Discografia Bruce Dickinson – Episódio 3.5 (2025) – MORE Balls to Picasso

Fato 1: Todo artista é livre para fazer o que bem entender.
Fato 2: Quando alguém, em qualquer lugar que eu estou, diz no microfone que vai fazer uma “releitura” de uma determinada música, me sobe um frio na espinha que me paralisa alguns segundos.
Fato 3: O fato 2 não é diferente quando o alguém é Bruce Dickinson.

Você, que acompanha a carreira solo do nosso vocalista preferido, Paul Bruce Dickinson, deve já saber do lançamento de “More Balls to Picasso” – o “novo álbum” de Bruce que eu resolvi adiantar aqui na discografia, já que eu estava curioso para ouvi-lo e também porque, já que eu estou escrevendo a discografia em ritmo “devagar, quase parando”, é mais fácil já passarmos tudo o que envolve o Balls to Picasso de uma única vez, assim, se você não gosta de Hard Rock (como eu), já descarta tudo o que for do gênero agora antes de entrar em álbuns mais icônicos da discografia. Brincadeirinha. Mas na verdade é porque eu não preciso descrever as músicas novamente e falar dos singles ou da turnê da época e, assim como o Jaiminho, o carteiro, eu evito a fadiga.

Nunca é demais lembrar que Balls to Picasso foi o primeiro álbum solo de Bruce após ele não estar mais no Iron Maiden e de como a vontade que ele tinha de fazer algo totalmente diferente do que era feito na Donzela estava a mil por hora. Desnecessário lembrá-los que o resultado é inusitado, mais voltado ao Hard Rock (o início dos anos 90 estava com o Grunge em ascensão) e que, apesar de ter bons momentos e gerar o hit máximo de sua carreira solo, ele não é um álbum memorável quando comparados a outros que vieram alguns anos a frente.

O que nosso vocalista fez nessa releitura do álbum foi adicionar arranjos e mexer na mixagem. Foi pelo menos isso que eu tinha lido antes de ouvir o álbum. Apesar das faixas virem com o rótulo de “reimagined version”, devo dizer que a reimaginação aqui descrita não é de todo impactante. O frio na espinha que tinha me paralisado foi mais cruel na minha expectativa do que durante a audição do álbum.

Algumas coisas que ficaram muito claras no som dessa nova versão do álbum estão nas cordas. O baixo está muito mais alto e limpo – é possível ouvir linhas de baixo que um ouvinte desatento nem saberia identificar na versão de 1994. Já as guitarras ganharam em peso e em camadas. Canções como Cyclops e Hell No, as primeiras do álbum, possuem esses atributos cuspidos nos seus ouvidos, além de uma frasesinha de guitarra que foi inserida aqui ou ali, mas que para efeito do todo da faixa, não é algo que impacte a audição.

Gods of War deu mais destaque à voz de Bruce, principalmente no refrão, meio que distanciando-a dos instrumentos e dando um pouco mais de protagonismo. Mas tirando o refrão, é como se a faixa praticamente não tivesse mudado. O mesmo posso dizer da quarta faixa 1000 Points of Light, que teve uma frase rápida de guitarra inserida no refrão (acho que é um tapping), mas que se manteve praticamente original no restante da canção. Nessa faixa (assim como em excertos de outras canções), Bruce fez sobreposição de voz, que nada mais é que gravar novamente a mesma linha melódica em uma terça, uma quinta ou uma oitava do que foi originalmente gravado e sobrepor os áudios. O Sonata Arctica é campeão nesse efeito e, por isso, eu pessoalmente estou muito acostumado com ele, o que acabou sendo curioso ouvi-lo com a voz de Bruce. Quem não é do Power Metal pode torcer o nariz…

Laughing in the Hiding Bush teve seu som de guitarra meio abafado, principalmente no riff principal que acompanha a canção. Acho que esse é o adjetivo certo, abafado. Essa eu não gostei, acho que a versão oficial, com o riff mais limpo, tinha mais presença. E tirando esse ponto nada mais mudou na música que seja crucial mencionar.

Change of Heart tem teclados e orquestrações adicionadas que, aqui sim, vestiram a música com uma nova roupagem. Agora sim, temos a primeira música no álbum que realmente teve alguma alteração impactante e, para o meu gosto, uma alteração muito positiva. O refrão teve ganho de volume instrumental, as partes paradas ganharam em beleza, com nuances calmas e bonitas. O bongo também ganhou clareza e volume (uma pena que é um bongo, paciência).

Shoot All the Clowns teve ganhos nos backing vocals, metais e teclados inseridos. Sim, você leu direito: metais! Instrumentos de sopro! Me lembrou algumas levadas que os Los Hermanos fazem ao vivo (e isso não é algo ruim, eu adoro Los Hermanos e os metais trouxeram algo que foi realmente novo, já que é a intenção do álbum). A guitarra base também teve um bom ganho de volume e limpeza, o que trouxe mais alma à parte rítmica.

Fire volta a ter as alterações das maiorias das músicas – ou seja, nada de relevante para uma mudança na intenção da canção. Essa música tinha muito peso na versão original e o peso ficou menos agressivo. Sacred Cowboys tem uma guitarra base também com mais base e um refrão com mais acréscimos instrumentais. Acabou sendo interessante ouvir, mas, novamente, nada com uma mudança impactante.

Para encerrar as faixas de estúdio, o carro chefe não só do álbum, mas da carreira toda de Bruce. Tears of the Dragon tem orquestração, exatamente como quando o Iron Maiden lança um single que tem uma música de estúdio como sendo “Orquestral Version”. Além disso, uma guitarra base mais alta. Nossa, eu li tanta porcaria de gente falando mal dessa música na internet que só me deram mais motivos para eu dar razão ao Rolf (infelizmente né – quem gosta de dar razão para o Rolf?!). Antes a música realmente tivesse algo diferente que fizesse os fãs torcerem o nariz de verdade, só que não. Quanta gente que não sabe o que está falando, impressionante!

A nova versão de Balls to Picasso vem com duas faixas gravadas ao vivo em estúdio: Gods of War e Shoot All the Clowns. Ambas estão na “nova versão”, o que não significa nada relevante em termos de mudança, como já coloquei (nem se nota alguma diferença relevante). Porém, Bruce ao vivo é melhor que Bruce de estúdio! O sessentão voa ao vivo!

Mas enfim, se era para ser uma releitura ou uma versão repaginada, minha opinião é que Bruce pegou leve. Deveria ter arriscado mais, mas muito mais! Em alguns casos o peso original das canções se perdeu para entrar um apanhado de guitarras sobrepostas que não eram necessárias. Tirando Change of Heart e Shoot All the Clowns, as canções soaram “mais do mesmo”, mostrando algo que se opõe ao rótulo de “reimagined version”. Faltou trazer uma versão alternativa de letra, uma mudança de andamento, um novo solo, um novo arranjo, sei lá, algo que realmente impactasse o ouvinte.

Pensa que Bruce tinha um carro azul escuro e daí ele diz para todo mundo que comprou um carro novo. Só que é um modelo igual ao que ele tinha e a cor agora é azul claro. Álbum desnecessário, por soar muito mais como um “mais do mesmo”.

Recomendo você ouvir a tirar suas próprias conclusões:

O álbum pode ser encontrado em CD (aqui no Brasil a tiragem inicial é de 1000 cópias – e eu duvido que haja nova tiragem) ou você pode encomendar seu LP duplo bonitão:

Vamos publicar logo o post do Accident of Birth e seguir essa discografia.

Beijo nas crianças!
Kelsei



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10 respostas

  1. Eu jurava que quem tinha começado a escrever o post tinha sido o Rolim. Mas o Kelsei conhece demais de tudo do multiverso do Donzela A conexão do texto com a questão do “frio da espinha” ficou sensacional ………….. A parte de “dar razão” dei risada aqui….

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  2. Eu peguei pra ouvir o “More Balls to Picasso” sem pegar a versão original (ou remasterizada) para relembrar – julguei que não precisasse, mesmo não tendo ouvido o álbum por inteiro há alguns anos. Sendo assim eu fiquei um pouco espantado ao NÃO notar muitas mudanças, porque minha expectativa era de ter versões… bem, de fato reimaginadas!

    Depois de passar pelo álbum notando apenas algumas mudanças aqui e ali e de ter pensado que minha memória estava me traindo, peguei o anterior pra ouvir e pus até música a música (Cyplops “velha” e em seguida “Cyclops” nova, e assim por diante). Cheguei à mesma conclusão: pra toda a propaganda que foi feita, com direito a brigas online entre fãs “velhos e novos” e até comentário de Roy Z, o resultado foi bem menos impactante do que o esperado.

    E em minha honesta opinião, melhor assim. Há exemplos de “reimaginações” muito bem feitas, com mudanças grandes mas que levaram a um bom resultado. Mas há também resultados DESASTROSOS por aí – alguém se lembra de “Unarmed” do Helloween? Nem a própria banda gostaria de se lembrar…

    Não que “More Balls” seja ruim (eita… esta frase ficou estranha) mas me parece mais as versões orquestradas ou remixadas que viraram b-sides do que, de fato, um álbum reimaginado.

    Ah, e faltou mencionar uma boa mudança: Bruce tirou aquele “arriba arriba” do começo de Sacred Cowboys. Já valeu o relançamento! 😀

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    • Olha, eu ia fazer isso no início. A ideia principal era fazer uma comparação faixa a faixa com o álbum original, mas já na primeira audição do More Balls isso foi por água abaixo.

      E que fique registrado nos autos desse blog que eu sou o único que gosta do Unarmed! rsrs

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    • Olha, por aqui também conferi o álbum por streaming e compartilho as opiniões do autor e do Caio por aqui. Muito barulho para pouca coisa. Eu diria que a maioria do que está “diferente” beira a irrelevância. Um caça-níquel como há tempos não se via na indústria, e talvez uma resposta de Bruce a toda essa questão do desentendimento de algum tempo agora com Roy Z, que, como diria o Craque Neto (diga-se de passagem), é uma grande pena…

      Ficam aí as observações já mencionadas e um destaque para Tears Of The Dragon, que acho que “puxa” o lado comercial para esse relançamento… alguém acha que não tem esse foco também?

      Enfim… quem gosta do álbum, vai seguir gostando. Quem não gosta, não vai achar lá grandes motivos para passar a gostar… e eu prefiro a Tears original…

      [ ] ‘ s,

      Eduardo.

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  3. Ah, o bom humor…. O bom humor destes posts às vezes vale até mais que seu conteúdo. As menções ao Rolf, o frio na espinha ( já mencionado pelo próprio) , os metais a la Los Hermanos ( que eu não gosto, aliás…)

    Versões orquestradas : Se não for balada, dificilmente cai no meu gosto, alguns poucos fazem bem – acho que o Rush foi bem no último de estúdio, mas aí não tinha como comparar, não havia outras versões das canções. O pior é ouvir a original e emendar um arranjo cheio de ideias depois….sei lá, hein.

    Bem, eu escrevi isso tudo aí em cima e faltou só um detalhe. Ouvir o more balls. Então vou parar tudo aqui e depois voltar com calma, e se eu achar importante, vai ter de rolar aquela comparação faixa a faixa.

    Enquanto isso, ali, no finalzinho do post, “o melhor momento do futebol” ; Accident of Birth vem aí, isso é que é golaço…

    Eu volto, diria o Arnold

    Alexandre

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    • A banda Skin gravou com o Bruce na primeira tentativa de composição do álbum e o resultado não foi aprovado. O produtor, Keith Olsen, jogou tudo fora e Bruce regravou tudo do zero com a Tribe of Gypses.

      O que esse cara está falando é que existe material da Skin que sobreviveu e foi usado oficialmente no álbum sem o nome dele. Mas aí ele teria que ter brigado já no primeiro lançamento do álbum não?! O tal do “direito autoral” só funciona com o nome do compositor oficialmente na faixa, né?!

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  4. Bem, eu voltei aqui, depois de um comentário prontinho que foi pro lixo, sabe-se lá o porquê, para fazer de novo os meus apontamentos sobre essa versão more ball do álbum.

    Realmente as mudanças são sutis, eu percebi uma certa tendência em acrescentar cordas orquestrais (provavelmente por sintetizadores), mais percussão, guitarras mais cheias. Cyclope de cara mostra uma linha de cordas que não aparecia na original.  Hell No capricha na percussão, Gods of War tem mais orquestra ou podem ser guitarras para acrescentar no arranjo. 1000 points of light tem tem umas linhas guitarras agudas e limpas que se juntam a teclados no refrão, mas eu esperava mais percussão na parte “Olodum” da canção, não aconteceu, pois ali é batera mesmo, rufadas na caixa, e eles mantiveram o original. Laughing in a Hidding Bush tem guitarras mais pesadas, as tais abafadas que foram reclamadas pelo o autor do post, eu gostei. Tem um efeito meio fantasmagórico nas estrofes, devem ser efeitos acrescentados na mix.

    Change of Heart, por ser balada, recebeu muitas mudanças, com mais linhas de cordas (feitas por sintetizadores, eu acho), e funciona muito bem, eu gostei, é uma das que mais mudou.

    Os metais de Shoot All The Clowns deram uma modernizada no som, um acento mais pop que faz sentido, por ser uma das músicas de trabalho. Eu prefiro sem esses acentos de metais, mas entendo que é coerente acrescentá-los.

    Fire tem mais peso e uma linha de baixo que aparece mais no início. Sacred Cowboy sem o “arriba” ficou duzentos por cento melhor, o Caio tem inteira razão.

    E a grande mudança foi no single Tears of The Dragon, que tem de fato uma orquestra de verdade ali atuando, com ênfase nos violinos, violas, violoncelos, mas também nas percussões sinfônicas, como tímpanos, pratos e sinos. Eu gostei desse novo approach orquestral, que sempre combina com as baladas.

    No conjunto da obra acho que ficou bem legal a nova versão, mas não depõe em nada no lançamento original. O atual momento tecnológico fez o álbum ficar mais parrudo, mais alto, mais nítido, sem os exageros que comprimiram os cds na época da guerra de loudness.

    Aprovei, mas quem quiser a versão original tá muito bem servido também.

    Alexandre

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  5. E ouvindo os dois álbuns para análise, acabei achando essa versão de 2001 também bem diferente de Tears of The Dragon. O solo é bem mais fraco, mas o restante também eu achei bacana.

    Aproveito também para escrever que gostei das versões live in studio 2025 de Shoot All The Clowns, principalmente e também Gods of War, embora essa o solo seja pior que o original. Foram gravadas agora ? Se foram, Bruce tá muito bem. E qual é a banda?

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