrigado pela pergunta, até mesmo porque esqueci de incluir as informações da capa, o que já será corrigido a partir do próximo post…

    De acordo com Peart, ele sempre foi um amante dos pássaros, e achando que a coruja combinaria com o título do álbum, pediu por telefone ao artista gráfico de Chicago Eraldo Carugati (que mais tarde fez as capas dos 4 álbuns solo do Kiss de 1978) que fizesse a capa com uma coruja e a aurora boreal ao fundo (que se vê no alto da contra-capa). Após isso, Peart passou a ser o “supervisor gráfico” da banda.

    Quanto à capa da coruja branca, até onde pude pesquisar, não há nada oficial além de uma camiseta na qual a coruja é totalmente branca, que mais tarde foi incorporada ao “2006 Official Wall Calendar”. Mas realmente existem por aí alguns remakes da capa com a coruja branca, feitos por artistas diversos.

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  4. Outro texto fantástico, cheio de ótimas informações que me agregam tanto conhecimento. Eu penso em voltar aqui e trazer mais detalhes, inclusive ouvindo o álbum, que já traz uma banda mais voltada à buscar sua indiscutível originalidade, e dando um passo além bastante considerável em relação ao primeiro álbum, em especial por ter chegado ao line-up definitivo.
    Parabéns, Abílio, a série está sensacional, eu volto para tecer maiores comentários!

    Alexandre Bside

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  5. Abílio demorei, mas voltei e como na primeira parte desta discografia, li novamente o post ouvindo com atenção o álbum também. É evidente o salto de qualidade deste para o primeiro, com a inclusão de Neil na banda. A sonoridade também se distanciou consideravelmente daquela que considerei sempre a principal influência do Rush, o Led Zeppelin. Músicas como Anthem já mostram a banda experimentando bem mais e trazendo mais pitadas que vão sendo incorporadas ao som deles. A batera de Peart nesta é sensacional, nada comparável a algo já visto na banda anteriormente. Muito legal também na música é o alternar de climas, com a parte com menos overdrives que está nas estrofes das músicas, novamente percebo um Phase 90 usado pelo Lifeson ali. Best I can é uma música que menos gosto, não vejo algum destaque na canção. Já Beneath, Between & Behind que foi tocada no Exit…Stage Left tem um riff sensacional e é uma das minhas favoritas do álbum. Quase em seu final, vem aquela estrofe com o uso de contratempo de Peart que é sensacional e o difere de todos os bateristas da época. O primeiro lado do álbum fecha com By-Tor & the Snow Dog, que provavelmente ajudou em muito a banda a seguir seu caminho mais prog, pois é a primeira faixa dos canadenses que é dividida em partes e acho que só encontrava em Working Man do primeiro álbum alguma rivalidade em ser até aquele momento a faixa mais trabalhada da banda. Destaque absoluto para a parte instrumental,um dos grandes momentos do álbum.

    Fly by Night é uma faixa curta, mas não menos poderosa no trabalho. Acho que merece a responsabilidade de ser a faixa título do álbum Gosto muito do trabalho de Lee na canção tanto na interpretação quanto no baixo. O lado 2 do disco é menos conhecido, em especial pela duas faixas seguintes,mas há muita qualidade em todos os instrumentos de Making Memories, e gosto muito da interpretação de Lee ali também, mais contida em especial no início da faixa. Os violões e o solo em slide de Lifeson também são de muito bom gosto. Já Rivendell me soa meio enfadonha, um pouco lenta demais.In the end também traz violões, desta vez me pareceu um de 12 cordas, é isso ,Abílio? Interessante ver o uso de três tipos de violões nas três músicas em sequência. A última faixa é também interessante,mas não me chama atenção como um dos destaques do álbum. OS destaques pra mim vão sem dúvida para Anthem , Fly by Night e Beneath, Between & Behind , mas é importante demais destacar a importância de By-Tor & the Snow Dog como uma espécie de divisor de águas para a banda.

    O post é sensacional trazendo esses detalhes que cercam a entrada de Neil para a banda, e o porque de sua tamanha importância. Também concordo que poderemos sim considerar esse o álbum de estreia da banda na proposta característica deles, pois o primeiro tem muito mais de Zepp. Que vem o Caress of Steel!

    Alexandre Bside

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    • Obrigado Bside! Excelente o seu “resumo opiniático”, numa mini-resenha que basicamente corrobora tudo o que escrevi em minha análise.

      Ontem mesmo, após assistir ao fantástico preview da “The Garden” extraído do Blu-ray “Clockwork Angels Live” que será lançado em 19.11.2013 (devidamente twitado pelo Eduardo – obrigado mais uma vez), vi este link no site da Rolling Stone: http://www.rollingstone.com/music/pictures/geddy-lee-dives-into-rushs-video-timeline-20131007. Vocês verão que convidaram o Geddy Lee para assistir e comentar os infâmes clips da banda/relacionados, e no clip de “Anthem” ele comenta que o riff foi criado ainda na época de Rutsey, que não se interessava em tocá-lo, aparentemente por ser muito complicado… Então, ao se livrarem o “freio-de-mão Rutsey”, a banda deu um salto estratosférico e, ao meu ver, o salto ainda não acabou pois nunca pararam de subir…

      Quanto ao próximo post – “Caress of Steel” – nunca na vida tive tantas opiniões conflitantes sobre um álbum, mas, como eu mesmo afirmei – “não é na primeira vez (nem na segunda) que se assimila tudo o que está acontecendo” – então, tenho ouvido o álbum diariamente, e finalmente consolidei meu entendimento… Aguardem, pois será um capítulo muito importante (e obscuro) na história da banda…

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      • Eu vi o timeline em vídeo do Rush e alguma coisa ali é impagável mesmo, mas vamos acompanhando enquanto as resenhas se apresentam.Interessante a história envolvendo Anthem e o Rutsey, será que eles imaginariam o quanto Peart poderia desenvolver simplesmente naquele início de música? É realmente fenomenal e uma bela faixa de ” apresentação” .
        Não comentei, mas deixo aqui uma menção honrosa à capa de Fly By Night, uma das mais emblemáticas da banda. Excelente mesmo!

        O Caress é realmente algo controvertido, eu mesmo terei de ouv-i-lo mais algumas vezes para tentar comentar algo por aqui.

        Mas estou aguardando ansiosamente…

        Alexandre

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  6. Aqui a banda realmente ganhou nova e verdadeira dimensão com Neil. A diferença é realmente absurda, colossal. Ele ja de cara, logo na primeira musica, da as caras e mostra que a coisa mudou e muito.
    Evoluções de todos os lados, o som da bateria também é outro. Geddy está bem mais á vontade aqui, realmente a cozinha evoluiu muito com o “novo’ baterista.
    Destaco o Lado A (LP) e Fly by night e o restante do Lado B não me empolga, mas tem um bom nivel – é claro.
    Eu ouvi o vinil e nunca tinha reparado no travamento da última faixa, fui ver e no meu não trava. É uma versão brasileira da época (75) e por ser simples não deve ter a tal travada. Gostaria de ver isso.
    A capa é bem azulzona, mas a economia do Brasil fez a contracapa ser P&B, logo temos um pedaço da asa de nosso passaro em tons de cinza – o que só quer dizer uma coisa: que impressão vagabunda, hein! E Brasil…
    Vi também o timeline dos videos e agora sim pela primeira vez o precision de Geddy e novamente se percebe que Rutsey estava bem abaixo dos outros. O destaque em Working man era Lifeson. Mais para frente há uma virada e a cozinha rivaliza (no bom sentido) e com a seção das 6 cordas, tornando o trio cada vez melhor (pelo menos até o inicio dos anos 80)
    Entrei na sequencia e o proximo será o 2112 – a bolacha aguarda o review nessa espetacular discografia super detalhada do mestre Abíllio.
    Até

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    • Finalmente o esperado comentário do Remote!

      Muito legal o fato de você ter o vinil em mãos e ainda mais poder ouví-lo! A observação sobre o verdadeiro descaso na impressão da capa nacional é infelizmente um fato que se repetiu durante anos a fio: edições sem encartes, com cores trocadas, partes da capa em P&B… Não havia nada como a bolacha gringa né! O som dos importados sempre era superior também… E quem não lembra que até o cheiro do LP importado era diferente?!?!

      As demais observações sobre as músicas e timeline de videos também são muito pertinentes, mostrando que realmente o Rush acertou na mosca ao gravar o maravilhoso “Fly by Night”…

      keep bloggin’

      Abilio Abreu

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