Discografia-homenagem DIO – parte 22 – o prólogo tardio – capítulo 2

A segunda e última parte do prólogo tardio da discografia-homenagem DIO vai trazer seus anos no Elf, que acabaram por credenciá-lo a entrar em sua primeira das três super-bandas, o Rainbow de Ritchie Blackmore. Como visto na primeira parte deste prólogo, os projetos de adolescência e início de profissionalização de Ronnie dentro do ramo musical foram transformando aos poucos o som mais calcado na sonoridade do rock and roll dos anos 1950 e início dos anos 1960. Em 1967, a banda já começa a utilizar inicialmente o nome The Eletric Elves, contando com Gary Driscoll na bateria, Doug Thaler nos teclados, Dio nos vocais e baixo e a dupla de guitarristas Nick Sampas e Dave Feinstein (que era primo de Dio e foi grande amigo do nosso ídolo até seu falecimento). A banda lançou alguns compactos no período, a começar pelo que possui as faixas Hey, Look Me Over e It Pays To Advertise no fim daquele ano, canções influenciadas pelas bandas do pós-Beatles.

O já mencionado acidente na estrada que vitimou Nick Pantas em fevereiro de 1968 deixou também causou danos físicos em todos os outros membros da banda. Além do necessário tempo de recuperação (Dio precisou colocar cerca de 150 pontos para se recuperar dos danos em sua cabeça), a banda precisou reformular sua estrutura. Entra Mickey Lee Soul nos teclados, Doug Thaler acaba indo para a guitarra-base, mas segundo o próprio, não se sente confortável na posição, onde claramente não tinha tanta habilidade, o que vai propiciar sua saída. Segundo ele ainda, Nick Pantas era uma figura-chave na banda, não só nas ótimas guitarras, mas também atuando como produtor, em especial na fase Ronnie and The Prophets e seu falecimento foi sentido também musicalmente. Encurtando o nome para The Elves, desta fase há dois compactos lançados entre 1969 e 1970, contendo as faixas In Different Circle/ She’s Not The Same e Amber Velvet/West Virginia.

A saída definitiva de Thaler é creditada após o show no Beacon que acabou por se tornar um live bootleg em 1971. A banda, que já usava o nome Elf, começa a chamar a atenção nos shows em clubes locais, não só pelo material próprio, que vinha evoluindo para uma sonoridade mais voltada aos anos 1970, mas também pelas covers de vários clássicos das bandas e artistas da época, como John Lennon, The Who, Led Zeppelin, Jethro Tull e uma inusitada versão embrionária de War Pigs, que Dio iria repetir anos depois em seus anos clássicos junto ao Black Sabbath.

 

A vida da banda muda radicalmente após um show em Janeiro de 1972 quando membros do Deep Purple percebem o potencial que ouviam naquele instante. O conjunto britânico, que já tinha sua própria gravadora, a Purple Records, oferece um contrato para o Elf, onde são gravados os três álbuns da banda: Elf, Carolina County Ball e Try To Burn the Sun, produzidos por Roger Glover e Ian Paice (que produz apenas o álbum de estreia).

ÁLBUM: ELF

  • Gravação: Abril a Julho de 1972
  • Lançamento: Agosto de 1972
  • Produtores: Ian Paice, Roger Glover

Faixas:

1- Hoochie Coochie Lady– 5:32

5- Sit Down Honey (Everything Will Be Alright) – 3:48

2- First Avenue – 4:23

6- Dixie Lee Junction- 5:09

3- Never More – 3:50

7- Love Me Like a Woman– 3:47

4- I’m Coming Back For You – 3:27

8- Gambler, Gambler – 4:26

O Elf também atua como suporte às tours do Deep Purple durante os anos subsequentes, o que chama a atenção de Ritchie Blackmore. Durante o período no Elf, Dio chega a gravar as linhas de baixo no primeiro álbum, mas a partir da turnê prefere concentrar-se nos vocais e Craig Gruber entra para a formação. Dave Feinstein, primo de Ronnie, preferiu afastar-se do Elf após o primeiro lançamento também, e vai formar o Rods. Entra na banda o guitarrista Steve Edwards, que grava os dois álbuns subsequentes e é demitido sumariamente após a dissolução da banda em 1975. O som do Elf, com forte influência de rock and roll calcado nos pianos de Lee Soul e um pouco de blues rock acaba se tornando um tanto genérico ao fim da primeira metade dos anos 1970, não obtendo a repercussão pretendida.

ÁLBUM: CAROLINA COUNTY BALL

  • Gravação: Janeiro a Março de 1974
  • Lançamento: Abril de 1974
  • Produtor: Roger Glover

Faixas:

1- Carolina County Ball – 4:46

5- Annie New Orleans – 3:01

2- L.A. 59 – 4:21

6- Rocking Chair Rock’n’Roll Blues – 5:36

3- Ain’t It All Amusing – 5:01

7- Rainbow – 2:38

4- Happy – 5:28

8- Do The Same Thing – 3:10

 

9- Blanche – 2:31

O álbum final acaba por ser lançado apenas como cumprimento de contrato, contando ainda com a adição de um percussionista (Mark Nauseff), já que Dio iria juntar-se a Blackmore, carregando os demais membros principais do Elf por sua exigência, para o primeiro trabalho no Rainbow. Há pouquíssimos registros em vídeo do Elf ao vivo, e são de péssima qualidade.

ÁLBUM: TRYING TO BURN THE SUN

  • Gravação: Janeiro a Abril de 1975
  • Lançamento: Junho de 1975
  • Produtor: Roger Glover

Faixas:

1- Black Swampy Water – 3:43

5- Liberty Road – 4:30

2- Prentice Wood – 4:37

6- Shotgun Boogie – 3:07

3- When She Smiles – 4:54

7- Wonderworld – 5:03

4- Good Time Music – 4:30

8- Streetwalker – 7:07

Dio ainda participaria do projeto em formato ópera-rock infantil de Roger Glover and Friends chamado Butterfly Ball, durante os anos no Elf, contribuindo com vocais em algumas canções em estúdio. Ele não participou da versão “live” do projeto na ocasião, que conta, entre outros, com Dave Coverdale.

Após a saída de Dio do Rainbow, em 1978, foi novamente cogitada uma reunião do Elf, com Lee Soul, David Feinstein e com um baixista iniciante cujo nome era Joey DeMaio. A tentativa de volta do Elf foi infrutífera em virtude da ida de Dio para o Black Sabbath. Postumamente, foi lançada uma coletânea que lembra os tempos de Dio ainda quando a banda se chamava The Elves. Com gravações ao vivo, covers e músicas próprias, a coletânea chamada Before Elf…They Were Elves traz um material de boa qualidade sonora e a inconfundível voz do nosso eterno ídolo.

N.R.: consideramos um desafio cobrir a fase do Elf do baixinho de grande voz em apenas um capítulo, afinal foram 8 anos de batalha pela repercussão no cenário musical. Um período prolífero, onde a banda buscou seu caminho na estrada e contando sempre com o grande diferencial, que é a voz de Ronnie. Independente da boa qualidade dos músicos que o cercavam, entendemos que foi a inquestionável soberba qualidade de sua voz que fez com que Dio avançasse em direção do sucesso sempre merecido.

Depois de uma fase com o nome The Elves (ou Eletric Elves), mais voltada ao estilo britânico das bandas do fim dos anos 1960, percebe-se claramente uma mudança na sonoridade praticamente ao adotar o nome Elf, pela adição de um estilo de bateria mais moderno, o recheio dos teclados de Lee Soul e o início da busca de certa agressividade vocal (ainda que um pouco tênue) junto ao timbre já vigoroso de Dio. Os covers da época são o exemplo vivo disto, basta ouvir algum dos exemplos que o post aqui traz. Mas, ao mesmo tempo em que a banda procurou se adequar a um som mais contemporâneo, ao final de sua carreira a sonoridade rock ’n’ roll com arranjos calcados em piano foi fazendo o grupo perder o “ar” de vanguarda em comparação com os grupos mais populares da época, como o próprio Purple.

Ainda assim, os álbuns do Elf vão sempre mostrar um conjunto bem competente com um vocal extraordinário e com alguns bons exemplos de canções que fugiram um pouco desta sonoridade que acabou se tornando datada. É preciso “pinçar” os bons exemplos, a não ser que o leitor deste post tenha predileção pelo som mais calcado no rock ’n’ roll, cuja comparação nos remete a canções mais tradicionais do estilo no início da carreira do Whitesnake. Se for o caso, pode ir sem susto em qualquer dos três trabalhos. Dentre eles, o álbum de estreia nos pareceu o melhor, podendo citar as faixas I’m Coming Back to You, Dixie Lee Junction, Gambler (em especial o instrumental) e principalmente Never More como boas canções.

O segundo disco, Carolina County Ball, já mostra certo desgaste no nível das composições, mas podemos citar Ain’t It All Amusing e Rocking Chair Rockin’N’Roll Blues como faixas em nível acima das demais, ainda que a faixa-título e principalmente L.A. 59 foram as separadas para investir-se comercialmente no mercado fonográfico. O álbum inclusive foi intitulado L.A. 59 nos Estados Unidos e Japão, para fortalecer comercialmente a canção.

Trying to Burn the Sun, lançado provavelmente para cumprir o contrato, só traz bons exemplos em seu trecho final, tendo a desnecessária presença de um percussionista e certa má vontade na escolha da ordem das faixas. As melhores músicas são Streetwalker, uma mistura de blues e hard rock com certo groove instrumental e principalmente Wonderworld, ambas ao fim do trabalho.

E no projeto Butterfly Ball percebe-se que a presença de Dio em um time mais profissional poderia render frutos (e que frutos nas bandas subsequentes!). Apesar de longe do estilo que viria a seguir, as canções são bem superiores e mostram como o baixinho era versátil.

O Minuto HM termina esta parte 2 do prólogo tardio da discografia-homenagem DIO com mais uma novidade. Teremos ainda mais um capítulo, o provável final desta discografia, em um momento propício a seguir, esperamos, ainda este ano. Os detalhes e conteúdo desta última parte serão abordados na ocasião.

Saudações e Long Live Rock and Roll!!!

Alexandre B-side e Flávio Remote.

Revisou: Eduardo.



Categorias:Artistas, Black Sabbath, Bootlegs, Covers / Tributos, Curiosidades, Deep Purple, DIO, Discografias, Jethro Tull, Led Zeppelin, Manowar, Músicas, Rainbow, Resenhas, The Beatles, The Who, Whitesnake

10 respostas

  1. Vou começar a ler aqui
    Parece algo fantástico

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  2. O Alexandre realmente teve (mais) uma grande ideia de ressuscitar a discografia do Dio. O titulo me lembrou do clássico do Angra, Late Redemption.
    Particularmente foi muito interessante ler estas duas partes da discografia, principalmente porque não temos muitas informações sobre a carreira do Dio pré-Elf. Além disso, o texto vem recheado com muitas informações, fotos e vídeos.
    Sobre o Elf, não sabia que houve uma possibilidade de reformulação da banda após a saída do Dio do Rainbow. Ainda mais com a volta do David ‘Rock’ Feinstein e a entrada do Joey DeMaio, “dono” do Manowar, ah se não me engano esse e’ o grupo favorito do Remote, ou estou enganado?
    Hoje, pensando bem… as coisas se encaixam, pois em 78 David ‘Rock’ Feinstein lançava um single de 7” chamado Midnight Lady e a banda contava com DeMaio no baixo e o Carl Canedy na bateria. Penso que esse lançamento tenha sido o embrião do The Rods, já que por muito tempo o The Rods também seguiu como Power-trio, porem com o baixista Gary Bordonarro. O engraçado e’ que Carl Canety também foi o primeiro baterista do Manowar, inclusive gravando a primeira Demo-tape da banda, mesmo já estando firme com o The Rods.
    Gary Driscoll teve uma carreira bastante irregular, pelo menos que eu saiba, tocou com o ex-guitarrista do Vigin Steele Jack Starr no seu primeiro disco solo e no Thrasher junto com o Dan Spitz, Billy Sheehan e Rhett Forrester.
    Quanto aos discos do Elf, concordo com o Alexandre, o primeiro trabalho e’ muito melhor que os outros, ate penso que por causa do David Feinstein, que impõe um pegada mais Rock’n’Roll ao som. Os outros dois me lembram muito os primeiros discos-solo do David Coverdale, principalmente o NorthWinds, talvez ate por causa do Roger Glover que foi o produtor de ambos.
    Vou esperar ansiosamente pela próxima parte da discografia!

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  3. J.P., obrigado por participar por aqui. Agradeço seus elogios à ideia de entregar as partes iniciais que faltavam a discografia e também por acrescentar vários aspectos que complementam este conteúdo.
    Fiquei um pouco temeroso de entregar essa fase inicial de Ronnie, pois não é um trecho que eu convivi ou tenha um conhecimento pleno. Precisei fazer um certo trabalho de pesquisas, reviver a discografia do Elf, que eu conhecia, mas sem muito entusiasmo, e novamente refletir sobre as mudanças musicais durante a carreira de Ronnie.
    Em relação ao DeMaio, sim, ele pertence a banda ” favorita” do Remote, hehehehhe…
    E faz todo o sentido essa participação mútua entre os membros do The Rods e do próprio Manowar.
    As músicas mais rock ‘n’roll do Elf definitivamente lembram essa fase também rock’n’roll de Coverdale e do próprio Whitesnake , concordo inteiramente com a lembrança.
    Agradeço pelas informação acerca do Gary Driscoll e a próxima parte deve trazer mais alguma coisa envolvendo o próprio David Feinstein, como uma dica inicial.

    Saudações,

    Alexandre

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  4. B side vou lendo e escutando aos poucos aqui
    Tô assim sem palavras
    Tô muito impressionado com tudo
    Com o material pesquisado
    A qualidade de encadeamentos do seu texto, do contexto
    Olha parabéns por tudo meu amigo
    Ainda não terminei
    Mas tô vindo aqui entre uma madrugada e outra

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  5. A pesar da indiscutível qualidade e capacidade do Mestre Dio, Elf sempre foi “algo” visto por mim como uma fase que necessitaria de um acompanhamento, uma dissertação para se degustar. Não dava para simplesmente colocar o algum para tocar e pronto! Agora me sinto mais a vontade para sentar e degustar.
    Parabéns masi uma vez pelo rico texto!!!

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  6. Valeu Cláudio, a voz sempre impressiona, mas entre as músicas, é separar o ” joio do trigo”. Confesso ter sido para mim também um grande aprendizado, em especial pelas fases anteriores ao Elf, já que deste eu conhecia pelo menos de forma bem razoável a discografia.
    Se a dissertação vai servir para acompanhar sua nova tentativa de degustação, fico feliz por ter ajudado nesta empreitada.

    Alexandre

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Trackbacks

  1. Discografia-homenagem DIO – parte 23 – as participações mais do que especiais – Minuto HM

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