[Resenha] Andre Matos – O Maestro do Heavy Metal

Terminei de ler as 455 páginas em 23 de Dezembro, coincidentemente no dia do meu aniversário (e do Dave Murray!). Com textos de leitura fácil, foi escrito por Eliel Vieira e Luis Aizcorbe. O livro vem em capa dura, impressa só com a foto do Andre (tirada de um show na Argentina, quando o Viper reuniu sua formação em turnê – essa informação eu aprendi durante a leitura). Junto, vem uma capinha de plástico com o título do livro e o nome dos autores, que quando é colocada por cima da capa, faz um complemento da foto, criando a apresentação do livro e uma proteção (e que também escorrega a todo momento da leitura, o que encheu a paciência deste cara que aqui vos escreve).

 

Fazer uma biografia de alguém que era muito reservado e que não está mais entre nós é uma tarefa difícil. Os autores, no prefácio, deixam isso muito claro, explicando que o livro foi criado com base em uma série de pesquisas, apanhados da internet e entrevistas de artistas e pessoas próximas ao Andre feitas exclusivamente para o livro, que teve aval da família de vocalista. Indo da infância até sua morte, as páginas são recheadas de fotos de acervos pessoais e vem com vários QR codes, para que o leitor possa ver vídeos que complementam os momentos relatados nos capítulos. A grande maioria das fotos não possui uma legenda, o que faz com que não tenhamos a certeza de quem são certas pessoas que estavam com Andre nas determinadas ocasiões.

A obra não quis entrar em futricas, sendo que desentendimentos descobertos durante a montagem do livro e que foram resolvidos ao longo da vida de Andre Matos não foram comentados, até para proteger a imagem das demais pessoas envolvidas nos conflitos. Ponto positivo, pois senão teríamos um livro de fofocas e, nos dias de hoje, essas pessoas poderiam virar alvo de ofensas das tantas mentes limitadas que vemos atualmente em redes sociais. Algumas pessoas se recusaram a contribuir com o livro. Uma delas, que seria fundamental termos o ponto de vista, para entender certas névoas de quando Andre Matos, Luis Mariutti e Ricardo Confessori deixaram o Angra, era Toninho Pirani, o empresário da banda naquele tempo, que era enrolado junto aos livros fiscais e que estava sendo acusado de desvio de dinheiro e pirataria de álbuns do grupo em alguns países.

Para fãs que acompanharam toda a carreira do Andre, ou parte dela, o livro não trás grandes novidades, salvo algumas histórias interessantes que são obtidas pelas entrevistas feitas ao livro. No meu caso, especificamente, eu não sabia que Andre tinha convidado Aquiles Priester para adentrar sua banda solo, visto que o baterista estava para sair do Angra após a turnê do Aurora Consurgens, sendo que Aquiles rejeitou o convite, mas foi ele quem indicou o prodígio Elói Casagrande para o posto das baquetas. O livro também traz um bom resumo de várias participações de Andre em discos de outras bandas, mas o número de participações especiais do maestro são tantas que algumas ficaram de fora, como foi o caso do álbum da Dune Hill, que escrevemos no blog. Acredito que esse ponto tenha a ver com o tempo de lançamento do livro, que deve ter sido imposto, o que teve que fazer o pessoal correr contra o tempo e não entrar em detalhes tão lapidados como esse.

Alguns textos me pareceram bem políticos, principalmente algumas entrevistas dadas pela família do André. Não que eu duvide do trabalho feito pelos autores ou da veracidade do que foi dito durante tais entrevistas, mas eu sou próximo de uma pessoa que conhecia o Andre e sua família, e certas coisas soam “estranhas” ou, melhor descrito, incompletas. Se propositalmente ou não, impossível saber ou julgar. A vida pessoal do Andre também é comentada no livro, mas de uma maneira mais polida, comentando sobre poucas namoradas e mais focada na relação com a sueca Sara, com quem Andre tem um filho (hoje, um pré-adolescente), que também contribui para o livro.

Outra coisa legal é um dos apêndices, que vem com um texto que Andre produziu aos oito anos de idade, intitulado “A Noite”. O texto vem transcrito e com as fotos originais das folhas datilografadas.

Em 2021, teremos o lançamento do documentário sobre André, que vai trazer, creio eu, vários complementos às histórias contadas no livro e aos fatos que cercaram a discografia e turnês de Andre com Viper, Angra, Shaman e carreira solo.

Se você tem uma pequena biblioteca, tenha o livro. Compre-o aqui. Será mais um item de colecionador do que algo que realmente faça a diferença no seu conhecimento sobre o maestro do Heavy Metal. Mesmo assim, fica aqui mais essa homenagem. E fica uma lição aqui que não custa nunca repetir: não faça como muitos por aí que só idolatram o Andre agora, após sua morte, ou que tomaram essa situação para se promover. Vá aos shows de seus ídolos e contemplem suas obras e turnês enquanto estão vivos!

Beijo nas crianças (e Feliz Natal, já que hoje é Natal).

Kelsei



Categorias:Angra, Artistas, Curiosidades, Resenhas, Sepultura, Shaman, Viper

5 respostas

  1. Kelsei, excelente post e reflexões, obrigado e parabéns pela dedicação incansável de trazer coisas interessantes ao Minuto HM, e neste aspecto, com um conhecimento e categoria que não tem por aí.

    Feliz Natal a você e todos aqui do blog, fãs do Andre, enfim, a toda galera que lê o blog!

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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  2. De fato, um lançamento merecido. André merece ter sua história contada em todas as formas possíveis. Acompanhei de fato sua carreira no Viper e principalmente no Angra. Dali pra frente, confesso, diminui o meu interesse. Não há dúvidas que ele foi um grande expoente do metal no Brasil. Comparável apenas aos caras do Sepultura, em termo de repercussão internacional. Artisticamente , pra mim, bem superior.
    Aplaudo a iniciativa, aguardo o documentário também com boa expectativa.
    Muito bom ter trazido isso por aqui, Kelsei.

    Alexandre

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  3. Bom Kelsei, ninguém melhor que você pra comentar sobre André Matos. Profundo conhecedor, entendo que se você gostou, sinal que o trabalho foi bem feito ……eu fico feliz …..ele merece
    Muito obrigado pelo post

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  4. Ótima resenha, concordo com o Rolf: ninguém melhor que o Kelsei para discorrer sobre o livro de um maiores pioneiros do HM (e ali perto na mesma época, o Sepultura ou logo depois o Dr. Sin) no alcance do verdadeiro nível profissional do estilo no Brasil. Um grande músico e um livro que entendo deve ser apreciado para melhor entendimento de um dos maiores pilares deste movimento. E a reflexão certeira: aproveitemos sempre que possivel e da melhor maneira possivel, as carreiras dos que estão por aí

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