Série Novidades HM – Ano 2004

Fala pessoal!

Estamos acabando esse ano viral e trazemos aqui mais um capítulo com uma série de resenhas de nossos bem-aventurados redatores, dessa vez voltando no tempo, para o ano de 2004, juntamente com a imagem horrível acima – única que encontrei para caber direito nesse novo editor online do ralo aceso!

Uma bela lista, com excelentes descobertas! E como me confessou o Remote pelo email: Graças a Deus não teve Terra Média! hahahahaha

Participe você também nos comentários, com indicações e pitacos. Para participar da audição dos próximos anos ou sugerir um álbum para o quadro de audições, comente e entraremos em contato!

Lembrando que os álbuns estão por ordem alfabética da banda. Ah, e quando não encontro o álbum na íntegra para deixar para você ouvir, pelo menos deixo um vídeo de uma das faixas, como referência.

Atualização: acesse nosso guia da série, com todos os anos até o momento resenhados, clicando aqui.


Cea Serin – Where Memories Combine

Sugestão de: Alexandre B-Side
Ouça você também:

Alexandre: O projeto está em atividade, mas só lançou em verdade dois álbuns, além de algumas demos. Talvez a gente precise se acostumar com isso, o último álbum é de 2014, dez anos depois desse. Cada vez menos haverá álbum físico à disposição no mercado, essa é a atual realidade. O conteúdo do cd é dividido em duas partes, com uma faixa instrumental de bônus ao seu final. Então, apesar da primeira parte estar segmentada em  faixas, o que se tem realmente é uma longa suíte de cerca de 60 minutos. O dono da bola é Jay Damn, que canta, toca baixo e teclados. As baterias são programadas e em alguns momentos percebe-se claramente a sonoridade meio artificial. Há também o uso de elementos percussivos digitais durante o trabalho, mais do que o padrão. Além de Jay, há um ótimo guitarrista, Keith Warman. É meio óbvio citar as influências principais do gênero, Dream Theater, Fates Warning e no meu entendimento, e em especial no vocal, me lembra bastante o estilo do Daniel Gildenlow, do Pain of Salvation, mas sem a mesma qualidade. Esse vocal alterna partes mais limpas com timbres mais guturais, e honestamente nem quando é limpo é bom, percebi problemas de afinação. E os backings são meio melosos demais pra mim. Além disso, como gutural não é minha praia, e esse estilo agressivo é usado até em uma passagem de violão, algo meio contraditório pra mim, o que ficou foi um ótimo instrumental, ótimas melodias, bom uso de violões e teclados. Ressalto também a grande habilidade nos solos, inclusive de baixo, e passagens intricadas com tempos fora do padrão. Outro ponto que me agradou foram os momentos atmosféricos recheados de narrativas ou diálogos. Estão na medida certa. É realmente ótimo o instrumental de todo o disco.  Faltou foi não se importar tanto com o vocal, mas honestamente é o melhor trabalho da lista. Apreciadores que não ligam para um gutural (para mim, indesejável) podem curtir o disco. Eu traria um vocalista de qualidade para as fileiras desse projeto. Aí a coisa ia mudar bem.

Eduardo Schmitt: Projeto solo do multi-instrumentista Jay Lamm, proveniente de Baton Rouge, Louisiana. Confesso que quando me dei conta desse fato fiquei preocupado. É raro esses projetos individuais funcionarem bem. Estava enganado. Esta obra de rock progressivo tem todos os elementos para quem gosta do gênero. Como já é de costume, a questão da opção vocal, tendendo para o gutural em algumas composições, fica no limite do aceitável para o meu gosto. Destaco a música Embracing the Absence” que apresenta vocais limpos (Aleluia!!!) e um solo de guitarra de Keith Waman, que efetivamente se destacam. Talvez a pior notícia, pós audição, é que a “banda” somente lançou mais um álbum, até o momento.

Flávio: Um sólido álbum de neo heavy progressivo ou metal progressive (o que preferirem), sem grandes novidades e apresentando várias características marcantes do gênero, tais como as famosas quebras de ritmo, presença de músicas longas e com um pouco de abuso nas narrativas.  E “what´s not to like?”. Não há quase nada a desabonar aqui, inclusive um bom vocal feito pelo dono da banda, que toca baixo e teclados também. Eu, como não sou fã de vocal gritado, urrado, tenho alguns ressalvas dos momentos “Gollum Sméagol”, deixando claro que o vocal permeia bem nos trechos mais limpos também, talvez predominantes. Ótimo trabalho do restante da banda, tanto nas seis cordas acústicas ou elétricas, quanto na bateria. Um disco que passou fácil em seus cinquenta e alguns minutos. Se não vou destacar música em especial, também não vou descartar nenhuma das seis músicas (sem as bônus); todas têm bom nível e me agradaram.

José Paulo: Desconhecia completamente a banda e que bela surpresa eu tive ao ouvir Where Memories Combine!!! A faixa instrumental que abre o disco me remeteu a grupos progressivos com um clima meio Division Bell do Pink Floyd e grupos como o Pengragon, mas quando começou a segunda faixa Embracing the Absence, foi como “amor à primeira vista” (ou “ouvida”), bem na linha do grande Fates Warning e, melhor ainda, de uma das fases que mais gosto, ou seja, dos discos Parallels e Inside Out. Ao ouvir essa música fui obrigado a fazer uma coisa que normalmente não faço quando estou ouvindo pela primeira vez um disco – tive que voltar ao início novamente, pois tudo era maravilhoso demais: melodias e “texturas vocais” emocionantes, arranjos de guitarras que nos remete ao já citado Fates Warning, uma cozinha com andamentos desafiadores. Só essa música já valeria todo o disco. Só que não para por aí, ainda temos outras pérolas como The End of Silence que em alguns momentos me lembrou outra excelente banda, o Conception dos primeiros discos e tem como ponto alto além das melodias vocais de J. Lamm, o duelo entre as guitarras e os teclados. Scripted Suffering: Within and Without é outra que nos remete ao Fates Warning, absolutamente linda!!! Para terminar, temos Into the Vivid Cherishing com seus mais de 12 minutos. É tão dinâmica em sua construção melódica que nem sentimos o tempo passar. Após contemplar essa obra-prima da música, tenho apenas uma coisa a fazer: agradecer! Primeiramente ao Kelsei, por nos proporcionar essa oportunidade única de conhecer novos sons. E ao Alexandre por nos apresentar um disco magnifico como este! E antes que me esqueça, com toda a certeza, de todos os discos resenhados do respectivo ano, Where Memories Combine é disparadamente o melhor!

Kelsei: Pirei! Abrir um álbum com uma pequena faixa prelúdio é uma coisa. Abrir um álbum com uma faixa de dois minutos em uma atmosfera que lembra Space Dye Vest, do Dream Theater, com um teclado que toca a alma e algumas falas espalhadas na harmonia já inclinam o ouvinte para um outro tipo de proposta. O grupo estadunidense “de um homem só” entrega um progressivo contemporâneo afiado, sem aquela necessidade de se mostrar ultra veloz e matemático ao mesmo tempo, com algumas fórmulas mais pesadas e vocais, às vezes, não tão limpos (nada que seja relativo ao gutural, longe disso). Não precisa ser gênio para entender que a proposta é de um álbum conceitual, passeando por diversos estilos e harmonias que se encaixam em um todo de forma muito inteligente. Algumas partes me lembraram inclusive, trechos do álbum do Mindflow, que elegi para esse ano de 2004. Isso é outro ponto positivo para o estilo, que se mostra conciso mesmo em diferentes partes do globo, bebendo de fontes que todos aqui já tivemos contato uma vez ou outra. Where Memories Combine entra na minha discografia para ficar, mesmo que, como todo álbum desse tipo de proposta, vai exigir mais umas trezentas ouvidas para assimilar tudo o que ocorre dentro de suas longas e poucas faixas. Tiro certeiro!


Dungen – Ta Det Lugnt

Sugestão de: Flávio Remote
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Alexandre: Reviews de crítica super positivos e o álbum cotado entre os 10 melhores de 2004. Aqui a coisa prometia, mas aí foi botar o treco para tocar e perceber que voltamos ao mais puro “flower power” do fim dos anos 60. Haja ácido e chá de cogumelo. E claro, lá estão os indefectíveis pedais de fuzz em profusão, revezando-se ou juntando-se aos delays curtos na guitarra “viajandona”. Falando em delay, há cerca de 7 mil deles no vocal do refrão ( eu acho…) de Gjort bort sig. Até a flauta transversa tem delay nesse bagulho (aliás, ô palavra bem empregada essa). A “jornada espirtual“ estava grande, então eu achei melhor prestar atenção na cozinha para amenizar essa “larica musical” sem nenhuma menção de terminar, mas lá encontrei a bateria e o baixo à lá The Who e o jeito foi reembarcar meio a contragosto nessa “trip”. Bem, o gravão do baixista eu até curti, vamos considerar. Em verdade, eu nem achei o som tão ruim assim, mas se fosse uma ou duas canções dentro de um álbum mais variado (e menos “ligado/desligado”) até que passava. Eu gostaria de ouvir um álbum mais puxado para o progressivo e menos psicodélico, menos delay, menos fuzz (ô pedal dos infernos esse…), pois até vejo um bom instrumental no trabalho. Resumindo, infelizmente o que pareceu ser a versão sueca 40 anos depois dos Mutantes não me conquistou nesse trabalho e lá para o fim da quarta música (för fin för mig) percebi uma tentativa mediúnica de “baixar o espírito” do Jimi Hendrix no guitarrista de ofício, aí eu quase tive de pedir arrego sem o álbum ter sequer chegado à sua metade. Na música que mais me agradou (Glömd konst kommer stundom ånyo till heders) rolou um melotron com uma bonita melodia, mas eu desafio alguém aqui a dizer o nome da música de forma correta antes que ela acabe. A única que passou entre as cantadas foi Lipsill, nas demais a pronuncia causa muita estranheza, parece uma piada sem muita graça. Eu passo esse. Quem sabe se a banda buscasse em outra oportunidade algo menos lisérgico, talvez funcionasse, não?

Eduardo Schmitt: Mais um projeto individual, desta feita de Gustav Ejstes, sueco, que além de compor todas as músicas do álbum, toca a maioria dos instrumentos, com a adição de Reine Fiske que se faz presente na maioria das guitarras e alguns baixos do presente trabalho. Desde a capa, incluindo a sonoridade, este álbum nos remete a rock psicodélico. Não se pode deixar de dizer que é uma escolha inusitada, e até corajosa, para o ano de 2004. A equalização da bateria, por vezes, me lembra a usada por John  Bonham no Led Zeppelin. Aliás, a sonoridade mais “suja” marca quase a totalidade das músicas. Concluindo, é uma boa pedida para que gosta do gênero, ou tem saudades da época do flower power.

Flávio: Timelapse: os anos de trip em alguns minutos. Um disco que demorei para entender um pouco mais do que os outros; afinal eu não falo sueco, nem tomo ácido, não é? A psicodelia dos anos sessenta volta com força, assim como a guitarra que perde o peso com força também. E eco! Ah eco! Delay, echoes, reverb, time eco, câmara de eco, Tera echo, Ana eco, eko; também nos vocais, tá bom? Da faixa título pra frente, vai de Hendrix a uma mistura jazz lounge também retrô dos anos sessenta, daqueles músicos que a gente acha que não se entorpeciam e ficavam pelados, errados nós, pelo menos na primeira das ações, é claro. No mais, palmas e ritmos quebrados interessantes, uma bateria naqueles tons frouxos e um baixo criativo, sem brilho (no som apenas) e uma viagem só com abundância de vozes dobradas aqui e ali. E cadê o LSD de São Francisco? Ou mudou o ácido e o local nos anos 2000?

José Paulo: Ah não… mas que negócio é esse?!?! Nesse momento tenho só uma grande dúvida, o que é que eu tenho para escrever aqui sobre esse disco, qual o adjetivo que posso usar para não ser censurado pelo presidente? Difícil! Mas como diz o ditado: “em briga de saci todo chute é uma voadora…”, vamos tentar alguma coisa. No início me enganei com esse Dungen. Sem prestar muita atenção pensei que fosse o Dungeon, banda australiana de Power Metal, ou “metal espadinha” como costuma dizer o Flavio. Achei estranho ele indicar uma banda de Power Metal, mas até aí tudo bem, pois acho uma banda bem legal… porém o estranho mesmo foi ter que escutar o som do tal Dungen. A primeira música já assustou, mas ainda deu pra ouvir. Um refrão que parecia algo, que lembrava vagamente alguma coisa semelhante ao Beatles. Mas daí para frente a coisa piorou, mas piorou muito, que coisa terrível!!! Tem uma tal de Lejonet & Kulan… não tenho palavras pra descrever, só ouvindo mesmo para entender o tamanho sofrimento. Ah, quando você acha que o pior já passou aparece a campeã, Om du vore en vakthund, com seus intermináveis 3 minutos e 2 segundos de pura agonia. A melhor parte do disco aparece no final de Sluta följa efter, quando descobrimos que em alguns longos segundos ficaremos livres dele. Um alívio.

Kelsei: Bem, em poucos anos que essa série abrangeu, nós já tivemos um álbum cantado em alemão, então porque não poderíamos ter um cantado em sueco?! Ta Det Lugnt é um álbum que, mesmo junto ao meu nulo vocabulário sueco, passa uma nostalgia no som. É como se o pessoal do The Doors resolvesse estudar música e começasse a tocar canções mais influenciadas pelo The Who, mas mantendo algumas viagens psicodélicas que eu tanto odeio na turma do Jim Morrison. Mesmo assim, é uma audição legal. No meu caso, inclusive, foi hilária, porque eu não esperava o que veio ao iniciar a faixa inicial, “Panda”. Eu estava na rua e, literalmente, parei para rachar o bico, pensando comigo “tinha que ser o Remote…”. A capa, inclusive, eu achei muito legal! Valeu para ampliar o meu vocabulário e para falar que já ouvi um álbum em sueco na minha vida.


Kenny Wayne Shepherd – The Place You’re In

Sugestão de: Eduardo Schmitt
Ouça você também:

Alexandre: Dentro das nuances que se situam entre o blues e o rock, o trabalho traz boas variações, e entendo que a ideia aqui é buscar algo mais palatável. Considero o álbum mais amplo e menos segmentado em relação ao gênero de origem de Kenny, que é o blues.  A questão pode ser comercial (que eu entenderia ser mais plausível) ou até uma mudança artística, entres outras razões. O fato é que, em alguns momentos, especialmente em Be Mine (mas até também em Alive, que abre o álbum) eu poderia ser informado que se trata de Lenny Kravitz e aceitar perfeitamente. Ainda que isso não seja exatamente um demérito, talvez possa ter trazido à época um choque para os apreciadores mais puristas do estilo de origem. Corrobora para a ideia de ser um direcionamento comercial a renomada produção (além de créditos como baixista) ser de Marti Frederiksen, que está em álbuns do Aerosmith em sua retomada dos anos 90 pra frente e o Humanity Hour 1, álbum competente mas igualmente palatável dos Scorpions, além de outros diversos artistas do hard ao pop, como Ozzy ou Miles Cyrus (como Hannah Montana). Completa o time o ótimo batera Brian Tichy, aqui apenas atuando como músico de apoio. Há de se ressaltar que os solos funcionam muito bem, Kenny é um guitarrista muito talentoso, mas o instrumento traz aqui menos daquele timbre limpo de veludo do blues. Percebi um som mais encorpado, apropriado ao hard, violões acompanhando de forma adequada as canções de cunho mais pop ou arriscando na sujeira acompanhado do Fuzz em Ain’t Selling Out. Believe (com talvez o melhor solo) é a música que mais me agradou. Mas também há faixas que eu preferia deixar de lado, como Spank, que tem a participação de Kid Rock. E é assim que eu fechei a opinião sobre o álbum, competente na busca de algo entre o hard e o pop, menos “puxado“ pro blues O resultado final pra mim é mediano. Senti falta da guitarra limpa recheadas do licks do single coil a là Stevie Ray Vaughan. 

Eduardo Schmitt: A primeira impressão ao se baixar a agulha nesta bolacha (imaginária) é de surpresa. Não conheço a carreira do Kenny Wayne Shepherd, mas o tinha como um artista de blues rock. O álbum inicia com um hard rock/mainstream “Alive” que mostra uma alteração/ampliação do espectro musical do artista. Nota-se que esse álbum veio 5 anos após o trabalho anterior, o que pressupõe um maior tempo de maturação e composição das músicas. A segunda composição “Be Mine” me traz um claro odor de Lenny Kravitz, no melhor que isso possa parecer, é uma música muito bem desenvolvida. A colaboração com Kid Rock (outro artista que não conheço) é esquecível. Um destaque é o efeito “esperto” de guitarras invertidas em “Let Go”, outra música mirando o rock mainstream. Em algumas músicas, como A’int Selling Out, The Place You’re In, Get It Together, Kenny volta a suas raízes, apresentando composições mais lingadas ao blues-rock. Confesso que senti falta de solos melhores e mais extensos. Talvez o comedimento tenha sido proposital. Destaco o solo da música “Get It Together”, feito no âmbito do efeito wah-wah, que sempre vem bem.

Flávio: Tido como um artista de blues rock, o disco começa e se caracteriza por trazer várias faixas de um quase hard rock leve, com pegada de refrão forte (comercial). Há pouco a se considerar como blues rock, e há misturas bem puxadas, típicas de funk rock, como em “Ain´t Selling Out” ou em especial na faixa “Be Mine” onde se vê grande semelhança com o som típico de Lenny Krawitz. Na bolacha, a banda desempenha de forma mediana, e o ponto de apoio é realmente o vocal de Kenny, que se não é expoente, é agradável. Há solos aqui ou ali bonitos, que podem lembrar uma pegada de blues bem leve como na música “Believe” que gostei mais (hoje apenas, amanhã tudo muda). Tudo isso em um disco sem muita expressão onde os quarenta e poucos minutos do clássico Overdrive servem para lavar a tal louça num sábado à tarde….

José Paulo: Outro que não conhecia, mas quando vi a capa do disco não tive uma boa impressão. Porem quando começou a música, notei que o guitarrista/vocalista segue a linha de outros músicos da sua geração como o Jonny Lang e até outros bem mais velhos como Peter Malick e Robben Ford, que misturam com uma certa competência Rock e Pop com algumas influências de Blues. The Place You´re In em uma audição despretensiosa chega a ser bem agradável. É lógico que se esse disco não chega ao ponto de influenciar o meu gosto musical, também não é algo que posso chamar de desprezível. Alive tem guitarras pesadas e um refrão que funciona bem. Enquanto Be Mine começa meio estranha, lembrando o tal de Lenny Kravitz (bom pelo menos acho que é isso, pois sou leigo em se tratando desse assunto, porém o solo chama muito a atenção). Spank e Hey, What Do You Say tem belos vocais femininos, elevando essas músicas a um nível bem acima da média do disco. Enquanto Believe e Burdens são bem mais acessíveis, previsíveis e Pop, porém com melodias bem agradáveis. No início pensei que essa tarefa seria uma pequena seção de tortura, felizmente estava enganado… disco OK.

Kelsei: Eu conheci o Kenny Shepherd vendo um show pela TV, onde ele tocava com o Eric Clapton em um festival. Mas eu não tive mais informações depois daquele show e, naquela época, não descobri quem ele era. Por isso, que bom que esse álbum apareceu aqui, porque até então ele era “um guitarrista muito bom que parecia o Brian Adams e que tinha tocado com o Clapton em um show que vi na TV”. Kenny tem um timbre próprio no instrumento, que é muito bom e único. O álbum é bom, com uma audição fácil. Óbvio que os solos de guitarra de Kenny são os grandes destaques do álbum. Ele também canta em muitas das canções, com uma voz legal, que não é o seu forte, mas que mesmo assim não deixa a desejar. Agora, deixa eu abrir umas linhas aqui para o excelente vocalista Noah Hunt, que eu não conhecia, e que tem uma voz que encaixa perfeitamente no timbre dos instrumentos. Uma pena ele cantar em poucas faixas do álbum, mas que, para mim, ficam como sendo as melhores: “Believe” e “Burdens”, duas baladas sensacionais (previsíveis, sim – afinal, é balada – mas sensacionais). Essa última, inclusive, me pegou na alma. Pesquisando, li que Noah canta com o Kenny já faz algum tempo, o que quer dizer que é certo que eu vou atrás de mais coisas. Acho que seria legal fazer um throw down entre o Kenny Shepherd contra o Richie Kotzen, hein!?


Mindflow – Just the two of us … me and them

Sugestão de: Kelsei
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Alexandre: Primeiro álbum de uma banda brasileira de prog-metal. Aí eu duvido que alguém que não tenha ouvido isso tenha pensado em ……isso, Dream Theater, todo mundo vai associar o som o Mindflow ao grupo americano.  E com razão, pois como é o primeiro trabalho e assim como foi o primeiro do Dream Theater, eu entendi esse Just the Two of Us… Me and Them como um desenvolvimento ainda em estágio não final no ponto de vista de composições. Acho que, independente da grande categoria instrumental de todos aqui e um bom vocal que não me agradou de forma mais pessoal, falta sim um caminho mais próprio e menos “linkado” com tudo que o Dream Theater já havia feito à época. É bom lembrar que a banda americana teve, no meu entendimento, um primeiro álbum com ideias e vocais que precisavam de ajuste. Então vamos ressaltar e enaltecer a banda brazuca por se aventurar em caminhos tão complicados e tecnicamente apresentar um trabalho perfeito. Eu, se possível, gostaria de ouvir menos intervalos intricados em quase todas as faixas, de forma até meio abrupta mesmo, e um pouco mais de simplicidade para compor partes da melodia. Há poucos solos também. Talvez menos quebradeira e um pouco mais de melodia e solos memoráveis – algo que o Dream Theater fazia muito bem em sua fase clássica. Isso sem comprometer o já espetacular instrumental deste Mindflow. Vou elogiar também as ideias líricas, mas novamente colocar um senão quando a coisa fica “Dream Theater” demais. O trecho da faixa 2nd Dawn, lá pelos 8 minutos, é muito igual a Solitary Shell (do álbum 6doit do Dream Theater) para 99% das pessoas que conhecerem a faixa original. Gostei muito da faixa final, espero que eles tenha ido por esse caminho no restante da discografia. E fica aqui um justo parabéns para todos os envolvidos no trabalho, mesmo havendo uns ajustes a trilhar, assim penso.

Eduardo Schmitt: Confesso que nunca tinha ouvido falar desta banda brasileira de metal progressivo. E estou muito bem impressionado por esta obra. A banda paulista, em sua primeira bolacha, apresenta composições bastante intrincadas, como é característica do gênero, com mudanças de andamento e sofisticados arranjos. O desempenho de todos os músicos é bastante sólido, de modo que não vejo sentido em destacar um ou outro nome. Todos se saem muito bem. Não consigo elaborar nenhuma crítica negativo a esta bolacha. Escutem!

Flávio: Vamos  começar assim: 1) Estilo: Prog Metal temático (com alternância em trechos bem pesados); 2) A banda brasileira – talvez esse seu disco é claramente influenciado pelo Dream Theater. Vários elementos estão ali: Afinação baixa (vide 6doit), bateria bem aprimorada e no estilo de Mike Portnoy, passagens truncadas, músicas que se interligam, presença de teclados (em menos ênfase que a banda mãe) e vocal bem melódico e limpo/empostado, que às vezes lembra o André Mattos também. Guitarra em linhas melódicas e rápidas. Baixo rico, acompanhando ora guitarra ou bateria, com trechos de solos em destaque. Depois desse aparte, vamos ao disco: apesar de muito relacionado com a banda mãe, com passagens que parecem ter sido retiradas de “Scenes from a Memory” ou “Images and Words” da sua discografia, considero o melhor da lista, calcado no estilo acima e com muita qualidade, fortemente indicado para os que são adeptos de um estilo mais elaborados e até (como eu), cansaram da fase atual da banda inspiradora, sem inspiração. Destaco a faixa Invisible Messages, mas todas passaram muito bem, nesse flashback da banda originadora.

José Paulo: Mas uma novidade neste ano pouco produtivo no que propõe este desafio. Após uma longa e chata introdução chamada Focus vem Meeting Her Eyes que já inicia com uma frase que é justamente a essência do que encontraremos em todo o álbum: “Blind feelings went blind and fade in me”. Fazendo uma comparação meio insólita, tenho a impressão que Just the Two of Us… Me and Them é aquele parafuso que gira, gira, não sai do lugar, não aperta, não solta. Porém não sejamos tão ranzinzas. Apesar de tudo que escrevi acima, o disco chega a ser bem interessante e a cada nova audição tem a força necessária para nos atrair novamente a ele. É inegável que o ponto alto seja a atuação dos músicos, que são muito competentes em suas respectivas funções. Talvez apenas o teclado tenha me incomodado um bocado em alguns momentos. Penso que o Metal Progressivo adotado pelo Mindflow inicialmente alcança bons resultados quando apostam em canções e melodias um pouco menos intrincadas como em Deadly Event e na bela linha melódica de Invisible Messages. Mas foi justamente a longa 2nd Dawn….tellavision (com seus mais de 9 minutos) que mais me cativou e a elejo a melhor do disco, sem sombra de dúvida, com linhas vocais belíssimas e emocionantes, além de ótimas guitarras. E para terminar ainda temos A Noble Truth #2, também emocionante e de muito bom gosto. O resultado é que Just the Two of Us… Me and Them não chega a ser um clássico do estilo, pois o disco chega a cansar um pouco o ouvinte, mas nem de longe é um trabalho desprezível, além disso, acho que com mais adições o trabalho dos músicos, os detalhes e arranjos ganham mais forma e nos entusiasma a tentar conhecer os outros lançamentos do grupo. Recomendo para todos que gostam do estilo!

Kelsei: Entre 2005 e 2010 eu tive o meu ápice musical progressivo. Os brasileiros do Mindflow devem ter encabeçado a lista de músicas que mais ouvi. Sim, brasileiros! Aqui da capital paulista. Rafael Pensado (bateria) e Rodrigo Hidalgo (guitarra) são dois músicos espetaculares em seus instrumentos. Just the Two of Us… Me and Them é o debut dos caras, um álbum conceitual que conquistou espaço além das fronteiras tupiniquins, ainda com muita influência do Dream Theater e outros grupos progressivos, com clara idealização do projeto tirada do álbum Scenes From A Memory (alguns trechinhos de “Honesty” te lembraram “Home”?). Mesmo com a comparação com os americanos, o som dos brasileiros é muitas vezes mais pesado (algo mais comum de ser encontrado no “progressivo contemporâneo”), da presente guitarra de sete cordas e de um teclado que tem uma proposta bem mais coadjuvante que na banda americana. Os dois álbuns seguintes a este moldaram um som mais autêntico e que eu prefiro (inclusive, como curiosidade, o Manifesto Bar, aqui de São Paulo, teve os quadrinhos do segundo álbum – Mind Over Body – pintados nas paredes no segundo andar do bar por um bom tempo), mas que não desmerece esse aqui. O debut é longo e cansa os ouvidos, que precisam dar uma acostumada – se eles dessem uma cortada aqui outra ali e enxugado uns 10 minutos, o álbum seria mais azeitado. Não vou deixar uma música de destaque, até porque a integridade que junta todas elas fala mais alto do que quando elas são vistas individualmente, tanto que são poucas as canções que se encaixam bem em um set list devido à questão da “continuidade” que amarra uma música na outra. Inclusive, me dei conta, escrevendo isso, que nunca ouvi uma música isolada desse álbum. Se te assustar nas primeiras audições, vá em doses homeopáticas que, quando você perceber, estará abduzido. Let your mind flow!


The Clan Destined – In the big ending…

Sugestão de: José Paulo, o JP –  A Enciclopédia
Ouça você também:

Alexandre: E todo mundo acha que o B-side sou eu, lego engano….. De onde surgiu e para onde foi isso? É um único EP, pois a banda se desfez, ou está naquele estágio “a NÃO volta dos que não foram”. Ou seja, mais obscuro tanto no quesito repercussão quanto no quesito “status atual” não pode haver. Em relação ao conteúdo musical, que deve ser sempre o foco dessas críticas, a banda é inegavelmente competente, o guitarrista se destaca com solos bastante técnicos. Foi o que consegui destacar, pois tem aqueles tecladinhos de fundo de metal melódico/sinfônico que me incomodam, assim como o excesso de uso de dois bumbos. Além disso o vocal não me agradou, ainda que não esteja na categoria insuportável. O estilo meio salada pra mim vai mais nesse metal modernoso sinfônico, mas traz até alguns toques de industrial (por exemplo na faixa a Beautiful Start to the End of the World). Alguns riffs até carregaram um pouco mais no drive  beirando um Dream Theater pesado, como no meio da faixa Devil for a Day, mas o restante da faixa não decolou; um vocal pouco inspirado, tanto nos refrãos quantos nas estrofes. Em geral, a faixa sintetiza um pouco do que entendi do trabalho: boas intervenções instrumentais e solos no trecho intermediário com melodias vocais bem aquém dos referidos trechos. Em suma, há até boas ideias meio perdidas num projeto que fracassou, sem qualquer previsão de retomada, mas se isso acontecesse seria bastante louvável que buscassem outro vocalista para trazer melodias adequadas. Pelo menos não foi uma audição demorada, não deixa de ser um mérito isso.

Eduardo Schmitt: Trata-se de uma demo, composta de 6 músicas, somando 27 minutos de um folk metal (pouco folk, muito metal), que, deve se dizer, traz uma sonoridade diferente do habitual. Banda capitaneada por Martin Walkyier, que vinha de uma longa carreira com a banda Skyclad, um dos pioneiros do folk metal, o vocalista conta com uma voz bastante potente e com um timbre agressivo sem passar do ponto. O destaque da banda é o guitarrista Lee Cassidy, que apresenta solos muito inspirados. Lamenta-se que estes solos não têm o espaço que sua qualidade faz merecer ter. As escolhas de equalização são bastante modernas e, de uma certa maneira, mainstrem-oriented mas sem perder a maior parte da força das composições. Na falta de outra obra completa desta banda, talvez valha a pena conferir alguma bolacha do Skyclad.

Flávio: Fruto de uma banda que quase não durou nada, In The Big Ending…é o mais próximo de Heavy Metal pós anos 90 da lista, onde há o forte uso de guitarra pesada e bem distorcida mantendo um base sem muitas firulas, a bateria mantendo um peso em um simples acompanhamento bem marcado, o baixo mantendo apenas a linha da música, sem nenhum adendo notável.  E por cima disso tudo há o vocal rasgado, quase urrado, grunhido cantando melodias ridiculamente óbvias, e num geral bem grudentas, principalmente no refrão e, para piorar, há a presença de um tecladinho quase sempre dispensável. Com esse predominante aspecto, o disco soa bem óbvio e sem novidades para o ano de 2004. A destacar apenas os bons solos de guitarra que permeiam o álbum menos interessante da lista.

José Paulo: O Sabbat surgiu na segunda metade da década de 80 como a nova esperança inglesa para a cansada cena britânica do Heavy Metal da época. Com seu thrash metal forte e vigoroso, deixou como legado pelo menos dois clássicos: History of a Time to Come e Dreamweaver. Além disso, revelou ao mundo o guitarrista e hoje renomado produtor Andy Sneap. Porém, infelizmente o grupo não chegou além do status de cult. Por outro lado, o vocalista e mentor intelectual da banda, Martin Walkyier, sai para montar o Skyclad com membros do clássico grupo da N.W.O.B.H.M., Satan, que na época atendia pelo nome de Pariah. No underground o Skyclad chegou ser um nome bastante respeitado e até teve uma boa repercussão lançando ótimos discos. Até que em 2001 após mais de 12 discos lançados o vocalista resolve cair fora da banda. Em uma entrevista Walkyier explica por que abandonou o Skyclad: “cheguei ao ponto de trabalhar duro o mês inteiro e no final não ter dinheiro nem para pagar o aluguel”. Então ele junta forças com o ex-baixista da banda de black metal Immortal que atende pelo nome de Iscariah e forma o The Clan Destined. E pensando bem, a única conclusão que tiro disso tudo é que se Martin Walkyier não tinha dinheiro para pagar o aluguel na época do Skyclad, agora ele deve morar embaixo da ponte! Apostando em um som um pouco mais simples e direto, Martin continua mantendo seu estilo de cantar e compor suas melodias vocais bem parecidas com os trabalhos de suas antigas bandas, porém nem há a menor chance deste In The Big Ending… ser um trabalho acessível. Talvez poderíamos tirar Devil for a day com suas melodias mais alegres, mas sem abandonar todas as características que nos acostumamos a encontrar em suas músicas: “For this is wisdom; to love, to live. To take what fate, or the gods, may give. To ask no question, to make no prayer. But to kiss the lips and caress the hair. Speed passion’s ebb as you greet its flow. To have, to hold and in time, let go…”. Para mim, Martin Walkyier continua sendo o gênio indomável de sempre e esse disco atende todas as expectativas daqueles que sempre seguiram a carreira do músico, seja no Sabbat, Skyclad ou Hell. Para aqueles que não conhecem, fica difícil explicar o que é o The Clan Destined, pois a banda é o espírito de tudo que foi e continua sendo Walkyier, apenas ouvindo e tirando suas próprias conclusões. Ele declarou que este disco seria seu testamento musical, se realmente é eu não sei, apenas digo: ame ou odeie, isso é Martin Walkyier.

Kelsei: Por mais que o som do TCD pareça simples, ao ouvir esse álbum (um EP, na verdade – tem menos de meia horinha) a minha cabeça deu um nó. Achei muito difícil tentar achar a proposta do grupo, principalmente porque o vocalista destoava do que era tocado. Achei ele bem “diferentão”, como se o Rob Zombie tivesse estudado e se comprometido com um som descente. E não é que o vocalista Martin Walkyier parece mesmo o Zombie, fisicamente falando?! Um som pesado, uma cozinha padrão e um bom guitarrista solo – inclusive os solos de guitarra foram o ponto mais alto do álbum. Mas algo na voz do idealizador do projeto (que não foi para frente, pelo que pesquisei) não desceu para mim…


Responda rápido! O que vem primeiro: a vacina ou as resenhas do ano de 2005?

Beijo nas crianças!

Kelsei Biral



Categorias:Artistas, Curiosidades, Discografias, Músicas, Resenhas

5 respostas

  1. Li aqui e achei muito boa as resenhas A do Dungeon foi sensacional Dei uma risada aqui estrondosa com os comentários do Flávio e do JP

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  2. É um prazer ler as resenhas da galera. Ri pacas aqui, principalmente no Sueco Lisergíco Ler trechos como : ” No meu caso, inclusive, foi hilária, porque eu não esperava o que veio ao iniciar a faixa inicial, “Panda”…. ” Falando em delay, há cerca de 7 mil deles no vocal do refrão ( eu acho…) de “Gjort bort sig”. Até a flauta transversa tem delay nesse bagulho (aliás, ô palavra bem empregada essa)… Mas como diz o ditado: “em briga de saci todo chute é uma voadora…”, vamos tentar alguma coisa. e sobre a resposta do Kelsei: As resenhas virão antes. Estou já salivando para as de 2005.

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  3. Pessoal , muito boa a troca de experiencias diferentes sobre os mesmos álbuns, mas há de se ressaltar o que às vezes acontece, como a citação ao Lenny Kravitz em três das resenhas do álbum do Kenny Wayne ou a indefectível percepção da influência do DT no trabalho brasileiro.
    Ainda que eu ainda não tenha achado nessa série aquele álbum de cair o queixo, participar por aqui é sempre um privilégio e um aprendizado.
    Além das risadas, é claro. Mas uma vez o Flávio atacou, dessa vez direto da Suécia. Haja ácido….

    Por fim, a resposta da pergunta final é pra mim bem clara : A resenha de 2005 .
    Que eu esteja errado ,mas se não estiver, que os álbuns de 2005 tragam mais boas trocas de experiências e análises musicais entre nós .

    Salute !

    Alexandre

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  4. Antes de mais nada, gostaria de agradecer outra vez ( e sempre) ao Eduardo e ao Kelsei pela oportunidade em poder participar deste “desafio”! Eu sei que as vezes é meio difícil, pois temos que escutar discos inteiros de grupos que se não fosse pela referida serie não ouviríamos 30 segundos, mas por outro lado temos a oportunidade de conhecer trabalhos excelentes que possivelmente jamais teríamos a oportunidade e sempre penso que somando tudo há sempre um crédito enorme!!! Mesmo que apenas um disco seja bom, já é o suficiente.
    Ps – Se bem que teve um que foi difícil de ouvir até o final. E põe difícil nisso…
    Pelo menos para mim, admito que 2004 foi um ano pouco produtivo em novos lançamentos, tinha em mente indicar outro grupo, mas fiquei em dúvida se a banda ainda estava na ativa e então acabei abortando a ideia.

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