Operação-padrão versus brilho nos olhos: entendamos para valorizar mais o que é merecido

Uma definição rápida de internet para “operação-padrão” é: “Operação-padrão ou greve de zelo é a realização de um serviço por funcionários de uma empresa ou organização seguindo os procedimentos operacionais padrão com rigor excessivo. Muitas vezes, são utilizadas como forma de protesto, antecedendo greves. As consequências de operações-padrão são a realização mais lenta de um serviço, podendo causar prejuízos ao empregador ou tendo como objetivo divulgar uma causa à população, quando o serviço é público. São conhecidas operações realizadas pela polícia de fronteiras e por agentes alfandegários por tornar o fluxo de produtos mais lento. Algumas vezes, são tidas como formas ilegítimas de protesto e existem leis que proíbem sua realização. Elas podem ser também uma crítica a leis ou regras não cumpridas por serem excessivamente detalhadas ou impossíveis de realizar normalmente. Seu oposto é a operação sem padrão, que descumpre as regras.”.

Já a definição de “brilho nos olhos” é mais para o lado popular da coisa e não se encontra definição pura mesmo em “Wikipedias” da vida. Normalmente está associado com coisas puras da vida, como uma criança brincando e dando aquela risada pura e inocente. Nesse momento, se você está ali emocionado com aquilo, você enxerga o “brilho nos olhos” da criança e uma pessoa ao seu lado vai falar que você também está “conectado” com tal brilho.

steve_harrisSe estiver atrasado, esse é o momento de se questionar que maluquice é essa no Minuto HM, caso ainda não tenha sido feito tal questionamento simplesmente pelo título do post ou na leitura das linhas acima. Mas tem tudo a ver com o que sempre falamos – e fazemos – através deste blog aqui. Ou quando não está aqui, está naquele disco que estamos ouvindo, naquela banda que estamos assistindo tanto ao vivo quanto em casa, está em uma conversa, um ensaio de uma banda, enfim, presente normalmente em tudo que estamos fazendo no dia a dia.

Fiquei pensando nisso hoje e aqui estou neste post. Eu acabo de ver Steve Harris tocando com seu “Steve Harris British Lion“, uma banda que me faz pensar sobre sua existência. Por que Steve criou esta banda? Steve Harris e Iron Maiden são a mesma coisa. Fiquei ainda pensando em como Steve canta desde sempre cada linha, cada palavra das músicas ao vivo. Ao ver o vídeo abaixo, dá para ver  o tal “brilho nos olhos” – tocando em um local que o Iron Maiden não cabe há tantas décadas… olhe para este Harris a partir de 1:02 do vídeo e me digam se ele efetivamente não está realmente presente neste show:

Para não ficar me estendendo muito no assunto, trago mais dois outros exemplos para confrontar este e um que é talvez algo que fique no meio disso…

O confronto é com o Kiss. Volte e meia aqui no blog, especialmente nos podcasts, falamos em como tudo está no “automático” também há tantos anos. Aquilo que foi revolucionário em criar ou pelo menos imortalizar nos palcos – máscaras, cuspir fogo e sangue, atirar com o instrumento, quebrar a “guitarra”, voar, ter uma batera que levita, enfim, tudo que sabemos que o Kiss é mestre em fazer culminando em uma chuva de papel laminado – sem qualquer brilho nos olhos há tanto tempo.

Claro que aqui entra a perspectiva do público. Isso vale para quem já viu tantas vezes a banda, mas talvez quem nunca a viu, sentirá algo. Não sei se sentirá algo como poderia sentir se visse tudo isso antigamente, mas a questão nem é muito essa: o Kiss é a máquina de execução, da operação-padrão do rock? Seria o papel laminado um alívio para eles que mais um show acabou?

Pensemos em como isso justifica a banda não mudar seu script extremamente funcional desde sempre. Pensemos em como o Iron Maiden não tem como tirar Fear Of The Dark dos shows, ou o MetallicA tocar Enter Sandman, música que foi parar no atual fechamento de setlists da banda até como uma grande celebração.

E falando no MetallicA, o que vem saindo deste script especialmente desde os anos 2000? Após tudo que a banda passou após a saída de Newsted e que se vê nos resultados de Some Kind of Monster e St. Anger, Hetfield se recuperando de seus vícios, Kirk preocupado com surf e sua coleção de itens de terror (e perdendo iPhones com riffs por aí, ficando de fora das contribuições do novo álbum) e Lars… Lars sendo o Lars de sempre, cuidando do marketing e praticamente parando de entregar valor técnico ao vivo, somando um baixista muito técnico mas que em geral não caiu nas graças dos fãs até hoje, a banda ao vivo está em um automático também em vários aspectos.

Como o Kiss, a banda varia bem o setlist, aliás mais que o Kiss, mantendo-se um core de músicas obrigatórias que se revezam aqui e ali em termos de ordem. A banda indiretamente provou que é isso mesmo que o público quer, basta lembrarmos da tour MetallicA By Request, onde tivemos uma oportunidade única de pedir músicas raras. No Brasil, falhamos feio; no restante do mundo, também foi algo subaproveitado, salvo exceções.

Mas voltando ao “tópico”, Hetfield desenvolveu e implementou bordões: “Are you alive?” ; “How does it feel to be alive?” ; “Show me”; “You look beautiful <>” ; “MetallicA family is here, bla-bla-bla” que, com aquela sensação muito legal de algo fresco quando falado, já saturou e entrou no automático faz tempo – assim como mostrar a palheta em Enter Sandman, algo que pelo que me lembre nasceu lá do primeiro encontro do Big Four e continuou. Lars não se dá mais ao trabalho mínimo de manter um pouco da originalidade de músicas como One, Hit The Lights e outras. Você olha para ele e vê o marketing e o que escuta é apenas “preenchimento de tempo” nas partes complexas.

E ainda vem os sentimentos contraditórios, já que eu sou apaixonado pelas bandas. Meus olhos sim, brilham, em pensar que ano que vem verei o MetallicA novamente e que a perspectiva do novo álbum é ótima, as músicas até agora credenciam uma expectativa enorme. Mas Hetfield é o exemplo do meio porque, ao mesmo tempo que se tem esse automático, se vê como os olhos dele não mentem quanto ao ótimo momento em que se encontra, e isso compensa. Assim como meus olhos brilhariam se o Kiss viesse de novo.

Hoje verei o Guns N’ Roses – quase completo – e certeza que vamos ter o que não fazia os olhos deles e os meus brilharem a tanto tempo: como será ouvir a famosíssima Sweet Child O’ Mine ao vivo com Slash tocando para Axl cantar, ambos juntos em uma das mais improváveis reuniões da história? Será que eles estão com esse tesão de novo? Sei que quando Adler aparece, com sua camiseta do That Metal Show talvez do mesmo dia que o Rolf por lá esteve, os olhos dele sim, brilham – e o sorriso confirma:

Exemplos poderiam jorrar aqui no post – o Pink Floyd com o sorriso de Waters ao estar ao lado de Gilmour – uf, entre tantos outros.

Bom, mas e daí com tudo isso, certo? E daí que penso cada vez mais em buscar esse brilho nos olhos. É fácil dizer que uma tarefa repetitiva se torna automática, isso é o óbvio. O difícil é se manter-se motivado. Mas há muitos que genuinamente conseguem isso. Iommi com linfoma é sempre uma referência. Lemmy foi outra – pena que ele não faleceu tocando, creio que seria assim que ele gostaria de nos deixar e ainda mandando um tomar naquele lugar.

Busquemos questionar o automático chato e pró de quem ainda tem o tal brilho. Dinheiro a parte, celebremos os que ainda nos entregam isso de maneira genuína.

Que viagem este post. Sinto que me perdi um pouco na estruturação. Mas creio que era isso que estava na cabeça e era melhor por aqui que deixar passar.

Cartas para a redação…

[ ] ‘ s,

Eduardo.



Categorias:Black Sabbath, Guns N' Roses, Iron Maiden, Kiss, MetallicA, Motörhead, Off-topic / Misc, Pink Floyd

5 respostas

  1. Primeiramente, o post, além de muito bem escrito, ainda aborda um tema tão interessante como delicado.

    Mas eu tenho mais perguntas que respostas sobre tal tema:

    Será que não somos nós que, por acompanharmos nossas bandas favoritas por tanto tempo e termos visto N shows de cada uma delas, perdemos o tal brilho nos olhos? Será que fosse nosso primeiro show do MetallicA, do Iron Maiden, do KISS, nós não teríamos esse brilho?

    Eu acho sim que as bandas estão no tal “automático”. Já falamos aqui até sobre a receita de bolo presente em 90% das musicas da Donzela desde 2000.

    Mas eu tento me colocar no lugar dos artistas também. Eu tenho certeza que essas bandas gostariam de fazer um show e tocar seu novo álbum/trabalho na íntegra! Como pseudo-músico posso dizer que não há nada mais frustrante que tocar sempre as mesmas musicas por meses! Imagine por anos/décadas! Difícil passar realmente uma emoção/tesão genuíno nessa situação.

    O caso do show do Guns de logo mais é diferente. Ou até BEM diferente. O que deve passar na cabeça desses caras de se olharem e tocarem juntos depois de 20 anos?! Algo que eu achei que nunca iria acontecer. Vou me sentir um adolescente de novo! Certamente meus olhos estarão brilhando!

    Abraços,

    Marcus [106] Batera

    >

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  2. Tô meio ausente por aqui, mas tentando cobrir os débitos que vem cada vez mais aparecendo…. O post é excelente, tem a qualidade indefectível dos melhores aqui no blog. Não vemos isso aí por fora facilmente. Alguns poucos blogs amigos e visitáveis ainda trazem reflexões no nível desta excelência de conteúdo.

    Em relação ao tema, acho que o que cai na monotonia vai invariavelmente favorecer a tal perda do brilho nos olhos. Isso é até óbvio, e tem relação direta com o business. O músico que prefere o business vai continuar tocando rock and roll all nite a vida toda, e se possível só ela . ( Não é isso, SImmons?). Aquele que ainda vê alguma faísca gostaria de tocar Two Timer ( do mesmo álbum, Dressed to Kill).

    Isso explica o caso Harris acima ( aliás,não consegui ver os vídeos). Explica o Adler, talvez ele não fosse o mesmo se tivesse ficado na banda esse tempo todo. O problema é que as bandas tem suas obrigações contratuais e não podem deixar de tocar Smoke on The Water. O Dream Theater era uma exceção, não havia músicas fixas no seu set, exceto as do álbum cuja tour o promovia. Nem Pull Me Under. Isso se foi com a saída do Portnoy. Aliás, se foi junto com o brilho nos olhos daqueles que ainda tinham isso na banda. Que, aliás, deveria ser basicamente o Portnoy.

    Ou seja, o frescor e o brilho nos olhos vai ficando cada vez mais longe, ou normalmente o encontramos ao ver uma banda pela primeira vez ao vivo, ou um side-project ou banda mais nova, ainda com sangue nos olhos.

    Excelente o tema, preciso ressaltar. Melhor ainda ter visto o Marcus batera por aqui de novo.

    Saudações

    Alexandre

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  3. Puxa, acho que esta é uma questão dificílima de responder.
    Ao longo do tempo, lendo biografias, assistindo a programas de entrevistas, especialmente o finado e saudoso “That Metal Show” percebi que entre os músicos, os shows, as bandas, uitas vezes são chamados de “gigs”

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    • … e usam esta palavra no sentido de emprego, trabalho, sem todo aquele glamour que a gente costuma dar para nossos ídolos, para alguns até heróis.
      Acho também que depende do olhar do fã, assistente. Assistir um primeiro de uma banda que tu conhece faz muitos anos pela primeira vez, tem uma chanca muito maior de agradar, até superando eventuais questões de “operação-padrão”. Lembro que foi assim comigo quando assisti meu primeiro show do Deep Purple (com John Lynn Turner) ou do Rainbow (com Doogie White), só pra dar dois exemplos de bandas que conheci ao vivo em formações não “clássicas”.
      A verdade é que o que houve a indústria da música (assim como qualquer outra, eu penso), é a grana, e está tudo bem porque vivemos numa sociedade capitalista. Oferecem uma grana pros caras se reunirem, remontarem a banda de sucesso, fazer um tour mundial e, pasmem, agradam milhões de pessoas no processo. Não vejo que ninguém saia perdendo. Vejam o caso do Guns n Roses. Este mês fui assistir o primeiro show deles (sempre havia refutado os shows anteriores que me pareciam mais um Axl Rose Band) e vou dizer pra vocês: gostei bastante. A performance do Slash foi nada menos que sensacional, quiçá, irretocável. Então, por mim, que todas estas grandes bandas que por décadas me embalaram em vinil, cd ou mp3, façam seus negócios, que ganhem seus milhõezinhos e venham para o Brasil fazer shows com maior ou menor grau de sucesso na minha, sempre subjetiva, avaliação.
      De resto, respeito decisão de um Robert Plant, por exemplo, que resistiu a uma oferta que deve ter sido pra lá de milionária, e não quis remontar o Led Zeppelin. Mas, confesso, que fiquei rezando para que dissesse SIM e me desse a chance de assistir mais este lendário grupo.

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Trackbacks

  1. Cobertura Minuto HM – Guns N’ Roses em SP – Not In This Lifetime – parte 1 – Minuto HM

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