Cobertura Minuto HM – Extreme e Ritchie Kotzen no RJ – parte 2 (resenha)

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Noite de domingo, no Rio de Janeiro, 14/06/2015, atendendo a um chamado do Daniel, que havia me avisado durante a semana, cá estou eu na Lapa, mas não no Circo Voador, local que vi, entre diversos outros, um histórico show do Living Colour em 2007, e sim na Fundição Progresso, bem ao lado do icônico circo.

Por motivos alheios à vontade do próprio Daniel, acabei por não ter sua ilustre companhia nos shows, assim “sobrou” pra mim tecer as impressões vistas das duas bandas, já me justificando que nada conheço da carreira-solo de Ritchie Kotzen e tenho um conhecimento raso da atração principal. Tenho certeza que isto estaria muito melhor nas mãos do Daniel, que é grande conhecedor do Extreme, mas se não tem jeito, fazer o quê…

Bem, o show estava marcado para as 19 horas, mas na verdade este horário era o de abertura dos portões. Cheguei pontualmente na Fundição Progresso, ainda em tempo de acompanhar a entrada dos primeiros expectadores. E como havia dito na parte 1 desta cobertura, a fila VIP demorava mais do que a comum, o que não chegou a ser um problema, visto que havia pouca gente naquele horário na entrada da casa de espetáculos.

Passei a primeira hora desvendando o espaço amplo que é a Fundição Progresso e sua opção arquitetônica, bastante agradável, um local que tem uma amplitude não só pelo tamanho em si mas também pelo fato do mesmo ter o seu segundo andar bastante devassado, com ampla vista para Lapa e seus arcos. Também existem algumas opções de lanchonetes e até lojinhas de roupas, além do obrigatório stand com o material do Extreme. Tudo isso facilmente acessível, mas também facilitado pelo fato do espaço ser muito maior do que o público previsto neste domingo.

Assim, depois de algumas cervejas, acompanho a entrada de Ritchie Kotzen para cerca de 500 pessoas. Outro ponto positivo do local é que ele tem aqueles degraus na plateia comum e telões de ótimas dimensões, facilitando sobremaneira a visão daquele que não quer se espremer no “gargarejo”. Como não havia muita gente para assistir a abertura, até o “gargarejo” estava tranquilo também.

Kotzen traz um show de 1 hora, calcado em suas músicas-solo, que tem uma semelhança no nível de estilo ao que o The Winery Dogs vem trazendo, um hard rock com algum toque muito leve de soul e funk. Minuto HM: Como vi Portnoy, Sheeham e Kotzen juntos ali perto poucos anos atrás, o que vi de diferente na Fundição Progresso foi um espaço maior para os sensacionais solos de Kotzen e a presença de uma cozinha bastante competente, embora sem a notoriedade dos companheiros de Ritchie nesta sua recente super banda.

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O projeto solo de Ritchie é a prova inconteste de que ele é a principal força motriz do recém formado super grupo, e o que vi foram canções de ótimo nível que me fizeram pensar em correr atrás urgentemente do trabalho do guitarrista. Além disso, vou precisar ser repetitivo em novamente dizer que é impressionante a rapidez do moço em tocar sem palhetas, trazendo um som sempre muito limpo em sua Fender Telecaster. São necessários também os elogios a Mike Bennett (bateria) e principalmente Dylan Wilson (baixo). Mike esbanja segurança na bateria e Dylan até arrisca um pouco mais, aproveitando o espaço deixado por Kotzen, investindo em alguns solos durante o show.

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Aliás, o som do trio de Ritchie estava excelente, tudo sendo ouvido com muita clareza. Entre as canções, alguns momentos mais calmos com bastante improviso, como em Doin’ What The Devil Says To Do e um ótimo blues (Remember), com Ritchie esbanjando competência, que fechou o set.

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Setlist Ritchie Kotzen:

1.War Paint 2. Love Is Blind 3. Bad Situation 4. Fear 5. Doin’ What The Devil Says To Do 6. Help Me 7. Go Faster 8. Remember

No intervalo, após uma sequência bastante infeliz (na minha opinião) de clássicos do rock and roll dos anos 70 mixados com batidas eletrônicas, finalmente o responsável pelo som ambiente resolve se redimir e coloca no PA músicas como Heaven And Hell (Black Sabbath) e Black Dog (Led Zeppelin) em versões mais conhecidas e agradáveis.

Por volta de 22 hs começa o playback que vai fazer a introdução da primeira faixa do álbum mais conhecido da carreira do Extreme, o Extreme II: Pornograffitti, este ano completando 25 anos de lançado, e por isso, seria tocado em sua íntegra.

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Mais alguns instantes e lá estão Gary Cherone, Nuno Bittencourt e Pat Badger executando Decadence Dance.

A banda está acompanhada de um competente Kevin Figueiredo na bateria, único músico não original da banda. O som não está tão bom quanto no show de Ritchie Kotzen, em especial a voz de Cherone por vezes está um pouco baixa. Mas os backings, ótima marca registrada do conjunto, estão lá, perfeitamente audíveis e com aquele padrão de qualidade que quem conhece a banda está acostumado a ouvir. É sem dúvida, um dos pontos altos do Extreme, pois tanto Nuno quanto Pat são excelentes suportes vocais para Gary.

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O álbum tocado na íntegra empolga boa parte do reduzido público, que teve uma ligeira melhorada no número de presentes entre os dois shows, mas que nem de perto chegou a lotar o ambiente. Fica claro que o show, num domingo e no horário de jogo da seleção brasileira, deveria ter sido feito em local menor. Eu particularmente prefiro o álbum seguinte da discografia da banda, III Sides To Every Story, mas ainda assim o show segue em um bom ritmo, mesmo em uma sequência de  músicas que não são exatamente de minha grande predileção, como Money (In God We Trust), It (‘s A Monster) e a própria faixa título, Pornograffitti, que são exemplos claros da mistura funk hard rock que é talvez a essência principal da banda.

Antes dessas, no entanto, os momentos mais conhecidos da banda: Get The Funk Out e More Than Words, esta cantada a pleno pulmões até pelo mais ortodoxo fã do som mais pesado que lá esteve.

Os anos parecem ter feito bem aos músicos do Extreme, pois a banda encontra-se em boa forma, mas o destaque é sem dúvida o grande Nuno Bittencourt, que esbanja competência em sua Washburn, mostrando até uma saudável “marra” de guitar-hero, por exemplo, em se dizer “entendiado” durante um dos seus impressionantes solos, chegando a esboçar um bocejo.

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Não parece, mas se passaram 23 anos desde o show histórico na Praça da Apoteose, em 1992, última vez deles aqui no Rio. Os caras devem beber formol, é difícil acreditar que Nuno vai fazer 50 anos em 2016. Cherone, que já passou dos 50, me pareceu em uma performance menos exagerada do que em 1992, acredito que ele achou o ponto certo, mostrando ser um ótimo front-man.

A primeira parte do show vai chegando na sua parte final, onde algumas músicas são mais variadas, como em When I Kissed You, um autêntico jazz tocado em um contrabaixo em pé por Pad e no piano por Nuno. Os dois mostram-se exímios ao variar de seus instrumentos principais, a perfomance de Bittencourt no piano é de cair o queixo, tão ou melhor como suas habilidades na guitarra. Neste momento, durante a introdução da música, o guitarrista português reclama do spot de luz exagerado em sua face. Não adiantou muita coisa reclamar, o responsável pela luz nada fez para atender Nuno.

O fim da homenagem ao álbum que completa 25 anos se dá com as canções Song For Love (uma influência inegável do Queen) e Hole Hearted, faixa que traz Nuno em um violão de 12 cordas e Kevin para a frente do palco num kit intimista. A faixa que fecha o álbum e esta primeira parte do show é outro momento de grande participação da plateia, emendada em seu fim com um pequeno trecho de Crazy Little Thing Called Love (do Queen).

Após um ligeiro intervalo, a banda retorna para um set menos preso a uma fase ou outra, mas que privilegia canções do III Sides To Every Story. Pra mim aqui está o ponto alto do show, com faixas de excelente técnica e espaço instrumental como Am I Ever Gonna Change e Cupid’s Dead, que fecha a noite. Nuno continua demonstrando certa insatisfação com o spot de luz em sua direção, chegando a mexer na posição do microfone para evitar a claridade. Há tempo para tocar uma faixa quase country do álbum Saudades de Rock, que traz uma novidade, pois em Take Us Alive, Gary aproveita um trecho para emendar That’s Alright, Mama, sucesso na voz de Elvis Presley. A plateia parece não perceber a homenagem. Nuno toca a faixa acústica Midnight Express, mostrando suas habilidades ao violão e também há nesta segunda parte do show espaço para, em minha opinião, a música que melhor mostra a qualidade da banda sem deixar de ser acessível para atingir o grande público: Rest In Peace.

Ao fim do show, a banda vai de encontro à plateia, e por um longo tempo se mostra disponível para autógrafos e fotos, um momento de muita simpatia e interação com todos, inclusive parte da plateia comum.

Setlist Extreme:

Primeira parte: Extreme II – Pornograffiti: 1.Decadence Dance 2. Li’l Jack Horny 3. When I’m President 4. Get The Funk Out 5. More Than Words 6. Money (In God We Trust) 7. It (‘s A Monster) 8. Pornograffitti 9. When I First Kissed You 10. Suzi (Wants Her All Day What?) 11. He-Man Woman Hater 12. Song For Love 13. Hole Hearted  ( com trecho de Crazy Little Thing Called Love)

Segunda Parte (Bis): 14. Warheads/ Rest In Peace 15. Take Us Alive (com trecho de That’s Allright, Mama) 16. Am I Ever Gonna Change 17. Midnight Express 18. Play With Me 19. Cupid’s Dead?

Que eles voltem, e que não demorem tanto da próxima vez!

Alexandre Bside



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8 respostas

  1. Vou tentar ler ainda hoje
    Valeu mesmo, B-side

    Rolf

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  2. Isso é que é acesso rápido !!!

    Alexandre

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  3. Olá!

    Realmente foi uma pena não poder ir a um espetáculo onde a diversão é certa e a qualidade do que está no palco dispensa maiores adendos. Nunca escondi que Extreme é uma das minhas bandas de hard rock preferida.

    Pelo seu ótimo relato BSide, o show é bem parecido com o registro ao vivo deles “Take Us Alive”, onde já dá para ver o desempenho do Nuno no teclado. Que fique registrado que os arranjos e execuções dos keyboards no disco também são dele e sim, são ótimos.

    A outra atração, o Richie Kotzen, é acima da média. Tem um nome no meio, mas poderia ter mais respeito. Realmente o público carioca não “gosta” de rock. De repente se fosse no Circo Voador, ficaria a impressão de casa lotada. Audiência baixa para ambas as atrações. Isso explica também porque hoje é deficitário que algumas bandas se apresentem em casas de espetáculo na Cidade Maravilhosa. Dá prejuízo hoje, por exemplo, chamar uma banda como o Extreme ou mesmo The Winery Dogs do Kotzen (com o Sheehan e o Portnoy) para o Vivo Rio. A casa ficaria mais vazia ainda. Será que o Medina foi em um dos dois para algum dos palcos no RiR ?

    Sou daqueles que pensam que a balada “More Than Words” fez mais mal do que bem à carreira da banda. Estigmatizada por ser one-hit-single, quem conhece os poucos discos dos caras, sabe muito bem que Bittencourt e seus Blue Caps vão além de uma balada FM. Especialmente se pensarmos que III Sides To Every Story, para mim um dos discos essenciais para quem gosta de produção/timbres/composição/arranjos, tem excelentes canções. O seguinte (“Waiting For The Punchline) não segura a onda, mas o talento continua inegável.

    Bem, quem sabe um dia… E olha que fui eu que chamei sua atenção para a vinda dos caras aqui na nossa terra!

    Parabéns pela ÓTIMA cobertura (mais uma).

    Daniel

    (Rolf vai comentar terça-feira)

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    • Daniel, você fez falta, não tenha dúvidas disso. Quem sabe um dia , mesmo !!! E de qualquer forma, agradeço por sinalizar a vinda da banda, teria sim passado desapercebido no meio de tantos shows..

      Eu não chego a entender a faixa More than Words como um prejuízo à imagem da banda sob o ponto de vista musical, mas sim, e deve ser este o seu ponto, pela maneira como rotulou a banda. O Extreme, apesar de um estilo mais próximo ao hard rock com pitadas de funk, não se limita ( no bom sentido) nesta única proposta, e traz vários bons exemplos fora um pouco da tal vertente, algo bastante encontrado no ” underrated” III sides to every story. FIcar conhecido como banda de balada radiofônica é mesmo algo duro…

      Em relação ao Kotzen, você é super correto ao entendê-lo como alguém super respeitado no meio, aliás, super merecido. Mas temos aqui outro exemplo de talento que até o momento também se encontra no prisma ” underrated” . Sorte daqueles que já entendem bem seu trabalho, algo que eu preciso me aprofundar.

      Quanto ao local de espetáculos, o Vivo Rio daria a impressão de estar mais vazio pelo simples fato de ser uma casa de espetáculos que tem seu espaço praticamente em um plano. Na verdade, contando os dois andares da Fundição Progresso ( o andar de cima estava fechado), a vergonha pode ser entendida como até maior. E a culpa é nossa, pois este show até tinha um preço razoável, considerando a média que costumamos nos deparar.

      Por fim, sobre o talento de Nuno ao piano: Foram arpeggios em cima de arpeggios, impressionante a facilidade e segurança que ele demonstra também neste instrumento. O cara realmente é um gênio de habilidade ímpar.

      Um abraço e obrigado pelos elogios

      Alexandre

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  4. É sempre uma honra ler um texto publicado sob o login de um dos gêmeos, especialmente quando se tratam de resenhas e análises – ou seja, o forte deles.

    E o que falar de mais esse texto de cobertura de um show, no qual o autor do texto é humilde o suficiente para admitir que não conhece bem da banda – o que seria disso aqui se ele conhecesse, então? É uma humildade que faz com que ele possa inclusive se ater a detalhes que eu tenho certeza, e desafio qualquer um aqui a buscar, só existem e só são trazidos no Minuto HM e nos fazem fazer uma verdadeira viagem ao show… é ler e deixar a cabeça processar e buummm – de repente, parece que eu também assisti esta noite divertida no Rio, que contou com uma abertura de luxo como poucas.

    Nos vídeos, é possível ouvir os gritos femininos, mas também os marmanjos cantando More Than Words e Hole Hearted, essa segunda outra música que figura facilmente nas FMs aqui de São Paulo e fora das duas “rádio rock” atuais, ou seja, é tão acessível que entra na Alpha FM e Antena 1.

    A minha opinião sobre More Than Words: tudo depende do ângulo que se analisa. Se do lado musical é para mim uma música que “come” a atenção ao ponto de chegar a limitar uma profundidade na discografia, sejamos honestos: qual banda no MUNDO não quer um hit absoluto?

    Mesmo bandas mais extremistas, por mais que digam que não, buscam isso em certo momento. Se o Extreme não tivesse More Than Words, eles tocariam onde no mundo? A banda estaria junta? E eles teriam “algum” dinheiro? Teriam os talentos músicos espaço para mostrar seu talento ou estariam eles tocando em lugares ainda menores, sem força até de pegar um voo para a América do Sul? Enfim, tudo é ângulo em casos assim…

    Agradeço novamente ao mestre B-Side por nos trazer um registro tão legal por aqui em mais uma cobertura especial.

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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    • Faltou perguntar uma coisa: como eu faço agora para parar de cantar Hole Hearted, especialmente o refrão e o som do violão?

      Muito obrigado!

      [ ] ‘ s,

      Eduardo.

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    • Eduardo, obrigado pelos exagerados elogios à essa cobertura pra lá de improvisada. Agradeço, e muito, aos vídeos encontrados no youtube, esses sim fizeram a maior parte do trabalho em si.

      Em relação a More Than Words, todos no meio musical não querem serem rotulados como one-hit wonder, mas ao mesmo tempo precisam e buscam em algum lugar da carreira ao menos uma canção que os faça chegar aos spots de sucesso. Exceto por uma ou outra banda verdadeiramente fiel à apenas os seus princípios musicais, o que se vê no mercado fonográfico é exatamente isso. E neste ponto, não me pareceu em momento algum que o Extreme tem algum problema com isso. Pelo contrário, eles se sentem gratos e sabedores da importância da canção para a carreira deles. E arrisco mais, sendo grandes fãs do Queen, remeter esta canção ( guardada as devidas proporções ) á versão de Love of My Life dos shows é até coerente. O que traz pra eles , entendo, ainda mais satisfação.

      E quando eles foram de encontro a um risco que tivesse coerência com o talento deles ( Nuno, em especial, me surpreendeu, principalmente quando sentou-se ao piano) , acabaram por não repetir o sucesso ( isso no ótimo III sides to every story), ainda com uma música que no meu entender tinha até potencial para mantê-los nos charts ( Rest in peace). O problema, além desta não ser tão grudenta e sob o formato de balada como More than Words, é que também o ponto do hard rock já sucumbia sob o cunho de ritmo do momento para o grunge. Lançado ao fim de 1992, a tal ” onda ” hard rock já havia passado. Uma pena, é um excelente álbum.

      Em relação ao público, além de com maior presença feminina, também era de um perfil mais jovem, na faixa dos 25 a 30 anos , em sua maioria.
      Se pensarmos que More than Words tem mais ou menos isso de idade, é interessante perceber uma até certa renovação ( ainda que restrita a algumas centenas de pessoas) na banda. Não tenho uma explicação maior para isso, quem que quiser que se habilite.

      No fim, a noite valeu com sobras.

      E agradeço pelo constante tapa que você dá no post, linkando a outras coberturas. Esse trabalho eu sempre lhe dou, não tem jeito..

      Alexandre

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