Discografia Rush – Parte 4 – álbum: 2112 – 1976

2112 headerNão seria a vida nada mais que um grande jogo de estratégia, como o Xadrez, aonde vence o jogador dotado de maior percepção e com o poder de planejar jogadas sempre visualizando e se prevenindo antecipadamente dos passos dos seus adversários?

Ou seria apenas um jogo de azar, como a Roleta, aonde baseado no mais puro feeling e desprendimento em se jogar de cabeça no tudo-ou-nada, o jogador arrisca todas as suas fichas de uma vez só na tentativa de levar para casa o Jackpot?

No final de 1975, o Rush vivia um grande dilema: em “Caress of Steel”, a banda tinha certeza de ter tomado o rumo certo para encontrar seu som original. Mesmo com o posterior fracasso do álbum perante o público e a crítica especializada, o Rush sentia estar vivendo uma rápida evolução em todos os aspectos: composição, performance, técnica e entrosamento, tanto de forma coletiva, como individualmente.

As fracas vendas de discos e os deprimentes shows quase vazios em pequenos locais, na apelidada “Down the Tubes Tour”, deixaram o caixa da banda com um rombo de $ 325,000.00, sendo que os próprios componentes da banda chegaram a ficar semanas a fio sem receber nenhum trocado, pensando seriamente até em desistir do show-business e arranjar um “emprego normal” para sobreviver.

Opiniões vieram de todo o lado, sendo sugerido até mesmo que a banda retornasse ao estilo “Led Zeppelin Jr.” do primeiro álbum, e nessa altura dos acontecimentos nem o Rush ou mesmo o produtor Terry Brown tinham noção se o material novo que a banda compôs e chegou a apresentar fracionado durante a parte final da “Down the Tubes Tour” iria realmente funcionar comercialmente, uma vez que outrora acreditaram no pleno sucesso de “Caress of Steel”.

Apesar disso, o manager Ray Danniels foi a Chicago acompanhado de Terry Brown para encarar uma árdua negociação. A gravadora já considerava o futuro da banda incerto, mas sabia que não deveria abrir mão dos três talentosos canadenses tão facilmente assim, os colocando em “xeque”: ou a banda produziria um material mais acessível, ou seus dias estariam contados; e aparentemente Danniels e Brown se comprometeram a entregar um álbum “comercial” enquanto renovavam o contrato com a Mercury para o quarto LP da banda.

Consta em “Rush Visions: The Official Biography”, a seguinte declaração de Lifeson sobre este momento crucial: “Trabalhamos muito, muito duro. E de repente não tínhamos mais suporte. Pela natureza do negócio fechado com a gravadora, tínhamos liberdade para fazer musicalmente o que quiséssemos. Mas após “Caress of Steel” ocorreu esta falta de suporte… deveríamos decidir se iríamos dizer… ok, nós desistimos. Ou a banda iria acabar, ou tentaríamos fazer um novo primeiro álbum, ou diríamos: “que se danem”, e faríamos o que queríamos fazer. Escolhemos a terceira opção. Falamos sobre tudo, e realmente nos animamos para verdadeiramente nos superarmos sem nos preocuparmos sobre o que os outros falariam.” 

Já que a criatividade deveria prevalecer naquele momento de crise para superá-la, Peart, Lee e Lifeson se uniram mais do que nunca e finalizaram a composição do que poderia ser a sua “swan song”: o épico “2112”, com mais de 20 minutos de duração, passado num futuro imaginário aonde o protagonista “Anônimo” enfrenta uma sociedade controladora, na qual a liberdade de expressão havia sido a décadas tolhida de seus cidadãos, que só consumiam o que era previamente aprovado por uma casta de sacerdotes censores.

A música era uma reação violenta contra tudo o que a banda estava vivenciado, numa crítica explícita às manipulações do mercado fonográfico da época, e caberia aos três homens de Willow-dale e Terry Brown produzi-la da melhor forma possível no estúdio, evitando repetir ou agravar os erros cometidos no disco anterior para garantir o sucesso deste quarto trabalho. E a banda queria de toda a forma repetir a fórmula de um “side-long track”, mas desta vez no lado A do LP, ao avesso do que havia sido fechado com a gravadora.

Uma das lições aprendidas era que, se fossem novamente gravar um material ambicioso como já haviam tentado em “Caress of Steel”, deveriam ter mais tempo no estúdio a fim de alcançar os resultados esperados com a devida tranquilidade. Portanto, a banda reservou um mês inteiro no estúdio de Terry Brown, o Toronto Sound Studios, para a produção, gravação e mixagem do novo LP.

No novo álbum, a banda também tinha outro objetivo: além de lançar faixas que seriam perfeitamente executadas ao vivo como um power-trio na turnê subsequente, eles planejavam criar uma faixa aonde explorariam ao máximo as possibilidades oferecidas em estúdio, convidando o artista gráfico Hugh Syme (responsável pela capa do álbum) para gravar o teclado em uma das faixas do lado B.

A situação acabou melhorando um pouco quando a banda recebeu a notícia que fora escolhida pelos leitores da Circus Magazine como a segunda melhor banda de 1975, o que deu a carga de confiança necessária para iniciarem as sessões no estúdio.

As sessões de gravação de Fevereiro de 1976 foram consideradas como muito produtivas pela banda. O equipamento usado foi basicamente o mesmo dos dois álbuns anteriores, ou seja, a bateria Slingerland cromada de Peart, os baixos Rickenbacker de Lee e as guitarras elétricas Gibson Les Paul Standard e Gibson ES-355 em amplificadores Marshall Plexi e Fender Twin Reverb, assim como os violões Gibson B-45 (12 cordas) e Gibson Dove de Lifeson.

NOTA: Em 18.12.2012, o Rush lançou a versão Deluxe 5.1 do álbum. No pacote, há uma HQ que de forma inédita ilustra oficialmente todo o imaginário criado pela banda em 1976. Portanto, para que possamos compreender a história da melhor forma possível, usarei trechos relevantes deste HQ, que se encontra devidamente creditado aqui nesta resenha, e disponível de forma digital na íntegra aqui. Sugiro, portanto, além da devida audição da obra em seu formato original em “áudio apenas”, que o disco seja ouvido na íntegra lendo o HQ, que além das magníficas ilustrações, contém todos os textos e letras originais de Neil Peart publicados no encarte do LP de 1976.

Versão original em LP (1976):

2112 a

2112 b

Peart e Syme se empenharam ao máximo na elaboração da capa, acompanhando de perto todos as fases de sua manufatura a fim de garantir que erros de impressão como os ocorridos nos LPs “Rush” e “Caress of Steel” não fossem repetidos.

A capa conta, além do nome da banda e do álbum, com uma foto do espaço sideral sobreposta pela “Estrela Vermelha da Federação Solar”.

Na contracapa, a famosa foto da banda em vestimentas e penteados de gosto duvidável, que já demonstra um dos maiores problemas da banda durante quase toda sua carreira: a falta de uma direção visual e de figurino. Não obstante, a foto é realmente clássica e passa todo o clima de ficção científica pretendido pela banda. Aqui também está impresso o texto de introdução da peça título.

Por fim, na parte interna da capa, na direita temos as letras e textos relacionados, e na esquerda, abaixo das fotos individuais dos membros da banda, uma placa eletrônica e a “Estrela Vermelha da Federação Solar”, mas desta vez sobreposta pela ilustração do herói anônimo da faixa-título, um homem nu, classicamente indefeso, tentando conter a opressão da classe governante, símbolo este que se tornou um dos mais emblemáticos logotipos do Rush (“The Starman”), sendo usado amplamente em posters, camisetas e outros materiais por toda a sua carreira.

Alex Lifeson – guitarras

Neil Peart – percussão

Geddy Lee – baixo e vocais

Produzido por Rush e Terry Brown

Engenheiro de Som: Terry Brown

Arranjos: Rush e Terry Brown

Gravado e Mixado no Toronto Sound Studios, Toronto, Ontario

Roadmaster – Howard (Herns) Ungerleider

Roadcrew – Major Ian Grandy, L.B.L.B., Skip (Detroit Slider) Gildersleeve

Capa – Hugh Syme

Fotografia – Yosh Inouye, Gérard Gentil (Banda)

Empresário: Ray Danniels, SRO Management, Inc., Toronto

Produção Executiva: Moon Records

Um agradecimento muito especial para Ray, Vic, Terry, Howard, Ian, Liam, Skip, e Hugh por dividirem o fardo.

Obrigado especial para ……(insira seu nome aqui)

Convidado especial: Hugh Syme – teclados em ‘Tears’

Mercury/Polygram, Abril de 1976

© 1976 Mercury Records © 1976 Anthem Entertainment

Deluxe edition (2012):

Supervisionado por Jeff Fura e Andy Curran

5.1 Surround Sound Mixado por Richard Chycki no Mixland, Ontario

Masterizado por Andy VanDette na Masterdisk, New York NY

Produção do Blu-ray: Sonic Pool

Design do Menu: David Lange

Authoring: Marcus Ionis

Arte: Tom Hodges

Colorista: Terri Hodges

Diretor de Arte e Design: Hugh Syme

Fotos: Fin Costello e Bruce Cole

Gerenciamento da Produção: Monique McGuffin Newman

Gerenciamento do Produto: Rob Jacobs

Pubicidade: Sujata Murthy

Liberações: Andrew Labarrere

Empresário: Ray Danniels / SRO Management, Inc., Toronto

Agradecimentos especiais: Pegi Cecconi, Meghan Symsyk, Bruce Resnikoff, Herb Agner, Vartan, Mike Diehl, Dave Wright, Carrie Hunt, todos na SRO/Anthem, Strobosonic, UMD e UMe.

CD:

Audio Remasterizado

Audio Bonus das Inéditas

OVERTURE (Ao Vivo)

THE TEMPLES OF SYRINX (Ao Vivo)

[Moving Pictures Tour

Northlands Coliseum – Edmonton, AB, Canada

25 de Junho de 1981]

A PASSAGE TO BANGKOK (Ao Vivo)

[Permanent Waves Tour

Manchester Apollo – Manchester, Inglaterra

17 de Junho de 1980]

BLU-RAY:

PCM & DTS-HD MASTER AUDIO 5.1 Surround Sound 96kHZ/24-bit

PCM Stereo 96kHz/24-bit

Letras – Inglês

Notas – Inglês

Galeria de Fotos – HQ Digital

Nota dos Produtores: Com estes discos você poderá ouvir em casa o que ouvimos no estúdio. Este disco contém todas as 6 faixas de 2112 em alta resolução 96kHz 24-bit PCM stereo, PCM 5.1 surround sound e DTS-Hd Master Audio 5.1 surround sound. É primariamente um disco de áudio-apenas com navegação básica e informações da música na tela. O áudio 96kHz 24-bit deste disco tem uma resolução 256 vezes maior do que um CD, com maior detalhe, reproduzindo o espectro dinâmico completo da música, dos mais leves aos mais altos sons.

Lado A:

2112 (20:34)

I – Overture (4:32)

II – The Temples of Syrinx (2:13)

III – Discovery (3:29)

IV – Presentation (3:42)

V – Oracle – The Dream (2:00)

VI – Soliloquy (2:21)

VII – The Grand Finale (2:14)

Lado B: 

A Passage To Bangkok (3:34)

The Twilight Zone (3:17)

Lessons (3:51)

Tears (3:31)

Something For Nothing (3:59)

2112-5.1-6-s

LADO A

1 – “2112”:

A faixa-título é uma peça conceitual que preenche todo o lado A do LP, assim como “The Fountain of Lamneth” no lado B do LP anterior.

Aqui devemos nos perguntar: o que é uma “peça conceitual”?

Do ponto de vista filosófico, vou utilizar a definição de meu amigo Eduardo Digiovanni Filho: “a peça conceitual é uma ideia, ou seja, um conceito, que tem consistência suficiente para ser apresentado em qualquer formato, seja ele música, vídeo, ou outra mídia qualquer”.

Tecnicamente, uma peça conceitual, também definida como “épico”, geralmente tem como característica a existência de faixas ou trechos interconexos, contando uma história do início ao fim, repleta de detalhes e referências recursivas, tanto nas letras como nos trechos musicais que se repetem e são desconstruídos em formatos, tonalidades, tempos e fórmulas do compasso diversos durante o decorrer da obra.

Podemos notá-las nas próprias influências do Rush, como os clássicos “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” dos Beatles de 1967, “Tommy” do The Who de 1969 (que também possui uma “Overture” nos moldes de “2112”) ou a faixa “Supper’s Ready” do álbum “Foxtrot” de 1972 do Genesis, assim também como nos posteriores “The Wall” do Pink Floyd de 1979 e “Operation Mindcrime” do Queensrÿche de 1988. Posso também citar, a título de curiosidade como exemplo nacional, as não menos progressivas e geniais obras de Chico Buarque “Construção” de 1971 e a “Ópera do Malandro” de 1978.

Assim sendo, não é por acaso que geralmente estas obras acabam se tornando filmes, livros, peças teatrais e até outros formatos de mídia moderna, como HQs e videogames de grande sucesso, pois já são em verdade concebidas com este intuito. As histórias geralmente possuem diversos aspectos psicológicos que fazem com que o grande público se identifique diretamente com seus personagens.

No caso de “2112”, além de todo o conteúdo das letras, Peart apresenta-nos um texto de introdução na contracapa, e cada parte da faixa-título traz textos acima das letras compondo a narrativa principal da peça, que felizmente desta vez não foram narrados como em “The Necromancer”, de “Caress of Steel”.

Portanto, a obra pode ser classificada como rudimentarmente audiovisual, já que requer do ouvinte o acompanhamento das imagens, letras e textos da capa.

É importante frisar que Peart, em uma direta homenagem a autora da maior fonte de inspiração do épico, a obra “Anthem” de 1938, inseriu logo abaixo do título da faixa na capa interna do LP a seguinte frase: “com o reconhecimento da genialidade de Ayn Rand”. Mal ele sabia, como veremos mais adiante, que isto traria algumas críticas negativas à imagem da banda. Peart também cita em entrevistas, como influência direta na obra, o autor de ficção científica Samuel R. Delany.

“Permaneço acordado, observando a desolada Megadon. Cidade e céu se tornam um, combinando-se em um único plano, um vasto mar de um cinza interminável. As Luas Gêmeas, apenas duas esferas pálidas, enquanto traçam suas rotas pelo céu metalizado. Eu costumava pensar que eu tinha uma boa vida aqui, apenas plugando na minha máquina durante o dia, e depois assistindo Templovisão ou lendo um Jornal do Templo ao entardecer.

Meu amigo Jon sempre dizia que era melhor aqui do que dentro das redomas atmosféricas dos Planetas Exteriores. Tínhamos paz desde 2062, quando os planetas sobreviventes foram unidos sob a Estrela Vermelha da Federação Solar. Os menos afortunados nos concederam mais algumas luas novas.

Eu acreditava no que me era dito. Eu achava que a vida era boa, eu pensava que era feliz. Mas achei algo que mudou tudo…

Anônimo, 2112″

O texto de introdução impresso na contracapa do LP traz informações básicas da vida do conformado protagonista anônimo de “2112”, e a noção da dominação popular por uma casta religiosa é imediata com a “Templovisão” e o “Jornal do Templo”, indicando que a classe de Sacerdotes da “Estrela Vermelha da Federação Solar” dominam autoritariamente o cenário político e cultural desde o final da guerra que acabara 50 anos antes.

“2112” – I – Overture

Propositadamente, o Rush utilizou-se de uma estrutura da música clássica para dividir o épico “2112”, aonde a Suíte principal é dividida em Partes numeradas por algarismos romanos.

A Parte I de “2112” se chama “Overture”, ou seja “Abertura”, fazendo a primeira referência à “1812 Overture”, escrita pelo compositor Russo Tchaikovsky em 1880 a fim de celebrar a derrota das forças de Napoleão na tentativa de invasão da Rússia em 1812.

Além disso, a “Overture” pode ser definida como uma composição instrumental especialmente criada como introdução em óperas ou oratórios.

Assim sendo, o Rush seguiu a risca esta definição ao apresentar na Parte I uma abertura instrumental contendo um verdadeiro resumo das várias sequências musicais que serão desenvolvidas ao longo das Partes II, IV, V, e VI da peça, já nos fazendo degustar cada uma destas ideias harmônicas e melódicas.

Seguindo o raciocínio da explicação acima, separei a Parte I em diversas “Células” numeradas e coloridas, num sistema que criei especialmente para a análise e entendimento deste tipo de faixa, o qual pode ser visualizado em tempo real a fim de referência neste video de “Overture” que produzi com exclusividade para esta resenha (notar que os tempos informados na análise da faixa correspondem a versão do CD):

Aqui, a faixa-título na íntegra, para acompanhamento da análise:

A faixa inicia com o som quintessencial criado com o sintetizador ARP Odyssey e um tape-delay Echoplex, que, conforme o engenheiro Terry Brown explica no documentário de 2010 “Classic Albuns: 2112 & Moving Pictures”, consiste numa colagem de várias camadas executadas pelo tecladista Hugh Syme.

Esta introdução é muito característica, trazendo em som todo o clima de ficção cientifica presente na capa do LP.

Aos 0:47, a banda entra subitamente, pontuando de forma incrivelmente entrosada os acordes que compõe a “Célula 1” do épico. Os espaços vazios entre as acentuações são preenchidos com um reverb muito bem regulado. Aos 1:03, as sempre precisas pontuações são repetidas com um efeito delay aplicado em toda a banda, cada vez com uma diferente variação, pois ora as repetições pendem para a caixa direita, ora para a esquerda ou em pingue-pongue de uma caixa para outra, num detalhe fantástico na ótima mixagem de Terry Brown.

Aos 1:17, entra a “Célula 2”, com um breve solo de guitarra marcado pelo baixo e bateria, que serve de ligação para a “Célula 3”, que entra aos 1:31 com Neil levando vigorosamente o ritmo nos tom tons e caixa acompanhado pela levada pulsante de Geddy e Alex. O Peart “econômico” de “Caress of Steel” se revela imediatamente transformado, numa real evolução daquilo que havia demonstrado em diversas faixas do seu álbum de estreia “Fly by Night”, e num crescendo, aos 1:38 transforma a levada numa verdadeira aula de ritmo e viradas. As várias camadas de guitarras e violões devidamente mixadas denotam a boa produção da faixa e o timbre do baixo Rickenbacker de Geddy já se encontra bem mais próximo do seu signature sound. Aos 1:45, a clássica linha do coro de vocais sobrepostos, com a banda toda chegando ao auge desta seção aos 01:56.

Aos 1:57 temos a emblemática “Frase 2112”, que é repetida em diversas ocasiões durante o épico, e as paradas de baixo e bateria sob a levada rítmica da guitarra na harmonia da “Célula 4”. A cada ciclo, Lee e Peart adicionam novos detalhes, num arranjo muito interessante.

Dos 2:27 aos 2:30, temos brevemente a “Célula 5” (concluindo em uma subida de tom a sequência que Geddy já vinha fazendo no baixo desde 2:13) que serve como ligação para a “Célula 6” aos 2:31, com viradas muito interessantes de Peart e frases bem acentuadas pela banda toda.

Aos 2:44, temos o retorno da “Frase 2112”, que Alex repete durante as paradas pontuais de Lee e Peart. Tudo é muito bem arquitetado e conciso do ponto de vista do arranjo, as várias camadas de guitarras e a banda sempre pontuando rápidas frases num corpo só, com um reverb aplicado magistralmente pelo engenheiro Terry Brown.

Aos 2:58, a ponte na base da “Célula 7”, numa subida de dinâmica para o memorável solo de guitarra cheio de drama dos 3:05 aos 3:31, culminando na “Célula 8” aos 3:35. A levada progressiva como um todo, as cada vez mais inovadoras viradas e detalhes do arranjo da bateria, aliadas às notáveis camadas de instrumentos de cordas e o peso na medida certa, fazem com que todos os erros da produção que ofuscaram “Caress of Steel” sejam esquecidos de vez.

Aos 4:05 temos a real homenagem à “1812 Overture de Tchaikovsky”, com Lifeson reproduzindo o trecho mais conhecido da peça clássica sobre uma levada muito enérgica do baixo e bateria.

Dos 4:15 aos 4:17 temos uma breve repetição de um trecho da “Célula 1” que serve como ponte de ligação para o estrondoso final da Parte I aos 4:17, com as épicas trovoadas dos 4:18 aos 4:23.

Do ponto de vista da história, a Parte I do HQ relata a invasão de um planeta não muito distante do mundo do nosso protagonista, aonde vemos as estruturas de grandes catedrais sendo bombardeadas e destruídas, e um homem com um estojo de guitarra saindo de uma porta, enquanto Geddy Lee na música, aos 4:25, canta ao som de uma guitarra limpa: “e os mansos herdarão a terra…”, numa referência à bem-aventurança Bíblica: “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.”

“2112” – II – The Temples of Syrinx

… “As paredes sólidas cinzas dos Templos se erguiam do coração de cada cidade da Federação. Eu sempre as admirei, pensando que, lá dentro, todos os detalhes de cada vida são regulados e dirigidos! Nossos livros, nossa música, nosso trabalho e diversão são todos cuidados pela sabedoria benevolente dos Sacerdotes…”

Aos 4:32, a introdução da Parte II – “Os Templos de Syrinx” – tem a harmonia da “Célula 1”, porém num arranjo ritmado e pesado, contando com uma levada de bateria agressiva, sem condução e com acentuações na caixa e pratos de ataque, que ao final de cada ciclo traz viradas progressivamente sensacionais de Peart.

Aos 4:48, entra a enfurecida e completamente rasgada voz de Geddy Lee, num dos vocais mais emblemáticos de toda a sua carreira, que o fez ser ao mesmo tempo amado e odiado pelo mundo afora. Mas a verdade seja dita, ninguém canta como Geddy, portador de uma voz única em todo o espectro vocal humano e com um incrível talento, alcançando precisamente as notas mais absurdas.

No contexto do disco, essa é a voz que Geddy usa para personificar os Sacerdotes dos Templos de Syrinx, os autoritários censores de tudo que é consumido culturalmente no planeta: “Tomamos cuidado de tudo / Das palavras que ouvem, músicas que cantam / Das imagens que dão prazer aos seus olhos”…

A parada pontuada pela “Frase 2112” aos 5:00 dá inicio a harmonia da “Célula 3” na qual Geddy canta o instantaneamente clássico refrão: “Nós somos os Sacerdotes dos Templos de Syrinx…”, que contém uma das levadas de bateria mais características de Peart ao pulsante baixo de Lee e a marcação precisa da guitarra de Lifeson.

Ao final do refrão, os 5:31, temos a “Célula 8”, que serve como ponte para o retorno do vocal aos 5:42 na repetição das células seguindo a mesma estrutura: “Célula 1” / “Célula 3” / “Célula 8”. Geddy alcança a total magnificência vocal nessas estrofes que fazem desta Parte II um dos maiores clássicos da carreira da banda.

Após todo o peso e agressividade, a Parte II acaba aos 6:36 com um suave violão de nylon dedilhado por Alex.

“2112” – III – Discovery

… “Atrás de minha adorada cachoeira, no pequeno espaço que estava escondido no fundo da caverna, eu o achei. Espanei a poeira dos anos, e o peguei, segurando-o reverentemente em minhas mãos. Eu não tinha ideia do que seria, mas era lindo”… 

… “Aprendi a encostar meus dedos nas cordas, e mover as tarraxas para fazê-las soarem diferente. Enquanto eu batia nas cordas com minha outra mão, produzi meu primeiro som harmonioso, e logo minha própria música! Quão diferente poderia ser ela da música dos templos! Não posso esperar para contar aos Sacerdotes!…”

A Parte III – “Descoberta” – se inicia aos 6:46 com um som de cachoeira, e a primorosa produção nos coloca perfeitamente no lugar do protagonista, que encontra uma guitarra abandonada por muitos anos no fundo de uma caverna e começa a afiná-la a partir dos 6:50. Lentamente, Alex vai encaixando notas e acordes, dando a real impressão de como se estivesse compreendendo o que seria e, simultaneamente, aprendendo a tocar o instrumento. O trecho de 7:30 a 7:50 me recorda “White Summer/Black Mountain Side” de Jimmy page.

Aos 8:00, Alex inicia uma levada consistente na guitarra, preparando para a entrada de Geddy aos 8:26, com uma voz muito suave e melodiosa, que será usada ao longo do épico para personificar o herói “Anônimo” do disco em total contraposição aos ferozes Sacerdotes dos Templos de Syrinx da Parte II. O versátil Geddy descreve melodiosamente a incomparável sensação do protagonista ao realizar a descoberta do instrumento e o efeito que a música feita pelas suas próprias mãos exerce em todo o seu ser: “Veja como ele canta como um coração triste / E alegremente grita sua dor / Sons que crescem como uma montanha / Ou notas que caem gentilmente como chuva”.

Aos 8:49, Alex vai crescendo progressivamente a intensidade, andamento e variação de acordes, e aos 9:07 evolui para uma levada muito mais rítmica, para que Geddy, aos 9:55, nos conte que nosso herói teve a ideia de revelar seu magnífico achado aos Sacerdotes dos Templos de Syrinx, esperando receber em troca a compreensão e gratidão por sua descoberta.

NOTA DO AUTOR: Eu sempre me identifiquei muito com esta parte, pois vivenciei algo muito semelhante: minha primeira experiência com um violão foi aos 13 anos, quando descobri um velho instrumento no sótão de meu avô e, como o protagonista de 2112, após conseguir tirar um som razoável do instrumento já naquele primeiro contato, notei que tinha algo ali que mudaria minha vida para sempre…

“2112” – IV – Presentation

… “Num silêncio súbito enquanto eu acabava de tocar, olhei para um círculo de faces desgostosas e sem expressão. Padre Brown levantou, e sua voz solene ecoou pelo pavilhão do templo vazio.”…

… “Ao invés do reconhecido contentamento que eu esperava, eram palavras de quieta rejeição! Ao invés de louvor, a triste dispensa. Eu olhava em choque e horror enquanto Padre Brown esmigalhava meu precioso instrumento sob seus pés…”

A parte IV – “Apresentação” – se inicia com aos 10:15 com a harmonia baseada na “Célula 5” sendo tocada pela banda de forma extremamente vigorosa, e Peart nos presenteia com uma de suas melhores viradas aos 10:22.

Aos 10:34 a dinâmica cai por completo e, sobre a base da “Célula 4”, Geddy canta com a voz do protagonista suavemente, fazendo a humilde apresentação do instrumento encontrado na caverna e sua nova música aos Sacerdotes. A linha de baixo, com chorus, é também bastante melodiosa e a guitarra faz uma levada no estilo do refrão de “Lakeside Park” de “Caress of Steel”.

O refrão aos 11:11, calcado na “Célula 5”, traz o retorno do peso e agressividade na voz dos Sacerdotes, quando estes, em total rejeição às ideias trazidas pelo cidadão “Anônimo”, alegam aos 11:29 que o instrumento é “Mais um brinquedo que ajudou a destruir a Raça Antiga dos Homens / Esqueça seu capricho bobo, ele não se encaixa no plano”.

A base da “Célula 4” retorna aos 11:47, aonde o protagonista, indignado com o que ouve, ainda tenta convencer os Sacerdotes dos benefícios que a música livre traria para aquela sociedade. Porém, notamos que, no retorno do refrão na harmonia da “Célula 5” aos 12:24, os Sacerdotes são irredutíveis e Padre Brown (talvez uma brincadeira com o sobrenome do produtor) acaba por fim destruindo o instrumento perante nosso perplexo herói.

A “Frase 2112” aos 12:59 traz uma súbita aceleração no andamento, e a Parte III é encerrada a partir dos 13:00 com um solo frenético de Alex sob a harmonia da “Célula 3”. A base do solo é extremamente complexa, com uma levada fantástica de Lee, e Peart fazendo sua característica levada no prato de ride, sempre encaixando viradas precisas nos momentos certos.

“2112” – V – Oracle: The Dream

… “Eu achei que fosse um sonho, mas mesmo agora tudo me parece tão vívido. Ainda vejo claramente a mão do oráculo acenando enquanto ele se postava no topo da escadaria”…

… “Ainda vejo a incrível beleza das cidades esculturais e o espírito puro do homem revelado nas vidas e trabalhos deste mundo. Eu fiquei perplexo com maravilha e entendimento enquanto via um modo completamente diferente de viver, uma maneira que foi esmagada pela Federação há muito tempo. Eu via agora o quão sem sentido seria a vida com a perda de todas estas coisas…” 

A Parte V – “Oráculo – O Sonho”– se inicia aos 13:58 apenas com uma guitarra dedilhada cheia de reverb, e Geddy canta melancolicamente aos 14:22 com a voz do protagonista, que arrasado e deprimido com a reação do Sacerdote ao estraçalhar seu sonho, cai em um sono profundo, esperando encontrar alguma resposta para sua agora vazia existência, sem seu instrumento e sua música.

Aos 14:50, sob a base da “Célula 2” num arranjo pesado com marcações muito precisas de toda a banda, Geddy narra o sonho experimentado pelo nosso herói, que descreve o encontro com um Oráculo que o transporta por um portal astral para o passado, e o mesmo vislumbra toda a liberdade cultural vivida na época da “Raça Antiga dos Homens”, como nos conta o refrão de 15:07 na harmonia da célula “Célula 6”: “Eu vejo os trabalhos de mãos talentosas / Que agraciam esta terra estranha e maravilhosa / Eu vejo as mãos do homem se erguerem / Com mente faminta e olhos abertos”… Curiosamente, no HQ vemos os próprios componentes do Rush em seus trajes e visual da capa do LP, demonstrando claramente que a “Raça Antiga” seria, de fato, a atual civilização humana.

Aos 15:23, temos a repetição da estrutura “Célula 2” / “Célula 6”, aonde o protagonista descobre que a “Raça Antiga dos Homens” não teria sido extinta, mas haveria de fato deixado o planeta, para um dia retornar e derrubar os Templos de Syrinx…

“2112” – VI – Soliloquy

… “Não deixei esta caverna por dias, que se tornou meu último refúgio no meu desespero completo. Somente tenho a música da cachoeira para me confortar. Não posso mais viver sob o controle da Federação, mas não há outro lugar para ir. Minha última esperança é que minha morte me faça passar para o mundo do meu sonho, e conhecerei a paz afinal.” 

Aos 16:00, o som da cachoeira inicia a parte VI – “Solilóquio”.

A guitarra limpa de Alex aos 16:04 serve de introdução para uma das mais bonitas melodias de voz criadas pelo Rush, que entra aos 16:23, e Geddy nos conta que o protagonista não acredita ter acordado de um sonho tão bonito, e que nada daquilo que o Oráculo havido mostrado seria realidade.

Aos 16:55, a harmonia da “Célula 7” entra para o vocal agudo e rasgado de Geddy Lee, narrando o desespero de nosso herói ao compreender que não poderá continuar vivendo sob o domínio dos Sacerdotes dos Templos de Syrinx: “Penso apenas como a vida seria / Num mundo como o qual eu vi / Não penso que poderei continuar / Continuar com esta vida fria e vazia”.

Aos 17:15, temos mais um solo estarrecedor de Lifeson, sempre marcado precisamente numa base fantástica de Peart e Lee, para que aos 18:04, Geddy nos declare que o protagonista se encontra “…Nas profundezas do desespero / Meu sangue vital… Transborda…”

Teria nosso herói cometido o suicídio?

“2112” – VII – The Grand Finale

Aos 18:18, os acordes maiores da guitarra de Lifeson iniciam a Parte VII – “O Grande Final”, numa verdadeira celebração do Rock ‘n’ Roll, sendo acompanhado pela bateria e baixo a partir dos 18:26, com diversas microfonias de guitarra em overdub.

A banda segue numa crescente dinâmica até os 19:05, aonde, após uma parada para a guitarra, temos uma sequência indescritível de ritmos e viradas por parte do Professor Peart. A música nesta parte VII é totalmente inédita, sendo deixadas de lado todas as “Células” que compuseram a maioria das Partes anteriores do épico.

Em cima dessa base fantástica, Alex entra aos 19:24 com um solo com a guitarra completamente saturada, variando de caixa para caixa freneticamente até os 19:46, quando se inicia uma sequência crescente de notas marcadas pela banda toda até o clímax aos 19:58. Aqui notamos que o Rush transcende todo e qualquer limite como músicos e banda, batendo o martelo e selando este momento crucial na criação do gênero Metal Progressivo.

Aos 20:06 entra a clássica narração, por três vezes: “Atenção todos os planetas da Federação Solar / Nós assumimos o controle!”, no encerramento perfeito de um dos momentos mais memoráveis de toda a carreira da banda, e porque não dizer, de toda a história do Rock. Curiosamente, estes vocais haviam sido gravados no término das sessões de “Caress of Steel”, num momento em que os três e Terry Brown brincavam no estúdio com um digital delay. As fitas foram salvas e as narrações acabaram sendo usadas neste final do épico, encaixando-se perfeitamente no conceito do álbum.

No âmbito da história, o final é ambíguo, uma vez que não sabemos ao certo se o herói realmente se suicidou e minutos após os “mocinhos” da “Raça Antiga dos Homens” (notem que no HQ são os componentes do Rush em seu visual mais recente que tripulam a nave invasora) retornaram para derrubar de vez os Sacerdotes e seus Templos, ou se tudo não foi simplesmente mais um breve sonho, no momento da morte de nosso herói…

Aqui, uma versão ao vivo em 10 de Dezembro de 1976 em New Jersey:

A faixa foi tocada em praticamente todas as turnês posteriores do Rush, em sua maioria apenas as Partes I e II. O único registro ao vivo com todas as sete partes está no CD “Different Stages” de 1998, sendo que desde então a banda afina os instrumentos um tom abaixo para facilitar a execução dos vocais.

LADO B

2 – A Passage to Bangkok

O lado B abre com o riff com um tempero arábico de Lifeson, que aos 0:07 é marcado com o clássico “Oriental Riff” da guitarra dobrado nos cowbells de Peart.

Aos 0:11, entra o excelente vocal de Lee, que nos leva a uma viagem por uma rota imaginária da “Cannabis”, saindo da Colômbia, passando por México, Jamaica, Afeganistão, Marrocos, Tailândia, Nepal e Líbano, locais estes que nunca haviam visitados pela banda. Mas a sonoridade dos nomes dos locais escolhidos por Peart se encaixa perfeitamente na memorável melodia do vocal. Notamos o trabalho magistral de Lifeson a partir dos 0:22 quando da entrada da cozinha precisa de Peart e Lee, diversificando os arranjos da guitarra progressivamente durante a estrofe.

O tema escolhido, demonstrando o humor despojado da banda, nos indica a preferência psicotrópica de seus componentes, numa era em que toda e qualquer a experimentação era considerada como válida e a apologia ao uso de drogas era algo usual no meio artístico, uma vez que ainda não se tinha real noção das consequências do uso prolongado de drogas de forma individual e coletiva. Assim, obviamente a música acabou se tornando um hino dos maconheiros, sendo que o Rush declara que talvez por isso até hoje sua plateia seja uma das mais “aromáticas” do planeta.

Aos 0:41 entra o pegajoso refrão, que tem um arranjo de baixo bem trabalhado, voicings interessantes de guitarra e acentuações sempre precisas da bateria.

A sequência estrofe/refrão se repete a partir dos 1:02, e aos 1:52 temos a parada para o pertinente “puff” (tragada) de um compasso inteiro que antecede o inovador solo de 1:54.

Aqui cabe abrir um parênteses para tentar explicar a matemática envolvida na base deste solo de guitarra. No caso em questão, temos uma levada de bateria tocando um padrão de quatro compassos em 4/4, enquanto que as cordas desenvolvem um padrão com três compassos em 4/4 e um em 7/8. Esta contagem híbrida tem um efeito muito interessante, fazendo com que a base fique rica e diferenciada.

Aos 2:40 temos o retorno do “Oriental Riff” anunciando a volta do refrão, encerrando a excelente faixa de abertura do lado B.

Aqui, um video da música ao vivo em Rotterdam, do DVD “Snakes & Arrows Tour” de 2007:

3 – The Twilight Zone

O programa televisivo “The Twilight Zone”, criado por Rod Serling, foi transmitido originalmente nos Estados Unidos de 1959 a 1964 (conhecido no Brasil sob o título “Além da Imaginação”). O programa continha episódios que misturavam ficção científica, terror, drama e comédia, com enredos inteligentes e sempre trazendo desfechos intrigantes. O programa era um dos favoritos dos membros do Rush, tanto que o álbum anterior, “Caress of Steel”, havia sido dedicado ao criador da série, falecido em 1975.

Na canção, Peart inspirou-se em dois episódios da série para a elaboração da letra: “Will the Real Martian Please Stand Up?” (de 26 de Maio de 1961), que se passa em uma lanchonete aonde Barney Phillips interpreta um balconista com três olhos. O segundo é “Stopover In a Quiet Town” (de 24 de Abril de 1964), que conta a história de um casal que após uma noitada acorda em uma cidade vazia, aonde tudo se parece com um cenário, quando na verdade estão na casa de uma criança gigante e acabam tornando-se os brinquedos dela.

A música começa com um riff de guitarra com adições de overdubs, e após a excelente virada de Peart aos 0:12, o vocal sobre uma base de violões e baixo inicia, numa pegada mais leve.

Aos 0:39, temos o intrigante refrão, com violões e guitarras limpas fazendo um interessante dedilhado acompanhados pelo baixo e uma levada econômica, porém complexa, de Peart.

Aos 1:14, a estrutura da música é repetida, e notamos no segundo refrão, a partir dos 2:02, a dobra de voz sussurrada de Geddy, num truque de estúdio que deixa o refrão misterioso, bem na proposta do tema da música.

Aos 2:34, temos um melódico solo de guitarra, que serve como encerramento da interessante faixa.

Aqui, um video não-oficial trazendo a música e cenas do seriado:

4) Lessons

A terceira música do lado B tem a letra de autoria de Alex Lifeson, e trata das lições aprendidas ao longo da vida. Vemos no HQ um Alex jovem, sendo cobrado por seus pais, que resolveu encarar a música como forma de vida.

A faixa inicia com uma boa levada de violão ao estilo de “Making Memories” de “Fly by Night”, e a partir dos 0:17 a banda vai entrando em fade-in, preparando a entrada do vocal dobrado de Geddy aos 0:36.

A música cresce em dinâmica e peso no refrão que entra aos 1:10, com um vocal mais agressivo. Aos 1:13, Lee faz uma frase no baixo aonde mostra o seu desenvolvimento flagrante no instrumento. Detalhes como os de 1:18 tornam o arranjo de bateria rico, e a canção que parecia em seu início simples torna-se mais um exemplo de Rush puro.

A estrutura da faixa é repetida a partir dos 1:44, e temos um ótimo solo de guitarra aos 2:52 que segue até o final da música. A produção acerta ao dar destaque novamente ao violão aplicando um fade-out na banda a partir dos 3:18, nos lembrando da simplicidade inicial da canção de Alex.

5) Tears

A balada “Tears”, de autoria exclusiva de Geddy Lee, foi a faixa escolhida pela banda para ser explorada no estúdio, sendo o artista gráfico Hugh Syme convidado para gravar os teclados.

A música começa com o violão de 12 cordas de Alex. O vocal melancólico de Geddy em sua voz natural entra aos 0:13, e a música ganha corpo com a entrada do baixo aos 0:25.

Aos 0:41 notamos a sutil entrada do timbre de flauta do Mellotron de Hugh Syme, e aos 1:01, temos o bucólico refrão, que conta com uma levada extremamente econômica de Peart e densas camadas de strings do Mellotron de Syme.

Aos 1:30 notamos o arranjo do teclado em destaque, e a partir dos 1:52 a estrutura da faixa é repetida. A partir dos 3:07, o fade-out do violão e baixo para que o Mellotron novamente ganhe destaque ao executar as harmonias de encerramento desta faixa experimental do álbum.

6) Something for Nothing

A última faixa do LP começa com uma harmoniosa sequência de acordes do violão de 12 cordas acompanhado pela guitarra em overdub. Aos 0:14, o fraseado do baixo de Geddy Lee, que inicia o vocal da primeira estrofe aos 0:30.

A letra de Peart nos declara de que nada na vida “cai do céu”, e devemos portanto trabalhar duro para conseguir o que merecemos.

Aos 0:47, as pontuações precisas da banda na preparação para o pré-refrão que inicia aos 0:57, que são repetidas em dobro antes do refrão que começa aos 1:27, com sua melodia da voz que acompanha os instrumentos: “Você não pode ter algo em troca de nada / Não pode ter liberdade de graça”. Peart conta que a inspiração para a faixa veio de uma pichação que viu em um muro em Los Angeles em 1970: “A liberdade não é gratuita”.

Aos 1:45, mais um solo primoroso de Lifeson, que antecede o pesado refrão de 2:17, e aos 2:35, Geddy canta uma nova sequência melódica sobre a base da guitarra para a entrada das acentuações do baixo e bateria aos 2:39. Aos 2:50, a banda toda conduz uma base pesada para o vocal agudo de Lee.

Aos 3:13, as pontuações precisas novamente anunciando o refrão final da música, que, aos 3:30 traz mais uma das sensacionais viradas de Peart, com dois compassos de duração. Alex sola incansavelmente até o final em fade-out, encerrando o excelente álbum.

2112 promo

O disco foi recebido com ceticismo pela gravadora, mas com o aval do executivo Cliff Burnstein, que acreditava que o álbum possuía o polimento necessário para emplacar a banda de uma vez por todas, o LP foi lançado oficialmente em 1º de Abril de 1976, e promovido através de dois singles: “The Twilight Zone / Lessons”, as faixas notavelmente mais comerciais do álbum, e “2112 – I – Overture / II – The Temples of Syrinx”, para divulgação da faixa-título.

Apesar de toda a sua excelência musical e de conteúdo, o LP acabou recebendo críticas mistas da mídia logo após o lançamento, pois uma parte dela rejeitava a citação explícita a Ayn Rand face ao teor filosófico e político de suas obras, e o Rush acabou sendo até rotulado como “comunista” e “nazista”. O símbolo da capa também acabou virando alvo de críticas por parte dos religiosos anti-Rock ‘n’ Roll de plantão, pois acreditavam que isso ligaria os membros do Rush ao satanismo, face ao pentagrama dentro de um círculo vermelho estampado na capa do LP.

Porém, nada disso impediu que o Rush estabelecesse um fiel público, e surpreendentemente o LP vendeu 100.000 cópias na primeira semana, com novos pedidos já transbordando na gravadora mesmo antes do plano de marketing do disco ser colocado em prática.

Em um mês, o álbum superou as vendas dos três primeiros combinados alcançando a posição 61 no Billboard Top LPs & Tape, sendo o primeiro disco da banda a chegar no “top 100”, consolidando a posição do Rush perante sua gravadora.

Em 16 de Novembro de 1977, “2112” foi certificado “Ouro” e, em 25 de Fevereiro de 1981 recebeu a certificação de “Platina”.

Concluo que, em “2112”, o Rush trouxe o irretocável épico do lado A, e ao mesmo tempo, as faixas mais acessíveis do lado B, aonde explorou outras possibilidades em termos de composição, optando por canções com refrões memoráveis e arranjos mais diretos, demonstrando a versatilidade das suas músicas e estabelecendo o estilo “Rush” de uma vez por todas. O crescimento técnico dos três componentes da banda é flagrante, sendo que Peart já se estabelece nesse álbum como um dos maiores bateristas e letristas de todos os tempos.

Ao meu ver, os destaques além da sensacional faixa-título são “A Passage to Bangkok” e “Something for Nothing”, que realmente refletem a originalidade alcançada pela banda e o caminho a ser seguido no futuro. As faixas escolhidas para o single “The Twilight Zone” e “Lessons” são muito boas, e “Tears”, apesar de eu pessoalmente não gostar muito da faixa, é extremamente válida pois ampliou os horizontes da banda com a adição dos teclados, que em breve farão parte integral das suas composições e excepcionais performances ao vivo como um power-trio.

Assim, respondendo as perguntas da abertura desta resenha, posso dizer que, como num jogo de Poker, com uma boa dose de planejamento, preparo e timing na jogada, o Rush resolveu acreditar nas cartas que tinha na mão apostando todas as suas fichas em “2112” para dar um “xeque-mate” na sua gravadora e conquistar a liberdade artística irrestrita deste momento em diante, encerrando com chave-de-ouro a primeira fase da banda que compreende os quatro primeiros LPs. O resultado desta liberdade criativa poderá ser apreciado a partir do próximo album de estúdio, “A Farewell to Kings”.

A banda iniciou sua nova turnê em Los Angeles em 18 de Março de 1976, que acabou ficando registrada oficialmente no primeiro LP duplo ao vivo da banda. Portanto, os detalhes da turnê de “2112” serão analisados no próximo capítulo da discografia, “All the World’s a Stage”, de 1976.

keep bloggin’

Abilio Abreu



Categorias:Artistas, Curiosidades, Discografias, Instrumentos, Led Zeppelin, Músicas, Pink Floyd, Queensrÿche, Resenhas, Rush, The Beatles, The Who

45 respostas

  1. Normalmente não comento este tipo de coisa, mas o cuidado com o visual deste post já mostra o potencial de tudo que tem por aqui. Surreal!

    Muita coisa eu já tinha visto durante o desenvolvimento, especialmente o vídeo especialmente produzido para o post, que é mais um trabalho “solo” fantástico e diferenciado. É mais que a cereja do bolo, vem até um cupom que dá sobremesa grátis por meses, se assim posso dizer. Impecável.

    Vou degustá-lo com a devida calma, pois merece, e tenho muito a aprender com ele, com certeza.

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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  2. Eu já olhei por cima e já tenho a impressão que está extraordinário esse capítulo, assim como o restante da discografia. Vou levar um tempo para fazer um bom comentário aqui, pois o texto e acessórios exigem tempo para leitura.
    Estou ouvindo os discos lendo a discografia e já fica uma pergunta: Vai rolar o All The World´s a Stage ou vamos pular o ao vivo e vamos para o Farewell To Kings?
    Remote

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  3. Demais, parabéns pelo trabalho!

    Adoro este disco do Rush, um dos meus álbuns favoritos da banda, tem muita técnica envolvida, cada vez que escuto o álbum percebo um detalhe diferente.

    Agora não entendi o fracasso do Caress of Steel, eu gosto muito deste álbum, principalmente da música Lakeside Park e não sabia que o disco tinha tido criticas negativas e baixa vendagem. Eu adoro!

    Já estou ansioso pelo próximo post!

    Valeu Abílio!

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  4. Voltei aqui apenas para escrever o óbvio em dose dupla :

    – Isso aí em cima é fantástico, uma maravilha!!
    -Eu vou precisar ouvir e ler tudo junto com calma para tentar trazer algum comentário que faça jus a tamanha qualidade !

    Alexandre

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  5. Abilio, repetirei um adjetivo que já usei com você após ver este capítulo: é um ABSURDO de impressionante. É uma verdadeira “Barsa online” sobre a banda e o momento decisivo que a banda passava, como tão bem explorado por você. Fica a dúvida: será que o Rush conhece tudo isso? Eles podem ser os nerds que forem, mas será que consegue chegar neste nível? 🙂

    E não só isso, você foi capaz de cobrir todos os aspectos, como história, a gravação, o contexto histórico, enfim, fica difícil até comentar, especialmente para mim, que estou aprendendo com a banda com cada post que vai saindo.

    Agora, para mim, o destaque ficou com sua mais que detalhada (absurda, de novo no melhor dos sentidos) é a explicação das células, culminando no atencioso vídeo de você tocando com Lee e Peart, hehehe. Esse toque pessoal é uma exclusividade preciosa que este blog está recebendo, além do texto. E também devo destacar a parte gráfica, pois não só o post ficou visualmente incrível, como tudo que você colocou foi fundamental para atingir seu objetivo de explicar minuciosamente o que é cada coisa.

    Sobre o disco em si, também muito bem comentado por você, a mudança em relação ao anterior é gigantesca e a banda iniciaria seu caminho ao sucesso. A Passage To Bangkok é um clássico absoluto e a épica faixa-título é uma orgia musical. A voz de Geddy está altíssima e o Rush começava a mostrar ao mundo o caminho que seguiria. Eles foram corajosos ao enfrentarem e “enganarem” a todos com este disco-chave na discografia, pois um erro ali poderia ter custado de vez a sequência e a própria existência do trio. Fico muito curioso por estas versões 5.1 dos discos, como existe também para o Pink Floyd, a experiência costuma ser bem legal para quem tem um bom receiver 5.1 (pelo menos).

    Sim, o “mate” foi dado com louvor e o caminho a partir de agora mostrará ao mundo o que esses canadenses tinham de talento. Estou ansioso pelo próximo capítulo, aliás, a partir de agora começaremos a ver o “néctar”…

    Dar os parabéns aqui é muito simplório, mas saiba que de qualquer elogio deve ser dado ao máximo por aqui. E muito obrigado por esta publicação sem precedentes, a aula é magna…

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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    • Eduardo,

      As palavras acima são realmente gratificantes, (quase) fico sem palavras…

      De toda forma, como sempre digo, me empenho ao máximo para manter a qualidade altíssima das discografias aqui do blog, e, com o “agravante” de estar falando de Rush, acredito que a cada post estou conseguindo alcançar esta meta.

      Confesso que eu acreditava que sabia bastante sobre o Rush até pouco tempo atrás, mas como se vê, estou descobrindo muitas novidades ao escrever esta discografia, tanto da história como da música da banda nesta fase 1 que compreende os 4 primeiros álbuns.

      Já o sistema de células, foi uma metodologia que criei para poder me organizar no meu próprio entendimento do épico, e acabei encontrando uma forma de transcrever isso para a resenha, junto com a gravação do video tocando “ao vivo” com Geddy e Neil. Acredito que ajude na compreensão geral da forma como esta intrincada faixa foi composta. E esse sistema ainda deverá ser usado novamente mais adiante, pois após o próximo post, “All the World`s a Stage”, o Rush vai entrar na sua fase mais progressiva, atingindo o auge da criatividade e complexidade em suas composições. A tarefa não será fácil, mas valerá a pena com certeza!

      E por fim, mais uma vez agradeço por abrir este espaço aqui no blog!

      keep readin’

      Abilio Abreu

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  6. Abílio,
    Demorei aqui, pois precisava ouvir o disco junto – além de ver o material audiovisual, é muita coisa mesmo.
    Isso aqui não é uma resenha, é uma aula sobre o disco. Se eu não me engano esse é o 3o disco que compramos da banda, Alexandre que me corrija. Acredito que compramos o Rush (1o album), o Exit Stage e depois este.
    Por muito tempo ficamos só com esses três até a chegada dos cds e compramos todos até 1981. Depois a minha coleção de vinil evoluiu também até ter todos até 1981.
    Estou ouvindo todos os vinis junto com a sua aula e prestando atenção nos detalhes minunciosamente listados. Sobre o texto gostaria de apontar:
    – O nosso Vinil brasileiro é da edição mais simples possivel e não é duplo, não trazendo as letras nem a foto com a placa eletrônica impressa. Ver as fotos da parte interna do disco – simplesmente retiradas da edição – que piada era a distribuidora do Brasil nos anos 80 – lamentavel totalmente.
    – A faixa título é o primeiro épico da banda, devidamente dissecada aqui com perfeição inigualável e aproveitei e baixei um Free VST Emulador do Sintetizador Arp. Testo depois e descrevo aqui.
    – Muito bem pontuada a voz amada/odiada de Geddy – talvez aqui numa das suas melhores fases. Eu sempre estive nos que amavam.
    – A Passage to Bangkok – indevidamente não incluida no primeiro ao vivo – Eles não tocaram na tour? Devida e estranhamente incluida no segundo ao vivo (seria o ao vivo da 2a fase), numa versão tão maravilhosa que no solo, só ouço a base. Percebe-se como a banda vai evoluindo para a proxima fase – aí sim totalmente progressiva.
    – Outro Detalhe muito interessantes – sempre gostei de ouvir a a dobra de voz sussurrada de Geddy em Twilight Zone. Me chamou à atenção de cara…
    – E Em Lessons a virada de baixo ressaltada mostra como a banda seria influente – num estilo que como exemplo Steve Harris cansou de usar nos anos 80 nos discos do Maiden.
    – O disco so ganhou Platina depois do lançamento do Moving Pictures, a 2a e definitiva consagração do Rush. Merecia bem antes, Mas vamos ver isso mais a frente, não é?
    E para finalizar o comentário deste épico capítulo diria que o All The World´s a Stage já está na ponta da agulha.
    2112 Parabens!
    Remote.

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    • Remote,

      Em primeiro lugar, agradeço mais uma vez pela atenção com a qual leu o texto e pelos destaques dados, suas impressões são sempre muito bem vindas.

      Já esperava (e espero durante a próxima fase inteira) uma certa “calmaria” nos comentários sobre o álbum em si, já que é difícil alguém que goste de Rock discordar da excelência deste álbum (e do que vem por aí logo).

      Eu lembrei que, anos atrás, realmente fiquei surpreso ao saber que a maioria dos discos importados do Rush vinham com um encarte com letras, pois os nacionais, como já discutimos aqui no blog diversas vezes, sempre deixaram a desejar. Mas acabei de checar a minha versão em CD Made in USA, e o encarte é realmente fraco, apenas com a foto da banda e o texto principal na parte interna, e o nome das músicas na contra-capa…

      Felizmente, eu ganhei de um amigo o livro de partituras “Rush Complete” (que tem todas as músicas com partitura, cifras e letras até o álbum “Signals”, ou seja, tem toda a melhor fase da banda) muito cedo na minha vida (em 1986), o que já me fez explorar a banda desde que comecei a tocar praticamente. Mas confesso que só fui entender completamente a peça principal agora, ao analisá-la para a resenha, pois os textos de introdução das letras não estão no livro.

      Então, a gente nota que, com o LP nacional, pelo menos metade da experiência foi suprimida, pois é imprescindível o acompanhamento da letra e textos para a compreensão total de 2112. E pior que a gente pagava bem caro por estes LPs…

      Agora é o “All the World’s a Stage” rodando todo dia…

      keep rushin’

      Abilio Abreu

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  7. Voltei aqui , após uma obrigatória audição de 2112, acompanhando esta espetacular resenha, para antes de tudo dizer que o álbum é um clássico, mas eu o considero melhor do que o meu gosto o avalia. Assim, eu respeito demais o trabalho, vamos deixar claro que eu o considero essencial para a história do gênero musical de nossa predileção.

    Isso posto, eu assumo uma espécie de mea-culpa por não achar algumas coisas do álbum tão maravilhosas assim, começando pela faixa-título, que é sem dúvida uma obra-prima, mas que cai no meu gosto pessoal em especial na parte Discovery, com aquele estranho pedaço de afinação da guitarra. Lendo o texto, faz todo o sentido na história desenhada pela banda, mas acho as duas primeiras partes tão geniais que quando chego aqui me dá uma certa ” desacelerada” na minha apreciação.

    O seu texto é brilhante por nos ajudar a entender o conceito do álbum, o qual eu não tinha tanto conhecimento. Os quadrinhos também fazem uma boa ajuda no entendimento do conceito da canção, mas eu ainda considero o Rush neste momento num estágio claramente evolutivo, inclusive na sonoridade em especial das guitarras de Alex, que mais pra frente mudariam bruscamente para o que eu considero a marca deste grande guitarrista. Eu vou delinear esta minha avaliação do momento desta mudança conforme as próximas partes da discografia estiverem chegando.

    As demais partes de 2112 são melhores que a citada Discovery, mas ainda acho que não se comparam as duas partes iniciais. Gosto bastante do solo de Lifeson sob a melodia da ” célula 7″ em Soliloquy, e da virada citada de Peart em Presentation. Aliás, o baterista está espetacular em outras grandes viradas durante toda a faixa titulo.

    O final realmente não deixa claro o que aconteceu com o nosso protagonista, mas isso fica até em segundo plano, face o desenvolvimento das idéias da música em si. E acho que eu preciso entender melhor a canção para dar todo o crédito que ela realmente merece. Eu preciso necessariamente destacar o vídeo gravado com a guitarra, onde se mostram as células. Ficou perfeito e ajuda demais a entender o conceito de uma peça conceitual, onde as partes de áudio vão se repetindo conforme os temas da canção vão se dispondo. Abílio, esta é sem dúvida , a cereja do bolo desta meticulosa e excepcional resenha.

    O “lado B” deste álbum começa com a música que mais gosto, A Passage to Bangkok. A questão da letra, irônica, fica até de lado , face a maestria dos três gênios canadenses na faixa. Destaco em especial Peart na base do solo. Aliás, um excelente solo que entendo que fica até melhor ao vivo, no soberbo Exit..Stage Left.

    Tanto The Twilight Zone como Lessons são músicas que considero medianas, dentro de um padrão Rush, é lógico, e ainda assim ambas trazem detalhes muito interessantes e que mostram sim claramente a evolução dos músicos.Nas duas faixas gosto muito do arranjo de Peart, na caixa da segunda faixa e em toda a base de Lessons. O baixo de Lee, que você citou, é realmente excelente em Lessons. O detalhe da voz susurrada de Geddy em The Twilight Zone sempre me chamou muito a atenção desde as primeiras vezes que ouvi a faixa, mas acho que o tema da música não combina muito com o instrumental desenvolvido.

    Vou novamente em desencontro à sua opinião ao citar Tears como uma faixa de uma delicadeza singular e muito bonita. O baixo, muito bem encaixado, o bom uso dos teclados,em especial no melotron do refrão, os acordes diferentes de Lifeson, até a economia de Peart, que estraçalha no álbum todo e aqui prefere ser simples.Uma simplicidade genial, diga-se de passagem.

    O lado termina com a faixa que mais me lembra os álbuns anteriores do Rush, em especial o Fly by Night. E nem por isso menos boa. Something for Nothing tem precisão no arranjo com o baixo e bateria em sincronismo e tem um ótimo uso do violão de 12 cordas no início, acrescido de guitarras com um efeito que me pareceu o Phase 90 de novo, algo bem característico desta primeira fase do Rush. Se destaca junto com Tears e A Passage to Bangkok, na minha opinião.

    A resenha cumpriu o papel, Abílio, está facilmente no Olimpo das resenhas do Minuto HM. E faz jus à obra-prima que o Rush entregou e que abriu de novo as portas para a banda. Teremos a seguir, o fechamento desta fase com o primeiro ao vivo e entre os álbuns de inéditas da banda, uma sequência espetacular de álbuns fantásticos. E eu mal posso esperar por isso!!

    Saudações!

    Alexandre Bside

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    • Grande Bside,

      Mais uma vez, muito preciso em sua “contra-resenha” habitual, expondo de forma clara suas impressões tanto sobre o texto quanto sobre o disco em si. A frase “eu o considero melhor do que o meu gosto o avalia” é uma das melhores que já li… Bside stuff…

      O destaque para o video exclusivo gravado com a explicação das células (que confesso ter tido certa dúvida se seria algo realmente compreensível) faz com que o trabalho empreendido já esteja “recompensado”, ainda mais vindo de você, sábio sem igual para as “coisas da guitarra”…

      Quanto a “Tears”, posso ir um pouco mais adiante dizendo que a música, apesar de indubitavelmente bela em termos melódicos e harmônicos, tem um refrão um pouco “cafona” para meus ouvidos… Digo isso sentindo um pedaço de gelo cristalizado penetrando em meu coração, mas tenho que ser sincero… Dá pra perceber que as “lentas” da fase 1 da banda realmente não me agradam muito, mas verão que logo irei mudar minha opinião…

      Agora teremos o Capítulo 5, aonde, apenas como um pequeno adiantamento, posso contar que cobriremos duas turnês, culminando no momento chave da inserção dos teclados no power-trio…

      E muito obrigado por colocar a resenha no Olimpo do MHM!

      keep waitin’

      Abilio Abreu

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      • Eu sou mais um que coloco esta resenha – na verdade, toda a discografia so far – em lugar nobre no Olimpo do blog.

        Abilio, não tenha qualquer dúvida: o que você vem fazendo é um trabalho sem procedentes, e digo isso em âmbito mundial. Não é exagero, não é valorizar e nem “puxar o saco”, é a verdade.

        [ ] ‘ s,

        Eduardo.

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      • Será que é permitido discordar do Abílio, depois de um post desses?
        Vou acompanhar o bside. Tears é uma música de uma delicadeza e simplicidade genial ímpar. Pode até se achar que ela “destoa” em um álbum marcado pela sofisticação e detalhismo perfeccionista (feitos de uma maneira belíssima), mas como música ela é excelente!
        ps: será que teremos outros vídeos produzidos pelo Abílio nas próximas edições da discografia? Eu torço que SIM!!!!

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        • Schmitt,

          Seus comentários notados com enormes agradecimentos!

          Minha ideia é gravar eu tocando TODOS os instrumentais da banda, cada qual em seu respectivo post. Não será uma tarefa nada fácil, pois a coisa vai ficar cada vez mais complicada pro meu lado…

          Mas que graça tem a vida se não encararmos grandes desafios?

          keep watchin’

          Abilio Abreu

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  8. bicho, aonde isso aqui vai parar ?……………
    fonte inegostável de conhecimento
    muito obrigado a todos pelo aprendizado
    Abílio, por favor, continue assim. O desafio é enorme e vc fez parecer algo fácil……continue assim…Keep Calm e não para de escrever, pelo amor de Deus (Deus?)

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  9. É realmente impressionante….

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  10. Puxa, não tem muito o que dizer depois de um post desses, somado a comentários de qualidade.
    Fica aqui apenas minha veneração ao Mestre Abílio.
    FO*ÁSTICO!!!

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  11. Este é meu post preferido deste ano no Minuto HM.
    Além de ter sido minuciosamente construído e fazer parte de uma série de posts de uma de minhas bandas preferidas tem um vídeo feito especialmente pro post que é fora da escala de tão bom e interessante. Parabéns ao Mestre Abílio!

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  12. Isso aqui é surreal , um trabalho fantastico que precisa ser continuado e só pelo autor , que é o unico capaz de dissecar neste nivel.
    Abilio, parabens novamente e estamos esperando a continuação.
    Quanto ao MetallicA – putz….

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  13. [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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  14. Edição especial de 40 anos do álbum a caminho: http://www.rush.com/2112-40th/

    ——————-

    TRACKLISTINGS:

    SUPER DELUXE:

    CD – DISC 1

    Original Album Newly Remastered by Abbey Road Studios

    “2112”
    I OVERTURE

    II THE TEMPLES OF SYRINX

    III DISCOVERY

    IV PRESENTATION

    V ORACLE: THE DREAM

    VI SOLILOQUY

    VII GRAND FINALE

    A PASSAGE TO BANGKOK
    THE TWILIGHT ZONE
    LESSONS
    TEARS
    SOMETHING FOR NOTHING
    CD – DISC 2

    SOLAR FEDERATION
    OVERTURE – Dave Grohl, Taylor Hawkins and Nick Raskulinecz
    A PASSAGE TO BANGKOK – Billy Talent
    THE TWILIGHT ZONE – Steven Wilson
    TEARS – Alice In Chains
    SOMETHING FOR NOTHING – Jacob Moon
    “2112” – Live at Massey Hall 1976 Outtake
    SOMETHING FOR NOTHING – Live at Massey Hall 1976 Outtake
    THE TWILIGHT ZONE – Live 1977 Contraband
    2112 1976 RADIO AD
    DVD – DISC 3

    Live at Capitol Theatre 1976

    BASTILLE DAY
    ANTHEM
    LAKESIDE PARK
    2112
    FLY BY NIGHT
    IN THE MOOD
    Bonus Videos

    OVERTURE: Dave Grohl, Taylor Hawkins and Nick Raskulinecz
    A PASSAGE TO BANGKOK: Behind The Scenes with Billy Talent
    2112 – 40 YEARS CLOSER: A Q&A with Alex Lifeson and Terry Brown
    200 GRAM – 3LP HOLOGRAM EDITION VINYL with CUSTOM STARMAN TURNTABLE MAT

    SIDE ONE

    “2112”
    I OVERTURE

    II THE TEMPLES OF SYRINX

    III DISCOVERY

    IV PRESENTATION

    V ORACLE: THE DREAM

    VI SOLILOQUY

    VII GRAND FINALE

    SIDE TWO

    A PASSAGE TO BANGKOK
    THE TWILIGHT ZONE
    LESSONS
    TEARS
    SOMETHING FOR NOTHING
    SIDE THREE

    SOLAR FEDERATION
    OVERTURE – Dave Grohl, Taylor Hawkins, Nick Raskulinecz
    A PASSAGE TO BANGKOK – Billy Talent
    THE TWILIGHT ZONE – Steven Wilson
    TEARS – Alice In Chains
    SOMETHING FOR NOTHING – Jacob Moon
    SIDE FOUR

    “2112” – Live at Massey Hall 1976 Outtake
    SIDE FIVE

    SOMETHING FOR NOTHING – Live at Massey Hall 1976 Outtake
    THE TWILIGHT ZONE – Live 1977 Contraband
    2112 RADIO AD
    SIDE SIX

    Custom Vinyl Etching by Hugh Syme

    EXCLUSIVE SUPER DELUXE BONUS ITEMS:

    Original Hugh Syme STARMAN Pencil Sketch Litho

    Massey Hall June 1976 Ticket Stub Litho

    Massey Hall June 1976 Handbill

    Three Collector Buttons

    2CD + DVD:

    CD – DISC 1

    Original Album Newly Remastered by Abbey Road Studios

    “2112”
    I OVERTURE

    II THE TEMPLES OF SYRINX

    III DISCOVERY

    IV PRESENTATION

    V ORACLE: THE DREAM

    VI SOLILOQUY

    VII GRAND FINALE

    A PASSAGE TO BANGKOK
    THE TWILIGHT ZONE
    LESSONS
    TEARS
    SOMETHING FOR NOTHING
    CD – DISC 2

    SOLAR FEDERATION
    OVERTURE – Dave Grohl, Taylor Hawkins and Nick Raskulinecz
    A PASSAGE TO BANGKOK – Billy Talent
    THE TWILIGHT ZONE – Steven Wilson
    TEARS – Alice In Chains
    SOMETHING FOR NOTHING – Jacob Moon
    “2112” – Live at Massey Hall 1976 Outtake
    SOMETHING FOR NOTHING – Live at Massey Hall 1976 Outtake
    THE TWILIGHT ZONE – Live 1977 Contraband
    2112 1976 RADIO AD
    DVD – DISC 3

    Live at Capitol Theatre 1976

    BASTILLE DAY
    ANTHEM
    LAKESIDE PARK
    2112
    FLY BY NIGHT
    IN THE MOOD
    Bonus Videos

    OVERTURE: Dave Grohl, Taylor Hawkins and Nick Raskulinecz
    A PASSAGE TO BANGKOK: Behind The Scenes with Billy Talent
    2112 – 40 YEARS CLOSER: A Q&A with Alex Lifeson and Terry Brown
    3LP VINYL EDITION:

    200 GRAM – HOLOGRAM EDITION VINYL with CUSTOM STARMAN TURNTABLE MAT

    SIDE ONE

    “2112”
    I OVERTURE

    II THE TEMPLES OF SYRINX

    III DISCOVERY

    IV PRESENTATION

    V ORACLE: THE DREAM

    VI SOLILOQUY

    VII GRAND FINALE

    SIDE TWO

    A PASSAGE TO BANGKOK
    THE TWILIGHT ZONE
    LESSONS
    TEARS
    SOMETHING FOR NOTHING
    SIDE THREE

    SOLAR FEDERATION
    OVERTURE – Dave Grohl, Taylor Hawkins, Nick Raskulinecz
    A PASSAGE TO BANGKOK – Billy Talent
    THE TWILIGHT ZONE – Steven Wilson
    TEARS – Alice In Chains
    SOMETHING FOR NOTHING – Jacob Moon
    SIDE FOUR

    “2112” – Live at Massey Hall 1976 Outtake
    SIDE FIVE

    SOMETHING FOR NOTHING – Live at Massey Hall 1976 Outtake
    THE TWILIGHT ZONE – Live 1977 Contraband
    2112 RADIO AD
    SIDE SIX

    Custom Vinyl Etching by Hugh Syme

    ——————-

    Mais: http://www.blabbermouth.net/news/rush-announces-40th-anniversary-edition-of-2112-plenty-of-bonus-material/

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

    Curtido por 1 pessoa

  15. [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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  16. Educação de base e um pouco de descontração…

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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  17. Olá, os reviews irão continuar??

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  18. [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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