Profissão: baterista. Importância geral ao público geral: baixa?

Já de cara: a ideia do post aqui é abrir um novo papo, já que não existe como responder “sim” ou “não” de forma direta à provocação do título do post…

Hoje de manhã, a caminho do trabalho, com chuva e trânsito em São Paulo (pleonasmo?), “lembrei” que semana que vem o Guns N’ Roses toca sexta e sábado em São Paulo, sendo a primeira noite a data escolhida para ter a presença da galera. Ahhh, o Guns N’ Roses com sua “formação original”, como tanto a mídia insiste em dizer – e errar. Acompanhamos em detalhes desde o ano passado a volta do que é considerado “original”: o retorno de Axl e Slash na linha de frente.

Aí o pensamento foi para isso. O que chamo de “linha de frente”, ou seja, aquilo que aparece ao público em um show mesmo. Já não é de hoje as piadas com bateristas – “aquele que acompanha os músicos”, “aquele que fica escondido”, “aquele lá trás”, “aquele que fica atrás de um monte de pratos” (em alguns bons casos, diga-se de passagem).

Mas o ponto é: seria aquele que quase nunca se quer dar a atenção? É aquele que, em linhas gerais (claro que há exceções), o povo não sente falta se for trocado?

Não há dúvidas que o vocalista e os guitarristas de uma banda são normalmente o que a identificam ao público em geral – vejam, reforço: público em geral, e normalmente de bandas que não são de metal. O baterista não está mais lá? Tudo bem, troca e segue o jogo…

Fiquei aqui pensando no Guns hoje, já que Steven Adler, o amigo do Rolf, volta e meia “aparece” com o Guns – e fiquei pensando como seria legal vê-lo com a banda e tirar essa foto também em nosso país:

Depois meu pensamento foi para o Dream Theater, a banda que foi fundada por um dos mais geniais bateristas que podemos pensar e que seguiu sem o cara. Pensei mais que isso: a mesma coisa que acontece com o “o Guns voltou”, é o que estamos vendo com o Black Sabbath e a novela sem fim com Bill Ward.

A moral da história: normalmente, tudo segue sem o baterista. Há exceções – o Led Zeppelin é uma, o The Who foi outra (foi – passado – outra). Se o Lars saísse do MetallicA hoje (veja bem: HOJE), e o Portnoy entrasse, como ficaria a banda ao vivo (estúdio é outra coisa)? Se entrasse um baterista do mesmo nível, como ficaria? Agora, e se o Hetfield saísse? É outro peso, não é? O que me faz lembrar agora do Slayer, onde Lombardo, por mais falta que faça para muitos, não ganha em questionamentos da saudade que Jeff Hanneman.

O Sabbath estaria aí sem o Ozzy? O Guns “anterior” tinha o Axl, o Slash estava em menor escala, mas bem. Já um baterista em uma banda de sucesso mas apenas com ele de original de uma banda encheria uma casa de shows média / grande hoje? Ou um estádio? Ok, talvez um ou outro caso excepcional.

Não para nós aqui, que sabemos dar o valor, e sem considerar donos do “naming rights”, mas em geral, o que importa, portanto, é a linha de frente da banda? A mídia um dia vai falar que falta aquele baterista para a banda ser a banda? Porque se fosse um Ozzy faltando, seria: “os ex-membros do Black Sabbath se reúnem”, o “Black Sabbath com Dio”… por que então não temos nas manchetes “O Black Sabbath sem Bill Ward”, “O Guns quase clássico, mas sem Adler ou mesmo Sorum”, etc?

Importante: não falemos de “alma”da banda. É claro que isso se entende. Mas falemos dos motivos de haver esta clara distinção.

Ah… será que os baixistas vão querer se juntar a isso?

Cartas à redação…

simple_drums_kit

[ ] ‘ s,

Eduardo.



Categorias:Agenda do Patrãozinho, Black Sabbath, Curiosidades, Dream Theater, Guns N' Roses, Iron Maiden, Led Zeppelin, MetallicA, Slayer, The Who

9 respostas

  1. Fala Eduardo.

    Mesmo que haja desgaste em relação à palavra, não consigo usar outra: preconceito. E na concepção semântica do seu mais puro significado.

    De uma maneira geral as pessoas acham que é “fácil” tocar qualquer tipo de percussão. Via de regra, numa roda de pagode (argh), as pessoas se juntam em torno de cavaquinho, bandolim e instrumentos ritmicos e fazem qualquer tipo de acompanhamento… E acham (você sabe bem disso): que estão arrebentando! Pensam que aquilo ali não é regido por uma lei (matemática) e que pode ser feita sem qualquer tipo de técnica. A isso me refiro dentro de um recorte de um grupo social.

    Essa concepção de “baterista” (o radical não ajuda = bater) já traz um carga de que ele é diferente dos outros instrumentistas que o acompanham e só não existe tal preconceito linguístico dentre aqueles que conhecem a função dele naquele ajuntamento. Por exemplo: quantas vezes a pausa (o silêncio) do baterista/percussionista é fundamental para o sentimento empregado naquela canção.

    Se nos campos as quais me referi eles não são respeitados por total, repito, preconceito, ou mesmo se você quiser, ignorância, na indústria cultural do entretenimento, segue-se o mesmo rumo. Como você bem disse não excluímos a figura do vocalista/guitarrista ou vocalista ou guitarrista porque sabemos que são – convencionalmente – cartões de visita da banda. É pelo som (da guitarra) ou pela voz que identificamos aquele artista. Se Geddy Lee tocasse seu indefectível baixo como baixista convidado de uma outra banda ou artista, alguém seria capaz de reconhecê-lo? E cantando? A coisa muda de figura.

    Bateristas são envolvidos apenas notícias ou menções jornalísticas se a treta for a pauta. E os exemplos dados por você são uma síntese disso.

    Bom observar a linguagem do palco: o público (de uma maneira geral) classifica a importância de acordo com o espaço ocupado. O mesmo vale para os baixistas, quase sempre discretos e fundamentais para o groove e sentimento do que está sendo executado. Pode ser uma salsa, um reggae ou um rock.

    Na hora das discussões que envolvem participação (ou não) nas já recorrente reuniões, eles quase sempre saem perdendo. Em algumas vezes – sem querer aferir juízo de valor – pelo comodismo que impuseram às suas próprias carreiras: pouco participantes, não colaboradores nas canções e meros observadores de luxo de grandes momentos da música.

    Um bom baterista sempre empresta seu DNA às canções. Marca com pulso e peculiaridade um arranjo que com sua contribuição ganha peso e intensidade.

    Curiosamente gravei para meu canal um assunto que envolve bateristas e que publico aqui:

    Público, mídia, ex-integrantes. Não são poucos aqueles que não se “importam” com quem será dono das baquetas. Muitos por entenderem que “baterista é tudo igual”. Mesmo o público quando se identifica com algum membro da formação original é muito mais uma prova de carinho do que conhecimento pelo que aquele músico acrescentou ao som da banda.

    É uma discussão muito gostosa e eu lamento não ter participado das últimas edições do Podcast. Seria um ótimo tema.

    Grande abraço,

    Daniel.

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  2. Eu já me junto fácil aqui. Tirando o Harris e Geddy Lee (que também é o “cantante”), qual outra banda que continuaria sem o seu baixista original? Talvez o Kiss, porque “sobraram dois da original”. Mais alguma? Paul McCartney não é so baixista, Lemmy também (aliás, deixa pra lá…) O Manowar (bom deixa para lá também)
    Baterista é o segundo alvo e fácil e é outro preconceito. Depois do Portnoy, vale tudo.
    Formação original é o whatever qq do Guns aqui. Enquanto não voltam o Izzy e o Adler não é original, é apelo comercial e ponto.
    E sobre o Sabbath, além do Bill Ward, vou lembrar também que de 1986 a 1991 e depois em alguns anos, não tinha nem o Geezer da formação original, ou seja 3/4 ausentes, vale isso Arnaldo? Já cantava o saudoso Tim Maia, vale tudo….

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  3. Tema deveras interessante.
    Não se pode deixar de perceber que de um ponto de vista comercial/mainstream uma banda (de formação clássica de 4 membros) tem dois níveis distintos: Num nível mais visível, o vocalista e o guitarrista. Num nível mais “pra trás” o baixista e o baterista. Penso que não se pode negar esta divisão, ainda que se possa pinçar aqui ou ali, exceções que confirmam a regra.
    Pra quem conhece um tiquinho de música sabe que todas as funções são essenciais para o resultado final de uma banda, no entanto penso que seja natural que o vocalista tenha uma visibilidade maior. Já a função do guitarrista, este granjeou no campo musical do “rock”, seja lá o que essa denominação implique hoje em dia, uma importância destacada. Em resumo, ainda que racionalmente concorde que não deveria haver duas “categorias” de funções numa banda, entendo que, em termos de marketing, é compreensível que haja esta diferenciação.
    No que se refere a volta de bandas clássicas, alem desta questão da função, tem que se ver quem é o “dono” da banda. Quando o dono é o guitarrista, ele não pode faltar, quando é o vocalista, este é indispensável. Vejam que na maioria das bandas esta máxima funciona.

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  4. Na minha (humilde) opinião, no que tange esse assunto, é que cada banda geralmente cria um dos membros como ícone – que tem um destaque imenso para as massas (se som o alcançar as massas). No caso do Guns, esse ícone é a dupla Axl e Slash.

    O Eduardo colocou muito bem a questão do “dono da banda”. Verdade incontestável.

    O Kamelot tirou o Khan dos vocais (o dono é o guitarrista). Você iria num show do Kamelot sem o Khan? Bem, eu iria, mas a banda perdeu sal.

    O Slayer tirou o Lombardo da bateria (o dono é o guitarrista). Você iria num show do Slayer sem o Lombardo? Bem, eu não iria (mas acabei indo porque eles abriram pro Maiden – e comprovei que o som perdeu sal).

    O Dream Theater tirou o Portnoy (o comprovado ficou que o dono é o guitarrista). Você iria num show do DT sem o Pornoy? Bem, eu iria (mas o som perdeu sal). Agora, se o guitarrista saísse (e o Portnoy voltasse), bem capaz de eu pensar se valeria a pena ou não.

    O Metallica colocou aquele índio pra tocar baixo de BERMUDA (o dono é o baterista). Você iria num show do Metallica com o índio? Sim, porque o ícone não é o índio! Pra mim o metallica também é um dupla: Lars e James.

    O Maiden colocou o Blaze! Você iria num show do Maiden com o Blaze? Eu iria! Agora, você iria sem o Steve?

    Eu não acho que seja 100% preconceito. Eu não iria ver o Rush sem o Neil Pert (mas talvez as massas fossem, se a “nova formação” – sei lá, com Portnoy rs – fosse bem vendida).

    E não vou comentar aqui o fato do nome da banda (sem relação com os membros) chamar dinheiro para produtores e afins. Essa merda de dinheiro só lascou com várias coisas boas na música.

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  5. Muito bom ver um Eduardo reflexivo por aqui. O post, além de interessante, traz uma dura verdade. Eu vou até ousar mais, são raríssimas as exceções de bandas cujo o destaque não é o vocal. Do tipo do Iron Maiden, então , mais ainda . O Iron Maiden é uma banda rara, pois baixista realmente não costuma apitar nada, aliás menos ainda que os bateristas.
    Os comentários aqui são excelentes, aliás um lugar comum no blog.

    Assim, sou obrigado a concordar e ir um pouco além:
    Bateristas : Importancia geral ao público : Baixa

    E indo além:

    Baixistas : Importancia geral ao público: Quase nenhuma
    Tecladistas: Piorou, vários deles ficam do lado escondido do palco

    Guitarristas : Ouso dizer que pro público dá pra pinçar quem sabe 10% deles .

    O que vale para o público é o cantor ( usando a palavra adequada).

    É isso….

    Alexandre

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