Discografia Rush – [Apêndice B]: álbum Permanent Waves – material bônus (disc 2) da versão comemorativa do 40º aniversário: Permanent Waves World Tour 1980

Por ocasião do lançamento da versão do 40º aniversário do álbum “Permanent Waves” (1980), em maio de 2020 a gravadora trouxe em seu cd bônus uma compilação de músicas registradas na “Permanent Waves Tour”, que varreu os EUA, Canadá e Grã-Bretanha durante o primeiro semestre de 1980. Sabe-se que havia a intenção de que a sequência da discografia a partir daquele álbum poderia trazer um álbum ao vivo.  Assim, o grupo teve como estratégia gravar os shows nas cidades onde passaram por mais de uma noite. Em junho, estiveram em Manchester, no Manchester Apollo nos dias 17 e 18 de junho e antes eles haviam tocado por 5 datas (entre 4 e 8 de junho) no Hammersmith Odeon, em Londres.

O material que compõe o conteúdo deste disco bônus vem prioritariamente das 7 datas acima especificadas. A exceção é a versão de “Jacob’s Ladder”, retirada de uma das duas datas (12 e 13 de fevereiro de 1980)  que a banda se apresentou no Kiel Auditorium em St Louis, no Missouri, Estados Unidos. O set list em todas essas datas foi exatamente o mesmo que a banda vinha fazendo por ocasião da turnê principal de divulgação do álbum, com cerca de 2 horas de duração e 28 músicas, conforme abaixo:

O cd bônus disponibiliza 15 das canções da turnê e claramente se entende que, para lançar o restante do show, seria necessário outro cd bônus.  O restante do material não registrado oficialmente deve até estar disponível, mas foi deixado de lado por questões de tempo físico da mídia. Assim ficaram de fora “2112” na íntegra e a parte final do show, a partir de “Working Man”. Há que se considerar que as músicas deixadas de fora dessa edição já haviam sido lançadas ao vivo em diversas outras oportunidades nos 40 anos da banda, mas para quem é fã de uma banda como o Rush, ouvir 1001 versões é bem melhor que ouvir somente 1000. Apesar de boa parte do material seguir a ordem do show, algumas canções estão completamente deslocadas dos set-lists que foram executadas em 1980.

Há 4 versões do 40º aniversário do álbum disponíveis. Duas delas diferem-se principalmente no formato, cd ou vinil, trazendo um material gráfico com 20 páginas. Outra é a versão digital. A versão mais completa, caríssima, traz um livro de capa dura de 40 páginas com fotos inéditas, arte reimaginada pelo designer original do álbum Hugh Syme, um texto com cerca de  12.000 palavras; uma réplica do programa oficial da turnê Permanent Waves de 1980; The Words & Pictures Volume II, uma réplica do raro programa da turnê da banda somente no Reino Unido em 1980; um pôster de parede frente e verso de 24×36 polegadas da sessão de fotos do modelo da capa do álbum original e fotos da banda gravando no Le Studio; três laminados de réplicas dos bastidores da turnê de 1980 dos membros da banda; três folhas de letras manuscritas de Neil Peart para “The Spirit Of Radio”, “Entre Nous” e “Natural Science”; e um bloco de notas de 20 páginas de 5×7 polegadas estampado com papel timbrado do Le Studio.

O material em áudio do cd bônus vem disposto, então, da seguinte maneira:

Beneath, Between & Behind (2:30)

By-Tor & The Snow Dog (5:52)        

Xanadu (12:16)                                     

The Spirit Of Radio (5:08)                

Natural Science (8:46)                   

The Trees (5:28)                                   

Cygnus X-1 Book I: The Voyage (8:05)                              

Prologue

1

2

3

Cygnus X-1 Book II: Hemispheres (14:45)               

I. Prelude

IV. Armageddon (The Battle of Heart and Mind)

V. Cygnus (Bringer of Balance)

VI. The Sphere (A Kind of Dream)

Closer To The Heart (3:26)               

Jacob’s Ladder (7:38)                          

Freewill (5:45)                                      

Obs: Neste formato de apêndice, os comentários do conteúdo musical virão de forma mais concisa, que é mais apropriado para um post que vem com o intuito principal de complementar o post principal. É desta forma que pretendemos fazer com os demais apêndices que virão na sequência desta discografia.

O cd inicia-se de forma até meio estranha, pois a faixa de abertura começa com um fade-in e uma batida na caixa da bateria, como se alguma música tivesse acabado de terminar. Além disso, “Beneath, Between & Behind” era normalmente foi tocada na turnê emendando com “Closer To Heart” e bem mais à frente na sequência do set-list. As maiores mudanças estão em poucas variações do vocal de Lee, um “yeah” em 1:25, entre outras pequenas alterações. É uma ótima versão da boa música do segundo álbum da banda, o estranho é realmente que seja esta a primeira canção do cd bônus. Segue-se “By-Tor & The Snow Dog”, que inicia uma sequência parecida com a que era feita na turnê de 1980. Ouve-se claramente o efeito na voz de Geddy em 1:08, o baixo está bastante alto e a guitarra de Lifeson bem recheada de flanger no trecho antes do solo. Geddy entrega uma linha recheada de improvisação antes e durante o solo de Lifeson, no meio da canção. As viradas de Peart a partir dos 4 minutos são recebidas em ovação pela plateia, que reage a cada intervalo na canção. A música emenda em “Xanadu”, como na tour anterior. A épica faixa tem uma ótima execução, também são poucas variações, em especial nos vocais, por exemplo, em 7.21, ele dá uma economizada em um dos “paradises”, mas em um geral a voz encontra-se em excelente forma. Por volta dos 10 minutos, quando Alex está solando, é possível ouvir com mais clareza a base feita pelos teclados de Geddy. Seguem-se quatro músicas dos shows de Manchester. “The Spirit of Radio”, com seis meses de lançamento, é anunciada e recebida já em ovação pela plateia. As palmas da plateia estão bem audíveis em 1:45 e 2:35, por exemplo. Em 4:42 não há o trecho do piano, como em todas as outras versões da música ao vivo e em 4:55 Alex muda o riff agudo, algo que ele não repetiu depois, pode ter sido algo intencional ou mesmo um erro. Outra música de “Permanent Waves” vem na sequência, “Natural Science”. Tirando um grito de Lee em 2:14, o que se ouve poderia ser confundido com o gravado em estúdio. Também não há os efeitos na voz de Geddy na segunda parte da canção, “Hyperspace”. Em 6:38 o segundo solo da canção nos pareceu ainda mais nítido do que o que está gravado em estúdio, as notas de Lifeson soam muito claramente, uma atrás da outra. É uma ótima versão da faixa que fecha o sétimo álbum da banda.  Depois de um fade-out, vem “A Passage To Bangkok”, em uma versão já disponibilizada no deluxe edition lançado em 2012 do álbum “2112”. Este é um dos melhores solos que Lifeson criou, e esse o trecho intermediário da canção, com Peart usando e abusando dos seus hi-hats é simplesmente sensacional. Segue-se “The Trees”, que é precedida de um trecho em violão acústico diferente do que está no álbum ao vivo “Exit…Stage Left”, havendo rumores que essa seria a introdução original que Alex desejava gravar no estúdio, porém o produtor Terry Brown, cujo apelido é “Broon”, detestava, razão pela qual o trecho acabou não vingando no álbum. A versão que foi posteriormente eternalizada em “Exit… Stage Left” se chama “Broon’s Bane” (“A Desgraça de Broon”), como veremos mais à frente na discografia da banda.  O trecho é lindo, uma aula de bom gosto e apuro clássico de Alex. Segue-se a canção, em uma versão perfeita. A plateia claramente se encanta no trecho intermediário, com os teclados de Lee e a percussão de Peart. Novamente os teclados estão mais presentes, um pouco antes do solo de Alex e também durante o mesmo. O grupo improvisa no final da canção, que infelizmente vai sumindo em um fade-out.

O cd segue com as duas partes de “Cygnus X-1” tocadas na sequência, retiradas dos shows de Londres, porém na “Book II, Hemispheres” a banda não toca as partes 2 e 3 (Apollo e Dionísio). O “Book I: The Voyage” começa com Geddy e seu baixo interagindo com a plateia. Em 4:38 Lee usa um efeito de ‘envelope’ na voz que é auxiliado por seu baixo e com Peart fazendo a contagem do tempo nos hi-hats, um pouco diferente da versão de estúdio. Em 5:30, aproximadamente, começa o trecho onde a nave se desgoverna. Nessa versão, Geddy aparentemente faz uso de um Theremin para gerar sons fantasmagóricos, enquanto Alex faz o ‘crescendo‘ na guitarra e Peart preenche com elementos percussivos. Impressiona a sincronia entre Geddy e Peart nas convenções que se seguem.  Aos 6:15, começa a parte mais pesada e frenética, com vocais altíssimos de Geddy, e a faixa acaba com a sequência de acordes menores dedilhados por Alex repletos de chorus e reverb. “Book II: Hemispheres” inicia-se com o instrumental de abertura tocado perfeitamente pelo trio, e nota-se que os vocais na parte II realmente exigem demais de Lee ao vivo, ficando evidente que ele precise dosar perto dos 3:30. Por volta dos 7:30, a versão ao vivo utiliza os teclados de Geddy no que foi gravado inicialmente em estúdio pela guitarra sintetizada de Alex. Com isso, o trecho é um dos que mais se diferem da versão original, misturando trechos em playback e improvisos de Alex que complementam o que agora é feito por Lee nos teclados. A música segue com Geddy tendo bastante trabalho para adaptar as partes mais altas com notas mais confortáveis até o apoteótico final da parte “V Cygnus (Bringer of Balance)“. Assim como na versão no 40° aniversário de “Hemispheres”, há um desencontro no tempo da entrada do vocal e violão no início de “VI The Sphere (A Kind of Dream)”, porém o curto epílogo acústico é conduzido e finalizado normalmente. A próxima canção é “Closer To Heart”, que tem uma introdução do moog de Geddy, antes propriamente de Lifeson tocar o trecho acústico. Essa é a última música captada nos shows de Manchester. A música se aproxima do arranjo final sem o fade-out do estúdio, de fato eles terminam a canção, mas há um fade-out, que provavelmente foi feito para não ter a emenda com “Beneath, Between & Behind”.  A única música tocada em St Louis desta compilação ao vivo é “Jacob’s Ladder”, e a versão impressiona pela semelhança com o que foi gravado em estúdio. Em 6:52, quase no fim da canção, há uma ligeira mudança nas linhas vocais. Uma performance muito precisa e impecável. O cd termina com “Freewill”, que completa as 4 músicas tocadas do novo álbum na turnê. O solo de Lifeson está mais carregado de efeitos, não é a versão de estúdio exata, mas é sempre um deleite ouvir um solo tão desafiador com uma base muito nervosa de Lee e Peart. Novamente o grupo tem uma performance brilhante.

Você pode ouvir todo o track list deste cd bônus de “Permanent Waves” e também uma entrevista com o autor da capa, Hugh Syme, através deste link:

O cd bônus de “Permanent Waves” só não é melhor porque não traz o show completo e também poderia seguir a ordem dos shows. As performances e a qualidade do som estão impecáveis. A banda se encontrava no auge como músicos, mostrando que o que viria a seguir poderia ser ainda mais sensacional. Fica muito claro entender porque eles gravaram tantos shows na turnê e porque seria muito lógico lançar um álbum ao vivo.  Consideramos que “The Trees”, com um improviso clássico de Lifeson no começo, que é diferente do que viria a seguir no “Exit…Stage Left”, consegue ainda se destacar, no meio de tanta coisa magnífica que é esta seleção de performances ao vivo. Entre as novas, a versão de “Jacob’s Ladder” talvez se destaque e de fato esse material bônus é um presente obrigatório para todo o fã do Rush que se preze.  Aqui nós nos despedimos, pois em breve teremos a continuação da discografia com o álbum que consagrou definitivamente a banda como uma das maiores da história do Rock e um novo apêndice.

Keep bloggin’

Abilio Abreu e Alexandre B-side



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