Desvendando “Empire Of The Clouds”

Temas militares e com grande conteúdo histórico sempre foram recorrentes em letras do Iron Maiden, e era de se imaginar que em um álbum tão aguardado como “The Book Of Souls” haveria mais um épico da legendária banda britânica. Com 18 minutos, “Empire Of The Clouds”, a maior canção da carreira da Donzela até aqui, já é considerada uma verdadeira obra-prima e merece incontáveis análises tão longas quanto ela própria.

Composta por Bruce Dickinson, sabidamente um apaixonado pela história da aviação, a música narra o destino do R101, um airship (dirigível) construído para ser o orgulho do Império Britânico ao final da década de 20, durante a primeira era do desenvolvimento de aeronaves. Bruce faz uso de muitas licenças poéticas, alterando a ordem de alguns fatos e interpretando à sua maneira alguns mistérios ainda não solucionados. É possível que o título da canção tenha sido inspirado pelo livro homônimo de James Hamilton-Paterson, que narra o declínio da segunda era da construção aeronáutica britânica após a Segunda Guerra Mundial.

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Ao ser construído, o R101 era a maior embarcação aérea rígida (com estrutura interna que mantinha sua forma, não dependendo da pressão interna de hidrogênio) já feita, com mais de 220 metros de comprimento. Seu objetivo era alcançar as mais distantes terras do Império Britânico como Índia, Austrália e Canadá. Planejado para levar grandes volumes de carga, o R101 foi também desenhado para que seus passageiros viajassem com todo o luxo e conforto. Tratava-se de uma nave para a elite e para oficiais de alto escalão.

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Após quase três anos de construção os primeiros testes do R101 mostraram que a nave apresentava problemas de peso. Isto ocorreu devido a diversas alterações no projeto original, que desafiava as limitações tecnológicas da época. Durantes tais testes problemas foram observados e componentes substituídos, tornando a aeronave ainda mais pesada. A cobertura (proteção externa dos bolsões de gás) também representava um risco e teve que ser substituída por outro modelo mais robusto e pesado, pois rompeu-se em determinados lugares durantes os vôos preliminares e não suportaria a pressão do ar mesmo a moderadas velocidades.

Muitos outros testes foram realizados, inclusive com a presença de expectadores, celebridades e repórteres, causando grande euforia e otimismo: a pressão política sobre o Ministro do Ar, Lorde Christopher Thompson, era muito grande dados os gastos do programa de aeronaves pelo qual era responsável. A propaganda positiva, portanto, fazia-se necessária em prol de seus interesses políticos. Novos problemas eram remediados às pressas assim que surgiam, pois Thompson queria que a viagem inaugural do R101 fosse realizada durante a Conferência Imperial de 1930, trazendo assim maior publicidade ao seu programa aéreo por “melhorar a comunicação entre os territórios do Império Britânico”. Desta forma, testes em altas velocidades e condições climáticas desfavoráveis não foram realizados de forma satisfatória.

É neste ponto, na manhã de 04 de outubro de 1930, momento da a partida do R101 em sua viagem inaugural para Karachi (então parte da Índia Britânica, hoje Paquistão), que a música se inicia.

“Empire Of The Clouds” pode ser dividida em diversos momentos: a calmaria do início, expectativa de uma viagem promissora para os tripulantes e passageiros (linhas suaves e orquestradas); o vôo em si, dentro do esperado, mas já com alguma preocupação devido aos problemas também enfrentados nos testes e potencial mudança no tempo (guitarras mais presentes, piano ao fundo, quase sufocado); o vôo turbulento, as correções de problemas para manter a nave no curso, as mudanças na trajetória (o piano some, as guitarras tomam conta com arranjos indivuais e ritmo cadenciado a princípio, mas que aceleram até o clímax); as rápidas tomadas de decisão, o desespero, as tentativas desesperadas de manter a nave no ar e no curso; o melancólico final. Tudo magistralmente acompanhado e executado pelos integrantes da Donzela.

O início é caracterizado por uma bela melodia, uma linha principal executada no piano e no baixo combinada a suaves notas de guitarra, acompanhada também por violinos. Um trecho bastante calmo, emulando o clima naquela manhã de outrubro que realmente parecia favorável, apesar das previsões contrárias:

To ride the storm, to an Empire of the Clouds
To ride the storm, they climbed aboard their silver ghost
To ride the storm, to a kingdom that will come
To ride the storm – and damn the rest, oblivion

Royalty and dignitaries, brandy and cigars
Grey lady, giant of the skies, you hold them in your arms
The millionth chance they laughed, to take down His Majesty’s craft
To India – they say – magic carpet float away
An October fateful day

Membros da família real e oficiais de alto escalão enaltecíam a grande embarcação de Sua Majestade, a maior já construida, em clima de celebração. Quando perguntados sobre a chance do R101 cair, a resposta era “uma em um milhão”. Debochando desta absurda possibilidade eles ordenaram o vôo do “tapete mágico” para a India.

Mist is in the trees, stone sweats with the dew
The morning sunrise, red before the blue
Hanging at the mast, waiting for command
His Majesty’s airship, the R101

A música muda levemente o arranjo de cordas, a guitarra passa a ser mais presente, bem como a bateria. As guitarras entram com maior peso agora – a música passa para seu segundo momento, o vôo:

She’s the biggest vessel built by man, a giant of the skies
For all you unbelievers, the Titanic fits inside
Drum roll tight her canvas skin, silvered in the sun
Never tested with the fury, with the beating yet to come
The fury yet to come

As guitarras ficam ainda mais intensas, suprimindo o piano presente deste o início. Uma tempestade pode ser vista a oeste, mas a tripulação decide prosseguir: a princípio porque era necessário corresponder às expectativas dos políticos preocupados com sua imagem, mas também por seu próprio ego – afinal, acreditavam conhecer a nave como a palma de suas mãos. Passageiros e tripulação foram apressados para que a partida acontecese antes da tempestade. O R101 alçaria vôo a despeito de suas fragilidades, de seu ainda desconhecido Calcanhar de Aquiles:

In the gathering gloom a storm rising in the west
The coxswain stared into the plunging weather glass
We must go now, we must take our chance with fate
We must go now, for a politician he can’t be late

The airship crew awake for thirty hours at full stretch,
But the ship is in their backbone, every sinew, every inch
She never flew at full speed, a trial never done
Her fragile outer cover, her Achilles would become
An Achilles yet to come…

Sailors of the sky, a hardened breed
Loyal to the King, and an airship creed
The engines drum, the telegraph sounds
Release the cords that bind us to the ground

O navegador (tradução livre para coxswain – termo designado ao responsável pela trajetória de uma embarcação) alerta o capitão de que a nave é pesada demais para uma trajetória tão longa, apenas para ter seu conselho ignorado por seu superior. (N.do.R: este diálogo é fictício, mas faz referência ao fato de que diversos especialistas não recomendavam vôos longos para o R101, mas tiveram seus laudos ignorados por superiores que determinaram que o problema de peso fosse contornado com a redução do compartimento de carga e a remoção de cabines de passageiros).

Said the coxswain – Sir, she’s heavy, she’ll never make the flight
Said the captain – Damn the cargo, we’ll be on our way tonight
Groundlings cheered in wonder as she backed up from the mast
Baptizing them her water from the ballast fore and aft
Now she slips into our past

Muitos acompanharam e saudaram a partida da maior aeronave até então construída. O som cadenciado acompanha os primeiros momentos do vôo, relativamente tranquilos, mas nota-se que o piano, característico da calmaria inicial, não está mais ali. E então aos 6:55 a banda faz o sinal de SOS em código morse com as três guitarras, baixo e bateria, como se alertasse o ouvinte sobre o que estaria por vir:

SOS

Entra um riff rápido, em um novo momento da música. Nave em pleno vôo, constante, embora turbulento. A história conta que a tripulação deve que tomar diversas ações durante o vôo, corrigindo o curso e compensando problemas. As fragilidades do R101 tornavam-se mais evidentes.

O tom vai mudando gradualmente, tornando-se mais agudo, representando o acúmulo de problemas enfrentados. Novo sinal de SOS em código morse. Batidas descompassadas (N.do.R: Nicko McBrain, evoluindo a cada novo álbum), riff mais acelerado, demonstrando a pressa e também a desorganização, resultado da falta de planejamento diante de problemas não previstos. Entra uma ponte com as guitarras em que é possível distinguir cada uma delas, seguida do solo de Dave Murray.

Seguidas correções de curso foram necessárias para que a tripulação pudesse compensar os problemas estruturais do R101. Testemunhas da passagem da nave por Londres atestam que ela voava visivelmente ‘de lado’, inclinada em ao menos trinta graus, e com a proa já apontada para baixo.

Novo momento de velocidade e tensão. Os tripulantes consideram novas alterações de curso, mas não reportam à base quaisquer problemas com o dirigível. Realizam, então, as trocas de turno, momento em que talvez algumas das informações tenham sido perdidas. A nova vigília decide então cruzar o Canal da Mancha. O riff cadenciado retorna, acompanhado de arranjos orquestrados, e ouvimos o solo de Adrian Smith representando a tensão da travessia: nenhuma referência, nenhum ponto de luz, apenas a água abaixo deles cada vez mais próxima.

Fighting the wind as it rolls you
Feeling the diesels that push you along
Watching the Channel below you
Lower and lower, into the night

Duas horas depois de sair da costa inglesa o R101 completava a travessia do Canal, chegando ao norte da França muito fora do ponto de entrada pretendido. Nova correção no rumo é realizada, mas dada a distância do curso original a nova direção os leva à região de Beauvais, conhecida pelas péssimas condições climáticas.

R101 full track airshiponline.com

Lights are passing below you
Northern France, asleep in their beds
Storm is raging around you
A million to one, that’s what he say

Após a lembrança da irônica afirmação de “uma chance em um milhão” de acontecer uma catástrofe, o ritmo frenético da música é quebrado com um novo riff, com novos elementos de orquestra. Interpreto como um momento de dúvida, de incredulidade. Como poderia cair uma aeronave tão moderna, potente e majestosa?

Reaper standing beside her
With his scythe cut to the bone
Panic to make a decision
Experienced men, asleep in their graves

The cover is ripped and she’s drowning
Rain is flooding into the hull
Bleeding to death and she’s falling
Lifting gas is draining away

O fim é iminente. A cobertura externa, que não passara nos testes mais amenos, não suportou a velocidade dos ventos e as manobras do R101, rompendo-se na região frontal e causando o vazamento de gás. A sustentação na proa diminuía a cada segundo e a nave pendia cada vez mais para a frente.

A música é mais uma vez quebrada, desta vez com o retorno do piano, agora com notas críticas e agudas. Este momento representa o primeiro mergulho do R101, de 140 metros. A certeza da morte atinge todos a bordo. Um dos sobreviventes relataria que naquele momento o navegador chefe, G. W. Hunt, diria a famosa frase: “Nós caímos, rapazes!”, pouco antes do mergulho final.

We’re down lads – came the cry, bow plunging from the sky
Three thousand horses silent as the ship began to die
The flares to guide her path ignited at the last
The Empire Of The Clouds, just ashes in our past
Just ashes at the last

Pouco a fazer restou à tripulação. O R101 atingiu o solo do norte da França e incendiou-se imediatamente. Seus motores de três mil cavalos silenciados para sempre.

Here lie their dreams, as I stand in the sun
On the ground where they built, and the engines did run
To the moon and the stars, now what have we done?
Oh, the dreamers may die, but the dreams live on
Dreams live on, Dreams live on

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Encerrava-se ali a primeira era britânica de desenvolvimento de aeronaves, programa que seria retomado apenas no período pós-Segunda Guerra, conforme relatado no livro de James Hamilton-Paterson.

Now a shadow on a hill, the angel of the east
The Empire Of The Clouds may rest in peace
And in a country churchyard, laid head to the mast
Eight and fourty souls, who came to die in France

O R101 foi ao chão em 5 de outubro de 1930, matando 48 de seus 54 passageiros, incluindo o então Ministro Britânico do Ar e outros oficiais de alto escalão. Seus corpos foram velados com honras militares no Palácio de Westminster e sepultados no cemitério da Igreja St. Mary, em Cardington, todos voltados ao mastro de amarração de onde o R101 partira naquele fatídico dia.

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ATUALIZAÇÃO EM 28/NOV/2015: painel de fotos disponível no The Royal Air Force Museum, em Londres, trazendo em sua linha do tempo um pouco do “irmão mais velho”, o R100, e o acidente do R101:

R100: enorme painel disponível em um corredor do museu

R100: enorme painel disponível em um corredor do museu

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R101: detalhes do acidente

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R101: mesma foto, agora dentro do contexto do painel da linha do tempo da aviação britânica

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Fontes, créditos e referências externas:

http://www.airshipsonline.com/airships/r101/

https://en.m.wikipedia.org/wiki/R101

https://en.m.wikipedia.org/wiki/Christopher_Thomson,_1st_Baron_Thomson

https://en.m.wikipedia.org/wiki/Carmichael_Irwin

Caio Beraldo

Com o suporte de Felipe Beraldo e Eduardo [dutecnic].



Categorias:Curiosidades, Entrevistas, Iron Maiden, Letras, Músicas, Off-topic / Misc, Resenhas, Rush

69 respostas

  1. Bicho, sensacional
    Aonde esse blog vai parar!
    sensacional

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  2. Que beleza este post , Paschendale versão upgrade 2015 – 18 minutos do Caio.
    Eu vou ler com a calma que ele merece, mas isso é um espetáculo que só os feras deste blog nos proporcionam…
    E eu aqui só aprendo…..

    Alexandre

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  3. Parabéns pelo texto, caio! Tah muito fod*! A musica eh demais, a historia, os altos e baixos… E o que dizer da parte do SOS? Pq*! Bruce e Nicko monstros!! Parabéns!!

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    • Valeu Felipe! Eu notei o ‘SOS’ logo de cara, e quando procurei na internet eu estranhei não ter encontrado comentários a respeito. O único que vimos foi aquele que você me mandou ontem. Detalhes que fazem a diferença e encaixam perfeitamente na música. E a banda está realmente ótima, mas o que dizer do Nicko?? ‘Monstro’ define bem!

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  4. Muito show esse post, tão bom como a musica e letra do mestre Bruce.

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  5. É difícil não aplaudir a iniciativa do Caio em destrinchar esta história para nós e traçar uma paralelo com a composição do Iron.

    Curiosa, difícil não pensar no Titanic. E incrível como o Caio conseguiu apontar nas nuances harmônicas aquilo que seria a trilha sonora do sonho ao desastre.

    Não acredito que a banda tenha sido tão detalhista assim, mas isso, de fato, não interessa.

    Seja qual foi a intenção, o argumento musical utilizado e mais o trabalho fantástico do Caio em nos contar este fato da história da aviação mundial, faz com que EotC seja a minha música preferida do Iron em muitos anos.

    Parabéns mais uma vez.

    Daniel

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    • Fala Daniel! Valeu mesmo pelos elogios! Fico feliz pra caramba!

      Um comentário “quase-off”:

      Uma vez eu vi um músico de jazz (um americano, confesso que não me lembro o nome) que conversou com a platéia depois da apresentação em uma livraria aqui em São Paulo. Ele disse que “não importa o que o artista quis passar, qual foi sua intenção, mas sim o que o ouvinte entendeu e sentiu”.

      Este post é a minha interpretação, é a descrição do que senti, a minha “viagem”. Com certeza a banda tinha outras idéias que eu não notei e eu “encontrei” alguns detalhes que nem eles perceberam. Mas eu acredito que estes detalhes fazem parte do trabalho de composição. Ao meu ver a história foi levemente alterada para coincidir com determinados momentos da música, e não deve ter sido por acaso.

      Essa é a beleza da coisa, e que bom que temos este espaço pra compartilhar. Independentemente da intenção, só de conversar com vocês e trocarmos estas idéias faz com que eu aprecie ainda mais a música, o álbum, enfim, tudo aquilo que curtimos.

      Valeu, mais uma vez! Abração!

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  6. Caio, S E N S A C I O N A L sua análise! ! !

    Já achava a melhor música do disco (dito no tópico sobre o lançamento do CD).

    Com esse “pedigree”, minha escolha emocional agora tem embasamento histórico.

    Tem coisas que só o Iron/Bruce consegue nos brindar.

    Que o 747 Ed Force One faça uma longa escala no Brasil. Quero muito levar meu filho nesse show.

    Grande abraço.

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  7. Caio, enquanto isso, no Twitter… vale a pena ler a thread…

    Viram esse @janineji77 e @piroquio? Show de bola. https://t.co/QkCV6H7YIz
    — Luciano Andrade (@Luciano555) September 2, 2015

    //platform.twitter.com/widgets.js
    Sobre o post, as máquinas por aqui já foram paradas… tem que parar tudo e ler o post com a música, agora… e eu voltarei por aqui… por enquanto, só tenho a dizer que é mais um post que figura facilmente entre os melhores em mais de 6 anos deste blog…
    [ ] ‘ s,
    Eduardo.


    https://polldaddy.com/js/rating/rating.js

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  8. Valeu Eduardo! Eu fico feliz, porque eu às vezes deixo de escrever alguma coisa porque não acredito que tenha ficado “bom o bastante”. Aí apago, reescrevo, desisto, remonto, e tem coisa que vira um Frankenstein, hehe. Acho que não foi o caso aqui.

    É o que se tem quando a “competição” é fortíssima: só tem coisa boa aqui no blog, e tem que manter o nível! Eu tive sorte, escrevi sobre a minha banda favorita, e a análise é mais emocional que técnica. E o assunto é popular, já que a banda também é (relativamente falando) e está em época de lançamento de álbum. Espero que traga novos ‘clicks’ e torne o MinutoHM mais conhecido ainda.

    Abração!

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  9. Caio,

    Simplesmente fenomenal! Com todo esse background aqui desvelado de forma magistral, agora vou ouvir a música com toda a atenção para curtir estes detalhes incríveis na letra e nos arranjos.

    A transcrição musical do S.O.S. é realmente muito legal (assim como já feito pelo Rush na YYZ) e é uma sacada muito interessante em termos musicais, fazendo uma importante ponte para o “crescendo” dessa magnífica obra progressiva do Iron Maiden em pleno 2015!

    keep ironin’

    Abilio Abreu

    Curtido por 1 pessoa

    • Muito obrigado pelos elogios Abílio! É muito interessante o caminho tomado pelo Iron Maiden nos últimos anos. Muito bom vê-los fora da “zona de conforto”, e com tanta competência, após tantos anos de carreira. Sempre é difícil agradar alguns fãs, afinal ou a banda “repete fórmulas e virou cover se si mesma” ou “fez o que não sabia e quis ser ‘moderna’ demais”, mas o Iron Maiden assumiu este ‘risco calculado’ e o resultado foi uma obra-prima.

      Grande abraço!

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  10. Pessoal, obrigado pela excelente recepção ao texto. É sempre muito gratificante ver que nossa opinião, aquilo que pensamos, acaba fazendo sentido também para outros fãs. O texto já estava bastante longo, então alguns detalhes da história acabaram ficando de fora. Que bom que temos os comentários para mencioná-las, mesmo fora do texto!

    – Quando mencionei que Bruce deu sua interpretação dos fatos eu quis explicar que nem todas as evidências históricas ‘batem’ com a versão oficial. Em alguns relatos o R101 estava voando sem qualquer problema até chegar a norte da França, embora outros atestem que na travessia do Canal a preocupação já era grande – versão esta utilizada pela banda para adequar a letra aos momentos e andamento da música.

    – A queda do R101 foi lenta, a cerca de 20 quilômetros por hora, algo muito próximo à velocidade adequada para uma aterrissagem. O que decretou a destruição da nave foi o impacto direto da proa com o solo, uma vez que ela caiu “de bico”. Sem a proteção de amianto, destruída pela velocidade e pelo mau tempo, os bolsões de gás frontais se incendiaram. Isto causou uma reação em cadeia: por dentro da armação metálica os bolsões de gás explodiram um a um, fazendo com que a nave inteira estivesse em chamas em segundos. Os sobreviventes conseguiram se salvar apenas porque estavam próximos a escotilhas, e conseguiram travessá-las antes que o incêndio os atingisse.

    – O gás hélio sempre fora o mais adequado como ‘gás de içamento’ de dirigíveis. De difícil extração e transporte, no entanto, ele também sempre fora muito caro em comparação com o hidrogênio. O hidrogênio, embora excelente como gás mais leve que o ar e relativamente muito barato, é extramente inflamável: qualquer falha nos bolsões de gás (ou em sua proteção) colocava em grande risco a aeronave.

    – O ‘esqueleto’ de alumínio do R101 pemaneceu intacto no mesmo local por mais de um ano após a queda, tal como mostrado na foto do post acima. A declaração oficial das autoridades atesta que os restos foram vendidos como sucata, mas existem evidências que as armações foram vendidas aos alemães e reaproveitadas na construção de um outro famoso dirigível, o Hindenburg – este, quando construído em 1935, bateu o recorde de maior aeronave já feita, com 245 metros. Ironicamente, da mesma forma que o R101, o Hindenburg teve um fim trágico: incendiou-se em pleno vôo sobre Nova Jersey, nos Estados Unidos, protagonizando um dos acidentes mais impressionantes da história.

    – Aparentemente Bruce compôs esta música quando a banda já estava em estúdio gravando “The Book Of Souls”. Steve Harris a ouviu e perguntou a Bruce se era algo planejado para o álbum. Bruce respondeu que ela entraria, quando pronta, para seu álbum solo porque em sua opinião a canção “não era nada parecido com Iron Maiden”.

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    • Caio, excelente comentário-post, trazendo ainda mais informações do que se pode obter no vídeo do History Channel.

      Bom, ficou claro também que o mundo em um aspecto é sempre igual: pressão política, pressão de investidores, mídia, expectativas, etc e a “decisão” em cima de um cara que não queria perder moral (e provavelmente dinheiro), negligenciando os relatórios técnicos que já antecipavam reais riscos de acidentes. E parece que a lição também não foi aprendida pelos alemães depois…

      E finalmente, sobre a música, eu havia mesmo ouvido que Bruce tinha uma música “fora do Iron Maiden”… Steve deve ter pedido a ^maidenizada” e, para Bruce, acaba sendo um bom “negócio” também. Harris está sozinho apenas na flamenguista, que possui bons momentos, mas acaba sendo a mais fraca do disco…

      [ ] ‘ s,

      Eduardo.

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  11. Eu vim daquele seu comentário no meu video, e que matéria fantástica cara, parabéns, achei sensacional mesmo.

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  12. Caio, os elogios aqui são poucos para a iniciativa e a qualidade do post. Eu já vi o documentário, me interessei mais pela musica que mais gosto do album.
    Posso dizer o seguinte:
    Já gostava muito da música e agora gosto ainda mais depois de ler o seu post e sinto muito orgulho de participar com você deste blog, onde as surpresas como o seu maravilhoso post aparecem sempre
    Parabens é pouco
    Espero ver o show e se possivel seria muito legal estarmos todos juntos
    Abraços
    Flavio

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  13. Caio, agora com mais algumas audições e com este post, volto a comentar por aqui.

    Primeiramente, você teve novamente um “feeling” muito rápido desta música, creio que conseguiu com as pesquisas também e com sua lógica e “organização mental” conseguir “traduzir” em sentimento um pouco do que entendeu da música, da “mensagem” que vem em conjunto com uma letra que merece um destaque e (mais) elogios ao Bruce Dickinson (ele não cansa de me surpreender) e um som efetivamente diferenciado.

    Em resumo: é muito bom quando o Iron Maiden não “força” ser épico e “acaba sendo”, pois quando eles forçam, normalmente aplicam a fórmula repetitiva que sempre falamos por aqui e o resultado final raramente é tão agradável, tão espetacular como visto nesta música que vem ganhando minha admiração e emoção a cada “escutada”.

    A forma como você trouxe sua “interpretação” é como ler um livro sobre um acontecimento, acontecimento este real, como o Maiden tão bem soube e mostra ainda saber em sua discografia. A última neste nível histórico, Paschendale, que você também narrou, me agrada demais, mas vejo esta aqui já superando à batalha trazida no Dance Of Death.

    Assim, seu relato faz o leitor querer ouvir o som e ir acompanhando o que você escreve. Ao se fazer isso, é incrível como parece que estamos “vivendo” o momento histórico, entendendo o contexto sócio-político-financeiro, as razões de tudo, e como o voo deste zeppelin foi de “empire” a “may rest in peace”.

    Não dá para saber o quanto Bruce, banda e envolvidos se esforçaram em trazer o “clima” que você trouxe aqui, mas eu acredito que há sim uma tentativa, com sucesso, de muito do que você “sentiu” ser passado aos ouvintes.

    O R101, o último dirigível em império britânico, foi para as nuvens fadado a atender e suprir às pressões, mesmo com o risco já tendo sido identificado. Parece que esse tipo de coisa não mudou muito nem alguns anos depois, na Alemanha, mas pior ainda, nem mesmo nos dias de hoje, não é mesmo?

    Said the coxswain “Sir she’s heavy“
    “She’ll never make this flight“

    A consequência desta “negligência”, para ser educado, é trazida pela banda com maestria:

    “We’re down lads“ came the cry
    Bow plunging from the sky
    Three thousand horses silent
    As the ship began to die
    The flares to guide her path
    Ignited at the last
    The Empire of the Clouds
    Just ashes in our past
    Just ashes at the last

    E um final que emociona:

    Now a shadow on a hill
    The angel of the east
    The Empire of the Clouds
    May rest in peace
    And in a country churchyard
    Laid head to the mast
    Eight and forty souls
    Who came to die in France

    Olhem, vou logo falar que a música está ganhando MUITO em emoção comigo, ao ponto deu já estar pensando quando foi a última vez que saiu algo tão genial da banda – estou falando já nos anos 80, provavelmente já considerando a época do 7th Son…

    Caio, obrigado pela “tradução”, aliás, isso sim é tradução de música.

    [ ] ‘ s,

    Eduardo,

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  14. Parabéns Caio por conseguir me impressionar e me emocionar ainda mais com essa música fantástica.

    Hoje de manhã, antes de ler seu post, eu estava trancado no quarto tentando imitar nosso mestre Bruce Dickinson quando simplesmente eu fui à lágrimas na parte em que a música diz que os sonhadores vão e os sonhos continuam.

    Não havia notado a inserção genial do SOS é muito menos o abafamento e o ressurgimento das notas em piano ao longo da música.

    Jamais imaginei que eles conseguiriam retirar de Rime of the Ancient Mariner o título de minha música preferida, mas eles conseguiram com Empire of the Clouds.

    O que eu realmente lamento é a declaração dada por Bruce Dickinson que não a executarão ao vivo. Agora é torcer para que haja uma comoção antes da turnê começar e que eles possam ensaiar e inseri-la na turnê, com direito a Michael Kenney vestido de Eddie no piano.

    Mais uma vez parabéns pela excelente análise.

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    • Flavio, seja bem-vindo ao Minuto HM, primeiramente, e muito interessante seu comentário, ao qual mostra o real impacto que esta música vem deixando nos fãs, mesmo quem está sempre mais envolvido com os golden years da banda, nos anos 1980.

      Bruce já comentou e reafirmou que não deverão tocar Empire ao vivo ; mas comentou também que um dia tem vontade de fazer isso com uma orquestra. Quem sabe com a ótima de São Paulo? :-).

      Continue participando por aqui!

      [ ] ‘ s,

      Eduardo.

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  15. Vai ser censurado, mas não tem jeito velho: put* que par**!
    Excelente postagem! Arrepiei só de ler! E diga-se de passagem que a leitura fez a música crescer ainda mais para mim.
    Parabéns pela organização do conteúdo! Excelente!!!

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  16. essa do sinal de SOS na música realmente me pegou de surpresa…

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  17. Antes de mais nada, informo que não conhecia o blog, não sou audiofilo, não tenho ouvido absoluto, sou um cara normal, que trabalha, é fã da banda, que considero como minha preferida, mas nada doentio, comprei o CD no dia do lançamento, e certamente, eu e meu gerente compramos os dois primeiros exemplares vendidos no centro do Rio de Janeiro (voltamos diversas vezes à Saraiva e pegamos nosso exemplar enquanto o atendente subia com a caixa dos CDS que acabavam de chegar, e encontrei, buscando uma tradução livre de idioma para Empire of The Clouds.

    Encontrei algo muito melhor. Encontrei essa postagem. Na hora, devido a pressa, após dar uma leve espiada, resolvi salvar o link para ler com mais calma, acompanhando a música, pois já tinha notado que se tratava de um excelente conteúdo.

    Assim como o colega Dupim acima, não tinha notado a maioria dos detalhes. O S.O.S introduzido na passagem foi genial, entre tantas outras genialidades.

    Hoje, pela manhã, ao ir trabalhar, resolvi ouvir a música acompanhando o texto aqui redigido. Em diversos momentos, notei os olhos marejados (devia ser areia, só pode…rs), pois o colega Caio conseguiu postar uma interpretação ao nível da performance da música. Independente da interpretação pessoal, existem muitos fatos citados na música e aqui explicados pelo Caio, que, independente do toque pessoal, emocionam.

    O trecho em que menciona que “os sonhadores podem morrer, mas os sonhos ficarão” depois de tamanha interpretação, acho que arrepia até os mais frios.

    Não sei o quão está acostumado com sua genialidade Caio, mas faço questão de parabeniza-lo por ela!

    Forte abraço.

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  18. Bem, voltando aqui, mais de um mês depois, tento fazer algum comentário que faça jus à qualidade deste material.
    Mais uma vez, e parafraseando o chefe deste blog , o Eduardo, não se encontra material como este na internet. E mais uma vez, é um privilégio ler o Caio dissecando outra faixa de conteúdo além do musical da Donzela. Quando se trata de conteúdo lírico, não conheço ninguém melhor pra tratar de uma faixa do que você, Caio. Um espetáculo em Paschendale, outro aqui.
    No decorrer da letra, tão bem detalhado pelo Caio, me chama a atenção a interpretação de Bruce, ninguém melhor no mundo musical para cantar aventuras aéreas. É interessante a analogia entre o piano ( momentos mais calmos ) e as guitarras (momentos mais perigosos) da viagem.Ainda que seja apenas uma interpretação sua, vai de encontro ao que o musico jazzista trouxe no seu outro comentário. Vale o que o ouvinte absorveu…
    Bem, aí vem o SOS, tão bem desvendado neste post. Repito, não se encontra algo assim na internet!!! E por fim, a parte da orquestra, dissonante, ilustrando o desastre. Genial, como a donzela infelizmente não tem feito tanto como eu gostaria.
    É a melhor faixa do álbum, ainda que a preferência pessoal de alguns de nós possa seguir outras escolhas.
    Caio, mais uma vez impressionante o seu talento neste post.
    Mais uma vez eu aqui agradeço.
    E agradeço a Bruce Dickinson + Iron Maiden.

    Alexandre

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  19. Caio, estou impressionado com seu texto e sua percepção em Desvendando “Empire Of The Clouds” , só me resta ouvir essa, que com certeza será um clássico, acompanhando seu texto. Parabéns!!!!!

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    • Reginaldo, aconselho fazer o seguinte:

      1- Ouça somente a musica, pra se familiarizar. (Se necessário, dê uma lida na tradução dela)
      2- Leia novamente o texto todo do Caio.
      3- Ouça novamente a musica, simultaneamente, com o texto do Caio. De forma à acompanhar a musica e o texto no mesmo tempo.

      Para isso, vai precisar de, mais ou menos, 20 minutos pra cada etapa (rsrs)… Pode fazer as 3 etapas seguidas, pode fazer cada dia uma etapa… Enfim…

      Ah, possivelmente ja tenha a musica no YT, mas aconselho (MUITO) comprar esse album. Está fantástico, não considero caro, e acho que vale o incentivo ao trabalho feito.

      Forte abraçO!

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  20. Não é lorota! Hoje vindo para o trabalho estava escutando essa música e eu me questionei o porquê da quebra de tempo “bem nada a ver” que o Maiden fez. E hoje cai na minha mão esse post, onde descubro que os caras fizeram um S.O.S. musicado ….
    PQ*! Que texto é esse!

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  21. Empire of the clouds é realmente épico! É impressionante como eles não conseguem parar de fazer música boa!

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  22. Empire Of The Clouds no teatro? Acho que daria certo, de alguma forma… quem sabe?

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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  23. Minuteiros,

    Com o fim do ano se aproximando, volto aqui neste post que elegi como o melhor de 2015.

    É incrível a capacidade do Caio em destrinchar esta complexa peça que fecha o CD de retorno do Iron Maiden após tantas especulações sobre a doença de Dickinson, o qual mostrou que está a todo o vapor em termos de composição e execução.

    Perfeito!

    keep raisin’ the bar…

    Abilio Abreu

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  24. [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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  25. Excelente interpretação e explanação dessa obra prima do Iron Maiden!
    Não conhecia o minutohm, mas fiquei muito fã e aprendi d+.
    Grande abraço !

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  26. Single ? com 18 minutinhos ? essa é nova….

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  27. descobri pelo google o site, que satisfaçao ouvir Empire of Clouds lendo esse texto. EXCELENTE. Escreveram tudo que pensei tambem ao ouvir a musica. fan do Iron ha 25 anos, com duas tattoos gigante do Iron e procurando uma terceira, enfim, vcs fizeram um otimo trabalho comentando a musica.

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  28. Cara! Parabéns! Fantástica a explicação! Como não admirar uma banda como essa? Iron é cultura em todos os sentidos, desde a qualidade com que as letras são escritas, sempre com muito de História Mundial pra aprender,a elaboração das melodias.
    É genial!
    Up the Irons!

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  29. Bruce falando da música / inspiração para o nascimento da faixa que fecha o disco: http://www.wikimetal.com.br/site/bruce-dickinson-conta-como-nasceu-a-empire-of-the-clouds/

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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  30. Eu acho que nenhuma outra música longa do Maiden consegue superar “Rime of the Ancient Mariner”, o grand finale de seu álbum definitivo que é Powerslave, de 1984. Quase 14 minutos de perfeição absoluta.
    A versão ao vivo do show-documentário Flight 666 (2009) é de chorar, simplesmente divino!
    E quanto a “Empire of the Clouds”, esta longa história da carochinha criada inteiramente pelo Sr. Dickinson, posso dizer que ela não consegue ser pra mim tão impactante quanto a versão musicada do poema de Samuel Taylor Coleridge. E o que eu vejo em The Book of Souls como um todo é uma banda cansada e esgotadíssima, sem inspiração e fazendo uma tosca xerocópia de si mesma. Ressalto que dei uma ouvida em todo este disco novo do Maiden e achei bastante cansativo, pela sua duração.

    Pra mim, o Iron Maiden chegou ao fim com o álbum anterior, The Final Frontier (2010).

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