Discografia-homenagem DIO – parte 23 – as participações mais que especiais

A parte 23 da discografia-homenagem ao DIO pretende compilar a maior parte de suas participações musicais fora de suas bandas mais conhecidas como a parte final desta discografia. Conhecido pela grande maioria do cenário musical como um artista acessível e amigo da grande maioria dos demais grupos e cantores, em especial do hard-rock e heavy metal, esta lista é até pequena, visto o grande coração do saudoso baixinho de imensa voz. As participações são pontuais dentro de uma carreira bastante extensa, algumas já trazidas durante a discografia e que serão novamente lembradas no conteúdo deste post derradeiro.

Vamos começar em 1974, para lembrar o descrito no capítulo anterior (22), que traz o Elf como o maior assunto. E é através do próprio Elf que Ronnie começa a chamar a atenção dos músicos mais conhecidos do hard e heavy metal. Na ocasião, com a saída de Roger Glover do Deep Purple, Dio é chamado para participar da adaptação do projeto fantasioso e conceitual de nome The Butterfly Ball and The Grasshopper’s Feast, comandado pelo então ex-baixista do Purple e produtor dos álbuns do Elf.

No capítulo 22 é possível conhecer duas das faixas que o baixinho cantou no projeto: Homeward e Sitting in a Dream. Há, no entanto, um detalhe acerca da não participação de Ronnie na única vez em que a ópera-rock foi executada ao vivo: por proibição de Ritchie Blackmore, então fora do Deep Purple e formando o Rainbow com o próprio Dio, o show de 16/11/1975, no Royal Albert Hall, em Londres, não traz os vocais originais do baixinho de grande voz, que foi substituído, entre outros, por Ian Gillan. O controvertido episódio que causou a lacuna da participação de Ronnie no projeto seria em certa forma contornado anos depois, mas fica registrada abaixo sua outra participação em estúdio, com a faixa Love is All, que tem a cara de All You Need is Love, dos Beatles:

O assunto é controvérsia ainda, quando trazemos a segunda participação de Dio em um projeto de outro músico. Kerry Livgren, um dos fundadores da lendária banda Kansas, fez no início de 1980 seu primeiro álbum solo intitulado Seeds of Change.

Kerry, na ocasião, havia se convertido a religião cristã e a presença de então vocalista da banda Black Sabbath chegou a causar em certo rebuliço e repercussão indevida pela mídia. As versões de Dio e Kerry a respeito do assunto estão no link abaixo, ambos ressaltam o óbvio: A participação de Ronnie deveu-se ao seu extraordinário vocal, que chamou a atenção do empresário de Livgren, e que nada da questão religiosa foi levada em consideração por ambos.

E como o que vale é música, o saldo é extremamente positivo. Mask of a Great Deceiver e principalmente To Live for a King são um atestado da excelente forma vocal que o nosso saudoso vocalista atravessava em 1980, ao ingressar no Black Sabbath.

Cabe ressaltar que o álbum de Livgren acabou sendo lançado cerca de um mês antes do histórico Heaven and Hell, onde a fantástica To Live for a King é um destaque absoluto:

Em 1983, a banda australiana Heaven, que abriria alguns shows de bandas da cena metálica americana como para o Motley Crue e para a própria banda Dio, lança seu terceiro álbum Where Angels Fear to Tread, que obteve repercussão discreta, assim como no restante da carreira do conjunto. A participação de Dio, que literalmente “deu uma força” é na faixa título, com alguns contrapontos vocais ao fim da mesma, é provavelmente uma das mais obscuras participações do vocalista, que aparece creditado com o codinome Evil Eyes. Quem tiver curiosidade de ouvir apenas a parte de Ronnie deve avançar o vídeo abaixo para o fim da canção. Um detalhe de incrível coincidência é que a banda continua na ativa e contou com o guitarrista Rowan Robertson, o prodígio que gravou na banda Dio o álbum Lock Up the Wolves.

Avançando no tempo, estamos no meio da década de 1980 para relembrar o momento mágico que o heavy metal e o hard rock viveram na ocasião. Motivado pela pouca (praticamente nenhuma) participação dos artistas do gênero no projeto humanitário We are the World, comandado por Michael Jackson, Lionel Richie e Quincy Jones, Dio consegue reunir boa parte da “nata” do metal em 1985 para arrecadar mais de um milhão de dólares no primeiro ano do projeto Stars, música composta pelo próprio Ronnie e seus companheiros de banda Vivian Campbell e Jimmy Bain.

Os maravilhosos detalhes da gravação e lançamento da música (incluindo um sensacional making-of) estão presentes no capítulo 8 da discografia do nosso herói, vamos aproveitar este momento apenas para trazer uma versão raríssima da música ao vivo, tocada pela própria banda Dio em 1987, no Japão, já com Craig Goldy substituindo Vivian Campbell nas guitarras. É uma rara oportunidade de ouvir a música na exclusiva voz do autor.

Outro momento de participação bem obscura de Dio é no álbum do saudoso baterista japonês Munetaka Higuchi, que tocou na banda Loudness, bastante conhecida no cenário metálico americano também na década de 1980. A participação de Ronnie é em 1997, no álbum Munetaka Higuchi With Dream Castle: Free World, que tem diversos outros convidados conhecidos. Dio canta a boa faixa What Cost War:

Em 1999, Dio participa em dois projetos-tributo, um a Alice Cooper intitulado “Humanary Stew – A Tribute To Alice Cooper”, na faixa Welcome to my Nightmare e o outro ao Aerosmith, no intitulado Tribute To Aerosmith: Not The Same Old Song And Dance. Acompanhado de músicos de quilate bastante alto (Steve Lukater, Bruce Kulick, Randy Castillo no projeto de Alice Cooper, Yngwie Malmsteen no tributo ao Aerosmith), novamente o baixinho de grande voz arrebenta em duas interpretações fabulosas. Apenas para ressaltar, o tributo a Alice Cooper foi relançado com outros nomes, em 2005 e 2006.

Ainda em 1999, Dio fez uma participação bastante significativa no então projeto da banda Deep Purple e London Symphony Orchestra, em Smoke on the Water no fim do show, mas principalmente e finalmente cantando ao vivo no mesmo Royal Albert Hall duas das canções do The Butterfly Ball and The Grasshopper’s Feast:

Outros shows do Deep Purple com orquestra se sucederam durante os dois anos seguintes, em vários países, inclusive Brasil, contando com a participação de Ronnie nas mesmas faixas dos shows em Londres e em duas da banda Dio: Rainbow in the Dark e Fever Dreams.

As imagens abaixo estão abaixo do padrão desejado, mas trazem um ótimo áudio de uma interessante versão de Rainbow in the Dark.

O projeto de cinema, televisão e música de Jack Black e Klye Gass, Tenacious D, que homenageia Ronnie em seu primeiro álbum de 2001 com uma faixa intitulada Dio, acabou por render outros frutos.

Além da participação dos atores no videoclipe Push, do álbum da banda Dio de 2002, Killing the Dragon, o próprio Dio aparece cantando um trecho da música Kickapoo, tanto no filme quanto na correspondente trilha sonora de 2003 chamados The Pick of Destiny.

Em 2005, uma participação bastante especial uniu duas grandes vozes pela segunda vez juntos. Após a participação no projeto The Stars, Geoff Tate, por ocasião ainda no Queensrÿche para o projeto continuação Operation: Mindcrime II, uniu-se novamente a Dio em uma canção. A performance de Ronnie na faixa The Chase, além de conter um bom duelo entre as duas vozes poderosas, tem papel significante na continuação da história do clássico álbum conceitual de prog-metal, pois ele interpreta o vilão da história, Dr. X. O álbum é um dos poucos momentos dignos da banda após a saída de Chris DeGarmo em 1997 e motivou o lançamento de um DVD contendo as duas partes em sequência.

A participação de Ronnie está registrada junto ao Queensrÿche em estúdio e ao vivo, no lançamento oficial, mas apenas no parte do bônus-disc, pois ambos só estiveram realmente juntos no show do dia 05/10/2006, na Califórnia (Gibson Amphitheatre, Universal City). Nos demais shows da tour, inclusive o gravado em Seattle para o DVD a participação de Dio é através de imagens e áudio pré-gravado. Abaixo as imagens do show na Califórnia, unindo estes dois grandes vocalistas:

Ainda em 2005, Dio novamente dá as caras em um pouco conhecido projeto-solo de um guitarrista, o “Twisted-Sister” Eddie Ojeda. No álbum, Axes 2 Axes, que contém outras participações famosas, como Dee Snider, Joe Lynn Turner e Rudy Sarzo, e uma regravação de Eleanor Rigby, dos Beatles, Ronnie participa da faixa inicial, Tonight:

Em 2008 Dio e Tony Iommi fazem um auxílio super luxuoso no álbum da banda feminina Girschool, no álbum Legacy. Ainda há a participação do saudoso Lemmy dentro do trabalho, mas a faixa que abaixo segue é I Spy, com a indefectível química entre Dio e Iommi:

Chegando ao fim desta seleta lista, trazemos duas faixas póstumas, gravadas por Dio e seu primo David “Rock” Feinstein, ex-parceiro no Elf e grande amigo de Ronnie até o fim de seus dias. Lançados em 2010 e 2011, as faixas Metal Will Never Die e The Code são os últimos registros da incrível voz de Dio. Metal Will Never Die fez parte do disco solo de Dave, Bitten by the Beast, lançado no fim de 2010 e The Code está no álbum da banda The Rods, lançado em 2011. As faixas trazem o metal cadenciado que acompanhou grande parte da carreira de Ronnie e também são um atestado do seu companheirismo com Dave, mesmos distante musicalmente durante tanto tempo.

Senhores leitores do Minuto HM, este é o momento de despedida desta discografia. Hoje, exatos 7 anos se passaram desde que Dio deixou este plano. O propósito deste capítulo final é tentar juntar os outros momentos de sua majestosa trajetória musical. O apreciador mais assíduo ainda pode encontrar participações mais discretas ainda, majoritariamente fazendo backing-vocals em álbuns como Northwinds (1978) de Dave Coverdale ou Gillan’s Inn (2006) de Ian Gillan, entre outros tantos. Há também alguns belos tributos a Ronnie, alguns já lançados postumamente como o ótimo disco de Jorn de 2010 ou a também postuma reunião do line-up dos álbuns clássicos da banda Dio,em um projeto chamado Last in Line, que chegou a lançar um álbum em 2016, chamado Heavy Crown, pouco depois do falecimento de Jimmy Bain. Não podemos esquecer do outro tributo póstumo a Ronnie, em 2014, chamado This is Your Life, com várias participações famosas ou mesmo o Dio Disciples, com outros membros da banda Dio e músicos como Tim Ripper Owens.

Não vamos aqui questionar algum oportunismo nos projetos, independente disso, a música de Ronnie continua permanecendo eterna através destas idéias. A pequena amostra de participações de Dio que trouxemos aqui atesta a qualidade ímpar de seu vocal em faixas em sua maioria de muito bom nível. Neste aspecto, é preciso destacar, em nossa opinião, antes de tudo a já mencionada Stars, um atestado da grande fase que tanto Dio como grande parte dos músicos da cena hard e heavy metal viviam em 1985, mas também as belas faixas Homeward e Sitting in a Dream, Live for the King e o tributo incrível ao Aerosmith na clássica Dream On. Os 7 anos que Dio nos deixou passaram com incrível rapidez, mas seu legado, seu companheirismo, sua incrível voz nunca irão desaparecer e estarão eternamente à disposição daqueles que queiram se aventurar pelos timbres sem igual do grande vocalista.

Saudações,

Alexandre B-side e Flávio Remote



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6 respostas

  1. Alexandre e Flavio, foi mesmo uma emocionante homenagem. Já faz 7 anos…!?!? O tempo vai passando tão rapidamente que nem nos damos conta disso, o cara realmente faz muita falta!!!
    Bom, temos que pensar em mais algumas alternativas para que continuem a serem criados posts como este… Quanto as participações, eu não fazia a mínima ideia sobre a gravação com a banda australiana Heaven, esse grupo teve um disco lançado aqui no Brasil pela CBS que continha aquele selo “Heavy Metal Heart”. O disco se chamava Knockin On Heaven’s Door, sim e’ aquele cover do Dylan… Apesar do investimento da gravadora, o disco acabou não estourando, de relevante apenas o guitarrista Mitch Perry, que depois iria gravar com o Michael Schenker , Keel, House of Lords e Paul Shortino.

    Também há uma certa coincidência, foi justamente com David “Rock” Feinstein que Dio fez suas ultimas participações e foi o justamente o primeiro disco do Elf que fez com que ele chamasse a atenção no cenário do Rock.
    Um abraço a todos.

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  2. JP, mais uma vez obrigado por participar e como sempre, abrilhantar o conteúdo do post.
    David Rock Feinstein era muito próximo a Ronnie, ouvi uma entrevista onde a Wendy Dio dizia que ele e Dio se falavam todas as semanas. Assim, realmente é muito bonito que o final do registro fonográfico acabou sendo junto ao próprio David, que o ajudou nos tempos de Elf a romper a ideía de artista potencial para se tornar o que acabamos por conhecer.
    E como você é o JP, eu jamais imaginaria ouvir essa versão de Knocking on heavens door com a banda Heaven, que teve uma força por parte do Dio na tentativa de conquistar o mercado americano. Honestamente, apesar do bom vocal, não gostei da versão , muito cheia de teclados e que não “engata”.
    Nosso grande vocalista mudou de plano há sete anos, e realmente o tempo passou rápido demais . Fica a saudade e o eterno reconhecimento ao seu incrível talento.

    Saudações,

    Alexandre

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  3. Eu só queria antes de mais nada agradecer ao Flávio e ao Alexandre por prestarem essa homenagem ao maior vocalista do metal de todos os tempos.
    Muita muita informação excelente
    Nem sei o que dizer
    É como se alguém falasse de um parente. De um ente querido
    Muito obrigado
    Primoroso

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  4. Mais uma obra prima dos twins para nos presentear. Confesso que não conhecia alguma das colaborações, como as com heaven e Munetaka Higushi.
    Agora, pergunto: fui somente eu que achei muito baixo o volume da voz do Dio no video com o Queensryche? Uma pena mesmo.

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  5. Tens razão, Schmitt. Está mais baixo que o volume da voz de Tate, em especial quando os dois dividem o refrão. A versão do cd original me parece mais parelha.

    Alexandre

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