
Pela segunda vez desde que pasei a viver nos arredores de Chicago tive a oportunidade de ver o Iron Maiden ao vivo na terra do Tio Sam, agora pela The Future Past Tour – a anterior havia sido em 2022 durante a segunda parte da Legacy Of The Beast tour, que pela primeira vez contou com faixas do mais recente trabalho “Senjutsu” (a faixa título, “Stratego” e “The Writing on the Wall”).
Desta vez apresentando-se em Rosemont, cidade localizada a menos de dez minutos de distância do aeroporto internacional de Chicago, na agora chamada Allstate Arena – anteriormente o local era chamado de Rosemont Horizon, onde o Iron Maiden já se apresentara outras seis vezes sendo que duas delas (em 1984 e 1987) tornaram-se bootlegs relativamente famosos entre os colecionadores (e disponíveis no YouTube aqui e aqui). Foi portanto a sétima apresentação em Rosemont de 31 shows no total no estado de Illinois, e o 779° concerto da banda nos Estados Unidos. O local não deixa nada a desejar em relação à venue de 2022, o United Center, lar do Chicago Bulls e dos Blackhawks, em tamanho, estrutura e qualidade do som.

A abertura ficou por conta do The HU, banda mongol que mistura música folk local com heavy metal e sobre a qual eu nada sabia além de terem gravado um cover de “The Trooper“. Eram oito integrantes no palco, sendo dois bateristas (ou um baterista e um percussionista, talvez seja a melhor descrição), vocais duplos em diversos momentos (não backing vocals com harmonia, pareciam dobrar mesmo o vocal) e instrumentos “diferentes” que lembravam cellos – aliás a presença de palco dos integrantes me lembrou as performances do Apocalyptica. Houve pouca interação com o público durante o curto set, e em minha opinião foi uma abertura interessante mas não exatamente algo que bate com meu gosto.
Um breve intervalo e “Doctor Doctor” soa nos falantes – e num volume BEM mais alto que as outras músicas que vinham tocando.
Como resenhar um show do Iron Maiden a esta altura? Nos últimos anos desde a revelação dos set lists de cada tour somos bombardeados por fotos, reviews e gravações (algumas quase profissionais) das performances da banda. O elemento surpresa não existe, salvo por raras exceções como a homenagem a Di’anno ou alguma eventual discussão ou comentário de interesse por parte de Bruce. Resta (e é até crime dizer que “resta”, como se fosse algo ruim) sentir o show do Iron Maiden ao vivo, estar no momento e agradecer pela sorte de podermos testemunhar as apresentações da banda.
Não é incomum àqueles que gostam de música o hábito de associá-las a momentos especiais. Aquela letra, aquele riff, aquele solo que te lembra aquele momento, que te transporta… bem, no tempo. E como não viajar àquela primeira vez em que você pôs pra rodar o álbum da capa do ciborgue cheia de detalhes, e ouviu a introdução de “Caught Somewhere in Time”, sendo que esta foi também a música escolhida para abrir o show? E como eu poderia não associar a letra de “Stranger In a Strange Land” à minha situação atual, de imigrante longe de casa?
O show prossegue com as faixas do Senjutsu – “The Writing on The Wall” seguida das inéditas “Days Of Future Past” e “Time Machine”, com as tradicionais interações de Bruce com o público. Bruce aliás falou muito bem: era impressionante a diferença de idade entre muitos dos presentes. Ele perguntou a um garotinho na pista sua idade – 9 anos(!), e fez algumas brincadeiras sobre hoje ter 66 anos e que gostaria de ter uma “máquina do tempo” (mencionando inclusive o DeLorean de Marty McFly e Doc Brown) para voltar à idade do garoto.
A temática do tempo era constante (como não poderia deixar de ser), presente do figurino da banda aos cenários de fundo, dos Eddies no palco às interações com o público. O show conceitual teve um impacto ainda maior para mim (principalmente em momentos como “Heaven Can Wait”) pois eu viajaria no dia seguinte ao Brasil para visitar um parente que faleceria apenas algumas horas depois – ele tivera uma piora abrupta no dia anterior, e o voo na noite de sexta (dia após o show) foi o mais breve que pudemos agendar. Cheguei a desistir do show e vender o ingresso, mas decidi ir de última hora pois seria impossível voar naquela mesma noite – o que explica eu ter ficado tão longe do palco, e não na pista.
Enquanto minha mente viajava entre lembranças boas e a difícil realidade, lá no palco estava o Iron Maiden reiterando a importância que tem não só em minha vida mas também nas da grande maioria daqueles ali presentes. “Alexander The Great” ao vivo, depois de décadas, é prova disso. Bruce ainda discursou sobre família, tradição e lealdade, conceitos que se recusam a morrer. Brincou também com os irlandeses antes de “Death Of The Celts” e fez sua dancinha com Janick durante “Hell On Earth”, outras “inéditas” da noite.
Minhas desculpas àqueles que prefeririam um review mais técnico, algo que na verdade fica bem além das minhas habilidades e conhecimento. Mas fica o registro de mais uma noite épica: deixe para o Iron Maiden a tarefa de nos transportar no tempo e nos fazer refletir ao mesmo tempo em que nos diverte e inspira. Seu legado é definitivamente atemporal.






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Caio muito obrigado por voltar aqui e escrever sobre a sua experiência. Não é preciso nunca se desculpar. Muito obrigado pelo post. Achie muito legal as suas inteirações das suas lembracas com as músicas do Iron (não chamo de Maiden ……..)
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Achei o mesmo do Rolf, uma resenha que alia o emocional ao factual, já que sabemos exatamente quando e quais músicas o Iron vai tocar em todas as atuais turnês já no dia seguinte do primeiro show.
Isso não depõe contra a banda, ainda mais em um momento que precisamos cada vez mais de bandas deste calibre, desta capacidade musical, do real som ao vivo.
Seu texto está excelente, eu só me solidarizo com a falta do seu parente.
Muito obrigado por nos trazer essa experiência
Alexandre
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