O “Tá de Sacanagem” invade os home videos

Galera,

Nos idos dos anos 80, os home videos começaram a aparecer nas prateleiras das locadoras. A oportunidade de divulgação pelo artista de video clips ou shows começara a se tornar realidade, e ainda sem internet, não havia tanto material facilmente disponível no Brasil.

Com pouco material, o que nos cabia, reles mortais sedentos de informações sobre nossos artistas prediletos, era “gastar” os VHS (ou Betamax) disponíveis até a exaustão. E depois de algumas ou muitas execuções, alguns erros ou evidências de regravação em estúdio do áudio dos shows começavam a aparecer.

Nesta época ainda estávamos sendo enganados, e não desconfiávamos que o artista usava tal artifício até que este ficava evidente no home video.

Sem mais delongas, vou dar dois exemplos e um contra exemplo. Nos dois exemplos, um é descarado e evidente; o segundo precisa de um pouco de atenção.

Primeiro exemplo (evidente):

Ozzy – Over the Mountain –  Speak of The Devil (Home Video).

Sem o tal teleprompter, Ozzy era uma vítima de sua memória e frequentemente errava as letras. Talvez só não precisasse corrigir na regravação em estúdio. Então vamos lá:

Aos 2:33 até 2:35 ele canta “Over and over, always tried to get away“, mas seus lábios não cantam isso evidentemente. Precisaríamos de bons leitores labiais para entender o que ele cantou no show, a mim parece que ele canta os versos da terceira estrofe algo como: “Over and over, in between the ups and downs“.

Errar a letra tudo bem, mas “recantar” certo trouxe a confirmação de que o áudio foi refeito.

Segundo exemplo (mais sutil):

Kiss – Heaven’s on Fire – Animalize Live Uncensored.

Na formação da tour de Animalize, Paul Stanley era o único com aquele timbre bem agudo e aqui vemos que no refrão de Heaven’s On Fire, sua voz é bem perceptível. O problema é que Paul Stanley estava bem longe do microfone…

Vejam entre 0:48 e 1:02:

Por fim, vamos ao contra exemplo:

Led Zeppelin – Stairway To Heaven – The Song Remains The Same.

Um erro ao vivo poderia ser cortado do filme (posteriormente adaptado para home video). Mas a imperfeição do Led deveria ser mostrada sem maiores preocupações. Afinal, os méritos eram tão grandes que nada abalaria a impecável imperfeita apresentação no Madison Square Garden.

No meio de Stairway, Plant solta o pedestal do microfone e uma parte da letra não é ouvida, pois ele canta fora do microfone. Era uma oportunidade perfeita para refazer o áudio. Mas o Zep resolveu deixar o áudio fiel a execução original. A decisão autentica a veracidade do imperfeito perfeito ao vivo da banda.

Vejam em 5:56, após ele cantar “Lady can you hear the wind blow”, o microfone “fugir” do seu vocal…

Por fim, deixo a opinião para vocês:

Preferem o dois primeiros exemplos e correções realizadas ou a imperfeição perfeita do Zep abaixo?

Por mim, Ozzy, Kiss e respectivos editores do home video – vocês estão de sacanagem???

Remote.



Categorias:Artistas, Curiosidades, Iron Maiden, Kiss, Led Zeppelin, Tá de Sacanagem!, Van Halen

25 respostas

  1. Olá,

    muito bem observado, Remote.

    No caso do Ozzy a voz limpa do cantor inglês denuncia que o vocal (e acho até que nesta canção os instrumentos também receberam overdub) não é o original. O que eles não contavam é que Mr. Madman errasse a letra no show o que obrigaria também ao ‘dublê ozzy’ errar também a letra na hora de refazê-la. Chega a ser patético.

    No caso do Kiss, o mais incrédulo pode achar que a voz oitavada e aguda do refrão pegajoso seja de Eric Carr, no entanto sabemos (e vocês mais ainda) que o timbre de Carr é rouco e nada tem a ver com o de Stanley. Aliás, todos os bateristas que passaram pelo Kiss possuem o mesmo timbre de voz como se isto fosse um requesito para entrada na banda.

    Quanto à observação do histórico show do Madison em uma versão clássica de uma das maiores canções de todos os tempos, sem mais. Acho que o que valeu ali foi a espontaneidade após o pequeno acidente.

    Só voltando um pouquinho ao Kiss, eles, desde a década de 70 (tem um show em Cobo Hall que tem muito disso) eles usam o recurso da câmera lenta, que muitas vezes serve para maquiar ou uma falta de sincronismo ou qualquer outra coisa que eles acabaram pecando. Até no Alive IV eles se utilizam da mesma técnica.

    Abraço,

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    • Caro Daniel,
      Perfeito. O Dublê Ozzy não errou a letra e expôs de forma patética o áudio refeito, como você mesmo denominou.
      No caso do Kiss é interessante o que você coloca sobre o timbre rouco dos bateristas, acho que sim, foi um pre-requisito. Dos três, Eric Singer talvez tivesse a voz mais polida, mas não dá para confundir com o vocal do Paul Stanley regravado no fundo. Eu me lembro de ouvir uma “fita k-7” pirata deste show e a diferença é grotesca.
      Com o Zep também concordo, a pequena escapada do microfone não altera em nada a antológica versão da música e do show como todo e ainda acrescenta a tal autenticidade que eu prefiro.
      Se puder mostre o Show do Kiss com o recurso de video que descreveu.
      Abraço
      Flavio

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      • Vou começar com um exemplo de um vídeo parecido com o do Zeppelin, onde o GS canta o início de “Rock and Roll All Night” no início de “Let Me Go Rock and Roll”… Aliás, este é um dos shows mais “alive” do Kiss que sempre quando posso assisto e parece estar na íntegra em um dos discos do Kissology.

        O outro é em “Great Expectations”, aos 38 segundos Gene aparece “tongueando” para o público a poucos segundo de continuar cantando… e aí vem o slow motion; depois com 59 segundo a câmera lenta está em Paul (além da mixagem de violão não ter lhe favorecido… Sabendo que os meninos não são afeitos a instrumentos acústicos, imagino o porquê). Por fim as vozes das crianças estão muito nítidas, impossível para a quantidade de aparato instrumental ali… Óbvio que foi refeito, mesmo que algumas crianças estejam com microfones… Enfim, se você olhar, achará dezenas de exemplos de correções ou problemas no som.

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        • Daniel – nem imaginava que isso viria por aqui – o Eduardo também está dando exemplos.
          1) Rock and Roll All Nite x Let Me Go – Isso é antológico, cantar uma musica na outra é para poucos – Eu vi isso lá no famigerado Kiss Exposed nos meados dos anos 80 (87?) – e é claro que lá eles primeiro “expuseram” a falha, comentando no como uma “falha nossa\’ prévio e depois lançaram também no Kissology. É bem engraçado e para refazer ia ficar dificl, pois o linguarudo canta um bom pedaço da musica errada….
          2) Kiss Alive IV – Symphony: Pela complexidade da coisa, muito deve ter sido refeito. O Video oficial soa até um pouco artificial, tavez devido ao excesso de correções. Bom eu não sou fã dessas misturas mesmo – nunca dei muita bola para este video. A que eu gosto mais é essa Great Expectations – porque nunca tinham tocado ao vivo.
          Obrigado Daniel
          Remote

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        • Tudo refeito, certamente,aliás eu acho esse Alive IV com uma troca de câmeras tão frenéticas , que cansa demais. Vale por músicas como essa Great Expectations, embora não tenha gostado do arranjo para o fim da música.
          Outro exemplo clássico e lamentável também!

          Alexandre

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      • Bem , o caso do Ozzy é um absurdo , hoje é inadmissível ver algo assim. Acho que foi tudo refeito, com o Daniel afirma. Do Ozzy em si, não há a mínima dúvida.
        Em relação ao KISS, é claro que o backing e muita coisa além foi refeita, mas aí a percepção passa a ser para observadores mais atentos. Aliás, trago abaixo um exemplo de erro de continuidade no mesmo home vídeo:
        Em Black Diamond, a última do set antes do bis: Bruce Kulick toca com uma BC Rich preta durante toda a canção. Mas aos 5:23 e em diante aproximadamente sai do palco com uma Charvel dourada (?!?!?).

        Enfim, a coisa era muito amadora nos anos 80. Mas os vídeos eram excelentes, assim mesmo….

        Alexandre

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        • B-Side, você que não viu, mas rolou uma tinta mágica quando eles “subiram”… hahahaha…

          “Tá de Sacanagem!” mesmo isso aí… pode não, Arnaldo… pode não…

          Bom, e pegar trechos de um show em outro? Ahhh, o Iron Maiden vem abusando disso… cada trecho de uma música vem de um lugar… mesmo eles usando a mesma roupa todas as noites, as vezes dá para perceber no detalhe que foi feita a montagem…

          [ ] ‘ s,

          Eduardo.

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  2. Triunfal retorno da categoria “Tá de Sacanagem!” em sua essência para os 2 primeiros exemplos…

    No caso do Ozzy, tentei mas não consigo entender o que ele pode ter falado ali, nem mesmo consegui ver ele falando a outra parte da música. Infelizmente ele está de lado e a não dá para ver direito, e ainda por cima, é o Ozzy, né… não é dos mais fáceis de entender nem quando o som está ligado, hehehe… aliás, os britânicos em geral…

    Sobre o exemplo do Kiss, afff… aqui só cabe o “tá de sacanagem!” mesmo…

    Já o Led, o contra exemplo, é a perfeição… e para mim, é isso que faz a diferença de um bom ao vivo: você captar tudo, microfonias, escapadas de microfone, tombos, bateria com problema, enfim, o lado humano… viva a decisão deles… é o imperfeito perfeito mesmo!!!

    O que vou colocar abaixo é uma coisa que o Iron Maiden faz muito, os tais overdubs… apesar de não ser relacionado exatamente aos 2 primeiros exemplos do post, é algo que me incomoda muito e para mim, é sacanagem também… afinal, eu estava lá: o Bruce não cantou o refrão “your time will come” quase nenhuma vez ao vivo, achando que a galera já saberia e cantaria alto… e parecia que no meio daqueles 300.000, só eu sabia cantar…

    E o Steve Harris, o que fez? A colagem… eu acho feio demais, para mim, “tá de sacanagem!” também.

    Além da memória, eu tenho a gravação original e os pontos do vídeo abaixo que o Bruce NÃO cantou NADA são:

    – na segunda vez do refrão, após ele gritar “Rio”, 3:31, onde a colagem pega apenas uma parte do “your time will…” e vem um “oh, yeah”, este sim ao vivo…
    – o próimo “your time will come” também recebeu um tratamentozinho de estúdio, mas tudo bem…

    Vem os solos e a coisa continua para fechar a música:

    – quando ele solta o “let me hear you”, o “your time will come” dos 4:46 me assustou quando do lançamento do disco, já que não foi cantado..
    – novamente ele solta um “Rio”, e a tal frase dos 5:05 foi cantada por mim, mas não pelo Bruce…
    – e aí ele canta um, e o último novamente é colagem (5:14)….
    – e até o “oohhh, oohhh, ohhhh, ohhh” do final tem uma colagem – o segundo do último compasso NÃO foi cantado pelo baixinho ao vivo (5:48).

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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    • Eduardo,
      Eu tinha (tenho?) o show gravado ao vivo (Multishow?) e quando saiu o oficial, percebi que algo havia mudado…. Não cheguei a comparar os dois, é como você falou, ficou nitida a coisa de refazer o video, mas ficou “bem” refeito, pois não aparecem aquelas bizarrices acima. Acho que o Dickinson deu uma ajudada, pois deve ter vindo cantar os pedaços, que foram “overdubados”….
      Uma pena – pois o original tava legal…
      Remote.

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      • Remote, eu tinha (tinha mesmo, no meu caso) também. Infelizmente me desfiz de todos meus VHSs, exceção ao original Live Shit, do MetallicA. Há várias outras “overdubagens” ao longo do RiR 3 do Iron Maiden mas, para mim, essa música de abertura traz os exemplos mais gritantes.

        Eu também ficaria com o original – fácil.

        [ ] ‘ s,

        Eduardo.

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        • VI com atenção a regravação do Iron, e não, não temos mais a original, uma pena mesmo. Mas em 2001 a coisa fica para especialistas como você, Eduardo. Para mim, o mais claro é o exemplo dos 5:05, e daí entende-se que todo o resto é verdade, é claro.
          O que é uma lástima pois Bruce cantou para Meirelles no show do RIR 3, eu lembro pois estava lá . A coisa perde a espontaneidade, a veracidade. Viva o Led no antológico The Songs Remains The Same. Viva Stairway to Heaven!! Vamos blindar os clássicos !!
          Eu adoro essa música, não importa quantas vezes eu ainda vá ouví-la pelo resto da minha vida!

          Alexandre

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          • B-Side, Bruce cantou mesmo demais no RiR 3, aliás, o show foi excelente, o melhor show que vi da banda no Rio, afinal, como você sabe como ninguém, tirando o show da Apoteose, as duas últimas experiências foram muito decepcionantes.

            Mas sim, em 2001 a banda inteira foi bem, o set foi legal e tudo foi muito legal no evento, além do enorme público. Saudades dos meus 19 anos e de lembrar que, naquela noite, eu dormi na rua com meu pai… sim, já sei, tenho que trazer um post deste RiR 3 por aqui…

            Por fim, estou com você: vamos blindar os clássicos e e daí que Stairway To Heaven toca zilhões de vezes? Que toque mesmo. Quem não quiser, que vá ouvir lixo por aí, e lixo é o que não falta em nossas terras, não é mesmo? Viva Stairway To Heaven e viva Plant “perdendo” o microfone, realmente antológico!!!

            [ ] ‘ s,

            Eduardo.

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  3. Muito interessante o post, eu demorei um pouco a comentar pois estava pensando em contribuir com algum material também. E aqui está um, WASP, Live at Lyceum 1984, que eu nem sei se saiu oficialmente em VHS, acho que sim. Além de um começo que traz um aúdio exagerado de sons da platéia , ridiculamente refeito, certamente pelo menos o vocal foi refeito. Não há, em uma primeira impressão, algo tão gritante quanto o exemplo do Ozzy acima. Mas a questão backing vocal é claramente percebida entre 5:15 min e 5:25 min, pois Randy Piper, principal segunda voz, não faz o backing em uma primeira vez e depois corre para o outro microfone, deixando a segunda parte do refrão de The Flame capenga ( ou melhor, não, pois foi tudo refeito em estúdio).

    Ah, os anos 80 e as bizarrices que beiram e muitas vezes ultrapassam o ridículo!!

    Alexandre

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    • Bem mais sutil o exemplo, e coisas que só os mais atentos mesmos podem achar… viva este blog…

      [ ] ‘ s,

      Eduardo.

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      • Esse video, tem audio bastante refeito, e a mixagem não ajuda mesmo. O exemplo é sutil, como diz o Eduardo, mas concordo plenamente, a 2a voz deveria ter sumido na 2a vez do refrão e aparece magicamente…
        O resto do vídeo é bem estranho e vou expor mais duas opiniões sobre as coisas que vi:
        1) Realmente o excesso de plateia no fundo no começo do video é horrivel – fica dificil ouvir o que a banda esta fazendo.
        2) Aquelas duas correntes “prendendo os guitarristas”- ok, vocês vão dizer é o WASP – faz parte, mas sempre achei ridícuo, nunca achei graça e nem via “mérito”. Acho que o Alice Cooper (apesar de também não ser da minha predileção esse tipo de coisa) fazia com mais bom gosto.
        Mas isso é discussão para outro post, outro podcast….
        Abraços

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