Discografia Rush – Parte 7 – álbum: Different Stages – Disc 3 – Live at Hammersmith Odeon London (1978) – 1998

“três canadenses começaram a subir a montanha russa do sucesso, eles que se segurem, por que a viagem é maravilhosa, mas tem seus desafios.”

Obs: A versão na íntegra deste show foi disponibilizado em 2017 na versão bônus do 40º aniversário do lançamento do álbum “A Farewell To Kings“.

Para a 7ª parte desta discografia, o escopo traçado aqui nos indica cobrir o ocorrido após o lançamento do álbum “A Farewell To Kings”. O material que compõe esta sétima parte da discografia Rush é original da turnê do citado quinto álbum de estúdio, que, por cerca de 140 shows, inicialmente percorreu Canadá e os Estados Unidos entre agosto de 1977 e janeiro de 1978. Eles chegaram a Europa em fevereiro de 1978, para datas na Grã-Bretanha durante aquele mês. O fim dos shows se dá com o Rush voltando para mais datas nos Estados Unidos e em sua terra natal. O grupo apelidou a tour de “Drive ‘til You Die Tour”, em função do extremo desgaste que eles tiveram com tantas datas. Foi sem dúvida a turnê mais extensa desde sua formação, sendo atração principal em grande parte, o que culminou consideravelmente no aumento de sua base de fãs. A banda já tocava para um público duas vezes maior, por exemplo, na Inglaterra, considerando os shows que havia feito dois anos antes, na turnê de “2112“.  A turnê terminou em abril de 1978, finalizando um período no qual a banda atraiu mais de um milhão de espectadores em todos seus shows.

Novamente Neil usou a bateria da Slingerland, com a madeira tratada por um processo chamado VibraFibing, onde é colocada uma fina camada de fibra de vidro no interior dos cascos, segundo o baterista, para melhorar o calor natural e a ressonância dos tambores. 

Os pratos continuavam sendo da Zildjian e todos os elementos percussivos usados em “A Farewell To Kings” foram trazidos também.

Geddy usou principalmente o baixo Rickenbacker modelo 4001, em estéreo, com o captador da ponte ligado a um Ampeg SVT e duas caixas 2X15″ da Sunn com falantes SRO. O captador do braço vai para um Ampeg SVT e duas caixas V4B com falantes JBL, tudo colocado em ambos os lados do palco. Para “Xanadu”, Lee usou a guitarra-baixo de dois braços da Rickenbacker, que consiste de um baixo modelo 4001 e a guitarra modelo padrão de doze cordas da Rickenbacker com captadores humbucker, ligado em um amplificador Fender Twin Reverb. Outros baixos presentes nos shows foram um Rickenbacker 3001 e um Fender Precision Bass com um captador adicionado na ponte, configurado em estéreo.

Alex usou basicamente a Gibson ES-335, um violão de cordas de nylon Martin, mas também usava a Gibson de dois braços vermelha cereja não só em “Xanadu”, mas também em “Something For Nothing”. Levou também uma Fender Stratocaster preta e outros violões, Ramirez e Ephiphone. Além disso, o conhecido gosto pelos efeitos fez o guitarrista trazer um Chorus Roland JC120, um Electro-Harmonics Electric Mistress Flanger, um Wah-Wah Cey Baby, um de volume da Morley e dois pedais maestro de Eco (Ecoplex), ligados em amplificadores Marshall. Os sintetizadores Moog Taurus Bass Pedal e um Mini Moog foram também trazidos para a tour.

Provavelmente por questões de estratégia, apesar do material ser de uma fase exuberante, ele não foi lançado tão logo foi captado. A banda estava em seu pico criativo e cheio de ideias para um novo álbum tão logo terminou a extensa turnê. Mais do que isso, acreditamos que eles pretendiam seguir o formato de lançar 4 álbuns de estúdio seguidos de 1 duplo ao vivo,que sempre serviram como claros divisores das diversas fases da banda (padrão que só foi quebrado após o retorno da banda nos anos 2000 quando lançaram mais álbuns ao vivo do que de estúdio).Desta forma, um novo álbum ao vivo iria esperar ainda por mais outros três lançamentos em estúdio.

O material gravado em 20 de fevereiro de 1978, no Hammersmith Odeon de Londres foi então cuidadosamente guardado, esperando um melhor momento para ser disponibilizado oficialmente. Anos se passaram e um fator pessoal envolvendo a vida pessoal de Neil Peart com o consequente afastamento do baterista de suas atividades profissionais fizeram com que a banda lançasse este material, ainda que parcialmente, para compor a parte 3 do cd triplo intitulado “Different Stages”, lançado pouco mais de 20 anos depois. Os detalhes envolvendo o período do material principal deste ao vivo lançado em novembro de 1998 e as questões pessoais de Peart serão detalhadas de forma propícia quando a discografia chegar aos capítulos 21, 22 e 23.

Este material bônus que é parte do show do dia 20 de fevereiro de 1978 e que se junta ao principal do triplo ao vivo lançado em 1998 (shows das das turnês de 1994 e 1997 dos álbuns “Counterparts” e “Test For Echo”) está naquele cd desta maneira:

Different Stages  Disc 3 – 62:26

“Bastille Day” (5:00)
“By-Tor and the snow dog” (5:05)
“Xanadu” (12:17)
“A Farewell to kings” (6:07)
Something for nothing” (4:01)
“Cygnus X-1” (10:23)
“Anthem” (4:39)
“Working man” (4:07)
“Fly by night” (2:04)
“In the mood” (3:34)
“Cinderella man” (5:09)

Posteriormente, por ocasião do lançamento da versão de 40 anos do lançamento de “A Farewell To Kings”, este mesmo show do Hammersmith Odeon foi disponibilizado desta vez na íntegra, fazendo partes dos cds 2 e 3 da citada versão comemorativa, lançada em 01 de dezembro de 2017. O show completo, traz além das onze de “Different Stages”, outras quatro canções: “Lakeside Park”, “Closer to the Heart”, “2112” e “Drum Solo”, totalizando cerca de 35 minutos a mais.

Para o quadragésimo aniversário de “A Farewell To Kings” foram disponibilizados quatro formatos: a Super Deluxe Edition incluindo três CDs, um disco de áudio Blu-ray e quatro LPs de vinil de 180 gramas. O disco de áudio Blu-ray contém uma nova mixagem surround 5.1 do álbum pelo produtor de som e músico Steven Wilson, junto com três vídeos promocionais originais de 1977. O material também inclui um novo e elaborado tratamento de capa do 40º aniversário pelo diretor criativo de longa data do Rush, Hugh Syme, que também criou uma nova obra de arte para cada uma das seis músicas do álbum, e um extenso encarte de 12.000 palavras pelo historiador do rock Rob Bowman, além de vários ítens, como a reprodução do programa original da tour e um tapete para toca discos com a arte do álbum.

As outras versões, chamadas deluxe, tem a opção em 3 CDs ou em 4 LPs de 180 gramas. Por fim a quarta opção é digital, intitulada Deluxe Digital Edition.

Este set list renovado da turnê de 1978 não se modificou durante os incontáveis meses, e é exatamente o que se encontra na versão bônus do “A Farewell To Kings”, a saber:

O show se encontra disposto na versão comemorativa da seguinte maneira:

Cd 2

“Bastille Day” (6:03)
“Lakeside Park” (4:30)   
“By-Tor and the snow dog” (5:05)
“Xanadu” (12:21)
“A Farewell to kings” (6:19)
“Something for nothing” (4:11)
“Cygnus X-1” (10:25)

Cd 3

“Anthem” (4:54)
“Closer To The Heart” (3:26)
“2112”(19:30)
“Working man” (4:08)
“Fly by night” (2:04)
“In the mood” (2:36)
“Drum solo” (6:43)
“Cinderella man” (4:48)

Como citamos no capítulo dedicado ao “A Farewell To Kings”, o material bônus da versão comemorativa de 2017 traz ainda algumas versões das músicas originais de 1977 por outros artistas e uma faixa com efeitos sonoros utilizados na faixa “Cygnus X-1: The Voyage”. Para outros detalhes deste material, pedimos acessar o capítulo anterior.  E como pode-se perceber, as versões ao vivo na versão comemorativa em geral trazem uma minutagem maior do que as contidas no cd 3 do álbum “Different Stages”. Claramente, há uma edição que reduz os intervalos do show neste cd triplo para poder caber o máximo de canção possíveis, considerando o uso de apenas uma mídia.

Para tratar da análise de cada faixa do show que contempla a turnê do álbum “A Farewell To Kings”, considerando que todas as faixas já foram exaustivamente comentadas nas partes anteriores desta discografia, teceremos apenas alguns comentários pertinentes às diferenças mais relevantes entre as versões anteriores e as que temos deste show em Londres. Assim, as versões também serão comparadas às registradas no duplo ao vivo All The World’s a Stage, que traz a performance ao vivo da banda em 1976. A exceção está nas versões das faixas do álbum “A Farewell To Kings”, trazemos aqui comparações feitas em relação ao gravado em estúdio, já que são estas as primeiras versões ao vivo lançadas oficialmente pela banda. A única música que não tem versão ao vivo neste show de 1978 da tour de “A Farewell To Kings” é “Madrigal”. Assim, o Rush trouxe o álbum quase em sua totalidade para os novos shows, renovando em grande parte o set list da turnê anterior. Então vamos lá:

1- “Bastille Day” 

A música na versão mais completa traz a introdução em playback do show que é feita com “Nights Winters Years”, de Justin Hayward e John Lodge, para a banda ser apresentada.  É uma versão muito próxima da versão de dois anos antes, tão ou mais agressiva e vigorosa. O show está muito bem gravado, a mixagem entregue é bem cristalina, tudo se ouve muito bem. Assim como no álbum ao vivo, há aquela tentativa de Alex sobrepor uma nota que foi gravada em overdubb no álbum de estúdio em 3:46, que no nosso entendimento, não fica adequado, mas de fato a versão de 1978 é excelente. O final desacelerado tem chorus na guitarra de Alex, ligeira diferença em relação ao álbum de 1976.

2- “Lakeside Park


Nos shows de 78 esta outra faixa do “Caress of Steel” foi deslocada ligeiramente para cima no set list, e faz a dobradinha com “Bastille Day”. É até curiosa a opção da banda em abrir os shows da turnê de um álbum trazendo 2 canções de um álbum anterior. Na volta do solo, Geddy dá uma ligeira atrasada nas letras, em 1:58, mas de resto novamente temos uma versão bastante próxima da original. Na versão do “All The World’s a Stage“, Geddy explica a origem das letras da canção, feita por Neil.  O efeito usado por Lifeson em 1976 é um phase 90, já em 1978 ele opta pelo chorus, aliás bem mais pronunciado.Também se nota que Geddy, diferentemente da versão de estúdio, adiciona algumas notas com o pedal Moog Taurus Bass Pedal nas partes instrumentais que servem de ponte após os refrões. E Neil Peart capricha nas viradas durante a música toda, mostrando uma clara evolução técnica desde a gravação original.

O final da canção da canção em 1978 desacelera bem mais do que em 1976.  O fato das duas canções do “Caress of Steel” estarem na sequência inicial do show do Hammersmith Odeon não quebra o ritmo, ainda que seja uma escolha pouco ortodoxa, servindo como um bom warm-up para a banda e a platéia, valendo lembrar que “Bastille Day” foi pela última vez tocada ao vivo na tour de “Moving Pictures” em 1980 (e brevemente no medley instrumental de abertura da tour “R30” de 2004), e “Lakeside Park” só seria tocada ao vivo na última tour da banda, a “R40” de 2015, até porque “Caress of Steel” é o álbum que até hoje mais tem dificuldade de reconhecimento do público e crítica. 

3- “By Thor & and The Snow Dog

Aqui temos uma versão menor do que a de 1976, mas isso deve-se ao fato da música acabar emendando em “Xanadu”. Os trechos conhecidos como “Aftermath”, “Hymn of Triumph” e “Epilogue” não estão nos shows de 1978.  A versão do All The World’s a Stage traz o vocal de Geddy em melhor forma também. Em 1978 o baixista-vocalista atrasa mais o início de cada frase, ao que parece mostrando uma maior dificuldade em cantar, talvez pelo fato de a tour de 140 shows ter sido muito cansativa para os integrantes da banda, com 16 shows no Reino Unido apenas no mês de fevereiro de 1978, demandando um esforço físico exacerbado que acaba se revelando principalmente na voz. Mesmo em 1976 há um certo descompasso das frases em relação ao original (até porque possivelmente a interpretação das letras das músicas mais antigas naturalmente se transformou e evoluiu ao longo dos anos), mas isso é mais perceptível nos shows da tour do “A Farewell To Kings”. A parte onde há o solo de Alex, com livre interpretação do guitarrista para gerar cacofonias de todo o tipo, difere-se mais claramente entre as duas versões comparadas, mas ainda preferimos a versão de estúdio deste trecho, a qualquer outra. E sem dúvida, a versão do duplo ao vivo de 1976, além de ter a música inteira, é melhor.

4- “Xanadu

Geddy apresenta a música enquanto as primeiras notas já haviam começado, e a plateia responde efusivamente. A música, ao que parece, já tinha um grande reconhecimento, mesmo tendo sido lançada há menos de um ano antes.  Há um pouco mais de drive nas notas produzidas por Alex com uso do pedal de volume no início da introdução. O teclado em 4:30 está um pouco menos audível que a versão em estúdio. Em 5:56 Lee atrasa ligeiramente o início da frase, mas é impressionante ver quantas funções o músico desempenha ao mesmo tempo, sem deixar de entregar uma qualidade absolutamente impressionante. Em 6:38 se ouve com muita clareza o som magnifico do braço de 12 cordas de Alex e os sons de teclados que vem a seguir já aparecem em um volume bem melhor. Em 7:39, Geddy dá uma poupada na voz, ao repetir o “Paradise”. Em 9:27 outra ligeira atrasada na frase, Lee provavelmente se ajustando a tantas mudanças de instrumentos, ali saindo dos sons de teclado para voltar ao baixo. Em 11:26 o riff de Alex se encerra com uma nota em delay soando com mais eco do que em estúdio. Neil Peart é um autêntico robô ao vivo, tamanha a precisão. A versão de “Xanadu”, já ali em 1978, é estupenda. Ela traz bem mais energia que a já espetacular versão de estúdio, as guitarras de Lifeson estão mais pesadas, as viradas de bateria estão mais “na cara”, mas não é só isso. O que se ouve aqui é apenas mais uma comprovação de quanto os canadenses eram muito bons ao vivo.

5– “A Farewell To Kings

Plateia em absoluto silêncio, o começo da faixa-título do último álbum é de se apreciar com um bom fone de ouvido, ouvindo com atenção a sutileza da percussão de Peart acompanhando o teclado de Lee, enquanto Lifeson está no violão acústico. Há novamente mudanças aqui e ali nas frases cantadas por Geddy, mas nos primeiros minutos a versão é impressionantemente próxima ao gravado em estúdio, muito precisa. Há novamente mais drives do que a versão original e alguns overdubbs de guitarra não reproduzidos, mas quase tudo está lá, até chegarmos ao solo de guitarra.  A coisa muda em 3:23, com o vigor do baixo de Geddy estraçalhando tudo em volta, muito melhor do que está em estúdio, enquanto Alex improvisa um pouco nos solos. Ao fim, as últimas notas que em estúdio são feitas no violão acústico aqui são feitas na guitarra. Esta é sem dúvida uma das melhores faixas destes shows, além de ser uma das poucas faixas do show que até o lançamento do “Different Stages” em 1998 não havia sido lançada ao vivo. Destaque absoluto dentro do material.

6- “Something For Nothing

Há uma bela diferença entre as versões de 1976 e 1978, que é uso da doubleneck nesta turnê. Assim, o início da canção, com o chorus natural, do braço de 12 cordas da doubleneck de Lifeson, é muito mais bonito aqui. A versão de 1976 está claramente mais “seca” de efeitos. Não há os violões e harmônicos de guitarra na introdução da versão em estúdio, em parte compensados com o som maravilhoso das 12 cordas da doubleneck usada em 1978. Os agudos da voz de Lee em 1:26 impressionam. O refrão, na sequência, mostra claramente o vocalista se recuperando do esforço. É um refrão mais falado do que a versão ao vivo do “All The World’s a Stage“.  Essa é talvez uma das músicas mais difíceis de cantar do repertório, é possível entender que Geddy busca atalhos aqui e ali para manter uma boa entrega e está melhor nos vocais entregues em 1976, principalmente mais pro fim da canção, depois do solo. Ainda assim, achamos a versão excelente e o início é bem mais bonito com o braço de 12 cordas da doubleneck. Para tentar melhor o entendimento da diferença que faz no uso das 6 ou 12 cordas no início da canção, trazemos aqui duas versões covers (bem competentes) com a opção por um ou outro instrumento.

7 – “Cygnus X-1: The Voyage

A reprodução de “Cygnus X-1: The Voyage”, logo após seu lançamento, é outro presente para os fãs, pois só teríamos uma versão ao vivo da canção no “Rush in Rio”, de 2002. A plateia fica em silêncio, quase não se ouve os fãs, até 5:06, onde uma parada indica a entrada do vocal de Geddy. Os sons de teclados estão novamente mais baixos na mixagem, por volta dos 4:14. Novamente há uma ou outra frase adaptada para concatenar o baixo com o vocal, bem pouco perceptível. Nota-se, no entanto, que na parada total aos 5:03, Geddy se perde e erra o tom da melodia vocal, até mesmo vacilando para entregar a letra como se estivesse percebendo o erro, porém quando a banda entra aos 5:17 ele retoma o tom correto com seu vocal extremamente agudo. O fato é estranho e percebe-se que durante outras turnês o baixista mostra dificuldade de afinação neste trecho, que teoricamente é bem simples de cantar. Abaixo, segue os trechos deste “live” e em seguida a gravação em estúdio,para melhor entendimento do fato.

Em 6:27 a banda intensifica as pausas em relação ao original em estúdio. Lee poupa um pouco a voz de um agudo antes do solo de Lifeson em 6:44. Pouco antes de acabar os solos, as viradas de Peart se mostram mais presentes e com mais uso dos tons agudos. Em geral, aliás, a bateria encontra-se mais alta na mixagem das músicas do “A Farewell To Kings” que as versões de estúdio. Claramente as versões ganham em energia em relação às originais. A partir de 7:21, segue-se um trecho que intitulamos como uma espécie de transe sonoro antes do fim da canção, na versão ao vivo se ouvem improvisos sutis nos pratos e também algumas notas de baixo se diferem do original. O trecho final, extremamente agudo, é conduzido por Lee com pausas para entregar aquelas notas tão altas. Outra versão que ganha pontos pela entrega da banda ao vivo.

8 –  “Anthem

A música está no início dos shows de 1976, aqui foi deslocada pra frente. O início traz a contagem de Peart ao fundo, é perceptível,e a música entra bem mais rápida do que a original. Novamente o som do chorus de Lifeson, usando um pedal de efeito, é um diferencial da versão da tour anterior. Em geral o som da guitarra de Alex está menos “seca” nestas versões de 1978, e isso se dá pela inclusão de mais efeitos de modulação ao vivo, em especial o chorus. Em 1976 usava mais o phase 90 como modulação, e de forma mais discreta.  O vocal de Geddy na turnê anterior está consideravelmente melhor, em quase toda a versão. “Anthem” é outra faixa de tons muitos altos, e sabemos que o tempo na estrada nada ajuda. A versão do Hammersmith Odeon é ótima, não se enganem. Só não entrega um vocal em tão boa forma quanto o que está no “All The World’s A Stage”. Em 1:37, por ocasião do trecho onde há várias paradas, notamos que há muita repetição do eco da guitarra, que sobra um pouco em relação a uma pretensão de precisão no trecho. O final também é ligeiramente alterado, mas aqui tanto faz qual a versão você prefira, todas são ótimas, inclusive a de estúdio também é uma das que mais competem em energia com as versões ao vivo.

9 – “Closer To The Heart

A música começa como em estúdio, Alex utilizando-se de um violão de 12 cordas. Em 1:17 pode-se perceber uma ligeira microfonia, quando o guitarrista troca de instrumento. O solo é carregado de efeito de um chorus bem pronunciado, talvez seja até o efeito seja produzido por um pedal com efeito Leslie,para compensar a ausência da dobra gravada em estúdio. Também se nota o uso do pedal Moog Taurus Bass Pedal por Geddy para preencher a base do solo, uma vez que no estúdio havia uma base de guitarras. Essa versão traz a banda tocando a música pela primeira vez em uma turnê, e pela primeira vez mudando o final que originalmente é em fade-out. Uma ótima versão, com Geddy tentando trazer todas as linhas vocais que estão no fim da canção, como foi feito em estúdio. Linhas essas que o baixista deixaria de fazer, por exemplo, já alguns anos depois.

10- “2112

Lee dá uma economizada em um agudo ali pelos 2 minutos da canção. Em compensação, ainda na primeira parte instrumental (“Overture”), faz alguns acréscimos aqui e ali na linha do baixo.Nota-se um pequeno atraso na entrada do vocal ao final da parte 1 (“And the meek shall inherit the Earth”), fato recorrente em várias versões ao vivo dessa música. Na segunda parte da canção (“The Temple of Syrink”), há outras moderadas nos agudos, em geral a versão de 1976 do “All The World’s A Stage” é mais agressiva. No fim deste trecho há alguns acréscimos na bateria por Peart. Lifeson inclui a melodia do tema principal de Contatos Imediatos de Terceiro Grau no início da terceira parte da canção, que passa a ser acompanhada por palmas a partir do momento em que Geddy começa a cantar novamente. Na versão de 1976 não há o trecho inicial desta parte, o trecho entre 6:45 e 9:29 é novidade nesta versão de 1978. A música volta a ter uma duração próxima da gravada em estúdio, ainda que também, como em 1976, não tenha a parte V (“Oracle: The Dream”). Assim a versão ficou mais completa, ganho inquestionável em relação ao que há no “All The World’s A Stage”. E como se ouve no álbum todo, as viradas de bateria estão muito mais pronunciadas na mixagem. Há inclusive uma virada, com inclusão do uso do contratempo, em 11:01, espetacular, que não consta na versão de 1976. As pausas de “Soliloquy”, bem como as viradas conjuntas de bateria e baixo ficaram mais marcadas, um pouco mais cadenciadas para acentuar as passagens. É com certeza uma melhor versão que a do álbum ao vivo anterior, buscando trazer o máximo de proximidade com todos os detalhes da versão de estúdio.

11- “Working Man

Lee dá uma bela modificada nas melodias vocais da música, já desde o início da música. Era algo que ele já fazia ao vivo em 1976, mas as linhas estão menos agressivas, um vocal ligeiramente mais limpo. Como é bom ouvir o que Peart traz como contribuição para uma música não gravada originalmente por ele, certamente ganha em relação ao gravado no primeiro álbum. O que ele faz durante o primeiro solo de Lifeson é de chorar. Ousamos dizer que Lifeson deu uma erradinha ali em 2:09 ((ou como se diz popularmente, ele “jazzeou” na escala).  E assim como no “All the World’s a Stage“, a música não é tocada na íntegra, emendando no mesmo trecho, mas nos shows de 1978 com “Fly By Night”, ao invés de “Finding My Way”.

12- “Fly By Night

Aqui achamos que a versão de 1976 é mais limpa, com menos drive e modulação. Está mais cristalina também, mais brilhante, com mais agudos.  Além disso Geddy estava mais confortável com os tons altos da canção no “All The World’s A Stage“. A frase antes do solo, em 1978, é praticamente falada. E assim como na versão do álbum ao vivo anterior, o grupo emenda com “In The Mood”, ou seja, nos shows de 1978 a faixa título do segundo álbum era a parte 2 de um medley. A comparação com a versão de estúdio vai invariavelmente ser comprometida por novamente aqui a banda não tocar a música inteira.

13- “In The Mood

Gostamos mais também da versão de 1976, mais brilhante e clara. É possível até ouvir os raros backings de Lifeson no “All The World’s A Stage”. Achamos que o chorus acrescentados com mais profundidade por Alex na versão de 1978 contribuiu para uma pequena embolada no som. No duplo ao vivo de 1976 o guitarrista usa o Phase 90, que tem mais a cara da música, mais rock’n’roll. Peart no fim da canção começa a variar bastante as viradas originais, para que a versão de 1978 emende um solo do baterista.

14- “Drum Solo

É sempre super bem-vindo um solo de bateria de Peart. Não importa quantos sejam disponibilizados oficialmente, não importa que alguns trechos tenham sido repetidos turnê após turnê, como o uso dos diversos cow-bells em uma virada que se tornou clássico do baterista. O solo de 1978 é uns dos pioneiros de Neil e já traz o cerne do que ele viria a desenvolver durante os anos seguintes. São quase 5 minutos para que a banda siga para um final apoteótico do set principal. E é sempre um privilégio ouvir a maestria do professor, algo que nunca iremos nos cansar.

15- “Cinderella Man

Outra faixa que só foi tocada na turnê de divulgação do “A Farewell to Kings”. Em comparação com a original, em estúdio, novamente aqui temos muito mais energia para o palco do Hammersmith Odeon. Os violões ficaram na versão de estúdio, aqui tudo é guitarra, com drive em quase toda a música. Alex também tempera a guitarra com chorus, um efeito que passava a ser uma obsessão para Lifeson na época e um indício do timbre característico que o guitarrista desenvolveria nos próximos álbuns. Neil está mais à vontade para acrescentar novas viradas e complementos com os tons mais agudos nas partes onde não está marcando a canção. É uma versão consideravelmente mais barulhenta que a comportada versão de estúdio. E uma das poucas faixas que até então estava oficialmente inédita ao vivo. Só por este fato a versão ao vivo se justifica e muito.

A turnê de “A Farewell To Kings” só fez reforçar o contínuo crescimento em popularidade, reconhecimento crítico e amadurecimento musical que a banda vivia. A firme caminhada que se iniciou em 1976, após o lançamento de “2112“, só via passos cada vez mais largos serem traçados. O show do Hammersmith Odeon, de 1978, é a prova cabal desta afirmativa.  A escolha entre comprar a versão que está no bônus-disc do “Different Stages” ou a que vem na versão comemorativa do 40º aniversário do “A Farewell To Kings” é dolorosa. Entendemos que ter o show completo, disponibilizado em 2017 é uma escolha lógica. A masterização de 2017 deu uma aumentada no som geral, mas a versão lançada inicialmente em 1998 já possuía boa qualidade sonora. No fim das contas, como o “Different Stages” também traz um show das turnê dos álbuns “Counterparts” e “Test For Echo”, o melhor jeito é coçar o bolso e adquirir os dois lançamentos.

Bem, chegamos ao final de mais um capítulo. Após o último show, em 8 de abril de 1978, na cidade de Halifax, capital da província canadense de Nova Escócia, encontramos o trio canadense lidando com um novo desafio: superar algo que já os levava ao olimpo musical. Ao entrar em estúdio, em junho de 1978 para o novo trabalho, a banda tinha dois alvos principais: 1) manter e se possível superar o trabalho incrível que entregaram no seu quinto álbum de estúdio;2) Trazer uma continuação que chegasse também no nível da faixa final do álbum em questão, a sequência esperada para “Cygnus X-1 Parte 1: The Voyage”. Os resultados destes desafios virão no próximo capítulo desta discografia.

Keep bloggin’

Abílio Abreu e Alexandre B-side



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