Me dá logo esses 20% aí!

A história é velha e bem conhecida. Um ingresso custa X, mas se você for comprá-lo pelo site da empresa, pagará 1,2X, tendo um acréscimo de 20% no valor total da sua compra. Isso é conhecido como a “taxa de conveniência”, que era uma maneira, na época que lançou, que as empresas de evento tiveram para poder pagar pelo sistema de software que criava esse acesso facilitado para quem não pudesse ir até a bilheteria oficial e pontos de venda para comprar seus ingressos.

Quando lançou isso até que não era um problema, porque os sistemas eram ruins. Hoje em dia, eu, que moro em São Paulo, disputo a compra de um ingresso do Iron Maiden aqui no Allianz Parque, a alguns poucos quilómetros de casa, pau a pau com um fã que reside no Acre. As jogadas de Marketing que as empresas estão fazendo, aproveitando-se da alavancagem das redes sociais e somando junto com a tal palavra “experiência”, criaram um boom que fizeram artistas do cacife da Alanis Morissette a esgotarem uma apresentação em estádio de futebol (antes, a mesma cantora, até então só tinha esgotado locais de até 6 mil pessoas em toda a sua história de shows aqui na capital).

Não é de hoje que as empresas de evento vem tentando cada vez mais ganhar em cima das vendas de ingresso. Tem máfia em todo canto e que vai muito além das empresas de evento por si só, com câmbio alto ou baixo, com ou sem cambista, com ou sem carteirinha de estudante falsificada.

Mas quando eu pensava que isso tinha parado, eis que eu quero compartilhar duas situações que recentemente aconteceram comigo e que achei um absurdo.

Nova bilheteria oficial da Ticket 360

Moro uma quadra de distância do Unimed Hall. Quando abriram as vendas do Megadeth, tinha ido lá comprar ingressos para o Rolim, Marcus e Rolf. Voltei alguns meses depois para comprar para meu sobrinho e cunhado, que decidiram ir ao show.

Só que a bilheteria física, agora é no seu celular. Você entra no aplicativo da Ticket 360 e, pelo GPS, sua localização é analisada para saber se você está onde outrora era a bilheteria física. Se sua posição geográfica for validada, você tem direito de comprar ingressos sem os 20%. Ganhamos o direito de perder definitivamente o ingresso físico (que guardamos de recordação) e ter que andar até um local qualquer para comprar algo pelo próprio celular. Isso porque você corre o risco de usar errado o aplicativo e ainda pagar 20% mesmo estando fisicamente onde é a bilheteria oficial. Eu fiz um passo a passo da compra com a moça da bilheteria, que está com o emprego com os dias contados até esse negócio de “bilheteria oficial online” entrar nos trilhos. O que tinha de gente xingando no Unimed Hall não era brincadeira…

Compra na bilheteria oficial da Livepass

Vou ao Knotfest 2024 com a esposa e, por ser um festival de valor alto, fui até a bilheteria oficial no Allianz Parque para comprar sem os 20%. Passei uma olhada no site para confirmar que a bilheteria ficava lá, vi que os ingressos poderiam ser parcelados em 6x sem juros e fui bater perna.

Cheguei lá, pedi os dois ingressos e na hora de pagar eu não pude parcelar. Tive que pagar à vista. A moça que me atendeu (muito educada e que não tem nada a ver com a situação) me informou que o parcelamento sem juros é só para quem comprar pelo site (ou seja, pagando a taxa de 20% que vai direto para a empresa de eventos). “Dá próxima vez, leia as letrinhas miúdas moço”.

Fiquei muito louco da vida! Agora, para eu poder parcelar (e eu contava com isso, porque estou bem apertado de grana), eu tenho que pagar a taxa de 20% de conveniência do ingresso. Pelo menos na Livepass eu ainda consigo os ingressos físicos, mas vou ao Procon.


Cada vez mais o cerco fica apertado para nós, fãs assíduos que vamos em muitos shows. A tal taxa, que eu já chamo de “taxa de inconveniência”, está tomando parte até das situações de exceção, quando deveria ser o contrário. Se algo não for feito, no final da história, vamos acabar pagando 120% no valor do ingresso em qualquer que seja a situação para ganhar um QR Code no nosso email.

Beijo nas crianças!

Kelsei



Categorias:Off-topic / Misc, Tá de Sacanagem!

4 respostas

  1. Que a taxa de conveniência já tinha virado receita e na verdade um componente do preço do ingresso cheio já sabíamos há tempos. Há trocentas justificativas para a cobrança (como já comentado, custo de sistema, carteirinhas falsas, etc) mas essa de ter que estar fisicamente na loja virtual é de um absurdo sem tamanho – pelo menos em minha opinião se for mesmo o que eu entendi. É uma mistura de Ticket360 com Pokemon GO então, você tem que se deslocar fisicamente para “batalhar” por seu ingresso. Isso não é taxa de conveniência, é literalmente um desconto pela inconveniência. O preço cheio é o de 120%, mas se você passar perrengue você ganha um desconto. Imagino se os executivos ficam rindo vendo as pessoas zanzando com seus celulares para conseguir validar a posição geográfica… ah, sei lá, que absurdo.

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  2. Esse assunto é antigo, mas sempre é bom revivê-lo.

    Bem, na verdade de bom não tem nada, mas aqui no blog a gente já viu essa novela há quase 10 anos .

    https://minutohm.com/2015/02/18/a-festa-das-empresas-de-ingressos-queremos-regras-transparencia-e-auditorias/

    O que se conclui?

    Não é uma questão de justificativa ou de tecnologia, é uma questão de filosofia:

    Estamos sendo tratados como idiotas , e esses que nos tratam são autênticos ladrões.

    Simples assim.

    Alexandre

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    • Obrigado por colocar o link aqui, B-Side, e vou adicionar mais alguns que, apesar de não todos diretamente relacionados, tem a ver com o tema:

      2010: https://minutohm.com/2010/08/17/pista-golden-mais-um-jeito-do-publico-ser-legalmente-depenado/

      2011: https://minutohm.com/2011/01/25/campanha-ingresso-justo-o-minuto-hm-apoia/

      E a campanha global do “Put Fans First”, sabe no que deu? Em erro 404 (not found), site desativado: http://www.putfansfirst.co.uk/

      Conclusão – o que mudou, mudou para pior. E vendo o que as tiqueteiras e outros nos EUA e Europa estão fazendo (cobrando por ingresso físico se você quiser um, praticamente forçando seguro, ingresso combinado com cartão de crédito no pré-compra e durante o evento – especialmente festivais – entre outros, eu diria que vai piorar ainda mais).

      O que joga contra estes caras agora? O que estamos vendo no RiR deste ano. Tirando o mundo POP que vai se reinventando e a música é a última preocupação, quem é FIEL mesmo de shows – o público do rock, hard, metal – não terá tantas opções assim daqui uns anos. Já estamos vendo a dificuldade este ano do RiR. Isso terá um reflexo? Eu acho que sim. Será suficiente para reverem as práticas? Talvez não, mas que haverá um impacto, haverá – nem todos farão o que os fãs de verdade fazem – ingresso, viagens, hotéis, etc., toda hora.

      A taxa de conveniência, vamos lembrar, nada tinha a ver com o que eles divulgam hoje. Era na fase da “informática” ainda que falávamos dela. O mundo mudou, mas a taxa ficou – e foi piorando de 10% para absurdos 20%. E no Brasil, para se resolver um problema (como das carteirinhas fraudulentas), se criar OUTRO problema. Análise de causa-raiz? Resolver estes “cursos onlines” e outras formas de se emitir carteirinhas de uma forma efetiva? Ahhh, não, isso dá trabalho demais…

      O B-Side deixou uma conclusão simples. Eu deixo outra: tais práticas são apenas um reflexo da sociedade.

      Ah… o cara da carteirinha falsa é o mesmo que reclama do Governo, apoia “A” ou “B” ferozmente, quer se fazer de conhecedor. No fundo, é só um reflexo da sociedade mesmo.

      [ ] ‘ s,

      Eduardo.

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