Discografia Van Halen – [CAPÍTULO 12]

{Van Halen III– álbum e turnê, 1998}

Como vimos no capítulo anterior, problemas envolvendo desgastes no relacionamento pessoal na banda e divergências profissionais fizeram que a banda ficasse sem vocalista na metade do ano de 1996. Sammy que já não concordava com um lançamento de um Greatest Hits, ficou mais insatisfeito ainda ao ver a banda ou alguns de seus integrantes com imagens associadas a comerciais ou participação em trilhas sonoras, que, segundo o próprio, não eram algo que o fã da banda aprovasse. A banda realmente nunca tinha ido por tais caminhos, o que pode até ser considerada estratégia bolada pelo novo empresário, Ray Danniels, cunhado de Alex Van Halen. Eddie Van Halen atesta que Sammy pediu um tempo e que teria intenção de gravar um álbum solo, por isso pediu demissão.

VH III - I

A verdade dificilmente virá à tona, mas seja qual esta seja, o lançamento do Greatest Hits Vol 1 em junho de 1996 foi acompanhado pela procura de novo vocalista para o lugar de Hagar. A primeira tentativa foi chamar Dave Lee Roth para gravar músicas inéditas para a coletânea, que é composta de mais ou menos metade de faixas clássicas de cada uma das formações, acrescida da faixa Humans Beings (presente na mencionada trilha sonora de Twister) e das duas novas canções gravadas com Dave (Me Wise Magic e Can’t Get This Stuff No More). A coletânea vendeu 3 milhões de cópias e as três faixas ineditas marcaram boas performances nas paradas de rock da Billboard ( Can’t Get This Stuff No More ficou em décimo segundo lugar, as demais chegaram ao primeiro).

E talvez motivados pelo sucesso da reunion do Kiss, cuja tour iniciada em junho batia recordes atrás de recordes de vendagem, a banda aparece no MTV Awards com Lee Roth em setembro de 1996, no entanto a banda não tinha perspectiva de lançamento de novos álbuns ou turnês, já que Eddie estava se recuperando da cirurgia que havia feito no quadril. O comportamento chamativo (entre outros) de Dave incomoda os irmãos VH e fecha a porta para a volta do vocalista durante mais de uma década, mas isso é assunto para o próximo capítulo da discografia. Em 1997, a banda traz Gary Cherone, ex-Extreme, um fã declarado da banda, para a posição de vocalista. Cabe ressaltar que o Extreme, na ocasião com as atividades encerradas, também era empresariado por Ray Danniels.

As gravações de Van Halen III (uma alusão à terceira formação) se dão entre março e dezembro daquele ano), com a produção de Eddie e Mike Post (amigo do guitarrista, além de músico e compositor de trilhas sonoras). Mike também toca o piano da faixa inicial do álbum: Neworld. O disco é lançado em março de 1998, para a subsequente III tour.

O lineup passou a ser:

Gary Cherone: vocal

Eddie Van Halen: guitarra e backing vocal

Michael Anthony: baixo e backing vocal

Alex Van Halen: bateria

VH III - II

Não há fotos da nova formação na capa ou contracapa, apenas no encarte do CD.

VH III - III

Faixa Título Compositor Duração
1 Neworld Anthony, Cherone, Van Halen, Van Halen 1:45
2 Without You Anthony, Cherone, Van Halen, Van Halen 6:30
3 One I Want Anthony, Cherone, Van Halen, Van Halen 5:30
4 From Afar Anthony, Cherone, Van Halen, Van Halen 5:24
5 Dirty Water Dog Anthony, Cherone, Van Halen, Van Halen 5:27
6 Once Anthony, Cherone, Van Halen, Van Halen 7:42
7 Fire in The Hole Anthony, Cherone, Van Halen, Van Halen 5:31
8 Josephina  Anthony, Cherone, Van Halen, Van Halen 5:42
9 Year To The Day Anthony, Cherone, Van Halen, Van Halen 8:34
10 Primary Anthony, Cherone, Van Halen, Van Halen 1:27
11 Ballot Or The Bullet Anthony, Cherone, Van Halen, Van Halen 5:42
12 How Many Say I Anthony, Cherone, Van Halen, Van Halen 6:04

Turnê:

A III Tour levou o grupo inicialmente para Austrália e Nova Zelândia, após dois warm-ups shows em Hollywood e Toronto. A banda passa o mês de maio nos Estados Unidos, para poucos shows, e depois segue para a Europa, para apenas nove shows sem muita repercussão. Eles retornam para os EUA, onde permanecem até o fim de outubro. Por fim, fazem shows no Japão até novembro. O show final seria em Porto Rico, mas é cancelado em função de um furacão. Do ponto de vista comercial, a turnê não cobriu seus gastos, um claro sinal da reprovação do álbum e da nova formação.

Não há registro oficial desta turnê, mas o show de S

idney foi gravado e transmitido posteriormente via MTV e pode ser acompanhado via streaming. O repertório traz faixas da época de Dave de volta, como a abertura com Unchained, Romeo Delight e Dance The Night Away, que são mescladas com cerca de cinco canções novas e músicas da fase de Hagar.

Avaliação:

Van Halen III é, infelizmente, a maior bola fora da carreira da banda. Não dá para justificar com apenas um fator, onde a música talvez seja um dos menores deles. Ainda que o álbum não seja um momento de inspiração do grupo, quase todas as faixas se situam em um nível intermediário de composição. As exceções, o que é pior, jogam a avaliação deste álbum ladeira abaixo. Once seria uma música mediana do Alan Parsons, com uma bateria eletrônica que não caberia no Van Halen nem em sua época de maior flerte com os sons eletrônicos. How Man Say I vai ainda além, pode ser entendida com uma canção triste do Pink Floyd na fase mais depressiva de Roger Waters (o vocal principal é de Eddie Van Halen). Essa é realmente uma canção constrangedora. O restante do álbum pode ser ouvido sem muito susto, mas ao mesmo tempo não empolgará a grande maioria dos fãs. Considerando todo o catálogo da discografia VH até então, esperava-se muito mais. Várias faixas são sombrias, refletindo o momento de vida que Eddie principalmente passava. Contribui também musicalmente o cenário não favorável da época, com a predominância do estilo grunge, mas que vinha sendo bem contornado pela banda nos anos 1990 com Hagar.

E fatores extramusicais são os que não faltam para o resultado ter sido tão aquém. A fragilidade mental e física de Eddie talvez seja um dos maiores. O clima na banda piorou com a saída de Hagar, pois Michael Anthony se vê realmente na condição de empregado, gravando o baixo segundo as orientações de Eddie e ainda assim em apenas três faixas. Nas demais, Eddie gravou. Pode-se entender que as cartadas do novo empresário atrapalharam bastante, a começar pela volta do temperamental vocalista original a um ambiente já bastante conturbado. Além disso, Cherone, que não é um cantor ruim, longe disso, mas não imprimiu uma marca satisfatória no Van Halen, às vezes com um timbre que lembrava Hagar, em outras vezes o som do Extreme, por exemplo, em faixas como One I Want ou Dirty Water Dog.

No fim das contas, a abertura com Neworld emendando com o single Without You é por nós considerada a melhor parte do álbum. Ballot or the Bullet (com a introdução em Primary) lembra algo do Led Zeppelin em In My Time of Dying, mas é uma razoável e tênue associação, diga-se de passagem.

VH III - IV

Premiações:

O álbum mal consegue vender 500.000 cópias, atingindo disco de ouro nos Estados Unidos, um considerável fracasso, visto os números que a banda conseguia atingir. Os singles têm performances razoáveis nas paradas especializadas de rock da Billboard, exceto Without You, que chega ao primeiro. Fire in The Hole ainda consegue um sexto lugar, mas One I Want apenas o 27º. Nenhum deles atinge qualquer colocação das paradas principais.

Curiosidades:

A nova formação trouxe um modelo de guitarra desenvolvido por Eddie junto a Peavey que é muito próximo do que o guitarrista usa atualmente. Eddie deu o nome de seu filho ao novo instrumento, assim esta nova guitarra foi intitulada Eddie Van Halen’s Wolfgang Peavey Guitar.

VH III - V

Mesmo com o fracasso de Van Halen III, a banda entrou em estúdio e gravou um novo álbum para ser lançado em 1999, supostamente chamado Love Again, mas o álbum foi recusado pela gravadora duas vezes, que reclamou de que o material não continha nenhuma canção de destaque.

Gary e banda se separaram amigavelmente, ao contrário dos vocalistas anteriores, e mantém boa relação até os dias atuais. Para o Van Halen, o que se viu dali em diante foi um hiato e uma parada nas atividades da banda por cerca de 5 anos. Van Halen III foi também o penúltimo álbum de estúdio da banda, que ficou quase uma década e meia sem um álbum completo original de novo.

Para seu iPod:

Avaliação do álbum: 1 estrela ( * )

Você já ouviu: Without You. Ouça-a novamente, com a abertura de Neworld.

Ouça: as três ótimas faixas inéditas da coletânea Greatests Hits Vol 1. Mas também dê uma chance para Primary/Ballot Or The Bullet.

[ ]’s

Alexandre Bside e Flávio Remote.



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7 respostas

  1. B side esse foi o mais emblemático trabalho da banda pra mim e estava ávido em ler algo sobre ele
    Eu preciso ouvir esse CD. Eu nunca ouvi.
    Eu achei muito bom esse post. Me passou uma visão diferente sobre tudo. Achei que as coisas haviam descambado pela parte musical, mas como música é uma química muito complexa, os aspectos externos, que não foram poucos, complicaram o resultado final.

    A coisa foi feia entre Sammy e Eddy
    Uma pena
    Quem perde é o rock and roll

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    • Rolf, a coisa foi feia sim entre Eddie e Sammy e ainda está durando.. Uma pena mesmo. O desgaste também atingiu Michael e Eddie parece ter sido meio desrespeitoso com o baixista nessa época e pra frente. E o disco é de um conteúdo mediano, com algumas bolas na trave. How Man Say I é de doer, uma das piores para mim. Acho que Cherone foi muito melhor no Extreme também. Aqui ele expõe algumas fragilidades como vocalista, em especial na tour. A presença de palco também me incomodou, não encaixou com a banda. Aliás, a presença de palco dele nunca foi das mais favoráveis, na minha opinião.
      Ou seja, são poucos que defendem essa formação. Aliás, não conheço ninguém . Um triste unanimidade até agora.

      Alexandre

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  2. Não há como discordar que esse Van Halen album é fraco e esquiso. Há muita inconsistência. Pode-se considerar um um razoável álbum de Hard Rock de uma banda “X” qualquer. Mas então teríamos que esquecer que trata-se de um álbum do Van Halen. E isso também não é uma exclusividade deles. Às vezes as bandas querem se arriscar em outros mares. Pode dar certo ou não. Mas como foi muito bem esplanado no excelente texto acima, não foi o caso. Os caras escorregaram mesmo.
    O Sr. Ed fazer as linhas de baixo foi o cúmulo. Para o Kiss esse tipo de coisa ainda vai.

    Outro dia voltando do trabalho no ônibus da companhia coloquei esse álbum. Acabei cochilando e acordei quando estava tocando How Many Say I e foi a maior confusão na minha cabeça. “-Que p***a é essa!? Tinha colocado VH, mas tava ouvindo Pink Floyd!!!” kkkkkk
    Dirty Water Dog e Fire in The Hole são boas músicas Vanhalerianas.
    Se o vocal não era o esperado pelos patrões, eles que escrevessem as linhas melódicas a la Yngwie Malmsteen e mandassem o cara seguir!

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  3. Claudio, ,obrigado por participar, mais uma vez. Vale lembrar que o Cherone tava com moral na epoca pelo trabalho com o Extreme, sendo um vocalista muito elogiado.
    Eu acho que “não deu liga ” , vamos assim dizer, embora o problema não foi um só, na verdade uma sucessão de acontecimentos desfavoráveis . Você tem razao acerca do conceito. Seria um disco médio de uma banda inexpressiva, nunca do Van Halen.

    Um abraço

    Alexandre

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  4. Quando meus cabelos eram pretos eu toquei pedras …mas agora, agrisalhando, fui recentemente dar uma nova chance e não é que os rapazes estão aproveitando ?? …ah, estou achando o álbum de razoável pra bom , com bons momentos …saíram os teclados, a guitarra está limpa, sem aquela profusão de pedais , tudo está mais simples, preto, branco ….a canção que Eddie canta , bem, não é uma canção, apenas, na meia-idade, o cara quis deixar um registro da sua voz num dos trabalhos da banda que era sua vida, sua alma, seu diamante …diante disso, nem cabe fazer crítica, somente respeitar , se quiser pula a faixa …meu conceito do álbum pode ser resumido nisto : exceto esse registro da voz do Eddie , ouço o trabalho sem saltar nenhuma faixa, embora não goste de todas as faixas por igual – mas entre altos, baixos e medianos, estou dando minha absolvição pros caras e pra Charone – tem coisas boas distribuídas no álbum, mais limpo, mais calmo, algo que anuncia transição – mudança de vocalista costuma mudar o estilo e isso não raro é bom, traz sangue novo para formações já veteranas …a performance de Charone no palco, vi apenas recentemente, assistindo por primeira vez o Live in Austrália : ah, aos meus quase 50, sempre dou um tempo para assimilar as coisas e coisas novas …quando vi que era o jeitão do cara, passei a curtir , achar divertido …uma década mais novo que os colegas de fanfarra , mais adrenalina, elétrico ele não para, trejeitos , caras e bocas , o cara mais novo se divertindo com os patrões – acabei por aprovar Charone e gostaria de um segundo disco, um terceiro com ele … provavelmente são os grisalhos chegando , mas , também, sempre sou mais compreensivo com o primeiro álbum de uma banda ou, no caso, de uma nova formação…enfim, reabilitei o álbum a meus olhos e ouvidos, não é nada tão catastrófico quanto pintam …dito isso, estou já de capacete e começo a correr, olha a pedra !!! ….

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