Por Ricardo Oliveira.
Fala, galera.
Posto abaixo um texto de um ex-companheiro de trabalho, Ricardo Oliveira (não confundir com OUTRO Ricardo Oliveira que também escreveu já por aqui – e ambos são Silva também, vejam só) sobre o documentário “Metal: A Headbanger’s Journey”.
Ao “Ricardo 2”, os devidos agradecimentos pela contribuição para participar conosco deste espaço e boas vindas de forma oficial, já que ele já era nosso leitor há bastante tempo.
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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Texto baseado no documentário “Metal: A Headbanger’s Journey”
Desde Black Sabbath – considerada por muitos a primeira banda de Heavy Metal do mundo – o “som do diabo” se tornou a definição do Heavy Metal.
Mas o Heavy Metal é apenas um estilo musical como muitos outros… então o que torna o som e os fãs do Heavy Metal “diabólicos”?
Deste ponto em diante, note que seria interessante o leitor ter alguma instrução básica em música, tendo em vista que falarei um pouco sobre notas e escalas musicais. Pessoalmente, não sou nenhum expert em música, mas já estudei o básico, estudei violão e só não toco por restrições da minha tendinite. Na dúvida sobre qualquer afirmação, procure o Google.
A escala do blues – outro estilo musical – tem a quinta bemol, o chamado trítono. O trítono nada mais é que um intervalo entre alturas de duas notas musicais que possua exatamente três tons inteiros, usado a séculos, inclusive em músicas clássicas, o trítono causa sensação de movimento, motivo que o faz ser muito explorado em momentos de “tensão” da música.
É esse o tal “som do diabo” ou também conhecido como a “nota do diabo”, ou ainda como o “acorde do capiroto”.
Mas vejamos porque “diabos” deram esse nome ao pobre trítono…
Num período da história entre os séculos V e XV, mais conhecido como idade média – quase tudo que não é bom começa com alguma sacanagem da igreja na idade média – a Igreja Católica proibiu o trítono alegando que esse som invocava o demônio em pessoa (😲!).
Infelizmente – ou felizmente! – o Black Sabbath, no despertar do Heavy Metal, ousou utilizar a quinta diminuta, (b5), o trítono nas suas músicas.
Acontece que o trítono realmente tem algo de muito sensual. É fácil imaginar um povo ignorante e assustado na idade média ouvindo esse som, lembrando da proibição imposta pela igreja, sabendo que havia gente morrendo na fogueira por causa dele, sentindo aquele arrepio característico do som grave, os pêlos eriçados e pensando: “Fo***! Lá vem o diabo! Vou pra fogueira!”.
Somente mais de três séculos depois do fim da era negra da humanidade conhecida como idade média, o Ludwig ousou usar o trítono em suas sinfonias. Que Ludwig??? O Beethoven, é claro! E depois dele, Richard Wagner, com seus poderosos graves, com tubas, contrabaixos e octabaixos (instrumento duas vezes maior que o contrabaixo tocado, por duas pessoas simultaneamente).
Esses dois verdadeiros rebeldes sem causa, se estivessem por aí nos dias de hoje, estariam certamente engajados com alguma banda de Heavy Metal. O Wagner no Deep Purple e o Beethoven no Led Zeppelin. Certeza.
Bach, outro gênio da música clássica, era tão virtuoso e improvisador quanto Eddie Van Halen.
O Eddie Van Halen fez com que tocar guitarra ficasse tão trabalhoso quanto tocar violino. Você precisa estudar muito para tocar guitarra em alto nível. Não adianta ser ex-BBB.
O Heavy Metal vem do Rock, o Rock vem do Blues, que vem dos escravos e da “rebeldia” inerente.
Antes disso, foram os rebeldes da música clássica.
Então, no final das contas, é sobre isso que se trata. O Metal é rebeldia. Rebeldia contra quem acredita que Metal é do demônio, enquanto a maioria dos metaleiros nem acredita no demônio.
Vocês querem falar do diabo?
Como disse Dio: “Vivemos no céu e no inferno… Deus e o diabo estão dentro da gente e a escolha é nossa. Você pode pegar o caminho do bem ou do mal”.
Se vocês que querem falar do diabo, vamos falar ou então que fiquem falando sozinhos! Não estou falando de Black Metal que é apenas um entre mais de vinte estilos de Metal e o único que, digamos, cultua o tinhoso.
Mas se vocês quiserem falar de Deus, vamos falar com Tom Araya, vocalista do Slayer (banda acusada de satanismo). O Tom Araya se declara católico (isso mesmo! Ele é católico apostólico romano!). Mas o que ele tem a dizer sobre o título de uma das mais famosas músicas do Slayer, “God Hates Us All”????
– “Deus simplesmente não odeia. Mas é um título muito fo**!” By Tom Araya.
Nós podemos falar de assuntos inteligentes como a censura ou até sobre a opressora invasão européia das Américas, como no grande sucesso “Run To The Hills” do Iron Maiden, por exemplo.
O Metal está naqueles 5% dos estilos músicais com letras e mensagens mais inteligentes do mundo, entre os melhores arranjos e com componentes mais preparados para serem artistas de verdade.
A potência do “som do diabo” nos faz vibrar e cantar alto, quase gritando porque não dá pra ter voz delicada, o vocalista de Heavy Metal não pode ser suave, fofo ou manhoso, para poder passar por cima de todo esse som que vem da banda, são necessários pulmões de aço. Guitarras, baixos, baterias, teclados e demais parafernalias eletrônicas impedem uma voz fraca, mas ouça Iron Maiden e você ainda encontrará muita melodia na poderosa voz de Bruce Dickinson.
Assim, se você gosta de outro tipo de música, nós respeitamos e só! Não precisamos do seu respeito… Somos rebeldes! Maloik pra você!
E parafraseando Tom Morello: “Fu** you! I won’t do what you tell me!”
Vida longa ao Heavy Metal!
Wacken Open Air… algum dia.
Ricardo Oliveira.
Créditos:
Créditos totais ao fantástico documentário “Metal: A Headbanger’s Journey”, de 2005.
Se você quiser entender porque o Heavy Metal tem sido estereotipado, repudiado e condenado, assista-o.
P.S.: excetuando o depoimento transcrito do Tom Araya, nenhum outro fato religioso exposto no texto acima foi baseado no documentário. Qualquer alusão religiosa contida aqui foi de responsabilidade e baseada nas eternas pesquisas do autor do texto.
Categorias:Artistas, Black Sabbath, Deep Purple, Iron Maiden, Led Zeppelin, Letras, Off-topic / Misc, Slayer, Van Halen
Belo texto, com trechos pontuados de pura emoção. É interessante esta questão da nota que torna-se a essência do heavy metal, que vem dos acordes do primeiro álbum de Iommi, Butler, Ozzy e Ward. Traduzindo em uma linguagem leiga, é a terceira nota do riff principal da faixa que dá o nome ao grupo pioneiro de Birmingham.
Ali está , quando Iommi toca esta terceira nota, logo ao início da faixa Black Sabbath, a essência do heavy metal ? Sim, provavelmente tudo veio dali, tudo colhido daquele pé, como diria nosso grande mestre Rolf.
As citações do Ricardo aos gênios da música clássica e a explicação acerca de que como é desafiador tocar e aprender o nosso gênero de predileção aqui no texto estão presentes de forma precisa.
Faço um necessário e muito justo elogio ao que li aqui. Excelente, como o que costumamos ver aqui, ou seja , imprescindível ter este post em nossas fileiras.
Eu daqui só aplaudo e trago a faixa que caiu do pé…
Façamos um minuto(hm) de reverência ao mestre Iommi!
Alexandre
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Ricardo, apenas para registrar novamente que o texto é bem legal, uma mistura de vários sentimentos, creio que até de “resposta” a muitas das besteiras que ouvimos no dia-a-dia quando falamos que “gostamos de heavy metal”.
Creio que o povo anda se educando mais quanto ao assunto, mas não é incomum vermos ainda muita ignorância rondando o tema do estilo musical que tanto gostamos.
Isso a parte, levanto um brinde aqui à homenagem ao Sabbath e aproveito para reforçar a homenagem a Ronnie James Dio, que nos deixou há 5 anos atrás (é incrível como o tempo passa).
Valeu e até o próximo texto!
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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value pelo post mesmo
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