Cobertura Minuto HM – Paul McCartney em Brasília – 30/nov/2023 – Got Back Tour – resenha do Hot Sound e show

Senhoras e senhores – interrompemos nossa programação “normal” (esse blog tem de tudo menos coisa normal) para, com enorme satisfação, poder trazer a “memória de show”, como o amigo Charles chama, do primeiro dos oito shows no Brasil em 2023.

Venho trocando e-mails com o Charles há algumas semanas e não podia resistir a pedir para ele compartilhar seu relato sempre único e detalhado como ninguém do que é a conexão em níveis físicos e espirituais com Sir Macca. Então, abaixo, deixo esse verdadeiro presente registrado a todos. Que privilégio!

Deixo um abraço especial ao Charles. Curtam cada letra do texto abaixo! E Charles, pode me chamar de “O Deus da Chuva” :-).

Ah! Deixo ainda links aqui para quem “entrou” por este post e quer ver a cobertura completa de todos os shows de Macca no país no ano!

[ ] ‘ s,

Eduardo.


Por Charles.

Como de costume, eu estava descrente quando surgiram os primeiros boatos sobre a volta de Paul McCartney ao Brasil (maio de 2022 e maio de 2023). 

A descrença continuou até que eu recebi um e-mail da equipe dele em 7 de agosto de 2023, informando sobre a confirmação de shows em Brasília, Belo Horizonte, São Paulo, Ccuritiba e Rio de Janeiro. A venda de ingressos começaria no dia seguinte, 8 de agosto, a partir das 10 horas da manhã, para membros do fã-clube oficial e para clientes do Banco BRB. A mensagem eletrônica continha um link para o site de vendas, no qual ainda não estava acessível a página de vendas dos ingressos do evento. 

Bem, ia começar tudo de novo.

Eu me interessei pelo show de São Paulo. A minha saúde já tinha declinado bastante desde o último show, em 2019, e eu não estava disposto a viajar para mais longe, ter que pegar avião, fora o cansaço habitual que qualquer show me causaria, mesmo que fosse ao lado da minha casa. 

O show de São Paulo estava marcado para 9 de dezembro, um sábado. Considerando que para mim o dia 8 seria feriado, eu poderia viajar pra lá tranquilamente. Todos os custos seriam menores, tanto os custos financeiros quanto os custos pessoais/profissionais.

Porém, quando começaram as vendas na manhã do dia 8 de agosto, eu não tive sucesso. Eu comecei a acompanhar o site de vendas por volta das 9h20min da manhã. Pelo link que constava no e-mail que eu tinha recebido, eu acessei o site de vendas dos ingressos e percebi que a venda dos ingressos VIP (Hot Sound Package) ainda não tinha começado. 

Às 10 horas em ponto eu já pude começar o processo de compra. No entanto, quando fui finalizar, apareceu um aviso dizendo “sold out”. Merd*… isso nunca tinha me acontecido antes. Fiquei possesso. E chocado.

É claro que eu imaginei que poderiam colocar mais ingressos VIP à venda posteriormente. E é claro que eu imaginei que, se a procura estava tão grande, TODOS os ingressos para o dia 9 se esgotariam rapidamente e provavelmente seria marcado um segundo show em São Paulo, talvez no dia 10. Tudo hipoteticamente falando.

Todavia, em termos de show, eu nunca trabalhei com hipóteses. “Se até lá eu estiver em condições de ir…” “Se colocarem mais ingressos à venda…” “Se marcarem um segundo show…” Nada disso podia passar pela minha cabeça. 

Assim como aconteceu em Vitória, em 2014, quando passei muito mal até a véspera do show, e fui até hospitalizado, eu me guiei pela ideia de que eu iria, vivo ou morto. E fui em frente. Sem contar com hipóteses. Com hipótese nenhuma. E não me arrependi nem um pouco.

Eu desisti, então, de ir ao show de São Paulo – e a única outra cidade em que eu teria alguma vantagem seria Brasília. 

Embora o show de Brasília estivesse marcado para um dia de semana (30 de novembro, uma quinta-feira), e eu tivesse que me deslocar de avião, na ida e na volta, tendo também gastos diversos com táxi entre a minha casa e o aeroporto de Campinas, e entre o aeroporto de Brasília e o hotel daquela cidade, na ida e na volta, existiam duas vantagens evidentes: o hotel onde eu minha esposa ficamos em 2014 – o Comfort Suites Brasília – fica próximo de um shopping center, o Brasília Shopping, o que significaria que eu não teria gastos com locomoção para alimentação. E o hotel também fica próximo do Estádio “Mané Garricha”, portanto poderíamos ir ao show e voltar dele caminhando, sem depender de condução. 

As dificuldades que nós tivemos para encontrar condução depois do show de 2017 em Belo Horizonte, e principalmente depois do show de 2019 em Curitiba, recomendavam que em hipótese alguma eu escolhesse locais onde essa dificuldade poderia se repetir. Isso obviamente já excluía Belo Horizonte e Curitiba. 

E quanto ao Rio de Janeiro, ah, o Rio de Janeiro… embora o show fosse no Estádio do Maracanã, eu sinceramente não queria que a minha provável última lembrança do Paul fosse no mesmo estádio onde nós nos vimos pela primeira vez. O mesmo estádio onde eu quase morri na frente dele naquele já distante 21 de abril de 1990, ainda mais depois que o estádio foi reformado e descaracterizado… eu não merecia isso – e acredito que nem ele. Sem falar que eu não iria me hospedar perto do Estádio do Maracanã; ou seja, eu dependeria de condução para tudo, inclusive para me alimentar e para ir ao show e voltar, como aconteceu nas vezes anteriores em que estive no Rio de Janeiro…

O meu destino seria, portanto, Brasília. Povo gentil, cidade acolhedora. Comecei o processo de compra às 10h22min… repeti todo o processo de compra, extremamente nervoso, e concluí às 10h30min. Às 10h39min, finalmente, a compra foi confirmada. Ufa! Que loucura!! 

No final, apesar do transtorno de ter que viajar de avião, e de depender de táxi entre a minha casa e o aeroporto de Viracopos, em Campinas, e entre o aeroporto de Brasília e o hotel, eu até considerei melhor ir até Brasília, porque acreditava que lá em Brasília teria menos gente no show, especialmente no pacote VIP, e, portanto, não teria tanto tumulto como, provavelmente, em São Paulo.   

Mais tarde, eu vi que colocaram novos ingressos VIP à venda para o show de São Paulo – porém, o meu destino já estava decidido: Brasília. 

Feita a reserva no Comfort Suites Brasília e compradas as passagens de avião, restava aguardar.

No dia 11 de agosto, em consulta, meu médico não viu problema em relação à minha ida ao show, desde que com “as cautelas de praxe” e devidamente acompanhado. Ele até se interessou em ir também!

O tempo passou, o dia 30 de novembro estava chegando e comecei a me preparar para a viagem, na forma de costume, exceto pela preparação física, que dessa vez, por motivos vários, ficou bastante aquém do que eu vinha fazendo desde 2011.

Todavia, já na semana do show, o prometido e-mail da VIP Nation com “as instruções de praxe” não aparecia na minha caixa postal eletrônica. 

No final da tarde do dia 27 de novembro, impaciente, eu enviei uma mensagem à VIP Nation cobrando as instruções sobre o show, respondida ainda naquela noite, com as indicações necessárias, porém dizendo que eu devia chegar com os ingressos nas mãos. Questionei sobre isso e me responderam em seguida que eles forneceriam o ingresso no momento do check in do Hot Sound – como de costume, por sinal. Ah, bom… 

As malas foram arrumadas no dia 28, na correria, e no dia 29, como eu ainda estava “inteiro”, eu e minha esposa pegamos o avião em Campinas rumo a Brasília – com “as cautelas de praxe”, afinal, para pessoas como eu, a pandemia ainda não acabou.

Infelizmente, nosso avião encostou no portão de embarque no horário em que era para estar partindo. O atraso atrapalhou bem a nossa chegada a Brasília.

Saindo do aeroporto de Brasília passamos por uma banca de jornal, para comprar jornais locais com notícias do show, como de costume, e de lá chegamos ao hotel já ao cair da noite. A recepcionista que nos atendeu comentou que o hotel estava cheio de fãs… portanto, nada de novo. Depois de mais de quatro anos, foi bom voltar a viver tudo isso.

No dia 30, data do show, saímos do hotel pouco depois das onze e meia da manhã. Fazia um calor considerável. Porém, eu imaginei que logo o Eduardo iria chegar a Brasília trazendo sua inseparável “nuvem” e iria chover. Ou pelo menos nublar, o que era o meu sonho… afinal, ainda tenho trauma da chuva que ele levou em 2014

Um termômetro digital da Via N2 marcava 33ºC – e eu já estava me sentindo mal com o calor enquanto caminhava.

Já perto do estádio, a sinalização das entradas estava exemplar. Até mesmo a entrada do Hot Sound estava muitíssimo bem sinalizada dessa vez, tanto na rua quanto no próprio estádio.

Chegamos à entrada do Hot Sound (Portão “K-6”) às 12h16min e havia somente um casal na nossa frente. Tratei de me sentar logo, para me poupar o máximo que pudesse. A moça que já estava lá quando chegamos comentou que haviam fornecido copos de água mineral para eles e que ela tinha vindo de São Paulo, pois também não tinha conseguido comprar ingresso na primeira tentativa… que consolo saber que não fui só eu! Outras pessoas chegaram logo em seguida.

Eram 12h28min quando “Dom” e Diego, já conhecidos de Hot Sounds anteriores, vieram até o portão para dizer que já iriam abrir para nós e que estaríamos em 26 “hot sounders” no total. Como eu esperava, pouca gente.

Aberto o portão às 12h32min, ganhamos do pessoal de apoio os primeiros copos de água mineral do dia (certamente um “efeito” do episódio Ana Clara, em que uma fã chamada Ana Clara Machado passou mal e morreu no show de Taylor Swift por causa do calor intenso, dias antes). “Dom” avisou que teríamos a companhia de estudantes de música na passagem de som, em vista do reduzido número de “hot sounders”.

Às 12h35min o primeiro casal foi chamado para receber os ingressos, destacados na hora, as credenciais (que eu chamo de “medalhas olímpicas”) e as pulseiras.

Dois minutos depois foi a nossa vez.

Nossas bolsas foram revistadas e às 12h42min fomos levados em fila para o Hot Sound Lounge, numa caminhada curta de três minutos.

Nos sentamos num local afastado dos demais e muito bem ventilado, atrás das cadeiras do estádio (e do palco) e bem de frente para a parte interna do “Mané Garrincha”. Logo os garçons já serviram bebida (suco, no nosso caso) e depois passaram servindo aperitivos. Os funcionários passaram algumas vezes fornecendo suporte para copos – garanto que ninguém usou, todos trouxeram de lembrança…

Duas telas exibiam videoclipes e imagens de shows: Fine Line, Hey Jude (Paul ao vivo), Save Us, Let It Be (Paul ao vivo), Hello Goodbye (clipe), Coming Up, Let It Be (Beatles), Help! (clipe), Band On The Run, Get Back (rooftop), Revolution, Hey Jude (clipe), Something (clipe), Penny Lane (clipe), Yesterday (show de Blackpool), Queenie Eye, Dance Tonight, Don’t Let Me Down (rooftop), No More Lonely Nights, Come On To Me e I’ve Got A Feeling (ao vivo com vídeo do John) – em seguida a exibição recomeçou com Fine Line novamente e daí seguiu.

Eu tive a primeira crise de choro do dia durante o vídeo de I’ve Got A Feeling, pois as imagens me lembraram o que me aguardava. Minha esposa, preocupada como sempre, achou que eu estava passando mal e disse que eu estava “roxo”. Mas passou.

O almoço saiu às 13h10min, no sistema self service. Não se equiparou à variedade de Brasília em 2014 ou de Belo Horizonte em 2017, todavia, sem dúvida, foi muito melhor do que Recife em 2012, ainda mais para quem tem restrições alimentares, como eu. Comemos e bebemos o suficiente para resistirmos ao que nos esperava. Nessa hora é bom não ultrapassar limites, né?

Às 13h29min o “Dom” deu as tradicionais boas-vindas a todos e as explicações de costume sobre o Hot Sound, com a promessa de entrega das sacolas com nossos brindes em breve, e fez questão de perguntar se o almoço estava bom. 

Eram 14h28min quando avisaram que a sobremesa seria servida. Neste caso, os garçons foram de mesa em mesa oferecendo, depois de cerca de dez minutos. Todos muito bons e simpáticos e tudo muito gostoso.

Observei que estava ficando nublado: sinal de que o avião com o Eduardo já devia estar pousando…

Às 15h6min “Dom” chegou com as nossas sacolas e disse que o Paul, “apesar de ser britânico”, estava atrasado (o que já sabíamos, pois a passagem de som estava marcada para as 14h30min…). O pessoal passou de mesa em mesa entregando as sacolas contendo um pôster, um boné e um caderno, e assinalando nossas pulseiras para ninguém pegar duas ou mais sacolas.

Como já tínhamos aproveitado para ir ao banheiro várias vezes, ficamos aguardando a chamada para a “baia” da passagem de som. Afinal, só faltava isso.

De fato, às 15h15min o “Dom” finalmente avisou que íamos descer. Ficamos a postos. Passados dois minutos, “Dom” e Diego nos conduziram até um elevador, divididos em grupos de aproximadamente dez pessoas. Saímos do elevador e nos seguraram um pouco naquele pavimento até os demais hot sounders se juntarem a nós. Logo depois fomos andando em fila indiana até a saída para as cadeiras. Descemos uma escadaria entre as cadeiras inferiores e às 15h25min chegamos à “baia” onde ficaríamos para a passagem de som. Nos posicionamos bem diante do microfone que o Paul usaria.

Os estudantes chegaram em seguida e lotaram a “baia”.

Às 15h37min Brian Ray entrou no palco e acenou para nós, provocando a primeira onda de histeria do dia. Naquela altura eu já me preguntava se o Paul iria demorar muito, porque não sabia se eu aguentaria por muito tempo aquela ansiedade e aquela dúvida sobre se eu resistiria até o final do show (pelo menos).

Continuaram fornecendo copos de água mineral para a gente e eu continuei tomando, para me garantir. “Dom” passou perto de nós e nos apresentou, em Inglês, sua chefe.

Enfim, às 15h46min Paul apareceu de terno preto e camisa azul e “barba nascente”. Começou a falar conosco já no primeiro microfone (o primeiro da nossa direita), mas eu mal entendia o que ele dizia por causa do barulho do pessoal à minha volta. Então ele foi para o microfone do meio… disse “oi” em Português, falou “have a good time; see you later” e fingiu que já ia embora… bem, estava de bom humor e aparentemente feliz por estar de volta.

Em seguida ele foi conversar com o pessoal que estava no palco à nossa esquerda. 

Ansioso, às 15h51min o pessoal puxou um coro de “na, na, na, na, na, na, na…”, então ele viu que estávamos morrendo de ansiedade, tirou o terno e pegou a guitarra.

Eram 15h53min quando ele começou a fazer jam (instrumental) com a banda.

Em seguida, sem tempo para delongas, atacou de Honey Hush às 16 horas, em ponto, terminando com uma espécie de Day Tripper coda. Saiu melhor que na passagem de som de Curitiba em 2019 e creio que não havia música melhor para “retomar” no Brasil depois desse intervalo de mais de quatro anos.

Com o baixo, tocou Day Tripper (às 16h5min) e I Wanna Be Your Man (às 16h9min). Caiu uma breve pancada de chuva durante Day Tripper, o que me fez lembrar do Eduardo, mais uma vez… com carinho, claro… 

Depois de I Wanna Be Your Man, muitas mulheres que estavam na “baia” começaram a gritar: “Lindo! Tesão! Bonito e Gostosão!”. Paul gesticulou com os braços demonstrando que não estava entendendo. Espero que depois alguém tenha “traduzido” pra ele… longe da Nancy…

De longe, esta já era a minha passagem de som mais divertida.

Às 16h12min ele atacou de Magical Mystery Tour e às 16h15min, atendendo a um pedido formulado em cartaz, Temporary Secretary, o que me pegou totalmente desprevenido. Geralmente eu ouço algumas músicas que podem aparecer na passagem de som, antes de viajar e antes de sair para o show. Com certeza Temporary Secretary seria uma das últimas de que eu me lembraria. Se tivesse que apostar em alguma de McCartney II, certamente seria Coming Up. Ou, se quisesse sonhar demais, One Of These Days. Summer’s Day Song ou mesmo Waterfalls

Paul foi então para o piano maior e fez C Moon (às 16h19min), Women And Wives (às 16h22min) e Let ‘Em In (às 16h26min). Eu certamente apostava em Women And Wives; me apaixonei por essa música (em especial pela sua mensagem) assim que ouvi McCartney III pela primeira vez. Fiz questão de curtir de mãos dadas com minha esposa, depois de 20 anos de casamento e filhos já crescidos.

Em seguida Paul pegou o violão e mandou From Me To You (às 16h32min, a melhor surpresa da tarde) e Every Night (às 16h35min), nos presenteando assim com uma faixa de cada álbum da “trilogia McCartney”.

Pegou o ukelele e cantou Ram On, às 16h38min.

Com outro violão, fez Midnight Special (às 16h40min), resumindo antes, em Inglês, a história por trás da música, dizendo que não saberia falar isso na nossa língua (como se precisasse pedir escusas por isso… hahaha!). Na hora de cantar, mudou o verso “If you ever go to Houston” para “If you ever go to Brasília”, como sempre homenageando de alguma forma a cidade onde está…

Infelizmente, naquela altura, eu sabia que estávamos atrasados; os portões já deveriam ter sido abertos para o pessoal da pista entrar. Não ia demorar muito para a passagem de som acabar.

Quando vi que o piano menor (colorido) já estava sendo posicionado, dei uma piscada para minha esposa avisando que “já estava chegando a hora” e precisávamos nos posicionar perto da “saída” da “baia”.

Para minha surpresa, Paul ainda tocou New (às 16h43min), antes de agradecer dizendo “Obrigado; show de bola!” e passar para Lady Madonna (às 16h47min).

Às 16h49min Paul agradeceu dizendo “obrigado”, disse em Inglês que a passagem de som tinha terminado e esperava ter tocado as que pedimos e mais. Cara, por mim poderia ter mais ainda, mas… se despediu dizendo “See you later, everyone”. 

Já tinha gente ansiosa, com medo da abertura dos portões para o público em geral e eu com medo da chuva. Já estava até sentindo os primeiros pingos… 

Às 17 horas em ponto fomos liberados pelo “Dom” e corremos para a grade (a única corrida do dia para nós), já debaixo de chuva novamente. Minha esposa ficou do lado da Sandra, de Porto Alegre, nossa velha conhecida de shows anteriores, e eu fiquei do lado de um rapaz de Brasília que tirou uma selfie comigo com o celular dele. Nos sentamos com as costas apoiadas na grade, na direção do microfone onde o Paul iria cantar.

O pessoal da pista começou a chegar às 17h8min e a chuva parou. Ufa! Parece que o meu “São Pedro” finalmente ganhou a queda de braço com o “São Pedro” do Eduardo…

Em cima de mim veio um rapaz da Argentina, com vários outros argentinos atrás dele. Quando ele se sentou, ficou me apertando um pouco no começo, o que não era novidade. Logo eu pensei: “eu mereço…”. Porém, depois ele se ajeitou e ainda conversou comigo, quis saber em quantos shows eu tinha ido, qual foi a minha set list preferida… cantarolou um pouco de Now And Then, sem dúvida o maior lançamento do ano para todos nós. Todavia, ele conversou mais com o rapaz de Brasília que estava ao meu lado. Na nossa frente ficou um par, os dois bastante atléticos, e foram eles que seguraram a pressão atrás de nós quando o show começou (afinal, estávamos bem na “maior panela de pressão” da pista). Gente finíssima.  

Várias vezes funcionários foram fornecer copos de água mineral para nós e para os que estavam atrás de nós (quem estava mais na frente repassava para quem estava mais atrás). Não faltaram também as nuvens de fumaça de maconha que vez ou outra era possível sentir.

Às 18h5min eu e minha esposa mudamos de posição, ainda sentados; ficamos de lado (um de frente para o outro). O jeito, mais do que nunca, era tentar ficar sentados o máximo possível – e torcer para aguentar depois o tempo em que teríamos que ficar em pé. Até ali estava correndo tudo bem, muito bem por sinal, mas eu ainda estava com medo de não chegar até o momento do Paul dizer: “Até a próxima!”.

Eram 18h16min quando o telão exibiu uma mensagem de boas-vindas e instruções sobre segurança, pela primeira vez. A hora, como sempre, não passava. Esse intervalo entre a passagem de som e o show, para os hot sounders, seguramente é o pior… 

Às 18h50min apagaram as luzes do estádio e todo mundo que estava perto de nós se levantou. Eu e minha esposa resistimos sentados. O objetivo continuava sendo permanecer sentados o máximo possível.

Diante da pressão dos “vizinhos”, planejei me levantar somente às 19h5min e cumpri mais essa meta. 

Às 19h16min o telão exibiu novamente a mensagem de boas-vindas e instruções sobre segurança; um homem passou na nossa frente dizendo, em Inglês, que quando o show começasse nós devíamos segurar na grade com as palmas da mão pra baixo e os braços flexionados, para que não tivéssemos as costelas e/ou os braços quebrados/esmagados quando fôssemos pressionados contra a grade pelo pessoal que estava atrás de nós. Foi o momento “Horror Show” da noite, embora não tenha se concretizado. 

Eram 19h31min quando o DJ começou a sua apresentação; comecei então a me alimentar com os chocolates e salgados que tinha levado na bolsinha preta que minha filha caçula emprestou. Afinal, não dava pra encarar o show de estômago vazio, nas minhas condições de saúde. Tratei de beber mais água também.

As músicas do DJ não saíram muito do previsível. A primeira, Minha Vida (com Rita Lee), foi muito aplaudida. Depois vieram Paperback Writer, Day Tripper, Dizzy Miss Lizzy, I Saw Her Standing There (com Little Richard), Back In The USSR (cover), Boys, The Back Seat Of My Car, Magical Mystery Tour, Don’t Let Me Down (cover), Mother Nature’s Son, Venus And Mars, Come Together (cover), Big Barn Bed, Why Don’t We Do It In The Road?, I Am The Walrus, Help! e World Without Love.

A apresentação do DJ acabou às 20h16min, o que significava que o show iria atrasar. Imediatamente teve início a exibição do filme que antecede o show – o áudio começou falando da Beatlemania (em Inglês), mas um homem desmaiou atrás de nós e ele e a esposa precisaram ser resgatados por cima da grade, de costas, e foram retirados bem entre a minha esposa e eu, todos num aperto danado. O Brian, que trabalha na equipe do Paul, esmagou minha bolsa contra a grade durante o processo de resgatar o homem. Chegando em casa percebi que estou com algumas escoriações perto do cotovelo direito; provavelmente, efeito do mesmo resgate.

Passado esse incidente, as imagens do telão prosseguiram ao som de Twist And Shout, I Wanna Be Your Man, Oh! Darling, Love Is Strange, Country Dreamer, B-Side To Seaside, Flaming Pie, Smile Away, Coming Up e Mrs. Vandebilt.

Às 20h30min em ponto, quando Paul deveria estar entrando no palco, a galera das cadeiras acendeu as luzes dos celulares, já esperando que o show começasse.

Nove minutos depois, já tomado de ansiedade, o público começou a chamar: “Paul! Paul! Paul! Paul!”.

Às 20h46min uma nuvem de gelo seco começou a cobrir o palco, causando histeria geral.

Com a nota final de A Day In The Life e The End (cover), a exibição do filme acabou às 20h49min. Isso me deu a certeza de que eu iria aguentar – até o fim!

Às 20h50min Paul entrou no palco e se posicionou bem na minha frente para começar o show com Can’t Buy Me Love. Ele errou a letra – e eu também – mas quem se importa? Já era o meu 11.º show e eu só queria curtir, muito feliz por cumprir a promessa que fizera a mim mesmo em 1990: vê-lo pelo menos uma vez todo ano que ele voltasse. E curti mesmo, tanto que só tive uma crise de choro durante Junior’s Farm, quando a “anestesia” de vê-lo bem diante de mim mais uma vez passou e eu me dei conta de que estávamos lá, sobreviventes de uma pandemia que, segundo se estima, matou mais de 20 milhões de pessoas no mundo… mais de 700 mil somente no Brasil!

Durante o show, Paul foi mais “econômico” nas falas entre as músicas, certamente por conta do atraso. Quando eles começaram a tocar Hey Jude, não restava dúvida: não seria naquele show que eu sairia do estádio numa ambulância. Na hora do “na, na, na…”, ainda percebi que eu e minha esposa não éramos os únicos com máscara ali: o telão mostrou um homem com máscara no meio do público. Graças a esse anônimo, me senti menos “ET” naquele estádio, finalmente.

Às 23 horas em ponto a banda saiu do palco, para o breve intervalo. Dois minutos depois voltaram: como de costume, Paul portando uma bandeira do Brasil, “Wix” com a do Reino Unido, Rusty com a LGBT+ e Abe com uma taça de vinho…

Eram 23h25min quando Paul disse “Até a próxima!” e a chuva de papel picado caiu sobre nós enquanto ele desaparecia numa nuvem de gelo seco e de papel picado. Hora de abrir as bolsas e jogar o papel picado dentro, inclusive os poucos de cor vermelha, certamente remanescentes dos shows no México.

Encerrado o espetáculo, o pessoal não saía do estádio. Não conseguíamos sair da grade. Somente às 23h36min saímos de lá e fomos para o canto à nossa esquerda, em busca de uma saída. Lá nos avisaram que, infelizmente, a única saída era à direita. Então fomos nós para a direita, atrás da enorme massa que se aglomerava no “funil” que se formara para a saída do estádio.

Às 23h52min, na subida da rampa para sair do estádio, o pessoal cantou “Na! Na! Na! Na! Na! Na! Na!” uma última vez… sem dúvida, ainda estava difícil acreditar que tinha acabado. Os três meses de espera desde o anúncio do show passam tão devagar, enquanto o show em si passa num piscar de olhos. 

Saímos pelo Portão “E” do estádio às 23h55min e dezoito minutos depois da meia noite chegamos ao hotel. Secos, ao contrário de 2014, quando… bom, deixa pra lá, né, Eduardo??

Ainda levamos duas horas para nos organizar para a viagem de volta, na sexta-feira.

Deixando o hotel de manhã, a caminho do aeroporto, ainda paramos em uma banca para comprar jornais do dia. Dessa vez o voo foi pontual e às 14h52min estávamos entrando em casa. 

Deu tudo incrivelmente certo. Fora a “ressaca pós show”. Depois que tomei banho e me alimentei, dormi o resto da tarde da sexta-feira; acordei para jantar e fui dormir de novo. Acho que não fazia isso desde que voltei quase “morto” do Rio em 1990.

Neste ano, eu e minha esposa completamos exatos vinte anos de casados e não tivemos coragem de viajar para lugar nenhum a fim de comemorar, por vários motivos (entre eles, a minha saúde). No entanto, apesar da resistência inicial, não só ela foi comigo – mais uma vez – como até mesmo tirou fotografias melhores que as minhas!

Muitas músicas poderiam retratar, ainda que parcialmente, a nossa história, desde We Got Married, do tempo em que eu ainda era “solteiro e encalhado”, passando pelas mais recentes New e Come On To Me, até Women And Wives, com a qual fomos brindados na passagem de som. Sem dúvida, eu não poderia ter tido companhia melhor nessa jornada.

E se o Paul permanecer “aberto dia e noite”, como canta em Find My Way, pretendemos estar lá novamente. 



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1 resposta

  1. Eu literalmente devorei cada palavra deste texto. Aqui é uma autoridade escrevendo. Cada detalhe, uma aula.
    Que bom ter a oportunidade de ler textos como esse ainda hoje em dia. Eles estão ficando cada vez mais raros.
    Oportunidade única, muito obrigado pelo privilégio!

    Alexandre

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