
Por ocasião do lançamento da versão do 40º aniversário do álbum “Moving Pictures” (1981), em 15 de abril de 2022 a gravadora trouxe de volta uma versão tripla (em cd) e quíntupla (em vinil) de seu mais famoso álbum. A opção por uma versão tripla nas edições de 40º aniversário tinha tido apenas uma outra edição, a do álbum “A Farewell To Kings”. O material extra, que está em 2 cds e 4 Lps, traz na íntegra o set-list dos shows da Moving Pictures Tour. Os áudios foram extraídos da passagem da banda em 1981 por Toronto, no Maple Leaf Gardens, local muito conhecido pelos apreciadores de hóquei, podendo ser considerado o “Maracanã” deste esporte.

Há divergências de informações das datas que foram extraídas as versões ao vivo deste material bônus, pois algumas fontes citam que foram utilizados apenas as canções tocadas no dia 25/03/1981. O mais correto, no entanto, e é o que está no encarte da versão do 40º aniversário, é considerar que tanto o dia 24 como o dia 25 de março foram utilizados para compor a sequência deste material ao vivo. O Maple Leaf Gardens ainda virá fazer novamente parte da história da banda, em várias turnês, e em algumas delas a discografia Rush vai voltar para trazer mais informações. Para isso, é preciso aguardar a sequência dos capítulos.

O fato é que a banda esteve em Toronto para 3 shows na “venue”, a partir do dia 23 de março. O grupo utilizou-se da estratégia de utilizar de locais onde fez vários shows para obter o material ao vivo. Além disso, o local já tinha recebido o grupo por diversas vezes em turnês anteriores. As vantagens desta estratégia vão desde um maior descanso para os músicos passando por uma melhor captação do áudio, considerando que há mais tempo de ajustes, além de ter mais tempo disponível para qualquer ajuste que se faça necessário, uma vez que não há a exigência de transportar o material todo de uma cidade para outra. Também o áudio do show do dia 23 de março foi gravado, e embora não esteja creditado nesta versão de aniversário, pode-se encontrado com facilidade de forma não oficial.


Embora não haja informações que nos indique que alguma dessas versões está no “Exit…Stage Left”, o mais altamente provável é que não haja, já que é possível perceber algumas diferenças entre os dois materiais. Ainda assim, boa parte das músicas lançadas no duplo ao vivo seriam captadas do show imediatamente na sequência da turnê, no dia 27 em Montreal. O set list dos três shows em Toronto foi exatamente o mesmo, conforme abaixo:

Além das versões em cd triplo e cinco Lps, chamadas de Deluxe Edition, há outras 4 versões do 40º aniversário de “Moving Pictures”. A mais completa é a Super Deluxe Edition, além desta há uma versão em Lp sem o material do show em Toronto, uma versão digital para download oficial e duas versões com prensagem de vinil em meia velocidade, uma física e a outra digital, ambas contendo apenas o material original de estúdio, que sofreu um tratamento para dar extrema qualidade de áudio.
A Super Deluxe Edition inclui três CDs, um disco de áudio Blu-ray e cinco LPs de vinil preto de alta qualidade de 180 gramas. O conjunto abrange a edição remasterizada do álbum Abbey Road Mastering Studios 2015 pela primeira vez em CD, junto com dois discos de conteúdo bônus ao vivo que trazem o conteúdo do set-list executado no Maple Leaf Gardens, em março de 1981. O disco de áudio Blu-Ray traz a versão 5.1 em Dolby Atmos, True HD e som surround DTS-HD. Neste Blu-Ray também estão incluídos um vídeo totalmente novo para “YYZ” e os três vídeos promocionais remasterizados para “Tom Sawyer”, “Limelight” e “Vital Signs”. A versão Super Deluxe Edition traz também cinco LPs de 180 gramas, com o álbum original e as músicas dos shows de 1981. O material gráfico inclui um livro de capa dura de 44 páginas com fotos inéditas e novas artes do designer do álbum original Hugh Syme, além de ilustrações para cada música, notas de encarte de vários músicos famosos, baquetas, palhetas, réplicas do programa da turnê, poster, entre outros materiais exclusivos na versão.
As versões deluxe em cd e vinil trazem também extras como um livreto de 24 páginas com fotos inéditas, novas ilustrações e as notas completas do encarte.


Para fins de padronização, traremos nos apêndices as informações sempre no formato de cd. O material dos cds bônus com os shows de Toronto intitulados de “Live in YYZ 1981” vem disposto da seguinte maneira:
CD 2
“2112” – “Overture” (4:26)
“2112” – “The Temples Of Syrinx” (2:17)
“Freewill” (5:51)
“Limelight” (4:47)
“Cygnus X-1 Book II: Hemispheres” – “Prelude” (4:23)
“Beneath, Between & Behind” (2:51)
“The Camera Eye”((two unnamed movements) (11:02)
“I” (5:49)
“II” (5:13)
“YYZ” (7:55)
“Broon’s Bane” (0:50)
“The Trees” (4:20)
“Xanadu” (12:48)
CD 3
“The Spirit Of Radio” (5:24)
“Red Barchetta” (6:55)
“Closer To The Heart” (3:42)
“Tom Sawyer” (4:59)
“Vital Signs” (5:23)
“+ Plus” (0:53)
“÷ Divided By” (0:30)
“= [Shape-Shifter]” (0:26)
“− Minus” (0:28)
“× Multiplied By” (0:31)
“= [Solf-Filter]” (2:34)
“Natural Science” (8:29)
Medley:” Working Man” /”Cygnus X-1 Book II: Hemispheres” – “Armageddon: The Battle Of Heart And Mind” / “By-Tor & The Snow Dog” / “In The End” /”In The Mood” / “2112” – “Grand Finale”(12:32)
“La Villa Strangiato” (10:03)

Obs: Em todos os apêndices da discografia Rush, os comentários do conteúdo musical virão de forma mais concisa, que é o mais apropriado para um post que vem com o intuito principal de complementar o post principal. É desta forma que pretendemos fazer no próximo apêndice que já está programado na sequência desta discografia, bem como qualquer outro que eventualmente seja produzido. Novamente há a possibilidade de comparar as versões de 1981 com as versões de estúdio ou com outras versões das outras turnês do grupo, inclusive as versões que serão melhor detalhadas no próximo capítulo, o 11º, que contempla o “Exit…Stage Left”.

O álbum começa com as duas primeiras partes de “2112”. Enquanto se inicia o playback de “Overture”, o grupo testa os equipamentos, há acordes de guitarras, viradas de bateria. Em 1:05 os delays de guitarra soam ligeiramente diferentes, comprovando que os canadenses são seres humanos. Em 1:55 Lee atinge os agudos, mas não estica as notas. Em 2:00 há o acréscimo bem-vindo do Moog Taurus Bass Pedal. A bateria se encontra em ótima mixagem, ouve-se cada nota. Alex coloca um flanger bem pronunciado também. Em 3:06, começa o solo do guitarrista, bem parecido com o original, ligeiramente acelerado no tempo em 3:25. Segue-se “The Temples of Syrinx”, com Lee quase não pronunciando a primeira palavra da letra da canção, naquele usual desencontro entre vocal e guitarra já visto em versões anteriores. Os agudos estão bem firmes, não há aquele eco exagerado de algumas outras versões ao vivo. Em 1:33, uma virada usando os toms mais agudos chama bastante a atenção. As duas primeiras partes do da faixa-título do álbum “2112” são trazidas com excelência vigorosa, e Neil acrescenta algumas batidas ao fim da canção. Segue-se “Freewill”, em uma versão bastante próxima a do “Exit…Stage Left”. O baixo também se destaca em uma mixagem que está bem cristalina. Este “Live in YYZ 1981” apresenta um volume médio maior que álbuns das décadas de 70 e 80 presentes no formato digital, como por exemplo o “All The World’s a Stage” ou o “Exit…Stage Left”. Chegamos na parte do solo, percebe-se mais claramente a exuberância da condução da cozinha, os pratos bem audíveis e o timbre de baixo beirando o distorcido. O solo, um dos melhores de Alex, está praticamente perfeito, pouquíssimos detalhes por volta dos 3:41 não estão 100%. Não há a reação pós solo da plateia que salta aos ouvidos no “Exit…Stage Left”. Lee interage com a plateia, dizendo ser a última noite em Toronto, e anuncia “living in the Limelight”. A música se destaca neste cd bônus pelo simples fato de não estar presente no álbum ao vivo de 1981,, porém consta da versão em vídeo de “Exit…Stage Left”, com veremos mais à frente no avançar da discografia. É uma versão incrível, com as viradas na caixa impressionantemente rápidas “dando as caras”. O solo deixa um eco infinito para a última nota, enquanto percebemos que Lifeson já retornou para a base da canção. Versão espetacular, que por si só já vale cada centavo gasto em comprar esta versão de aniversário de “Moving Pictures”. Outra canção da fase de ouro se segue, “Cygnus X-1 Book II: Hemispheres”, mas apenas em sua parte chamada “Prelude”. Em 1:57, novamente o Moog Taurus Bass Pedal ajuda Lee a preencher a base da canção, enquanto o baixista desfila competência na linha de seu instrumento principal. Em 2:43 Lifeson inclui o flanger de seu electro harmonix electric mistress, enquanto em 2:49 ouve-se Neil contar a marcação da pequena pausa na canção. O trecho cantado nos parece bem mais acelerado que a versão de estúdio e Geddy dá seu jeito para cantar as notas altíssimas que sempre lhe causaram problema nos shows ao vivo. A sequência traz “Beneath, Between & Behind” separada do medley com “Closer To The Heart”, medley este que era feito até os shows de aquecimento desta turnê. Lee controla as pausas em 1:43, no refrão da canção, que tem um registro especialmente alto. Outra música do então novo álbum que não está no “Exit…Stage Left” é a próxima, a canção que abre o lado B de “Moving Pictures” “The Camera Eye”. Há um errinho em 1:11 em um dos harmônicos de Lifeson, coisa mínima. Os shows gravados são quase os do fim da turnê, claramente o quão entrosados e à vontade os canadenses estão na execução de qualquer canção, mesmo as mais novas. A música rende muito bem ao vivo. O solo está muito bem executado, nota após nota com muita clareza. O final traz mais teclados, viradas de bateria, uso do tubular-bells, ótima versão. A banda emenda com mais uma das novas canções, anunciada por Geddy Lee: “YYZ” que traz um solo de bateria antes do solo de guitarra, como no “Exit…Stage Left”. As viradas revezadas entre Lee e Peart, pouco antes do solo deste, estão perfeitas. Até o efeito de modulação na última frase do baixo de Geddy é ouvido com perfeição. Em 2:23 Neil começa aquele solo fantástico, com ligeiras variações em relação ao que se ouve no duplo ao vivo de 1981. Em 5:45, a canção retorna com o igualmente ótimo solo de Lifeson. É uma ótima execução, embora acredita-se que o que é feito no “Exit…Stage Left” é o que mais leveza e fluidez apresenta. Lee apresenta Lifeson já executando no violão uma linda versão de “Broon’s Bane”, executada com palheta, diferentemente da versão de “Exit…Stage Left” que ele dedilha com os dedos da mão direita. A versão também é menor que a que foi eternizada no álbum ao vivo que será o objeto do nosso próximo post. Segue-se “The Trees”. O solo de baixo no início está com um chorus bem acentuado. Ouve-se novamente Peart efetuar a contagem do tempo da canção na parada para a primeira estrofe, em 0:38. O trecho intermediário, antes do solo, é de uma sonoridade bem transparente, a percussão de Neil, a guitarra de Lifeson e os teclados com ligeira variação de Geddy. “Xanadu”, a última deste cd, já começa no corte da mídia trazendo o fim de “The Trees”. Ouve-se o moog de Lee mudando de oitava no início da canção de forma bem mais clara. Algumas notas no baixo doubleneck são acrescentadas em 2:00 aproximadamente. Em 8:04 Geddy dá aquela economizada em um dos seus “paradises”, como fazia volta e meia. Mais uma vez, em 12:01, ouve-se a contagem de Peart para o término da canção.

O cd 3 começa com “The Spirit of Radio”. As versões neste “Live in YYZ” 1981 são bem menos tratadas ou processadas que os duplos ao vivo registrados na época de seus lançamentos. Assim, alguns instrumentos ficam mais ou menos audíveis, dependendo de quais destas versões serão comparadas. O contratempo (hi-hat, chimbáu) de Peart está bem pronunciado, o que é excelente, pois o músico dá uma aula na canção. Além disso, o sequenciador do sintetizador de Lee em 1:25 está bem mais audível e com uma sonoridade mais aberta que as demais versões conhecidas, tocado uma oitava acima da gravação de estúdio. Geddy tenta caprichar na pronuncia italiana ao anunciar “Red Barchetta”. Não só no início da canção, mas também no trecho que diz “a brilhant Red Barchetta” em 2:17, enfatizando os “r”s e o “k” de Barchetta. Lifeson dá uma ligeira acelerada em uma nota de seu solo, em 3:41, algo quase imperceptível. O violão de “Closer To The Heart” no início da canção está também bastante nítido, uma ótima adição para este “Live in YYZ 1981”. No final, há mais alguns fills de Neil Peart à bateria. Geddy anuncia “Tom Sawyer” para incrível reação da plateia. Talvez Alex tenha se antecipado minimamente ao fim do solo, para voltar ao riff principal, coisa de “milésimos de segundo”. Diferentemente da versão de estúdio que acaba num fade-out sem graça, aqui a banda faz um final propriamente dito. Inicia-se o sequenciador de “Vital Signs”, outra canção nova que não está no “Exit…Stage Left”. É impressionante como Geddy consegue cantar e fazer o riff do sequenciador no baixo ao mesmo tempo. A caixa de Peart no refrão está bem mais orgânica do que no álbum de estúdio, que tem a sonoridade eletrônica. É sem dúvida uma versão bem mais vigorosa do a que está registrada no “Moving Pictures”. O final é mais apoteótico, cadenciado para seu término. Ah, e Geddy não canta “evelate”. Outra música inédita dos shows de 1981 é “Natural Science”, que prepara o show para o seu fim. O trecho principal, no qual Geddy canta as estrofes, tem uma acelerada no seu ritmo. A banda encerra a parte principal da apresentação atacando um medley que começa em uma versão incrível de “Working Man” em ritmo de reggae. O ritmo se mantém durante as três primeiras frases, para seguir em seu estilo padrão. Após cantar o título da canção, o medley já segue para a parte instrumental de “Cygnus X-1 Book II: Hemispheres” – “Armageddon: The Battle Of Heart And Mind”. Uma breve pausa, e aí vem “By Tor & The Snowdog”, com os vocais agudíssimos de Geddy iniciando o trecho instrumental com solo de Lifeson e um show de Peart e Geddy segurando tudo ao fundo. Eles seguem para o trecho com diversas paradas, e ali pelos 6 minutos da canção trazem “In The End”. E antes dos 8 minutos, eles emendam com “In The Mood”, totalmente modificada nas linhas de bateria por Peart. Novamente há o trecho do solo de Lifeson, onde Peart e Geddy fazem literalmente o que bem entendem, trazendo aquela característica de parecer que todos estão solando ao mesmo tempo. O medley termina com a parte final de “2112” – “Grand Finale”. O bis é inevitável, e eles voltam para uma versão completa de “La Villa Strangiato”. No começo da música, Alex faz uma rápida brincadeira, acompanhada pela percussão de Neil. O lindo solo, ali pelo meio da canção, em cerca de 5 minutos, também sofre ligeira alteração para as demais versões conhecidas, inclusive a de estúdio, e pode-se perceber em um pequeno intervalo ainda no início dele os gritos da plateia, vibrando com o momento. O show não poderia terminar em melhor forma.

Você pode ouvir, por enquanto, todo o track list deste cd bônus de “Moving Pictures“, a partir daqui.

Ouvir este “Live in YYZ 1981” pode transformar 2 horas da vida de qualquer um em meros segundos, tamanha a qualidade do material, quase perfeição na execução e brilhantismo dos músicos canadenses. Tudo está muito bem gravado, mas os sintetizadores em especial estão mais altos e soam ótimos. Viva o Moog Taurus Bass Pedal! A parte em reggae de “Working Man” é de uma sacada ímpar da banda, imaginem isso em 1981, em plena ascensão e domínio do The Police. Evidentemente também são diferenciais incríveis faixas dos últimos álbuns que não estão no “Exit…Stage Left”. Assim, é de abrir um sorriso sem tamanho acompanhar “Vital Signs”, “Natural Science”, “The Camera Eye” e talvez a mais esperada, “Limelight” em versões no auge da carreira do trio canadense. Esse é provavelmente o melhor material em versão bônus de aniversário que até hoje a banda nos brindou. Bem, aqui nos despedimos para em breve trazer aquele que foi um dos álbuns ao vivo das nossas vidas, o já tão citado “Exit… Stage Left”. Até breve e….
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Abilio Abreu e Alexandre B-side
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Discografia Rush – parte 15 – Power Windows – 1985
Discografia Rush – Parte 14 – álbum: Grace Under Pressure Tour – 1984 – (Rush Replay x3 -2006)
Discografia Rush – Parte 11 – álbum: Exit… Stage Left – 1981 – (Rush Replay x3 – 2006)
Discografia Rush – Parte 10 – álbum: Moving Pictures – 1981
Excelente resenha. Me faz ter vontade de reconferir a discografia.
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Amanhã tem mais, adianto-lhe….
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