Kiss – End Of The Road Road Tour – The Final Concert – Madison Square Garden – 02/dez/2023 – o evento via Pay-Per-View e os Avatares Digitais

Amplamente divulgado, o último show da extensa End Of The Road Tour do KISS aconteceu no dia 02 de dezembro de 2023, para marcar o teórico último dos shows da banda, após 50 anos de atividades. O show foi transmitido via pay-per-view e o que se segue neste post são linhas acerca do que pudemos avaliar do evento.

Antes de mais nada, não é algo muito usual cobrir aqui no Minuto HM um evento, digamos, televisivo. E como complemento, a nossa decisão de assistir o pay-per-view foi algo pensado nos últimos minutos (HM) que o precederam. Alertado pelos amigos do Minuto HM na manhã do dia 02, acabamos por conseguir conciliar nossa agenda deste sábado para então nos reunirmos em frente a um notebook + tv + razoável sistema sonoro a partir das 22 horas.

O que se segue abaixo é um combinado de reflexões sobre o evento em si, mas também um relato mais pessoal sobre os momentos atuais (sim, não são os momentos finais) da banda. Em alguns momentos deste post essa dualidade poderá se misturar, porém a ideia é trazer as duas questões o mais separado que conseguirmos. Então vamos lá:

-O EVENTO-

A compra em si foi algo bastante prático, um cadastramento com dados básicos, uso de cartão de crédito e um preço que pode ser considerado justo, algo próximo aos R$ 80,00 (oitenta reais), já incluída aqui uma pequena taxa que sabe se lá serviu pra quê. É possível que venha algum imposto a ser acrescido posteriormente, ainda assim nos parece um preço total bem razoável, ainda mais considerando o quanto pode chegar algum produto veiculado à marca KISS. Pra se ter uma ideia, eles hoje no mesmo link vendem um Golden Ticket comemorativo da data por cerca de R$ 1.700,00 (mil e setecentos reais). E todo mundo aqui sabe que não há limite em se tratando da caixa registradora KISS.

Após alguma dificuldade de acesso ao link no horário informado, quando foi preciso usar um link alternativo constante no e-mail, por volta de 22hs estávamos prontos, acessando o início da transmissão. O evento pode até ser revisto, mas não conseguimos entender por quanto tempo ou quantas vezes, faltou talvez uma melhor comunicação da empresa responsável. Assim, entra em cena uma “host“ até então desconhecida por nós, Allison Hagendorf, para iniciar uma espécie de aquecimento, situada na plataforma onde Paul Stanley faz a parte do pouso da tirolesa durante os shows. Para aqueles que, como nós, não faziam a mínima ideia de quem era Allison, em uma pesquisa descobrimos que ela foi responsável por eventos televisivos, como a transmissão dos New Year’s Eve diretamente da Times Square e hoje é responsável pelo gerenciamento do catálogo de rock do Spotify.

Alguns sofás estão dispostos por ali, no palco secundário do Madison Square Garden e a host inicia um papo com alguns convidados, entrevista essa que se reveza com cenas da banda nos eventos prévios de divulgação dos shows em Nova Iorque. Entre eles houve uma ida ao Empire State Building e um evento promocional atrelado a uma venda de relógios personalizados, de marca famosa, este situado na Times Square.

A cidade foi, durante toda a semana, se integrando ao evento, com ações de marketing nos táxis e tickets diferenciados nos metrôs. Do ponto de vista comercial, a venda do merchandising foi um sucesso com vendas muito rápidas em praticamente todos os inúmeros itens associados. Nesse momento da transmissão percebe-se uma falta de sincronia de áudio e vídeo nas entrevistas prévias com os músicos da banda, mas na parte das entrevistas ao vivo e posteriormente também no show não houve tal questão.

Entre os entrevistados, Desmond Child, coautor de músicas como I Was Made For Loving You e Heaven’s on Fire, que faz um agradecimento público ao parceiro Paul Stanley e cita Who Wants To Be Lonely como sua música favorita como coautor na banda. Os filhos de Gene Simmons, Nick e Sophie e também Evan, primeiro filho de Paul Stanley, são entrevistados juntos. Nick é bastante generoso com Evan, elogiando suas habilidades musicais. A banda de Evan, Amber Wild, fez a abertura do show. Confessamos que os outros momentos da entrevista não foram lá muito atrativos, e nisso se passam certamente mais de 40 minutos.

– O SHOW –

A banda inicia a apresentação, e aqui reside um grande questionamento do show. O que se presencia é um repertório nos exatos moldes do que foi feito em toda a turnê, nada diferente. Considerando ser este o último teórico show da banda, imaginava-se o que viria diferente no aspecto musical. A resposta é um simples nada. Desde a abertura, com Detroit Rock City até o fim em Black Diamond, ou mesmo o bis, nada, não há nada que já não se sabe das escolhas do set-list desde o início desta tour, antes mesmo da pandemia.

Eu, Alexandre, que pouco acompanhei os set-list desta End of the Road Tour durante seu tempo de duração, confesso ter ficado mais atento ao momento solo de Eric Singer e também ao duelo de frases de guitarra entre Tommy Thayer e Paul Stanley, que certamente veio para substituir o momento solo de Stanley. Entre as canções, alguma ranzizice nossa, que inclui desaprovar o que deveria ser um solo de guitarra ao final de War Machine. Ao optar por uma única nota soando de forma monótona neste determinado trecho, Thayer tem seu pior momento dentro do set-list para reproduzir como músico algum dos diferentes estilos dos guitarristas-solos que passaram pela banda. Abaixo um vídeo da performance na noite anterior, também no Madison Square Garden.

O show vai se seguindo dentro da estrutura usual dos demais shows da banda, e evidentemente há também a percepção em variados níveis do uso do playback. Músicas como Psycho Circus ou I Was Made For Loving You trazem a nítida percepção, outras como a Makin’ Love ou Shout It Out Loud parecem revezar mais a parte real com o uso da ferramenta. Em Heaven’s On Fire, a opção é por não fazer o trecho à capella em seu início. Decisão acertada, não há realmente mais o que se exigir de um vocalista depois de 50 anos gastando sua voz de forma praticamente ininterrupta. Há uma evidente percepção da fragilidade do vocal de Paul mesmo durante as suas falas.

O repertório é baseado na fase clássica da banda, com algumas incursões pelas demais faixas, ali estão Lick It Up, as já citadas Psycho Circus e Heaven’s On Fire, além da mais recente Say Yeah (a única deste último line-up da banda) e duas do álbum Creatures of the Night, I Love It Loud e a também citada War Machine. Individualmente, percebe-se ainda um destaque para Eric Singer, ainda que saibamos que o baterista pode fazer muito mais do que mostrou. Há de ressaltar a entrega de uma banda onde os fundadores passaram dos 70 anos durante mais de duas horas de espetáculo.

O show é impactante do ponto de vista sonoro e visual, aliás cada vez mais. A plataforma onde Paul Stanley faz a performance de Love Gun, I Was Made For Loving You e o trecho inicial de Black Diamond traz um chão com uma estrela desenhada e uma bonita e diferenciada iluminação. No bis a banda toca, além da versão “piano-fake” de Beth, Do You Love Me? e a indefectível Rock And Roll All Nite. Os demais efeitos sonoros e visuais são a prova inconteste da evolução tecnológica que se pode presenciar durante esses 50 anos. A banda sempre esteve à frente quando a questão é o visual. Entregou novamente uma exuberância como espetáculo.

A questão mais crítica é a parte musical, pelo menos do ponto de vista de inovação em um show que seria o último da carreira. Não houve acordo com os fundadores Ace e Peter, é possível que nem tenha havido tanto interesse assim. Vinnie Vincent é persona non grata, por motivos pra lá de justificáveis. Bruce Kulick, no entanto, certamente faria uma participação, em um exercício de imaginação aqui entendemos que bastava que fosse chamado. Não se cogitou tocar músicas menos conhecidas, isso seria realmente surpreender. Nenhuma música da fase onde Kulick esteve na banda foi tocada no show. Sequer houve uma menção (em vídeo) a Eric Carr, muito menos a Mark St John e talvez aqui resida nossa maior crítica, como fãs de todas as fases. Sim, um relato pessoal nos faz nos entendermos como fãs não clássicos da banda e para isso abrimos um parágrafo a mais para explicar…

Ontem, durante o dia, eu, Alexandre, ouvi álbuns como The Elder, Killers, Lick it Up e Creatures of The Night. Esses, entre outros, foram os discos que formaram nosso caráter musical, há 40 anos atrás. Esses álbuns foram a pavimentação para conhecer outras bandas, aprimorar o gosto musical, admirar outros músicos e músicas. É preciso enaltecer essa importância da banda pra nós. Não fossem eles, uma geração de brasileiros não teria conhecido um destino musical, uma grande parte destes brasileiros surgiu em 1983, com primeira passagem da banda no Brasil. Nós somos testemunhas vivas deste momento. A sobrevida que a banda teve ao lançar o álbum Revenge também precisa ser evidenciada. O show de 1994 em São Paulo é pra nós um momento onde a música falou muito alto. Hoje, no entanto, o que se confirma é que se viu a partir de 1996, na Reunion Tour, onde pouco a pouco a parte musical foi deixando de ser uma prioridade para a banda. Nesses quase 30 anos, a banda lançou 3 álbuns. Enxergamos mérito como músicos na busca pelo som mais clássico no Monster e no Sonic Boom. Ainda assim, o tempo mostrou que esses álbuns não ficaram memoráveis pra nós, e imaginamos, para boa parte daqueles que continuam acompanhando a carreira da banda. E o que o futuro da banda nos reserva?

A resposta, em parte, veio no fim do show: A princípio saem de cena os músicos, pois a idade chegou e isso é algo inexorável e plenamente justificável. Sabe-se lá se a banda ainda poderá se reunir em raras apresentações ou em algum KISS Kruise, por exemplo. Fica, no entanto, perpetuada a marca KISS, como já havia sido prevista aqui no Minuto HM. Ou seja, algo mostrado pelo saudoso Daniel, há quase 10 anos atrás. A sequência vai apontar inicialmente para uma versão do grupo em um modelo de avatares digitais: Foi exatamente isso que ficou exposto, após o show, na projeção em telão e na transmissão do PPV, com personagens digitais criados a partir dos membros atuais, fazendo uma espécie de performance fantasiosa de God Gave Rock n Roll To You II. O projeto tem a participação da Industrial Light & Magic e da empresa de entretenimento Pophouse.

No fim a transmissão do PPV vai para o backstage onde novas entrevistas seguem sem muito roteiro, com a participação de Thayer e de Gene, visivelmente emocionado, com a presença de alguns familiares. Apesar de um espetáculo bem marcado, sentimos falta da presença dos demais integrantes neste pós show. Além disto, a transmissão termina sem um fechamento mais apropriado, de forma até abrupta.

Apontando para o futuro, alguns elementos de ligação já foram criados, como a diferente cor do baixo de Gene nas últimas duas músicas que remetem às cores das cordas do seu personagem digital. E partindo para esse cenário, além de apontar para algo infinito, traz igualmente infinitas possibilidades. Vamos lembrar que o Kiss “digital cartoon” já participou de um desenho de longa metragem com Scooby-Doo em 2015. Espetáculos de todos os tipos podem ser criados, basta exercitar a imaginação: eventos, séries em streaming, documentários, shows transmitidos com presença de público, eventualmente até novas canções poderão ser criadas, não há limite que possa se enxergar. É plenamente possível entender que trata-se de uma estratégia que aponta para buscar novas gerações de fãs. As primeiras reações dos fãs mais tradicionais em sua maioria apontam para uma certa desaprovação da ideia. Independente disto, já há no site kissonline.com e no canal oficial da banda no YouTube uma entrevista de mais de 30 minutos com a banda e os produtores do formato em avatares. Há também um outro vídeo no site kissonline.com onde já se percebe que o grupo gravou várias outras faixas, como War Machine e Deuce. O projeto é chamado “Kiss New Era“. E qual a dimensão de sucesso que esta primeira direção poderá lhes trazer?

Ficam esta e outras dúvidas para serem dirimidas conforme o futuro deixar de ser futuro. Para o nosso entendimento, pois sempre primamos pela parte musical, ficou sim uma grande dúvida: até que ponto isso vai nos motivar? O desenho com Scooby-Doo com certeza é um exemplo que não nos cativa. Permanece também essa questão para o futuro nos mostrar. Enquanto isso, fica o nosso sincero agradecimento aos músicos não virtuais. Paul, Gene, Ace, Eric Carr, Vinnie, Peter, Mark, Bruce, Eric Singer, Tommy, muito obrigado por terem feito e continuarem fazendo parte das nossas vidas.

Saudações,

Alexandre B-side e Flávio Remote



Categorias:Cada show é um show..., Curiosidades, Kiss, Músicas, Resenhas, Setlists

12 respostas

  1. Flávio e Alexandre, que bom vê-los aqui. Falando sobre Kiss. Ninguém melhor. Não menos que os melhores. Li e agradeço pelos detalhes e pela visão mais do que alinhada. Que bom que houve a sensação de um fechamento de um ciclo. Do pouco que eu ouvi, até para a chamada a voz do Paul está muito depauperada. O uso de playbacks é complicado. O que só reforça que o fim musical da banda chegou há tempos. Sobre a ideia de que haveria uma possibilidade de enxerto de algo diferente no repertório do set list automático que o Kiss entrou nos últimos 20 anos, sinceramente, era um otimismo que depois eu preciso ouvir de vocês de onde vocês criaram essa expectativa. Sem chances! Não há condições ou condição técnica que permitisse nada disso.

    Interessante dois pontos que a música vem assumindo recentemente: o franqueamento de bandas e a permanência da empresa artística que carrega o nome da banda para q entrega do produto show ao vivo. Só o tempo dirá se isso poderá coexistir no show business.

    Obrigado Kiss, por tudo!

    Obrigado Flávio e Alexandre por tudo!

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  2. Rolf, é muito interessante ver uma perspectiva mais pragmática acerca dos rumos musicais da banda neste fim de carreira (??). Você tem e tinha razão em não entender uma mudança no repertório para o show final da banda não virtual. No entanto, não somente nós, mas também a imensa maioria dos fãs que acompanhavam este último passo tinham essa expectativa. Como complemento, em alguns dos shows recentes onde houve soundcheck eles tocavam músicas como Hotter Than Hell ou Plaster Caster.
    Ou seja, apesar da criticidade do estado vocal de Paul, algo daria sim pra ser feito. É lógico que seria desafiador cantar algo da fase mais aguda, sons do Crazy Nights ou mesmo I Still Love You. A grande maioria dos reviews de internet dos fãs traz inegavelmente três decepções, duas sem muita justificativa. A primeira é para o set-list totalmente engessado no último show da banda e a segunda por não haver sequer uma homenagem em vídeo aos demais membros, que fosse ao Eric Carr, pelo menos.
    A terceira decepção para a maioria dos die-hard fãs é esse projeto de Avatar. Aqui é bem discutível entender como uma estratégia fadada ao fracasso ou pensada em angariar novos fãs e assim manter as cifras registradoras em alta.
    Eu vejo neste momento o projeto do Abba em bom funcionamento comercial. Considerando isto, faz sentido comercialmente eles também apostarem.
    Musicalmente, como você atestou, e também nós já havíamos percebido desde 96, nada mais interessa.
    Obrigado pelos elogios e complemento ao texto.

    Alexandre

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  3. A banda pode até ter acabado (vai saber, né?), mas as brigas pelo dinheiro, ahhh, essas vão até a morte deles… ou será que os próximas gerações também vão assumi-las?

    ACE FREHLEY Believes He Will Get Paid For Use Of ‘Spaceman’ Makeup In KISS Avatars: https://blabbermouth.net/news/ace-frehley-believes-he-will-get-paid-for-use-of-spaceman-make-up-in-kiss-avatars

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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    • nem perco o meu tempo nisso mais……

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      • Mais um então para você não perder tempo… 🙂

        [ ] ‘ s,

        Eduardo.

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        • Eu vi essa entrevista, Bruce foi, ao mesmo tempo, educado e firme. E tem razão, como todo mundo tem, tirando os donos da banda.
          A verdade é que esse último show já deveria ter sido feito há pelo menos uns 5 anos.
          E o automático foi ficando tão automático que nem um mísero vídeo foi trazido. Pode ser uma questão de ego, uma questão de descaso, desrespeito com as outra fases, chamem lá do que quiserem.
          Pra mim, a repetição de uma rotina automática que, eu espero, tenha acabado.
          Pra frente é continuar ganhando dinheiro.
          E eventualmente buscar algo pra aproveitar o resto da vida dos patrões, eu posso aqui afirmar que nenhum dos dois aguenta mais pular no palco com aquele monte de roupa pesada, fora a rotina cansativa de fazer maquiagem.
          Poderiam, no entanto, interromper o automático ( de saco cheio ) que fosse na última vez, mas ia dar muito trabalho, né?

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  4. Enquanto aguardamos a recente volta da Discografia Kiss chegar a abril de 2024, vamos soltando algumas coisas por aqui, vai…

    Kiss sells catalog, brand name and IP. Gene Simmons assures fans it is a ‘collaboration’: https://abcnews.go.com/Business/wireStory/kiss-sells-catalog-brand-ip-gene-simmons-assures-108831218

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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    • Um movimento que se segue ao feito por vários outros artistas. No meu entendimento, já que a vez que os direitos e os novos rumos da banda estarão com outros que não os próprios fundadores (é apenas uma questão de quando e por quem), é perfeitamente natural que os Gene e Paul desejem fazer isso enquanto podem decidir.
      Essa história de collaboration é uma balela.

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