Falar das inúmeras conquistas e de tudo que Bruce faz por aí é algo que tentamos manter neste blog, seja neste post ou nas diversas coberturas em diversos momentos de sua carreira, passando pelo Brasil ou mesmo na Inglaterra. Em caso de dúvidas, veja então muito mais aqui.
Em mais uma grande conquista e homenagem, Bruce recebeu a honraria de ser considerado cidadão honorário de Sarajevo, Bósnia. No cerne dessa condecoração, uma noite especial, de um show curto, feito em 14/dezembro/1994. Seria algo trivial como “qualquer show”, mas Bruce e todos os envolvidos fizeram algo inimaginável naquele momento: tocar em um país no meio de uma grande guerra moderna que acontecia, com Sarajevo sob cerco.
Tal show, que pode ser considerado único na vida dele e de todos os envolvidos (banda, produção, etc), foi recentemente resgatado e seu contexto histórico trazido em um documentário lançado por Bruce: Scream For Me Sarajevo, lançado em mídias digitais e físicas (documentário e CD que celebra o documentário), tenta trazer aos expectadores um pouco de toda a história nos bastidores para o show acontecer, dentro de uma situação de altíssimo risco de uma guerra, em um evento que, no final, não foi “apenas” um show, mas um momento de alegria e esperança àqueles que estavam esperando pela morte a qualquer momento.
O documentário começa com um fotógrafo, que relata que usou 7 rolos de filme para fotografar o show, e que não teria gasto tanto se não tivesse visto o que aquilo representaria, com uma atmosfera e o que acontecia ali de termos de alegria para todos.
As pessoas começam a falar como para elas o início da guerra foi entendido, com frases como “alguma confusão” quando da comunicação que ruas estavam interditadas, e que, no início, achavam que eram protestos e que não durariam muito. Em 1992, ainda crianças / adolescentes, quem conta o filme são essas pessoas que hoje, adultos, tentam refletir sobre a época e mostrar como entenderam que a guerra era real. Entre quem vai narrando a época, estão pessoas que se envolveram de alguma forma com o show, de espectadores ao organizador do show, e outros profissionais envolvidos com arte e entretenimento em geral em diferentes mídias.
A vida no underground, impacto inicial que uma guerra causa na vida de pessoas “comuns”, comentários de como o mundo ainda não dava atenção ou entendia a situação ali, sendo que o cerco durou mais que o famoso Stalingrado.
Em 1993, o povo começaria a “reagir” em termos de tentar continuar a vida, e não apenas esperar pela morte. Peças de teatro voltariam a ser feita e música também, ainda no underground e sem a pretensão financeira, mas sim como forma mais pura e humana, mas como era arriscado fazer isso ainda. Interessante a perspectiva trazida também de que muitos “viveram a vida ao máximo” durante a guerra, já que não se podia ter um amanhã (carpe diem na essência ). Como foi a alegria de voltar a ter eletricidade para poder ligar uma guitarra e tocar o máximo de tempo possível. Começam a aparecer a “bandas de porão” como forma também de resistência a tudo que acontecia, com músicas de pedido de ajuda à Bósnia.
No meio disso tudo, a ideia de tentar trazer alguma banda para Sarajevo, inicialmente como uma piada, mas como o (Major) Martin Morris conseguiu contatar diretamente Bruce Dickinson. Bruce então aparece no filme pela primeira vez contando também desse contato inicial e como seriam feitos arranjos em termos de segurança, com os músicos da banda também contando de como o show surgiu. O filme também traz o papel da ONU em chamar Bruce para o show e todo o suporte de saúde e segurança dado, ainda que mais para frente, tais papeis sejam fortemente questionados, não agressiva, mas diretamente. Morris também relata que o general da ONU tentou abortar a ideia do show e que ele, Morris, sob pena de morte e para não cancelar o compromisso, afirmou que o evento aconteceria sem incidentes. Meio fora de sequência lógica pra on filme, mas relevante no mundo do metal, há também relatos de como as notícias chegavam à época, como a saída do Bruce do Iron Maiden.
A banda inicia então sua viagem da Inglaterra e o helicóptero prometido para chegar a Sarajevo não está disponível. Bruce, sendo um cara de iniciativa desde sempre, no próprio aeroporto em Split, foi atrás e achou uma empresa chamada The Serious Road Trip, que faria o transporte da banda para Sarajevo. De caminhão, com personagens animados pintados em seu exterior que chamavam muito a atenção, está empresa transportou os equipamentos e a banda, que tinha apenas uns sacos de dormir para “acomodação”. O relato traz fatos como uma “inesperada” carona solicitará com uma AK47 ou a dificuldade de se chegar a Sarajevo pela estratégica montanha Igman, que era o único acesso possível para a cidade, e quando finalmente chegaram, aí sim foram transferidos para veículos blindados para andarem pela cidade.
Há relatos do “city tour” feito e da coletiva de imprensa do show, e das duas bandas de abertura para o “Skunkworks”, como alguns chamavam a banda de álbum deste nome também, com as cenas das pessoas envolvidas se reencontrando mais de duas décadas depois para a gravação do documentário, em nova visita de Bruce à Sarajevo, 21 anos depois.
Há ainda a conexão de que bandas como Rage Against The Machine e outras poderiam em um “link subconsciente” estar sendo tocadas lá pelo cerco. Um deles canta a letra de Refuse/Resist, do nosso Sepultura. Também é abordada a forma que a divulgação do show foi feita, sem saber se haveria mesmo público, e como tentar fazer isso sem os “bad guys” saberem e poderem estragar a festa. Os ingressos eram gratuitos e ainda haviam ingressos disponíveis, mas tudo de uma forma meio “secreta” e com muita gente acreditando que eram somente rumores, até mesmo um rumor que Dickinson morrido em uma das montanhas. O show começaria cedo pelo toque de recolher. O público compareceu em peso e os ingressos na entrada nem foram conferidos.
Há muitas cenas do show no documentário, menções sobre como aquilo foi realmente especial e importante para os civis no meio daquilo tudo. Bruce diz que deu tudo neste show, mas que sentia não ser suficiente. Claro que a percepção de todos era de que só dele estar realmente ali, presente, já era mais do que suficiente. Por algumas horas, o público pôde esquecer um pouco da guerra e estar ali – se morressem depois, não teria “importância”.
O filme é permeado com músicas de Bruce, obviamente, sendo Run To The Hills a única do Iron Maiden que me lembro ter tocado durante o documentário. As músicas são “colocadas” em uma configuração que as letras acabam fazendo sentido com o filme. As imagens e clipes de momentos da guerra, especialmente em 1992, são impressionantes, dado que a tecnologia à época já era boa o suficiente para capturar o horror que deve ter sido viver na Bósnia durante a guerra.
Por fim, algumas imagens e momentos do histórico show são exibidas, e brevemente é trazido a estratégia de “retorno” da banda.
O impacto da guerra e o que este show representou a muitos mudaria, portanto, a forma de se encarar a vida para muita gente envolvida em tudo isso, sendo que o documentário não economiza em trazer tais relatos.
Ah! O show do U2 por lá também é brevemente mencionado em um comentário – mas o show foi em 1997, após o final da guerra, e portanto simplesmente não é a mesma coisa e não é colocado como “relevante” como o feito por Bruce e cia, não pelo tamanho, mas pelo momento histórico.
Fica então mais uma dica de mais um momento histórico e que o heavy metal esteve envolvido, mesmo que indiretamente, em “contar” um pouco em 95 minutos do pequeno mas relevante momento para o povo da Bósnia. E há ainda a trilha sonora em CD e nas mídias digitais, para quem quiser ter um pouco dessa história também mais “perto”.
[ ] ‘ s,
Eduardo.
Categorias:Artistas, Cada show é um show..., Covers / Tributos, Curiosidades, Discografias, Iron Maiden, Letras, Músicas, Resenhas, Sepultura, Setlists, Trilhas Sonoras
Excelente história e muito obriagdo por ter colocado aqui no blog. Deu pra ter uma noção do que foi isso.
CurtirCurtir
O post é sensacional , e eu não tinha a minima noção disso. O relato só me faz crescer a admiração por Bruce, por seu julgamento sobre os fatos e tudo que envolvia a situação vivida no local.
Pretendo ver esse DVD assim que puder.
Alexandre
CurtirCurtir
BRUCE DICKINSON Recalls Flying ROYAL AIR FORCE Pilots Home From Afghanistan: ‘It Was Very Emotional’: https://www.blabbermouth.net/news/bruce-dickinson-recalls-flying-royal-air-force-pilots-home-from-afghanistan-it-was-very-emotional/
[ ] ‘ s,
Eduardo.
CurtirCurtir