Dirty Loops – A web apresentando o novo ‘de novo’

dirtyloops

“E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia que dela comeres, certamente morrerás” – Gênesis 2:17

Há muito a rede mundial de computadores (web) se tornou over em vários sentidos e toda vez que me vejo diante de uma notícia, por exemplo, fico pensando na relevância que aquilo tem sobre minha vida ou sobre a rotina de uma população. Para não ficar no achismo (e nem em cima do muro) de um assunto que demandaria um podcast, só faço aqui um paralelo com um texto sagrado da tradição do Cristianismo onde o Deus judaico proíbe suas criaturas que não tenham contato com a “árvore do conhecimento do bem e do mal” sob o pretexto que se alimentar da mesma lhe trará um futuro desgraçado e mesmo que você não seja cristão ou nada adepto de leituras sacras seja de que religião for, certamente conhece esta passagem. Enganados pela serpente do jardim do Éden, tanto Adão como Eva são expulsos do paraíso após comerem da maçã (na verdade não existe citação a qual fruto proibido o Criador se referiu, sobrando para maçã a maldição, tal qual aconteceu com Branca de Neve) são expulsos da presença de Deus e também do pequeno universo na qual foram criados.

A internet é quase isso. Uma árvore do conhecimento do bem e do mal. Só não sei se as consequências do desfrute da sua lida é o mesmo sentenciado pelo que aparece no texto sagrado. A gente acha, no navegador ao nosso alcance, o site oficial dos Médicos Sem Fronteiras, profissionais que no exercício de suas atividades ajudam países na erradicação de doenças que ainda persistem em afligir países como Haiti, Uganda, Etiópia ou qualquer conglomerado social que necessite de cuidados específicos. No mesmo browser, sem pesquisa aguda, encontramos pedofilia, tutoriais para confecção de explosivos em qualquer escala, clipes do Poison e imagens inéditas da Hortência posando em uma revista masculina em uma década pouco favorecida pelo silicone ou Photoshop.

Assim como o controle remoto exerce uma função importante na hora de selecionarmos o que desejamos trazer para nosso lar, o senso de utilidade profícua é necessário para que a quantidade de (des)informação da internet não nos contagie em detrimento da qualidade. Podem mudar os recursos e a forma colorida com a qual convivemos com ela, mas, diferente do texto de Gênesis (livro bíblico da qual extraímos o primeiro parágrafo), agora somos dono do paraíso, do jardim, da fazenda, do latifúndio, do condomínio, do barraco ou de qualquer pedaço.

Por isso, sob este senso, que apresento aos senhores o trio Dirty Loops, uma banda sueca que se formou em 2008 e que ficou famosa no YouTube alguns anos depois, tocando covers do repertório pop recente de artistas como Britney Spears, Rihanna, Adele e Justin Bieber, mas fiquem tranquilos leitores do MHM: pouparei vocês (pelo menos eu acho) de qualquer inconveniente agudo ao dá-lhes a chance de reconhecer tais canções na interpretação destes jovens talentosos.

O grupo é formado por Jonah Nilsson (isso mesmo, com dois “esses”) nos teclados, o incrível baixista Henrik Linder e o baterista Aron Mellergårdh. Com um delay de seis anos, o disco de estreia da banda, “Loopified“, teve um modesto 19º colocado na posição de lançamentos do ano na Suécia e um modestíssimo 86º lugar nas paradas americanas. Estes números trazemos apenas ‘em nível’ informativo. O som é de primeira e a recepção fria até mesmo no mundo escandinavo (eles ficaram depois dos 20+ na Dinamarca e na Noruega) não pode ser um parâmetro para o trabalho competente dos músicos, embora o próprio debut dos moços merecesse uma produção menos pasteurizada e mais próxima do punch que a banda demonstra nos vídeos que chegaram à internet. O som ficou muito próximo das referências utilizadas pelos músicos para que fizessem conhecido seu trabalho e neste metiér a concorrência é muito grande.

Com uma influência perceptível da fase soul / r&b de Stevie Wonder e do pop de Michael Jackson, o DL, que dispensa as guitarras na sua composição sonora, tem peso e groove na hora que mandam ver nos seus instrumentos. Embora eu tenha adjetivado o baixista, tanto Jonah quanto Aron são além de competentes como tecladista e baterista, consecutivamente. Jonah, por exemplo, faz frases inteiras dentro de contra-tempos ‘inimagináveis’ que Aron executa. Já Henrik, com seu visual emo, nos engana. Com uma precisão e técnica digna dos grandes monstros das quatro cordas (ok, tem de cinco ou seis, mas o autor do texto é fã da estética rock and roll, ok?), Henrik poderia ser incluído fácil fácil na lista de um dos melhores do seu instrumento no mundo. Exagero? Confiram os clipes que eu selecionei para que tenhamos contato com a música dos caras.

“Baby” – Justin Bieber

Foi com a canção do precoce canadense que eu conheci o DL e a admiração foi imediata. A desconstrução do “hino” pop quem me fez cair o queixo para as possibilidade harmônicas de uma canção tonal e, aparentemente banal. Eles “entortam” uma música composta na receita convencional dos sucessos radiofônicos: intervalos de primeira, terceira e quinto acordes, com tensões sobrepostas ao sétimo acorde, só pra dar aquela sensação que todos chamamos de preparação para voltarmos ao acorde da primeira “casa”. Tecnicamente é isso. Os caras do DL vão lá e transformam a enjoadíssima “Baby” em um jazz fusion regado à Jaco Pastorius, Stevie Wonder e Dave Weckl.

Não satisfeitos em imortalizarem “Baby”, eles foram lá e cometeram outras versões não menos fantásticas de outras canções bastante conhecidas do público, certamente uma tática que funcionou, pois este vídeo já passou das 5 milhões de visualizações.

A partir de agora sugiro o uso de (bons) fone de ouvido para atenção destinada aos detalhes:

“Circus” – Britney Spears

Embora tenha o carimbo ” Britney Sh*t”, é da blondie a melodia que eu mais gosto. As mudanças de cadência, os vocais (pay attention), os slaps e o solo de teclado cuidam com bastante carinho da música da ‘diva’, que na verdade é quase um lado B da carreira da performer americana.

“Prude Girl” – Rihanna

Não bastasse ser um tecladista com ricos recursos, Jonah canta muito e seu senso para buscar soluções vocais inusitadas vai muito além do trivial. As convenções intrincadas e o timbre fechado da bateria, com uma mixagem redonda, deixa o som do DL muito além da deusa do ébano Rihanna.

“Rolling In The Deep” – Adele

Me dá uma vergonha dizer que toco teclado quando eu vejo o arranjo de casamento teclado-baixo no cover da canção que mais tocou no disco de estreia da cantora inglesa em 2010. Aqui o pau quebra e eu fico imaginando o que estes caras poderiam fazer com canções que eu curto mais. Um som pesado e gordo, no sentido que as frequências utilizadas são absolutamente equilibradas. Grave, médios e agudos em uma sinergia muito bem vinda.

Se você quer conhecer mais sobre o DL recentemente eles lançaram atualizações sobre a tour de divulgação do disco de estreia. Clique aqui e confira. Não, infelizmente não existe previsão de vinda do trio ao nosso país. Havendo novidades os redatores do MHM estarão atentos e você poderá conferir estes e outros shows na Agenda do Patrãozinho.

Para terminar e para demonstrar que além do DL existem outras bandas que seguem um caminho estético sonoro bem semelhante, quero deixar uma amostra do Project RnL, um grupo de amigos de Israel, que também colocaram seus vídeos no youtube e que , quando não com canções próprias, fizeram covers não menos inusitadas. A canção no caso é “MMMBop” do Hanson (boy band musical que fez bastante sucesso na década de 90 com o hit grudento), na qual a desconstrução foi tão intensa que eles cunharam-na como “Hansonian Rhapsody”, numa clara alusão ao sucesso do Queen, “Bohemian Rhapsody”. Os caras são tão bons que chamaram a atenção de um tal de Jordan Rudess (tecladista do Dream Theater), que empresta seus talentos artísticos e tecnológicos na canção “The Avenger” que você pode conferir aqui.

“MMMBop” – Hanson 

Daniel Junior é membro da família MHM, colunista do site Seriemaníacos e colaborador cultural do site Eu Escolhi Esperar . Vem aí o melhor site de reviews de cinema do sistema solar …The Crow e o primeiro lançamento literário do colunista em breve nas livrarias e lojas digitais.



Categorias:Artistas, Curiosidades, Músicas

10 respostas

  1. Olha, Daniel, gostei do post, das amarrações, das justificativas e ficou claro que os músicos (especialmente os instrumentistas) possuem muito talento.

    Mas não gostei do vocal de cara e aí com as músicas do post (sendo honesto em minha opinião, horrorosas para baixo), a coisa ficou impossível para mim… cheguei ao ponto de colocar no mudo por um tempo especialmente para ver o batera, que me pareceu realmente diferenciado, depois voltei o som para ouvir o baixo, que me pareceu muito encorpado…

    Dei uma olhada para ver mais informações destes suecos e vi que estão com várias datas para se apresentarem ao vivo, é impressionante mesmo para uma banda de 2008, mas que até demorou para lançar este “Loopified”.

    Deixo abaixo outros vídeos em uma playlist que talvez possam contribuir na análise da galera… dei uma passada e, como disse, apesar de ver o talento ali, não passa para mim em mais nada. Mas é o que você disse: é o novo, é a renovação… eu, entretanto, não aprovo…

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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  2. Fala, Eduardo!

    Pena que você não gostou… Eu sei: o repertório não ajuda em nada, mas como você endossou, os músicos são talentosos e certamente utilizaram-se destas canções para se tornarem populares na web. O resultado, sob este aspecto, foi positivo; eles alcançaram notoriedade.

    A questão do vocal é do estilo. Presepeiro, floreado, agudo, mas ao menos no caso dele, bastante técnico. Os arranjos dos backings também são ótimos. Os recursos que ele usa cabem na propostas, mas também passa pelo nosso gosto. Tranquilo.

    Agora, paradoxalmente e indo ao encontro do que você opinou, o disco é bem pasteurizado. Tipo: feito para um público que talvez nem reconheça o grande nível técnico deles mas se identifique com as canções. “Loopfied” me dá impressão de ser uma escolha mercadológica.Por incrível que pareça preferi os covers.

    É isso aí.

    Daniel

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    • Daniel, eu concordo com você quanto ao último parágrafo acima que você comenta que foi uma “escolha mercadológica” – isso não há dúvidas, afinal, escolher este tipo de som para fazer tem este significado bem “straight”, como se diria em inglês.

      A questão é: vão conseguir ganhar dinheiro? A resposta parece que caminha positiva à eles, já que notoriedade e shows estão em alta. Então vem a segunda pergunta: será algo sustentável? Aí muda de figura – me parece “um tiro” para ganhar dinheiro e de repente, depois, eles tocarem o que gostam de verdade…

      [ ] ‘ s,

      Eduardo.

      [ ]’ s,

      Eduardo.

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  3. bicho, eu tambem nao gostei das musicas
    eu tambem preciso ser sincero
    é claro que a qualidade de narrativa dos textos do Daniel é outra historia, mas sinceramente, essa banda e a opção das versões nao me agradaram nem um pouco. respeito o aspecto sustentando pelo inusitado que sem duvida é indiscutivel

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  4. Fala Rolf!

    Você tb não gostou? Tô quase deletando o post! Tô brincando.

    Valeu pelos elogios. Como eu falei para o Eduardo acho que a escolha do repertório está muito ligado a uma questão mercadológica, mas os caras são muito “craques” em seus respectivos instrumentos.

    Enfim…

    Espero acertar na próxima vez.

    Daniel

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  5. Vamos separar o joio do trigo ?

    O joio : O texto é excelente, padrão Daniel de qualidade. Meus obrigatórios parabens !!!

    O trigo : Eu não teria nada da banda, mas não há como ficar indiferente à qualidade dos músicos e a ousadia dos arranjos. O baixista é fenomenal, o baterista, excelente , e aquele que se atreve a desenhar tantas linhas vocais diferentes para as canções tidas como óbvias é de tirar o chapéu, isso sem falar no talento nos teclados.

    O complicado é que pouca gente vai conseguir se encaixar numa proposta que junto duas vertentes diametralmente opostas. Isso causa estranheza, é dificil mesmo de uma apreciação inicial ou mesmo posterior.

    Mas preciso enfatizar os elogios à tamanho talento do trio em questão.

    Alexandre

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    • Bside,

      felizaço por você ter gostado e ter dado o valor devido aos rapazes; aliás todos entendemos que eles são bem “diferentes” mesmo.

      Agora realmente é verdade a “questã”: a proposta deles é complicada de ser engolida. Adquiri o disco e como eu disse em outro comentário: acaba sendo pior.

      A ideia mesmo é enaltecer o talento dos caras, com seus arranjos ‘loucos’ e difíceis e torná-los conhecidos da rapaziada.

      Acho que cumpri a missão.

      Obrigado mais uma vez!

      Daniel

      Observação: embora tenham sido elogiosas as palavras não posso deixar de observar que em uma plantação o joio é uma erva daninha que cresce nas plantações de trigo e, de tão parecido com a cultura original, acaba enganando fazendeiros pouco experientes e interrompendo a plantação,mas pode deixar, o joio não me ofendeu… rsrsrrsrsrsrsrs

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      • Daniel:

        O joio, que bom que não o ofendeu, pois pelo jeito você entendeu a intenção automática do uso da frase , embora sim eu esteja completamente errado mesmo, você tem inteira razão, desculpe . Vale a intenção, desconsideremos o exemplo do provérbio.

        Ah…mas eu não voltei aqui apenas por isso, é que eu não tinha comentado sobre a rapsódia…

        Bem, é tão estranha quanto e tão genial quanto os exemplos suecos, e faz todo o sentido em estar aqui. Gostei mais do final, bem “rapsodiano”, e não há como negar o grande talento que vem de Israel, mas cabe na mesma “questã” dos nórdicos. Só que traz um pouco mais de peso, talvez por isso a predileção do Flávio. Por mim, empato o jogo entre os estrangeiros do post .

        Valeu!

        Alexandre

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  6. Bom, o Daniel (mais uma vez) traz uma novidade digna de muita atenção, mas eu concordo em grande parte com o Bside – a banda está entre o excelente, genial, fenomenal mas o repertório não me encontra com admirador, mesmo com a grande diferença e salto de qualidade em que se tornaram. No fim, eu acabei gostando mais da loucura do Project RnL em MMMbop, mais proximo do que aprecio.
    Muito legal o Post.

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    • Olá Flávio!

      Que bom que você gostou tb!

      Pois é, esta estratégia foi uma faca de dois gumes: certamente na hora de um searching no youtube encontrarão as versões dos rapazes, no entanto as canções não são lá estas coisas. 😦

      No entanto, como já foi enaltecido aqui por todos, os caras tocam d+ e achei legal registrar.

      Que bom q você também gostou do Project RnL… São grupos que a gente descobre na internet e que acha legal dividir com os amigos.

      Abraço,

      Daniel

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