Isso aqui não é uma crítica com relação às músicas ou aos grupos votados ou deixados de lado no programa anual produzido pela rádio KISS FM. Também não é uma crítica à emissora, que hoje é um dos poucos meios de comunicação que se dedicam a um estilo que nunca foi comercial em nosso país, independente do que ela toca ou deixa de tocar.

Em uma bela manhã ensolarada desse início de 2024, o presidente do blog me manda uma mensagem assim: “olha seus posts da KISS fazendo sucesso”. Quando vi a tela do meu Whats, em uma única manhã, todos os posts das análises que criei estavam sendo acessados e o do último ano tinha quase duzentos acessos. Até novos comentários apareceram, o que me levaram a escrever esse próximo parágrafo.

A votação da Kiss FM é feita com base em um login na página da emissora. Você vota quantas vezes quiser. Em quantas músicas quiser. Basta ficar repetindo o processo. Eu, pelo menos, nunca vi um filtro ou algum tratamento existir para que isso fosse barrado (nessa última votação, eu não votei, até porque novamente eu iria eleger o Caligula’s Horse e como eles não tem clássicos nem tocam na rádio, a aparição dos australianos que eu considero a melhor banda de prog metal que surgiu recentemente no planeta Terra seria muito difícil). Portanto, é comum ter um “pé atrás” em relação à veracidade da lista – não dá para saber realmente quantas pessoas físicas votaram e se todas elas são ouvintes mesmo da rádio. A análise que eu faço é em cima dessa lista e é “o que tem para a janta”. Vale a brincadeira! Bora analisar os números de 2023?

E não é que esse ano resolveram aprontar? Todos os indicadores que eu costumo analisar ficaram muito alterados, só para facilitar a minha vida.

– Considerando as últimas três votações (2022, 2021 e 2020), tivemos em 2023 o surgimento de 84 músicas que não apareceram em nenhuma das três edições anteriores, representando uma variação menor que 20% no repertório total das quinhentas mais votadas. Foi um número menor que o ano passado, mas o próximo tópico muda totalmente a maneira de vermos o resultado final desse ano.

– 332! Trezentos e trinta e dois artistas votados! Na votação passada foram 211, o que significa que o repertório de bandas aumentou em quase 58%! Com uma maior quantidade de bandas, a lista acaba tendo um reportório mais vasto, o que é um aumento significativo de vocabulário musical (do total de artistas votados, 259 tiveram uma única música registrada – mais da metade das quinhentas). Isso foi um complô contra a minha pessoa, que gosta de falar que o brasileiro não tem um vocabulário musical amplo (e não tem mesmo).

– E com mais bandas no páreo, não tivemos dominação de figurinhas carimbadas. NENHUMA banda pontuou com dois dígitos. É a primeira vez que isso ocorre desde que eu comecei a fazer as análises. Com oito canções, The Beatles e U2 dividiram o primeiro lugar (triste ver o U2 campeão). Com sete canções, tivemos Rush, Raul Seixas, Ramones e KISS. E a partir daí vai começando uma dissipação maior.

– Eu sempre crio um parágrafo para falar do Brasil, que sempre passa em branco. Dessa vez eu vou ter que pintar de alguma outra cor. Se você prestou atenção, viu que Raul Seixas conseguiu ficar com a prata. E tivemos TRINTA bandas brazucas na votação (isso porque não contabilizei Cazuza e Nando Reis em suas carreiras solos, visto que eles fizeram parte do Barão Vermelho e Titãs, respectivamente, que foram votados). Detalhe que nenhum dos trinta grupos cantam em inglês – ou seja, não tivemos Sepultura nem outras bandas de destaque do mundo metal que são brasileiras. Os Titãs, inclusive, ficaram no Top 10!

– E quanto às novidades? Reitero que considero novidade qualquer coisa que tenha surgido depois de 2000 e que não caia no conceito de banda velha com música nova (ou seja, a banda também tem que ter nascido pelo menos em 2000). Acho que terei que mudar esse conceito, visto que esse período já engloba 23 anos na votação, o que é um tempo considerável. Pois bem, entre 2000 e 2023, tivemos um total de 27 músicas votadas. Para um total de 500 é pouco, mas dessa vez, tirando os medalhões de cada época, como é o caso do Ghost, o Greta Van Fleet e o Måneskin, que não considero “novidades”, mas “mais do mesmo”, tivemos algumas bandas que dificilmente aparecem em votações públicas e que devo destacar, pois vieram me calar esse ano. São elas:

• Kaiser Chiefs (com Everyday I Love You Less And Less, de 2005)
• Alabama Shakes (com Hold On, de 2012)
• Blackberry Smoke (com Rock And Roll Again, de 2015)
• The Pretty Reckless (com Take me Down, de 2016)
• Royal Blood (com I Only Lie When I Love You, de 2017)
• The Struts (com Body Talks, de 2018)
• Rival Sons (com Do Your Worst, de 2019)

Dessas todas, eu fico com o Rival Sons, mas isso é gosto pessoal. O importante é sim ressaltar que tivemos sete bandas para chamarmos de “novidades” dentro de uma votação popular! Do ano passado, só o Alabama Shakes tinha aparecido.

Bora ver as 10 mais votadas?

10 – TITÃS – LUGAR NENHUM
9 – RAMONES – PET CEMETARY
8 – ROLLING STONES – I CAN’T GET NO (SATISFACTION)
7 – KISS – ROCK AND ROLL ALL NITE
6 – LED ZEPELLIN – KASHMIR
5 – QUEEN – BOHEMIAN RHAPSODY
4 – IRON MAIDEN – FEAR OF THE DARK
3 – METALLICA – ENTER SANDMAN
2 – AC/DC – BACK IN BLACK
1 – THE BEATLES – TWIST AND SHOUT

E agora, como eu analiso isso tudo? Os principais acontecimentos musicais no Brasil em 2023 foi que perdemos Rita Lee e os Titãs iniciaram uma turnê de reencontro. Porém, Rita apareceu só em duas músicas (uma solo, outra com os Mutantes) e não é possível afirmar que a reunião dos Titãs realmente foi um fator determinante para a entrada deles no Top 10.

O que dá para tirar dessa votação é que mais pessoas participaram dela, inclusive um público mais jovem. Não dá para acreditar que pessoas de 50 anos de idade tenham votado em bandas novas, pois é muito difícil encontrar gente desse calibre. Assim, ou uma dessas pessoas votou em todas as bandas novas ou realmente temos um público mais jovem participando da votação – que é o que eu quero acreditar. O fato de termos um número expressivo de bandas com uma música só também provou que mais gente participou da votação, trazendo mais dinamismo musical ao repertório.

Em 2023, os Beatles “lançaram música nova” e os Rolling Stones lançaram novo álbum. Chegamos a brincar no último podcast que estávamos voltando aos anos 1960. Os Beatles ficaram em primeiro lugar (com oito músicas, ao lado da banda do Bono) e Rolling Stones em terceiro (com seis músicas, junto com outras bandas). A vinda de Paul ao Brasil também deve ter ajudado os britânicos a ficarem no Top 1 desse ano. Mas vale lembrar, a primeira posição ficou com um COVER, pois sabemos que Twist and Shout não é dos Beatles.

Se você encontrar um outro fato relevante, coloque nos comentários. Continuaremos monitorando as próximas votações e esperando por mais surpresas.

Beijo nas crianças!
Kelsei

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