Discografia HM – Dream Theater – Parasomnia – 07/fev/2025 – primeiras impressões

Dia 07 de fevereiro, há poucos dias atrás, finalmente saiu o primeiro álbum do Dream Theater com a volta da formação clássica. Ainda que eu não seja um adepto de propor uma avaliação de um álbum com pouco tempo de lançado, e hoje se completam exatamente dez dias que ele saiu, vou sair da zona de conforto, instigado pelo Kelsei. Vou “entrar na pela contramão”, então, e tentar trazer o que eu posso intitular de primeiras impressões deste trabalho.

Antes de tudo, é importante tentar deixar o entusiasmo de lado e buscar trazer os elementos que considero positivos ou negativos no trabalho. Há, de fato, diversos pontos favoráveis no álbum, e ele conseguiu sim se sair melhor do que a minha expectativa. Até que ponto as opiniões de Portnoy fizeram com que esse trabalho melhorasse, para mim, a qualidade do que vinha sendo de lançado de inédito pela banda, isso é algo incerto. Mesmo com poucos dias de lançado, e tentando ser o mais isento que consigo, pra mim é algo claro que o novo álbum sobe alguns degraus em qualidade ao que a banda fez nos últimos 12 ou 13 anos, e até com certa folga.

Um ponto muito favorável foi a ideia da banda foi trazer um tema central, no qual todas as canções foram desenvolvidas. E mais do que isto, o tema escolhido é bastante sombrio, e por consequência, o novo álbum da banda é um trabalho que traz um clima cinematográfico, assustador, soturno e pesado como em poucos momentos da carreira da banda.  Outro chute certeiro foi ir lançando alguns singles durante os meses em que o trabalho já se encontrava pronto, mas ainda longe do lançamento oficial. Como Parasomnia têm 8 faixas, e três delas foram conhecidas (por quem quis) antes das outras, o álbum não cansou nestas primeiras audições. E melhor ainda, as 5 músicas ainda inéditas diferem-se bastante entre si. Assim, o álbum passou pra mim praticamente voando, o que é muito bom.

Há pontos, no entanto, pelo meu entendimento, que poderiam ser melhorados. O mais latente é que todas as músicas são muito “linkadas” aos trabalhos anteriores – há trechos bem parecidos mesmo. Já desde o lançamento do primeiro single isso ficou evidente. Eu poderia citar trechos e mais trechos que lembram essa ou aquela canção, mas nem vou me dar a esse trabalho. O fã do Dream Theater que ouvir o álbum com atenção não vai ter dificuldade nenhuma nisso. Vou terminar os pontos desfavoráveis indicando que esperava mais de Rudess e principalmente do Myung. O baixista está no modo “Dave Murray”, se é que vocês me entendem. Extremamente discreto, em raros momentos aparece mais, todos nós não temos como duvidar da imensa capacidade dele. O tecladista também não traz nenhuma grande novidade ao que vem fazendo e talvez pelo som ser bem mais pesado que a média dos álbuns da banda, estrategicamente se colocou mais ao fundo.

Ao contrário disso se situa Petrucci. Para quem gosta de guitarra, esse álbum é um prato cheio. Trabalho após trabalho, eu não me canso de me impressionar com a maestria do guitarrista. Parasomnia é só mais um exemplo. Outro que aparece bastante no álbum, para a alegria de suas viúvas (entre elas podem me incluir) é Mike Portnoy, o que era até esperado. Tem bastante espaço, entrega um ótimo trabalho de bateria, mas ainda assim quase tudo traz referência ao passado do baterista. Para as “viúvas”, nada melhor. Desculpe-me, e agora fazendo jus a inclusão do meu nome entre as “viúvas”, eu não entendo nada de bateria, mas a diferença entre esse álbum e os últimos cinco de estúdio, para mim, é gritante. James LaBrie em estúdio não compromete, então é uma questão de gosto, pois o timbre dele sempre foi muito particular. E aqui pra nós, quem não gosta do timbre de LaBrie, eu honestamente não sei o que está fazendo aqui, lendo este review…

Vamos as canções? Bora…

O álbum abre estupendamente com uma faixa instrumental, que é uma espécie de resumo do que virá. In The Arms of Morpheus começa trazendo o clima que se espera para o álbum, uma espécie de prólogo à canção de fato. São ruídos que caberiam em um filme de terror e um trecho com piano e cordas que traz uma melodia que vai ser ouvida durante todo o álbum, em várias faixas. Eu realmente gosto muito de ver uma ideia central associada à várias faixas, pois isso traz um sentido de unidade e coesão para o trabalho. Esse trecho que citei eu separei aqui, para melhor entendimento:

O que se segue é uma senhora cacetada, os acordes iniciais quando a banda ataca de fato a canção são pesados e nos remetem aos momentos do Train of Thought ou faixas como The Glass Prison, do álbum 6doit. Neste início, Portnoy emenda um sem número de viradas de bateria, ouso dizer que ele usa todas as peças de seu enorme kit já nos primeiros instantes da canção, como se dissesse que está de volta. In The Arms of Morpheus em seus poucos mais de 5 minutos alterna esses trechos pesadíssimos com outros mais melódicos, dando suporte para as guitarras de Petrucci brilharem. É hoje a minha faixa favorita no álbum.

Segue-se o primeiro single, música já conhecida há vários meses, Night Terror. É uma faixa bem trabalhada, riffs pesados e não necessariamente intricados, mas de uma forma geral bem acelerados. Já dá pra lembrar também de faixas como a Nightmare to Remember, do último trabalho antes da saída de Portnoy, o Black Clouds and Silver Linnings. Aqui já começamos a entender o “assunto” do álbum, associado, é claro, ao nome em si. Parasomnia, por definição, são “transtornos comportamentais do sono que podem surgir antes ou durante o sono ou ao acordar, causando interrupções frequentes do sono e sintomas, como cansaço durante o dia ou ansiedade ao dormir. Existem diversos tipos de parassonia: sonambulismo, terrores noturnos, bruxismo, pesadelos e transtornos de movimento, que podem ocorrer em várias fases do sono.” Eu gostei do primeiro single, agora ainda mais do que quando ele foi lançado. Na época, eu considerei bom, mas esperava mais. A música cresce incrivelmente pelo simples fato de estar fazendo parte do álbum, e não apenas uma faixa isolada. Há um trecho incrivelmente rápido instrumental ali por volta dos 7 minutos, palhetadas absurdas de Petrucci. Outro trecho interessante é o riff descompassado da bateria na estrofe que se desenha em cerca de 4 minutos. O refrão grudento é o que o Dream Theater vem fazendo a carreira inteira, é bom, mas de original nada tem. Apesar de ser um single, a banda não quis economizar na duração, a faixa tem quase 10 minutos.

Segue-se A Broken Man, o segundo single, outra que não economiza na minutagem, com quase 9 minutos. O bom refrão é bem mais melodioso, com letra nos levando ao tema central do álbum (…” What of the Dreams, a hauting curse”…  ou seja … “E os sonhos? Uma maldição assustadora”…).  O restante da canção é menos melódico, com espaço para riffs em profusão, viradas e viradas de bateria, outra faixa bem trabalhada. A grande novidade da canção é a base do solo de Petrucci, a música dá uma guinada de ponta a cabeça e traz um trecho que lembra canções calcadas no blues, como a icônica Lazy, do Deep Purple. Segue-se como base deste trecho um raro “walking bass” de Myung, ainda que apareça de forma bem discreta, fazendo o que se pede para o trecho fora do padrão. Inicialmente a música, quando lançada, também não me chamou tanta a atenção, mas ele vem crescendo a cada audição que faço.

Dead Asleep é a primeira faixa cantada que os fãs foram conhecer no lançamento do álbum, já estamos aqui na metade dele. Ela começa com o trecho que amarra melodicamente o álbum todo, de forma delicada. A sequência é um riff em guitarra com afinação super baixa, nos moldes de um Thrash Metal de essência. Antes de LaBrie cantar, esse trecho pesado se reveza com outro mais melodioso que dá espaço a um solo de Petrucci. Mas não nos enganemos, Dead Asleep, é outra senhora cacetada, peso considerável, que se junta aos momentos de maior pancadaria na carreira da banda. É outra canção em longa-metragem, com mais de 11 minutos, mas passa bem, embora eu não a considere exatamente um destaque.

Vamos de terceiro single agora? Midnight Messiah foi lançado pouquíssimo tempo antes do lançamento do CD, e já sendo tocada atualmente na turnê do quadragésimo aniversário da banda. O início, eu não consigo me conter, é a cara de Repetance, do álbum Systematic Chaos. E depois, novamente não consigo ficar quieto, parece que estamos ouvindo As I Am, do Train of Thought. Mais à frente tem um pouco de The Roof of All Evil (do Octavarium) ou de The Glass Prison, acima já citada, essa é sem dúvida a faixa que mais nos remete ao período inicial com Portnoy. A letra diz que nos sonhos do autor, “tem uma canção que eu conhecia, como um estranho Déjà vu”… (“In my Dreams, There’s a song I once knew, Like an uncanny Strange Déjà vu”…). Então se a ideia desta faixa é realmente citar de forma mais explícita canções que fazem parte da twelve-step suíte, entendo que tais referências se justificam. Nada foi confirmado, no entanto, até agora. A música, como single, é menor que as outras, e mesmo com tantas referências, me agradou. Curti, mas não gostei do refrão, preciso ressaltar.

Are We Dreaming? é uma introdução para a faixa seguinte, pouco mais de 1 minuto de canção e de canção de fato nada tem. Nem há como avaliar algo aqui. Não ajuda, não atrapalha.

Bend the Clock é o que podemos considerar do que há de mais próximo de uma balada no álbum. O trecho inicial é um dedilhado com os vocais quase suspirados de LaBrie. Segue-se um riff bem mais clássico e leve do que o restante do álbum. A música definitivamente alterna drasticamente o clima mais soturno do álbum, aliás o que é muito bem-vindo. É o que podemos considerar a música mais otimista do álbum, algo mais solar. E falando em solar, desculpe-me pelo trocadilho, Petrucci entrega um solo que vai agradar todos os estudiosos do instrumento. A música termina em fade-out, fazendo com que os que gostam do estilo do guitarrista não se deem por satisfeito com os mais de 2 minutos de solo e procurem aumentar seus equipamentos sonoros até ouvir as últimas notas da performance de John. Outra canção que aprovei, com certa facilidade.

O álbum termina com a faixa mais épica, os mais de 19 minutos de The Shadow Man Incident. O nome me deixou dúvidas de qual música está sendo representada pela silhueta no fundo da capa, ali do lado direito. Ou é este tal Shadow Man ou é o Midnight Messiah. Quem souber, me ajuda aí embaixo nos comentários. Na minha opinião, é mais provável ser o personagem descrito nesta letra, mas sabe-se lá. Aliás, falando em capa, temos outro ponto muito favorável na arte deste Parasomnia. A capa é belíssima. Após uma introdução instrumental, a música se situa buscando ser o mais épico possível, os teclados de Jordan Rudess nos remetem a faixa-título do álbum Six Degrees of Inner Turbulence ou mesmo ao insosso The Astonishing. Eu, para esta faixa de quase 20 minutos, vou ter de deixar uma impressão um tanto incompleta, pois para pelo menos essa canção faltou me aprofundar. São diversos trechos que se alternam, entre os vocais de LaBrie. A impressão inicial me agrada, mas eu entendo ser bem lógico que a estratégia arriscada de colocar a maior faixa para fechar o álbum pode perfeitamente cansar o fã. Em especial aquele que já não vinha encontrando muito entusiasmo no restante do trabalho. O Dream Theater fez esta escolha diversas vezes na carreira e eu sempre achei um certo risco exagerado. Não morri de amores pela canção, mas não deu vontade de parar pelo meio. Deve ser um bom sinal.

Como palavras finais, acho que a volta de Portnoy ao Dream Theater deixava um grande desafio de reviver os melhores momentos da banda, tanto tempo de sua saída. Eu ainda não considero que o grupo entregou um álbum que se compare com o período entre o Images and Words e o Octavarium. O saldo final deste Parasomnia é muito positivo, neste atual estágio de poucas audições do álbum. Ele supera tranquilamente quase todos os trabalhos da fase Mangini (talvez encontre rival no A Dramatic Turn of Events), é consideravelmente superior ao When Day and Dream Unite e se equivale, pelo menos, e sem muita dificuldade, aos últimos trabalhos de Portnoy na banda, antes de sair em 2010 (Systematic Chaos e Black Clouds & Silver Linings). Para mim, é um saldo pra lá de positivo e um álbum para ouvir com mais e mais audições. O tempo é que vai nos fazer entender de fato como Parasomnia se situa na discografia da banda. Penso que os últimos dois trabalhos da banda com Mangini são até interessantes, mas infelizmente ambos ficaram (para mim) um pouco de lado, passadas as impressões iniciais. Ficaram meio esquecidos. Espero que não seja isso que acabe acontecendo com este Parasomnia. O álbum tem me deixado com vontade de ouvir mais. Esse é outro bom sinal.

Vamos ver…

Saudações,

Alexandre B-side



Categorias:Curiosidades, Discografias, Dream Theater, Letras, Músicas, Resenhas

5 respostas

  1. Nice post. I subscribed. Have a happy day☘️

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  2. B-Side,

    Eu li até chegar o faixa a faixa, onde parei. Ouvi o álbum poucas vezes e ainda quero ter um melhor amadurecimento sonoro do álbum sem ser influenciado por ninguém – então, eu voltarei aqui com as minhas impressões.

    Só que até chegar antes do faixa a faixa, TUDO o que você escreveu eu tinha como opinião também. Esse álbum facilmente passa todos os álbuns da banda com o Mangini e a audição dele passa voando. Realmente Jordan e Myung faltaram, principalmente o baixisita – não tem uma presença importante do baixo no álbum todo. Acho que o Portnoy deveria ter se contido um pouco: tem alguma faixas que as viradas características dele ficaram muito desnecessárias, como se ele quisesse realmente dar uma de “pavão” e falar “olha, sou eu mesmo que estou aqui e estou de volta”. É delicioso de ouvir as viradas e aquele pegada bem característica dele nas baquetas, mas ele deveria ter entrado 100% e não 120%.

    As composições também tem vários pontos que se assemelham com outras canções – partes mais pesadas do Train of Thought e melodias do Systematic Chaos vem à mente facilmente enquanto o álbum corre. Na primeira vez que ouvi o álbum e a primeira faixa começou, pensei que viria uma história como no Scenes from a Memory, pois eles dão um gostinho de historinha no início, que depois perde força.

    Vou me aprofundar um pouco mais no álbum, só ouvi 3 vezes. Voltarei aqui…

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