Discografia HM – Godsmack

Já estava há algum tempo ansioso em descobrir “algo novo” que ocupasse um vazio nas bandas de heavy metal setentistas e oitentistas, algo que realmente me sentisse empolgado, com peso, força, mas que não fosse a reinvenção da roda. O heavy mental não podia ter morrido. Alguém deve estar fazendo o trabalho e eu não estava nessa frequência para descobrir. Comecei a jogar a rede e o que vinha não era exatemente o que eu procurava. Várias bandas caíram na rede (Tryvium, Bullet For my Valentine, Five Finger Death Puch, Avenged Sevenfold). Boas bandas mas não era isso exatamente o que eu estava procurando.

Lembrei então de uns papos que levava com meu primo que morava em Denver e que eu havia questionado sobre o que estava rolado por lá. Alguns nomes vieram a memória lá 7 anos atrás (Mastodon, Dragon Force, Godsmack). Bingo! Achei o que estava procurando (bases pesadas, porradaria na bateria e um vocal forte) e o não menos importante… sem arranjos sintetizados. Sem nenhuma direção, comecei a ouvir os álbuns aleatoriamente. Como estava de férias em casa as audições foram rápidas e fui me empolgando e ouvindo tudo. Colocando os álbuns em ordem cronológica se percebe claramente o diamante bruto sendo lapidado. Me interessei então a pesquisar sobre a evolução dos caras. Não era um banda dos anos 2000, mas para quem não via nada novo desde os idos anos 80, já estava bom. Achei vários rótulos para a banda do Sully Erna (Nu Metal, Grunge, Groove Metal, Rock Alternativo, Hard Rock, Alternative Metal). Tem tanto rótulo hoje em dia que fica difícil achar uma caixinha e colocar essa ou aquela banda. Vou então passar a minha percepção simples da obra e como eu classifico. Os caras fazem um heavy metal, digamos, mais atualizado. Rotular sempre é difícil, pois um álbum pode soar diferente do outro dependendo do contexto, da época, do mercado ou como já vimos pelo andar da carruagem, dependendo da “moda”. E como a banda é americana…

Vamos lá.

Godsmack_logo

Godsmack (beijo de Deus?!) foi fundada em 1995 em Massachusetts pelo multi instrumentista Salvator Paul “Sully” Erna (02/1968). Sully assina “99,99%” das composições – (Someone in London do primeiro álbum homônimo foi escrita pelo guitarrista solo Tony Rombola) e é o vocalista, tocou bateria por 23 anos até se colocar como vocalista no Godsmack. Também toca piano e gaita. Pessoalmente acredito que parte do sucesso da banda deva-se pela capacidade de seus integrantes, mas principalmente pela centralização de Sully desde as decisões, produção até participação em programas de TV.

A banda está em seu sexto álbum de estúdio (1000Hp), de 2014. É pouco, considerando os 15 anos de carreira. A banda teve 2 hiatos com ineditas de 4 anos do álbum IV para o seguinte “The Oracle” e deste para o último “1000hp”, lançado em 2014. Chegaram até a questionar se banda havia acabado. Apesar de centralizador, a banda teve 2 álbuns em que todos trabalharam nas composições (The Oracle e 1000Hp). Mesmo com essa centralização, que para alguns pode gerar desmotivação, houve poucas deserções e a banda mantém sua formação inalterável desde 2002 com a troca do baterista Tommy Stewart por Shannon Larkin. A guitarra solo + backing vocals está com Tony Rombola desde 1997 e o baixo tem Robbie Merrill desde 1996.

As coisas não são fáceis para ninguém no começo da carreira. Para Sully, também não foi. O primeiro álbum da banda, All Wound Up (1996), foi gravado em 3 dias e custou US$2.600,00. Trabalharam esse álbum por 2 anos em shows locais onde alternavam o setlist com covers do Alice in Chains. Keep Way (foi o primeiro sucesso da banda e apesar das críticas por parecer Alice in Chains, foi responsável junto com outro single, Whatever, pelo salto nas vendas de 50 exemplares/mês para 100.000 por semana.

O fato acorre após a inclusão na lista de execuções da rádio WAAF. Com toda essa repercussão, o álbum é remasterizado pela Universal/Republic Records em 1998 que relança e distribui o álbum com o nome de Godsmack. Os caras excursionam com o Black Sabbath na tour europeia, além de participarem do OzzyFest e do Woodstock 1999. Em 2001, recebem quatro discos de platina da RIAA. Nada mal para um algum de estreia. Curiosamente, a música Voodoo é apresentada com 9:03, mas termina com 4:40, entretanto aos 6:39, um ritual aparece.

O segundo álbum, intitulado Awake, é lançado em 31 de outubro de 2000 e já alcança platina dupla pela RIAA com 2.500.000 em vendas. Seus 3 singles, Awake, Bad Magic e Greed mais Vampires (que proporcionou a nomeação ao Grammy para a banda por Melhor Performance Instrumental de Rock) levam o álbum para o quinto lugar na Billboard 200 com vendas de 256.000 cópias na primeira semana. Curiosamente, a modelo da capa do primeiro aparece no clipe de Greed. A edição japonesa vem com 2 bônus, entre elas um cover de Sweet Leaf do Black Sabbath.

Faceless, o terceiro álbum, é lançado em 8 de abril de 2003 e alcança reconhecimento superior ao já bem reconhecido Awake (5oº lugar na Billboard). Em sua estreia, alcança o número 1 da Billboard com 269.000 cópias na primeira semana. Foi número 1 no Top Internet Albuns, onde permaneceu por 2 semanas. O álbum obteve muita repercussão na época com suas músicas, despontando na mídia.

Acredito que todos esses números sejam resultado das composições matadoras do álbum impulsionadas pelos seus 4 singles: I Stand Alone (encomendada para o filme O Escorpião Rei). Esse foi o single mais tocado na Rock Radio e música da parada “Active Rock” mais tocada no ano (14 semanas). O vídeo clipe já teve mais de 47.000.000 de visualizações.

Acredito que os acessos ocorreram muito em função do filme. Infelizmente a música peca pela ausência de um solo de guitarra. Provavelmente essa foi a proposta. Straight Out Of Line foi indicado ao Grammy de melhor performance de Hard Rock, mas não levou. Já Serenity teve como inspiração o livro de New Peart, “Ghost Rider: Travels on the Healing Road”.

A música I Fucking Hate You apareceu nos spots de TV para o filme Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra, embora em uma versão instrumental.

Nesse álbum percebe-se uma maior maturidade nas composições, abandonando a sombra do Alice in Chains, apesar de Sully assumir que sua maior influência vocal foi Layne Staley. Para as composições desse álbum, a banda se isolou em uma casa em Miami para não se distraírem com o cenário musical.

The Other Side (EP). Seguindo a sequência cronológica de lançamentos, em 16 de março de 2004 lançam um EP com os singles em versão acústica e 3 inéditas. As gravações ocorrem no Hawaii, acredito que para pegar um fôlego para saírem em excursão com o MetallicA, em que tiveram interação interessante e positiva.

Em 25 de abril de 2006, é lançado o álbum IV. Para a produção do álbum, Sully convida o engenheiro de áudio Andy Johns, conhecido pela produção do Led Zeppelin IV e alguns trabalhos com Van Halen e Rolling Stones. Nesse álbum, a novidade foi a liberdade dada ao grupo nas composições, o que não ocorria anteriormente. Para ele, foram compostas 37 músicas para gravação de 17 e finalmente 12 entraram no álbum. As letras são mais introspectivas e reflexivas com composições mais trabalhadas e menos pesadas que seus antecessores. A banda deixa um pouco suas raízes, abrindo-se mais para um público mais amplo (comercial?). O vendeu 211.000 cópias na primeira semana nos Estados Unidos. Alcançou o primeiro lugar na Billboard e no Top Internet Albuns. Seus singles são Speak, Shine Down e The Enemy.

Good Times, Bad Times…Ten Years of Godsmack é lançado em dezembro de 2007. A coletânea conta com todos os singles, exceto Bad Magick. O álbum abre com seu homônimo cover do Led Zeppelin, que contou com um vídeo clipe bem humorado gravado literalmente em solo natal em Boston.

The Oracle é lançado em maio de 2010 após deixar os fãs 4 anos sem inéditas. Foi o terceiro álbum seguido da banda a chegar ao topo da Billboard com 117.500 cópias vendidas na primeira semana em território americano. O processo de composição repetiu a linha colaborativa. A banda isolou-se para compor e trabalhar música a música, tendo o resultado final avaliado por todos, incluindo as subsequentes vocalizações e harmonias. Todos tiveram seu espaço, conforme declarado pelos próprios componentes.

O álbum foi bem recebido pelos fãs e pela crítica como um retorno ao peso deixado pelo antecessor.

Nesse período, como banda de abertura dos show do MetallicA, Rush, Black Sabbath, Aerosmith, Crüe Fest, etc, “houve algumas situações loucas descritas pela banda como estrelismos, egocentrismos, coisas difíceis de lidar.” O álbum teve 4 singles, sendo Cryin’ Like A Bitch!! o primeiro. Reza a lenda que a música teria sido escrita diretamente para Nikki Sixx após alguns desentendimentos na Crüe Fest 2. A música é forte e direta, como as do início da carreira.

Whiskey Hangover, Love-Hate-Sex-Pain… e Saints and Sinners, que inicialmente era para ser o nome do álbum, porém após se lembrar que o Whitesnake já havia lançado um álbum com esse título, a banda resolve mudá-lo.

1000HP é o sexto álbum da banda. Lançado em agosto de 2014, não teve o mesmo reconhecimento público que os 3 álbuns anteriores. Vendeu 58.000 cópias nos Estados Unidos na primeira semana, alcançando o 3º lugar na Billboard. Desde o seu lançamento, o álbum teve 2 singles, Something Different e What’s Next. Considero-o um bom álbum, mais linear, ou seja, sem maiores altos e baixos.

Reflexões:

Os lançamentos me fazem lembrar muito a história fonográfica do MetallicA com os 2 primeiros álbuns mais “rústicos”, tendo na sequência um 3º álbum extremamente inspirado e competente, que os faz decolar.

Se o cara foi baterista por 23 anos é porque devia curtir muito. Não seria interessante repartir esse dom com os fãs? Pedido realizado! Dê uma olhada nesse duelo ou, por que não, dueto, com direito a alusão a YYZ e Mobydick. Não é em todo show que rola.

Depois dessa imersão à vida dessa banda, foi muito interessante perceber um início bem centralizador de seu líder e mentor, talvez para criar um alicerce sólido e sentir a capacidade do restante da banda. Na sequência, vemos uma banda mais madura e seu fundador dando liberdade à banda nas composições.

Agradecimentos:

Ao velho amigo Alexandre, pela revisão do texto e a inspiração na redação e ao Eduardo, por acreditar que eu conseguiria, já que essa foi a terceira vez que pensei colocar algo no blog. Sou melhor ouvindo do que escrevendo.



Categorias:Aerosmith, Alice Cooper, Avenged Sevenfold, Black Sabbath, Covers / Tributos, Curiosidades, Discografias, Godsmack, Led Zeppelin, Mastodon, Mötley Crüe, Músicas, MetallicA, Rolling Stones, Rush, Van Halen, Whitesnake

16 respostas

  1. Cláudio,

    Muito legal o post!!

    Lembrar que o nome da banda provavelmente vem de uma música do Alice in Chains, a ótima God Smack, do álbum Dirt!

    Link:

    Abraço!!!

    Curtir

  2. Fala, Claudio. Começando a falar que valeu a pena pela espera, pois se você é melhor ouvindo que escrevendo, realmente você deve ter os ouvidos em um nível para lá do excepcional… o post está sensacional, a cara do MHM, e espero que venham muitos outros!

    O post estava pronto já há 2 dias, mas valeu a pena abrir o ano de 2016 com ele!

    Bom, quanto ao nome da banda, já está comentado acima pelo Glaysson, especialista em AiC, e se confirma o que tem nesse post também: https://minutohm.com/2013/09/05/origens-e-curiosidades-dos-nomes-de-bandas/

    A diferença é que no caso do AiC, a música se chama God Smack, e o Godsmack resolveu juntar o nome. A música lá do Dirt é uma das que aborda o tema da heroína, como Jerry Cantrell diz:

    “Foi o ápice do período de heroína. Era a mais abertamente honesta – esta canção e “Junkhead” particularmente – tradução da loucura acontecendo então. Mas foram tempos mágicos, inevitáveis.
    “God Smack” foi escrita pelo vocalista Layne Staley e faz parte do semi-conceito do álbum sobre vício, que começa em “Junkhead” e termina em “Angry Chair”. Mostra um dos estágios do vício, aquele em que a heroína se tornou uma religião que consome todo o tempo do viciado.”

    Fica mais que clara a influência e admiração do Godsmack pelo AiC, e seu início de carreira que você tão bem trouxe por aqui é um reflexo disso.

    É uma banda que já teve oportunidade de tocar com os gigantes, não ouvimos falar dela em termos de escândalos ou problemas, ou seja, tais características também demonstram certa maturidade dos membros.

    Por fim, lhe pergunto: começamos a ouvir pelo primeirão? Eu confesso que este post me fez querer conhecer mais da banda…

    Parabéns e tenho certeza que todos nós já aguardamos mais textos seus por aqui, e que não demorem tantos anos :-).

    Feliz Ano Novo a todos.

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

    Curtir

  3. Valeu Glaysson.
    Olha só…Quanto ao nome da banda há controvérsias internas. No DVD caseiro da banda “Smack This” lá pelos 19 minutos o baixista aos ser questionado quanto ao nome da banda diz ter sido influencia do Alice in Chains. Por serem fans declarados não se poderia negar. Contudo, ao ser questionado numa entrevista a revista NYRock em out/99, Sully relatou que o nome ficou na sua cabeça devido a uma brincadeira que fez com alguém que estava com herpes labial. No dia seguinte ele mesmo apresentou o mesmo sintoma. Então alguém comentou “It`s a Godsmack!”. Vai saber…

    Curtir

  4. Eduardo, quando comecei a responder a questão do nome da banda ainda não tinha visto seu comentário. Comecei a escrever ao mesmo tempo em que pesquisava e conferia a fonte das informações. Então criou um delay na minha resposta.
    Quanto ao início das audições sugiro o Faceless. É pesado e bem trabalhado. O segundo, Wake é muito legal também.
    Falando um pouco mais da banda, tem uma parte do documentário da banda Smack this de 1999 em que numa sessão de autógrafos um fã aparece com uma fita cassete demo para ser autografada. O Sully ficou “de cara”! Muito interessante.
    A banda parece muito integra sim. Acredito que tenha a ver com a religiosidade de Sully. Ele é seguidor da doutrina Wicca, uma religião pré cristã e pelas suas declarações isso faz parte da sua vida e também influencia suas composições.

    Curtir

  5. Bem, primeiro é muito legal ver o Cláudio estreando como autor por aqui. E a vida me mostrou quando estivemos mais próximos aqui no Rio de Janeiro cerca de três décadas atrás , que era sempre ele o cara das boas novidades. Temos muito material aqui da banda e fica a pendência de ouvir tudo isso e também o show de Woodstock que o Eduardo disponibilizou
    Segundo, vamos relativizar a minha participação no conteúdo deste post. Eu simplesmente li antes e disse, manda bala que tá tudo certo.
    Cláudio, que seja o primeiro de uma série sua por aqui. E que eu vença a inércia e falta de tempo para ouvir suas sempre preciosas dicas.

    Parabéns!

    Alexandre

    Curtir

    • Alexandre, tive bons mestres na redação. Mas iniciante ainda sou.
      O grande lance foi a inspiração e motivação. Então, espero encontrar temas e bandas que me inspirem, já que o nível aqui no Minuto é de altíssimo nível, com redatores inspiradíssimos. Como não sou músico me abstenho de entrar nesse tema.
      O bacana do blog também é de servir como enciclopédia. Então sempre é possível buscar referências aqui.
      Valeu!

      Curtir

  6. Bom, eu li o post e fiquei muito interessado. Ainda não vi o conteudo multimidia mas vou encontrar tempo para isso com certeza. Cláudio está de parabens pela pesquisa e pela sintese disponibilizada no MHM e não há erro, é um mestre dissertando e merece todo a atenção.
    Como disse ai em cima fiquei interessado e vou atrás e volto comentando por aqui – aguarde
    Abraços do irmão
    Remote

    Curtir

  7. A tarefa não é simples. Mas sinto que cheguei onde queria. É claro que um dos fatores que me motivaram foi justamente apresentar uma banda legal com um texto com a qualidade que vocês merecem. É isso ai.
    Valeu!
    Abraço

    Curtir

  8. Olha, comecei levemente as audições e não é que a banda é promissora mesmo. Gostei do peso, do vocal, bateria bem gravada com ótima sonoridade.
    Mas volto com mais impressões, é preciso um pouco mais de tempo do que disponho neste momento.
    E vindo do Cláudio a gente sempre tem de prestar mais atenção, foram várias as dicas durantes esses bons anos de amizade.

    Alexandre

    Curtir

  9. Cláudio, tenho ouvido com um pouco mais de atenção o álbum inicialmente indicado ( Faceless) e o vocal me lembra demais o Hetfield.
    Assim, Eduardo, eu sugiro FORTEMENTE que você ouça isso …

    Alexandre

    Curtir

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.