O que o Rei e o saudoso guitarrista prateado do KISS poderiam ter em comum?

Hoje é antevéspera de ano novo, e finalmente as coisas deram uma relativa diminuída de ritmo por aqui. Em um dia no qual poucas coisas associadas a trabalho foram por mim produzidas e não havia outras questões mais pessoais para cuidar, não é que sobrou um tempo pra fazer o tal quase nada? Finalizei uma leitura da biografia do Eric Carr, atualizei algumas séries de streaming que estavam pelo meio e dei as caras no Minuto HM, botando alguns comentários em dia.

Dali surgiu a vontade de um último post, mesmo sem pauta nenhuma. Com o YouTube rolando em paralelo na TV, desencavei um assunto que junta Roberto Carlos ao saudoso Ace Frehley, que nos deixou este ano. Aliás, o incauto leitor que estiver passando as vistas por aqui vai talvez se surpreender pelo simples fato de não ser este o primeiro post no Minuto HM no qual o assunto é o rei Roberto Carlos. Basta clicar no nome Roberto Carlos acima para ler o incauto amigo Rolf atacando na cobertura de um show de RC. Voltando ao assunto deste texto, o que é ainda mais inusitado é que o conteúdo vai se associar a um assunto pelo qual eu convivi com muitos amigos talentosos, mas que nunca teve nas minhas mãos sequer um décimo do talento desses amigos: o baixo.

Zapeando pelo YouTube, veio a sugestão para ouvir um músico brasileiro interpretando as linhas de baixo de uma canção do Rei. Eu, que me considero um conhecedor da fase mais clássica de Roberto, e que sempre admirei os arranjos, as harmonias, as linhas orquestrais da boa fase do cantor, que para mim chega até 1977, pelo menos, sempre também coloquei o baixo como foco da minha atenção em suas músicas.E quando o assunto é baixo, na fase clássica do Rei, ele atende por um nome: Paulo César Barros.

O incrível instrumentista, que era irmão de Renato Barros, ambos formadores da banda de rock Renato e Seus Blue Caps em 1959, tocou com Roberto Carlos em 99% do que o Rei produziu na fase clássica, mesmo quando RC começou a gravar seus álbuns nos EUA. Roberto simplesmente não encontrou nos ‘States’ um músico como Paulo César. Para todos os outros instrumentos, os maestros americanos traziam gente e mais gente com qualidade de sobra. Na hora de colocar o baixo, Roberto reclamava dos gringos, pois, segundo ele, faltava a ginga do seu compatriota. Ginga essa que fez Paulo Cesar não ser apenas uma presença constante nos discos de Roberto, mas também em uma quantidade incalculável de outros artistas brasileiros, de todos os gêneros. Quem não conhece a história de PC e gosta de baixo, não sabe o que está perdendo. E entre as músicas que tiveram o privilégio de ter o grande Paulo Cesar Barros, eu posso destacar, sem pensar muito, a linda harmonia que ele deixou em Gita, de Raul Seixas:

Deixando os devaneios de lado, e tentando, ainda que de forma meio infrutífera voltar ao assunto, zapeando no YouTube dei de cara com um ótimo instrumentista, Cláudio Machado, trazendo as linhas da canção “O Homem”, do álbum de 1973 de Roberto Carlos. Trata-se de outra performance inquestionável do ponto de vista musical no instrumento, muita criatividade em uma linha muito melodiosa. Aceito qualquer crítica que venha a respeito do tema da canção, ou mesmo do arranjo (que eu gosto, by the way) talvez muito carregado de metais, mas se há algo indiscutível aqui é o que é desenvolvido no baixo.

Opa, mas foi aqui que surgiu o tema deste post, pelo simples fato do baixo ser produzido com o uso de palhetas, e Paulo Cesar Barros normalmente não usava palhetas em suas linhas. A surpresa seguiu-se pela possibilidade do baixo não ter sido gravado por PC Barros, fato que o próprio Paulo Cesar confirmou nos comentários do vídeo, generosamente, atribuindo a um músico americano a gravação da canção, imagino, por problemas de agenda. Paulo gravou certamente quase todo o restante do álbum, mas curiosamente não é dele a linha de “O Homem”.

O comentário de Paulo Cesar eu reproduzo abaixo:

“Fique tranquilo, Claudio. Vou tirar a sua dúvida atroz. Como já se tornou público e notório a minha participação nos Lps de Roberto aliás, com extremo prazer, me senti na obrigação de tirar não apenas as suas dúvidas, mas também dos músicos em geral. Desde 1963 que gravo com o Roberto até 1981, e faixas isoladas nos anos 90 e 2000. Em 1973, eu colocava os baixos no Brasil, mas essa e talvez mais uma creio, quem executou o baixo foi Will Lee que alguns anos após viria se tornar um grande amigo em NY.”

Agora sim, elucidada a questão do uso da palheta, algo incomum por Paulo Cesar Barros, surgiu outro ponto de atenção, o nome Will Lee. Esse nome não me era estranho mesmo… e eu, contumaz devorador dos créditos dos álbuns que comprava, em especial nos anos 70 e 80, até não tive muita dificuldade de associar o nome Will Lee à sua participação em três das nove faixas que estão no álbum solo de Ace Frehley, ainda no KISS, em 1978. Entre elas, ” I’m in Need Of Love”, coincidentemente, a minha faixa preferida do álbum

Ta aí, portanto, justificado o título deste post inusitado, criado meio de improviso, no final de um ano do qual eu não posso me queixar. Como adendo, Will Lee participou como músico de apoio do famoso programa americano de talk show de David Letterman, o Late Night, por anos a fio. E o baterista mais frequente junto a Will era justamente Anton Fig, que toca não só toda a bateria do álbum solo de Ace ainda no KISS, mas também participou de outros momentos junto ao guitarrista prateado, dentro e fora do KISS. Fica meio claro que Ace, em 1978, gravando seu álbum solo, em algum momento deve ter deixado de lado a linha de baixo das 3 canções ( além da citada “I’m in Need Of Love”, também “Ozone” e ” Wiped-Out”) fazendo com que Eddie Kramer, o produtor, buscasse auxílio para completar a tarefa. Nada mais lógico do que ter Will Lee, parceiro de Anton Fig e experiente músico de estúdio, que traz em seu currículo a participação junto a Letterman também enquanto o host tinha a orquestra CBS a seu dispor no programa. Aliás, vale lembrar que o selo de Roberto Carlos sempre foi a CBS. Tudo se encaixa, portanto.

Até a improvável associação do eterno Ace Frehley ao imortal Rei Roberto Carlos, vejam só…..

Antes de terminar o post, porém, preciso agradecer não só o Cláudio Machado, mas também ao Per Ivar Stubbrud e ao Thalles Macedo por nos brindarem com verdadeira aulas de execução das linhas incríveis de baixo deste conteúdo.

Saudações e um ótimo 2026 para todos!

Alexandre B-side



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