Você pode até não gostar de Dave Grohl e muito menos da sua banda (Foo Fighters) ou mesmo da sua ex-banda Nirvana, que mudou o som feito nos anos 90 e se tornou, além de um ícone musical, uma referência de comportamento, pontuando uma década até no cenário fashion, mas uma coisa a gente não pode negar: quase sempre quando se envolve em algum projeto, ele acaba sendo tão bacana quanto o seu idealizador.
Não podemos nos cansar de elogiar “Sound City” (2012), que é um documentário sobre o famoso estúdio de Hollywood que recebeu lendas do rock dos anos 70 e 80 até o advento do compact disc (CD). De Fletwood Mac (embalando a narrativa deste texto) à Ronnie James Dio, de Rick Springfield à Fear, muita gente que tinha uma grana resolvia investir naquela pocilga (como era carinhosa chamado) para tirar um som diferenciado, graças à Neve Console (desenvolvida pelo engenheiro eletrônico Rupert Neve), a mesa de som comprada por Grohl e devidamente reverenciada no final do documentário.
Um dos fatores mais legais deste vídeo de quase duas horas de duração é a sensibilidade com que os depoimentos trataram de um lugar comum em um vale sujo na parte “que ninguém quer ir” de Hollywood. Funcionários, cantores, produtores, todo mundo se referia à Sound City como um espaço mágico, mesmo sendo ele um local que não primava pela beleza ou porque tinha os melhores equipamentos disponíveis da época. Pelo contrário. Sound City ia na contramão da tecnologia onde o lance era usar a criatividade e a fidelidade dos estúdios para conseguir o som mais “real” possível.
Grohl vai colher as falas de quem trabalhou com a mesa (de som) mágica; descobre que naquele estúdio discos fantásticos alcançaram Grammys; sem que houvesse homogeneidade no estilo, os anos de produção foram marcados pelo ecletismo: bandas punk como o Fear, o hair metal do Ratt, o brega-e-chique de Barry Manilow, o folk rock de Neil Young, Tom Petty… não faltam histórias: casamentos, flertadas, Budweiser e muita música.
Encantado com o desempenho da ferramenta mais importante daquele estúdio (a mesa de som) além do material humano, que devido a crise dos anos 90 – trazida pelo advento da criação do som digital – já não estava mais disponível, Dave Grohl (que gravou o importantíssimo ‘Nevermind‘ em 1991 dentro do Sound City) compra (o documentário não diz o preço mas vale mencionar que na década de 70 ela custou mais de 70 mil dólares) a mesa de som e resolve levar para seu estúdio particular, onde convida músicos que trabalharam na mesa e talvez o seu maior ídolo vivo: Paul McCartney.
O que se vê depois disso é uma emocionante homenagem ao fator humano na arte, ao talento de compor mediante o improviso e a junção de músicos e suas experiências. Quase o Nirvana estava no estúdio: Krist Novoselic aparece por lá para também dar sua contribuição naquela que seria uma música inédita de McCartney junto com ele e Grohl. Da reunião de vários músicos saiu a trilha sonora totalmente original do documentário.
Um ótimo retrato de como a indústria se modificou e as percepções de arte (pelos músicos) que pouco se alterou. A guerra fria entre Pro Tools versus Analógico, a interferência humana, a revolução industrial vista de dentro de um estúdio que teve verdadeiros operários e heróis em uma só energia dentro do seu ambiente de trabalho; “Sound City” merece ser visto com cuidado, carinho e saudade.
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Daniel, excelente dica e post. Com o tempo e os ouvidos já mais calejados, para mim é impossível negar que o Alice In Chains é a melhor banda que surgiu no movimento da época, do ponto de vista do legado da discografia, com excelentes álbuns, um guitarrista fantástico e um vocalista tão ou mais fantástico ainda.
Mas eu cresci e tive minha infância / adolescência ouvindo o Nirvana e, por isso, mesmo, meu lado emocional não fica de lado aqui. Eu gosto, e bastante, da banda que deu ao mundo o baterista Dave Grohl, ainda que ele fosse total coadjuvante ali.
E aí temos essa recente participação dos caras com Macca… isso é abusar do lado emocional, sem querer, claro, comparações com a enorme emoção que sinto para o maior músico do mundo, em minha humilde opinião. Assim, eu gostei do que eles fizeram junto (normalmente gosto de tudo onde Paul empresta seu infinito talento).
Apesar de eu ter passado por um Sound City na Westwood Blvd. na viagem que fiz para a Califórnia, até olhei para ver se era o estúdio, mas era “apenas” uma loja. O estúdio fica mesmo mais afastado do “burburinho” da cena californiana, cerca de 20 milhas, por exemplo, do Rainbow Bar. Não pude conferir a fachada do local na viagem, quem sabe na próxima?
https://maps.google.com/maps?q=sound+city+hollywood&hl=en&ll=34.217031,-118.47039&spn=0.326482,0.616608&sll=37.0625,-95.677068&sspn=36.642161,78.837891&hq=sound+city&hnear=Hollywood,+Los+Angeles,+Los+Angeles+County,+California&t=m&layer=c&cbll=34.217031,-118.47039&panoid=Z6yJviRSTex8QoBzx-uNvw&cbp=12,122.11,,0,0&z=11
Sobre o documentário, não assisti e agora, graças ao post, fiquei com muita vontade de conferir. Então, peço um pouco de paciência (haja paciência comigo) para eu retornar aqui com minhas impressões.
Enquanto isso, deixo aqui um Q&A com Dave sobre o documentário:
E o link do canal oficial no YouTube: http://www.youtube.com/user/SoundCityMovie
Valeu!
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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Que bom que você gostou…
Sou suspeito para falar de documentários. Gosto muito de ver a história do rock sendo contada por eles de maneira autêntica, quase sempre sem qualquer interesse de ‘rasgar seda’ para eles mesmos.
Normalmente nesta tipificação de biografia eles não usam muitas máscaras e muita coisa fica ali revelada de maneira muito emocional.
Quando puder, assista. Acho que você vai gostar e se interessar inclusive pelos artistas (ou álbuns) que lá estiveram, como eu por exemplo, que desenvolvi uma enorme simpatia pelo Fleetwood Mac.
Graça e Paz.
DJ
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Daniel, pelo menos já “consegui” o documentário. Passo 1 concluído! Vamos ver se consigo vê-lo nos próximos dias! A maratona de shows só termina, a princípio, amanhã…
De novo: valeu a dica – só de ver pequenos trechos, eu já vi que vou mesmo gostar…
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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Pois é… quase 5 anos depois e já sem poder falar com o Daniel, eis que finalmente assisti ao documentário. Fico triste em ter demorado tanto. E feliz de pagar uma das inúmeras dívidas que tenho aqui.
O post é tão legal quanto o próprio, ficando pouca coisa a acrescentar. Concordo agora com o feliz título dado ao post, já que a história do estúdio se mistura com a história das bandas californianas, mas de outros artistas e bandas do mundo todo que ouviam falar do icônico local e ao se depararem com a verdadeira espelunca que era, não entendiam como o resultado final poderia ser tão bom.
É realmente curioso que mesmo músicos e engenheiros consagrados têm dificuldade em explicar as razões de tímido soar bem lá, especialmente a bateria. Dizem, já em tom saudosista, em “mágica”. Aliás, até o Vinny Appice aparece lá falando do Holy Diver e de Dio rapidamente. Mas são diversos outros álbuns clássicos lá gravados, como do Fleetwood Mac, passando por varias gerações e culminando no Nevermind, onde Dave Grohl entra na história.
A cereja do bolo, para mim, está no final, onde a legendária mesa é abordada e Dave realiza e talvez fecha um ciclo de vida, como ele diz, ao ter ao mesmo tempo a mesa comprada para seu estúdio, o Studio 606, trazendo um membro da banda de sua principal influência para tocar e gravar (Macca). Realmente, um Nirvana de luxo é estabelecido com Macca à frente do papel de Kurt e o resultado é digno de uma improvisação com um gênio raro.
O documentário, entretanto, lá pelo meio fica um pouco moroso e repetitivo, mas os tais “recortes históricos” justificam sua existência e também o esforço desse trabalhador do rock, Dave Grohl, em ter dirigido o material. Vale a pena? Vale.
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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Daniel, eu também não assisti, mas estou “salivando”. Acho, sem conhecer muito o trabalho de Dave, que ele foi além ao prestar homenagens à grandes bandas e artistas ( Rush e Paul Macca, por exemplo) e deixar claro sua admiração por locais como este, inclusive se dispondo a adquirir o tal equipamento icônico.
Grohl está sendo importante para a música não só pelo que ele cria , mas pelo que ele vem resgatando e dando a devida importância.
Show de bola a idéia deste post!
Alexandre Bside
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[ ] ‘ s,
Eduardo.
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