Black Sabbath não “acabou”. Nunca acabará!

Tony Iommi – Heaven & Hell – São Paulo – maio/2009

Eu não me ocupei em buscar artigos que falassem sobre o evento recente do “fim do Black Sabbath”. Claro que o evento da conta de que Ozzy se aposentou dos palcos e o evento foi feito pra atender essa circunstância – além da caridade – mas tudo poderia e deveria soar diferente, não? Em respeito aos demais que são parte da história da banda, não acha? Se a premissa de que o Black Sabbath também não “acabou” para você, é isso também soa tudo isso bastante questionável – para você que passa vistas nessas parcas linhas aqui no blog da família do metal – saiba que você não está sozinho. Definitivamente não está! Soa muito, mas muito presunçoso. 

Eu leio os grandes canais do meio metal aqui no Brasil como o Roque Reverso, Igor Miranda e o Whiplash – apenas para mencionar para mim os principais – e esses canais cumprem muito bem seus respectivos papéis em noticiar e trazer o que há de mais relevante no meio. Alguém pode já ter escrito algo nessa mesma direção que escrevo agora, mas é preciso sim separar as coisas e colocar um pequeno bode na sala: o Black Sabbath não “acaba” porque um dos seus  vocalistas se aposenta dos palcos.

Sem dúvida, o legado de Ozzy e a formação clássica da banda são inquestionáveis em sua importância para história do metal e isso não é o objetivo aqui. Felizmente ou infelizmente uma banda não “acaba” quando um dos principais participantes se aposenta. Isso não funciona assim. Não com o Black Sabbath, me desculpe. Pelo menos não deveria. Partir da premissa que o Black Sabbath só existiu com a era Ozzy é, no máximo, lidar com uma opinião de um gosto pessoal e tudo bem. Não há nenhum problema nisso. Você pode ter essa opinião e partir dessa premissa e tudo bem, mas – sempre tem um mas – o legado do Sabbath VAI MUITO ALÉM da era Ozzy, obviamente, então, por que realizar um evento carregado com toda essa presunção? Não faz o menor sentido, né, mas sabemos de onde vem isso com certeza. Todos sabem…

Agora lidando com o óbvio novamente – perdão mais uma vez – a banda seguiu – muitíssimo bem, obrigado – sem Ozzy e fez trabalhos lendários, obras-primas, goste você ou não. Desnecessário enumerá-los ou mencioná-los tacitamente aqui. Vou me limitar a isso. Todos sabem que temos verdadeiras obras-primas do metal com Glenn Hughes, Ian Gillan, Tony Martin e, claro, o mestre maior Ronnie James Dio. É um absurdo as pessoas propagarem a ideia de que o “Black Sabbath acabou” só porque o Iommi fez uma mega lambança jurídica com o nome e pactuou isso com uma das piores figuras do show business de todos os tempos. Sim, não teremos mais o nome da banda em novos materiais e isso não é nenhuma novidade. Desnecessário mas, talvez, relevante citar.

Isto posto, vamos para a ressalva mais importante daqui: a aposentadoria de um vocalista não muda nada. O Sabbath é uma instituição muito maior que Ozzy e, de novo, separando os pontos: o Ozzy se aposentou dos palcos e houve essa justa homenagem ao nosso “príncipe das trevas” – que em sua fase solo fez um hard muito bom com muito lápis no olho e laquê – mas o Sabbath não “acaba” aí. O Black Sabbath não acabará nunca. Sei que tudo é premissa, tudo é perspectiva, tudo é a ângulo que você aplica nas coisas, mas isso não deveria soar assim. Muitos artistas são parte do legado da banda e enquanto essas pessoas existirem, a “banda”, a instituição, continua! Simples assim. 

Eu venho aqui pedir perdão em nome de todos os fãs da banda da instituição Black Sabbath – pretensão eu sei – que por algum momento não externou essa clara separação entre uma coisa e outra ao lidar com isso. Perdão a todos que fizeram parte desta instituição que sim tiveram seu papel crucial na construção da encíclica papal da história do metal e que soube seguir em frente através de Iommi e com isso manteve viva sua história através de outros grandes artistas que não mereciam ver algo dessa natureza como se eles não tivessem sequer existido na história de banda e se questionar em seu íntimo “mas eu também fui parte da história da banda. Se esse evento marca o fim da banda, por que não fui sequer mencionado?”. Lamentavelmente, a vida tem dessas coisas. 

Perdão a todos os artistas que são parte da história da instituição Black Sabbath que sequer foram mencionados. Isso não deveria ser assim. Perdão aos que estão aí ativos em seus atuais trabalhos artísticos, perdão aos que se foram. Todos são parte indivisível do legado extraordinário da banda e que não foram tratados como sequer existentes nesse evento recente só por que o nome Black Sabbath – uma verdadeira marca do metal – foi “embargado” por uma das piores pessoas que já pisaram na face da terra, perdendo apenas para alguns políticos de um famoso país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza. 

Esses artistas mereciam um tratamento melhor. De novo, sei do propósito do evento. Você que também propagou a ideia de que o Sabbath “acabou” eu respeito a sua opinião e tudo bem, mas, felizmente, só o nome da empresa “acabou” – digamos assim – e esse “término” só diz respeito a uma parte da história da banda. Seu legado, sua obra e seu maior nome continuam vivos e celebrados como devem ser e que todos se sintam orgulhosos de terem feito parte dessa instituição histórica chamada Black Sabbath. 

Escrevo aqui esse quase desabafo nesse breve post em um voo dentro da Europa. Aqui há muita dignidade com a cultura e história de forma geral e sinceramente espero que a banda um dia possa ter um museu em sua homenagem contando sua trajetória e seu legado, pois é parte da cultura e história da humanidade, certamente. 

Parafraseando os anúncios corporativos:

“Agradecemos ao Ozzy por toda a sua inestimável contribuição ao metal e que decidiu deixar a empresa e seguir novos objetivos. Obrigado”.

Mas Black Sabbath nunca acabará. Me desculpe nessa insistência.

Rolf “Dio” Henrique.

Edição: Eduardo [Presidente]



Categorias:Black Sabbath, Discografias, Off-topic / Misc, Resenhas

2 respostas

  1. Texto brilhante, Rolf. Concordo em 200% com ele. Anunciar uma data de despedida do Black Sabbath – banda – tocar vários clássicos importantes da era Ozzy, mas deixar clássicos inquestionáveis de fora, como Heaven and Hell , Children of The Sea ,Neon Knights e Mob Rules ( pelo menos pra não sair do mais claramente iconico) não faz nenhum sentido a não ser o óbvio.

    E você o descreveu muito bem. Encerra-se a carreira de Ozzy. Todos agradecemos por tantos momentos bons. Não se encerra desta forma a banda Black Sabbath. No máximo, a empresa.

    Ah, e é claro…. Não se vive somente dos clássicos, mas também das ótimas músicas que estao nos outros ótimos álbuns da BANDA Black Sabbath. Disturbing The Priest , Trashed, The Sign of Southern Cross , Die Young, Voodoo, Master of Insanity, Buried Alive, The Shining, Headless Cross, Eternal Idol, Cross of Thorns, I Witness, When Death Calls, e mesmo Folow The Tears, da época jurídica do Sabbath, os exemplos são inúmeros, isso é só uma simples amostra.

    Poderíamos até considerar In For The Kill, por exemplo, do Seventh Star – álbum solo de Iommi disfarçado de Black Sabbath.

    Iommi é o muito mais o Sabbath, lambanças com o nome ou não.

    Voce foi brilhante, meu amigo

    Assino embaixo.

    Alexandre

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  2. Bem Rolf, o que você trouxe aqui foi um fato. E como diria o poeta, “contra fatos, não há argumentos”.

    O desrespeito com os demais músicos que passaram pela banda foi surreal, mas foi previsível. Obrigatoriamente deveriam ter sido levados em consideração, algo que não é feito desde o 13, se não me engano. Se bem que na turnê do 13 nem o Bill Ward foi levado em consideração, então olhar o nível…

    Eu não sei qual foi a mancada que o Iommi fez legalmente que acabou com a Sharon deitando e rolando em cima da banda e destacando o Ozzy como se fosse a última bolacha do pacote. Ozzy tem sua importância sim para o grupo que escreveu a cartilha do Heavy Metal, gênero fundado por ele e os outros três ícones. Agora, Dio, Vinnie, Tony, Ian, Hughes e pelo menos mais uns 12 músicos que contribuiram de alguma forma ao Black Sabbath TAMBÉM tem sua importância e nenhum deles foi convidado ou tiveram homenagens póstumas. Uma pena, mas foi a Sharon que gerenciou, então….

    Eu fiquei feliz do Ozzy não ter feito playback e fiquei muito feliz de todas as bandas convidadas terem que tocar Black Sabbath, pois todas as bandas que estavam lá (assim como TODAS as outras bandas de metal do mundo), só existem por causa do Black Sabbath, mas agora já me repeti.

    E que fique claro que o álbum Heaven and Hell é o melhor álbum de Heavy Metal da história do gênero!

    Vida longa ao Black Sabbath! E muito obrigado, Black Sabbath (com o Ozzy e sem o Ozzy)!

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