Por vezes tomamos parte de uma situação em que ficamos pensando: “Será que este é um momento único? Estarei envolvido em algo que se tornará único (ainda em menor escala) na história?”. Pois bem, este post pretende levar-nos a uma breve jornada “somewhere back in time” (ops, banda errada) em que demonstrarei que, em algumas vezes podemos nos tornar sim “testemunhas oculares da história”.
Nos idos de 2009, passados bons anos da mudança de paradigma gerada pelo fenômeno napster-mp3-P2P, eu já havia tido a possibilidade de assistir grandes shows, mas havia uma lacuna, grande e sensível na minha “ficha corrida”: a grande banda escocesa-australiana AC/DC.
Eis que é anunciada uma “perna” da turnê desta banda em solo sul americano para o final do ano de 2009, para promoção do disco “Black Ice” lançado em 2008. Seria a primeira turnê nessas paragens desde 1996 e eu não pretendia perder esta oportunidade. Observe-se que, segundo dados disponíveis na Web esta turnê incluiu 168 apresentações nos cinco continentes, durando quase 2 anos (de out/2008 a jun/2010), sendo considerada a 3ª turnê mais lucrativa da história.
Quem vive em Porto Alegre sabe que uma passagem aérea para Buenos Aires muitas vezes tem um custo menos do que uma à capital paulista. E em virtude de haver 3 shows na capital portenha sendo um deles num domingo, 6 de dezembro, o que facilitaria a logística da empreitada, decidi-me por lá assistir a este espetáculo.
Fui para Argentina na manhã de sábado e em estando lá, não pude evitar de degustar um saboroso churrasco argentino (por lá chamado parillada) portando manto sagrado do tricolor gaúcho.
Após estar bem alimentado, me dirigi, orgulhosamente exibindo o tão estimado ingresso, ao Monumental de Nunes, estádio do River Plate que, entre outros, sediou a final da Copa do Mundo de Futebol de 1978 e que já havia visitado ao assistir outro show inesquecível, dos Rolling Stones na Bigger Bang Tour.
Chegamos ao local por volta das 14:30, e já havia um bom número de espectadores aboletados na pista principal.
Por volta do início do show de abertura, já estávamos na situação semelhante a uma lata de sardinha.
O show começa com uma animação que termina numa simulação de choque de uma grande locomotiva com a tela, só que… a invasão efetivamente ocorre, onde o telão se abre em dois e uma locomotiva (que efetivamente parece real) invade o palco em meio a explosão de diversos fogos de artifício é aos primeiros acordes de “Rock ‘n Roll Train”. Vou te dizer: é difícil superar este início de show em termos de impacto.
Seguem-se um setlist composto de 20 músicas, muitos delas clássicos indeléveis da memória de qualquer roqueiro que se preze. Obviamente, poderiam ser levantadas reclamações quanto a ausência de High Voltage, Jailbreak, Rock ‘n Roll Damnation entre outros. Problema comum de uma banda com um extenso catálogo de petardos como é o AC/DC.
Um show que impressionou pela performance e energia do Angus Young, e que atingiu as expectativas pela firmeza da “cozinha” de Malcolm Young, Phil Rudd e Cliff Williams, e, do lado negativo, pelos problemas vocais de Brian Johnson. Valorize-se a força de vontade e disposição do vocalista que tenta, por todas as formas, compensar as falhas vocais. No entanto, sempre me pergunto como seria um show do AC/DC ao vivo, com vocais do falecido Bon Scott ?
Aqui cabe uma singela história que vivi nos anos 80. Em um sebo vinílico, nos início da minha carreira metaleira, adquiri o sensacional Back In Black. Ao chegar em casa, pegando a bolachas para escutar a obra, me deparei com um pequeno folheto que apresentava a tese de que Bon Scott teria morrido em função de suas letras satânicas nas músicas Ac-dcianas e alertava aos ouvintes dos perigos à espreita de quem escutas músicas deste tipo, heheheh. Por muito anos mantive o papelucho junto ao LP pelo caráter curioso do texto. Fazem anos que não revisito em vinl esta obra. Talvez seja um bom momento de fazê-lo…
Voltemos ao show. Outro destaque são os artefatos típicos mas sempre efetivos que o AC/DC usa em suas apresentações. O grande sino pendurado em Hells Bells, os canhões em For Those About To Rock e as bonecas infláveis em Whole Lotta Rosie, esta, desta vez, montada no Rock’n Roll Train. Pode até serem considerados, como se diz em bom gauchês, frescura, mas funcionam. E muito bem.
Como não poderia deixar de ser, o final é apoteótico, com Angus Young avançando até o mini palco centralizado, debulhando-se em solos energéticos até uma chuva de papeizinhos metalizados, exemplar dos quais guardo como souvenir até hoje. Inesquecível. Por uma destras coincidências, está série de shows em Buenos Aires seria eternizada pelo lançamento em 2011 do DVD – Live At River Plate.
Uma menção pra lá de honrosa para o público argentino. Além de terem esgotados os ingressos para os 3 concertos ocorridos lá. Poucas vezes vi um publico mais agitado em um show e jamais assisti um show em estádio de futebol em que houvesse uma lotação tão intensa, lembrando muitas vezes aqueles pequenos clubes em que assistimos, apertados uns contra ou outros as sensações locais.
Em suma: meninos, eu vi!
Deixo-os com alguns vídeos amadores registrados por eu mesmo, durante a apresentação.
Eduardo Schmitt.
Categorias:AC/DC, Cada show é um show..., Curiosidades, Resenhas, Setlists
02/agosto/2013: no nosso último podcast (https://minutohm.com/2013/08/04/13o-podcast-minuto-hm-02agosto2013/), ficamos sabendo que o Schmitt teve o privilégio de ver o show do AC/DC justamente no local escolhido pela banda para gravação do DVD da tour do Black Ice: Buenos Aires, Argentina!
Claro que pedimos um post disso e… e… e não é que promessa é dívida? E logo na estreia no mundo dos posts do MHM?
Seja “novamente” bem-vindo, Schmitt, agora como autor! Um privilégio sem dimensões a todos nós!
Eu, que já tanto viajei para ver shows, inclusive tendo tido a chance de ver um do Iron Maiden também em Buenos Aires, posso “sentir” um pouco disso que você de maneira tão divertida trouxe nem seu texto debut. Sem dúvidas, você presenciou um momento único e o resultado que se observa hoje no DVD / blu-ray mostra logo nos primeiros segundos de show a INSANIDADE que foi esta tour.
Eu pude ver o show aqui em São Paulo e confesso que poucas vezes – ou talvez nunca – tenha visto a pista (sem divisões de normal / VIP) do Estádio do Morumbi tão abarrotada. Fazendo uma analogia com o esporte bretão, mesmo com certa bagagem de achar “atalhos” no campo, como fazia tão bem o Romário, posso dizer que “não joguei absolutamente nada” neste jogo. Fiquei totalmente perdido, tentando achar um local que pudesse minimamente ver o palco. Soma-se a isso a nuvem que pairou no estádio – deixando claro: APENAS no estádio – e a chuva torrencial que caiu naquela tarde / noite. Mas como valeu a pena ter “visto” aquilo… mas “ouvido” que visto neste caso…
Seu relato está sensacional, assim como as fotos e vídeos. A energia da banda é única e digo facilmente que este show é “top of mind” quando quero mostrar um show de rock a alguém hoje em dia – mesmo quem não gosta, para tudo para ver aquelas tomadas áreas com a galera pulando de forma sincronizada. As imagens são INSANAS. O som, é espetacular. O palco, idem. O setlist, um espetáculo e, como você bem disse, fica difícil não deixar dezenas de clássicos de fora com um catálogo tão vasto como desta banda. E quem disse que havia qualquer descanso neste repertório? Não teve. Eu lembro de ficar sem ar até de tanto que pulava e cantava… não teve refresco!
Muito obrigado por ter eternizado seu relato e experiência neste espaço e esse dá até gosto de dizer: EU VI TAMBÉM. E queria muito ver de novo… será que conseguiremos?
Que este seja o primeiro de muitos posts!
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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Eduardo do Sul:
O tempo está muito escasso nesta semana de RIR , mas preciso tecer pelo menos algumas palavras aqui.
E sim, você foi uma das testemunhas oculares desta série de shows que entrou para a história, e estâo eternizados em DVD.
As fotos e vídeos são a prova inconteste de que algo muito fora do padrão teve a sua ilustre presença.
O texto é fantástico, as lembranças também devem ser. Fiquei impressionado com a dificuldade vocal de Brian, mas a banda é uma usina de força ao vivo, uma das poucas que não pude ainda ver.
Parabéns por você já ter tido tamanha experiência!!
Alexandre Bside
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