Obrigado Henry Miller!
Vocês estavam achando que isso aqui iria virar a discografia do MettallicA né!?!
Ok, tivemos um belo hiato desde o lançamento do Episódio 1 dessa discografia. Escrever uma resenha mais completa de álbuns, se mesclando com a história de um artista / banda, como fiz aqui no blog com a discografia do Iron Maiden (e iniciei o Bruce Dickinson), é algo complicado. Exige muito mais do que tempo, por mais que você domine o álbum alvo do texto. As ideias vêm, vão, se isolam, se apagam, você começa do zero, apaga diversas vezes um parágrafo, briga infinitamente com o texto, resolve deixar para lá e esperar um bom momento; e, às vezes, esse bom momento nunca vem.
Achei engraçado até porque Balls to Picasso, nosso episódio da vez, teve um pouco disso tudo que vivenciei na produção desse post. O segundo álbum solo de Bruce Dickinson começou a ser desenhado na época que nosso vocalista ainda era o frontman do Iron Maiden quando da turnê do Fear of the Dark, mas só foi lançado dois anos mais tarde, com Bruce já fora da banda, depois de alguns inícios do zero.
Estou com quarenta e dois anos. Eu tinha treze quando Balls to Picasso foi lançado. Se faz muito tempo que você não o ouve e tem ainda algumas impressões da década de 90 calcadas na sua mente, acho que a primeira coisa que você deve fazer é parar de ler esse texto. Vá ouvi-lo novamente, despido das suas impressões da época. Acredito que você vai se surpreender.
E para não perder o costume dos inícios dos meus posts de discografia, lá vai: no capítulo anterior, que você pode ler aqui, vimos Paul Bruce Dickinson criar seu primeiro álbum solo. Agora, anos mais tarde, em meio a várias turbulências criativas, nosso vocalista predileto estava ainda mais sedento para sair cada vez mais de sua zona de conforto.
Singles de Balls to Picasso
O segundo álbum solo de Bruce Dickinson teve dois singles, que foram apresentados em diferentes versões, principalmente na Inglaterra. Essas diferentes versões são tão singulares que eu me rebelei e, ao invés de colocar as fotos em moldura como sempre faço, criei um slideshow para passar as imagens. Com certeza você vai encontrar alguma versão de capa de single que eu não tenha colocado aqui. Com relação às descrições das músicas, minha intenção é listar as faixas que vinham no single, mas cada edição tinha uma relação diferente das canções – não vou separar as músicas para cada versão porque isso é ficar listando catálogo. Se você precisar desse conteúdo, recomendo olhar no site da Discogs.
Tears of the Dragon
Lançado em 28 de Maio de 1994, apresentada nada mais, nada menos, que um dos maiores (se não o maior) carro-chefe da carreira solo de Bruce. Continha as seguintes faixas:
CD 1
Tears of the Dragon – 6:23
The Breeding House – 5:20
No Way Out… to be Continued – 7:31
CD 2
Tears of the Dragon (Acoustic chill-out) – 4:34
Winds of Change – 4:15
Spirit of Joy – 3:13
Shoot All the Clowns
Lançado em Agosto de 1994 (não consegui achar o dia exato do lançamento), o single vinha com uma capa ridícula de Bruce sentado em um cavalo (que é o início do vídeo-clipe dessa faixa) e com as seguintes faixas:
CD 1
Shoot All the Clowns – 4:16
Tibet – 3:01
Tears of the Dragon (First Bit-Long Bit-Last Bit) – 8:18
CD2
Shoot All the Clowns (Extended Mix) – 5:39
Cadillac Gas Mask – 4:07
No Way Out…Continued – 5:17
Uma das fotos do single está com a banda de Bruce e sim, você olhou direito: Roy Z não está lá. Calma que chegaremos lá.
“Balls to Picasso” (1994)
Coisas que ninguém presta atenção Ficha Técnica:
- Produtor: Shay Baby
- Engenheiro de som: Spencer May, Sean De Feo, Andy Baker e Bjorn Thorsrud
- Gravado em: vários estúdios. Esse álbum foi uma salada. Algumas faixas foram gravadas em Londres, nos estúdios Metropolis e Townhouse 3, além de estúdios em Los Angeles e Nevada.
- Mixado em Nova Iorque, no estúdio Masterdisk.
- Fotos por Simon Fowler

O Line-up de Balls to Picasso – Esq. para dir.: Eddie Casillas (baixo), Bruce Dickinson (vocal), Roy Z (guitarra) e David Ingraham (bateria). Estranhou a foto né?! Então, é que não houve foto oficial, já que a Tribe of Gypses só foi contratada para a gravação do álbum. Então eu achei essa foto (bem mais) atual e achei que veio a calhar como uma justa homenagem.
Balls to Picasso foi lançado na Inglaterra em 6 de Junho de 1994. Foi um disco que nasceu com um Bruce Dickinson bem diferente do Bruce de Tattooed Millionaire. Em seu primeiro álbum solo, tudo começou com um convite para fazer uma trilha sonora de filme, a gravadora tinha dinheiro sobrando, gostaram da ideia de um álbum solo, uma coisa levou a outra e pimba. Alguns anos mais tarde, o saco do nosso vocalista já estava cheio de como as coisas andavam no processo de criação do Iron Maiden. Mesmo ainda na donzela, a cabeça de Bruce em 1992 estava voltada para duas novas ambições: tirar o brevê de piloto e fazer um novo álbum solo.
A mão na massa para o que viria a ser Balls to Picasso começou em Novembro de 92, em Santa Monica, onde as gravações deram início (quase dois anos ANTES do lançamento oficial do álbum). Todos da produtora tinham a premissa que Bruce queria uma continuação do som de Tattooed Millionaire e contrataram, assim, a banda de Hard Rock Skin para gravarem algumas faixas e iniciarem os trabalhos. Foi aí que Bruce entendeu que sua criatividade tinha chegado em um ponto que precisava mudar. Ele não queria uma continuação do que apresentou em seu debut. Tudo o que o pessoal da Skin gravou ele achou horroroso. Não que o som fosse ruim ou que o time não era tecnicamente competente, mas sim a questão da composição e do processo criativo. Um alerta foi soado. Ele chamou sua própria atenção. Ele tentou chamar a atenção dos seus amigos no Iron Maiden. Todos acharam que ele estava louco.
Algum tempo depois, em Los Angeles, Bruce enviava as fitas com o material criado junto à Skin para Keith Olsen, produtor com fama de ser bom em dar uma nova roupagem em materiais que não estavam aceitáveis. Keith apresentou uma série de músicos tecnicamente extraordinários para trabalhar com Bruce e novos materiais foram gravados. Bruce novamente não gostou de nada. Ele procurava algo denso, que refletisse os sentimentos de suas emoções e inconformismos da época. O engenheiro de Keith (abaixo à esquerda – RIP, ele faleceu em 2020) era Shay Baby (abaixo à direita – foto atual, não achei da época), que viu essa insatisfação no vocalista e pediu para que ele fosse conhecer a Tribe of Gypses, amigos de Shay.


Eram latinos e fanáticos por Iron Maiden. Roy Z era ex-usuário de crack que teve a vida salva pela música. Dave, o baterista, foi membro de gangue e ficou um tempo preso. Eddie, o baixista, era um cara tão legal que as gangues que disputavam o tráfico de drogas nos bairros entraram em um acordo para deixar a região da casa dele fora de conflitos. E sim, todos esses detalhes estão na biografia de Bruce – se você ainda não leu, tem que ler.

Bruce achou a banda tão criativa e fora da caixa que imediatamente cancelou os trabalhos com Keith Olsen e resolveu começar um álbum do zero pela terceira vez. A única canção que passou no teste do tempo foi Tears of the Dragon, que teve a sua maior parte criada na primeira tentativa, com a banda Skin. O resto foi obra majoritária de Bruce e Roy Z, que também deveria ter produzido o álbum, mas Bruce achou melhor endereçar com Shay Baby. Esse fator contribuiu diretamente para que Balls to Picasso fosse bem menos pesado do que deveria ser. Entretanto, Bruce estava mais do que satisfeito com o resultado, pois tinha criado uma atmosfera musical diferente de tudo o que tinha feito nos últimos 10 anos de vida.
Curiosidade: as gravações com a Tribe of Gypses iniciaram quando Bruce se despediu do Iron Maiden. Roy Z, David Ingraham e Eddie Casillas assistiram ao último show de Bruce porque estavam na cidade para o início dos trabalhos de gravação.
Balls to Picasso deveria se chamar Laughing in the Hiding Bush, mas Bruce mudou o nome do álbum por pressão da gravadora. A ilustração original foi criada pelo artista Storm Thorgerson, mas ela não foi usada por falta de verba (apesar dessa ser a versão oficial, eu não acredito nessas conversas de que “não havia dinheiro”, mesmo com Bruce Dickinson pagando por boa parte das coisas). Assim o desenho da arte foi parar nas mãos do Anthrax, para o álbum Stomp 442.

Não sei o que levou Bruce a pensar nesse nome horrível de Balls to Picasso, mas a capa é bem aquele humor britânico (que eu nunca acho graça) e, dessa vez, com trocadilho. A expressão “Balls to fulano” em inglês britânico significa “Fuck fulano”. Logo, a capa é literalmente traduzida como “Foda-se Picasso”. E aí temos dois quadrados desenhados na parede de um banheiro, que seria uma metáfora de uma obra de arte de Picasso (ou de alguém tão “talentoso” quanto ele – as duas versão são interpretáveis): as “Bolas de Picasso” (um trocadilho com o título e a representação de bolas quadradas, já que Picasso era cubista e esse estilo de arte colocava angulação em coisas redondas). E tem mais um trocadilho, porque as duas “bolas quadradas” podem literalmente serem os testículos de Picasso, que também são quadrados porque nada dele levava círculos, nem mesmo sua própria anatomia. E tudo isso não tem nenhuma relação com qualquer uma das faixas do álbum, o que me leva a crer realmente que Bruce usou de sua criatividade irônica já que a gravadora insistiu na troca do título do álbum.

Tracklist
- Cyclops (Bruce Dickinson / Roy Z) – 7:58
- Hell No (Bruce Dickinson / Roy Z) – 5:11
- Gods Of War (Bruce Dickinson / Roy Z) – 5:02
- 1000 Points of Light (Bruce Dickinson / Roy Z) – 4:25
- Laughing in the Hiding Bush (Bruce Dickinson / Roy Z / Andy Dickinson) – 4:20
- Change of Heart (Bruce Dickinson / Roy Z) – 4:58
- Shoot All the Clowns (Bruce Dickinson / Roy Z) – 4:24
- Fire (Bruce Dickinson / Roy Z / Eddie Casillas) – 4:30
- Sacred Cowboys (Bruce Dickinson / Roy Z) – 3:53
- Tears of the Dragon (Bruce Dickinson) – 6:24
Faixa a faixa
Você pode não gostar da sonoridade de Balls to Picasso. Também deve ter lido várias e várias críticas negativas ou medianas sobre o álbum. Mas ele foi de extrema importância para a carreira de Bruce e por materiais futuros que viriam a frente. Entenda uma coisa: nesse caso em específico o “álbum de rock” não é o mais importante, mas sim a confecção de algo diferente do que Bruce vinha criando. Essa oxigenação criativa foi o fermento na massa do bolo que possibilitou fatos como a reatação com Adrian Smith anos mais tarde. Além disso, é um álbum que envelheceu muito bem. Até porque eu envelheci também e, ouvindo-o dentro dos meus quarenta anos, as composições de Roy Z soaram melhor que há vinte anos atrás.
A abertura é com a faixa mais longa do álbum, com um timbre instrumental que já dá um tapa na cara de tudo o que você tinha ouvido com Bruce Dickinson até então. Cyclops começa com um ambiente tenso, abrindo passagem para um hard rock. A guitarra tem uma distorção meio metálica / robótica / futurista, que mantém essa sonoridade até mesmo no solo – ela só vai ficar mais limpa nas frases finais, feitas com nota pedal, que são comuns em rock orquestrado. O final da faixa dela também é fora do convencional, ainda mais para uma abertura. A letra permeia sobre nossas ações quando estamos escondidos e quando estamos em sociedade: a percepção de quem somos e quem parecemos ser. O título é uma referência à figura mitológica do Ciclope, que tem um olho só – uma metáfora para as dificuldades de percepção, relativa ao tema da canção.
Se a primeira faixa estranha aos ouvidos, a sequência com Hell No carimba que você não está à frente de um álbum de metal. Com uma boa pegada de bateria e um bom solo de guitarra, dessa vez com um timbre mais limpo, a canção aborda o tema de questionarmos quem somos e onde nos encaixamos. Um refrão chiclete, paciência. Acho essa faixa a mais fraca de todo o álbum. Talvez se ela não estivesse na segunda posição do set essa cobrança seria menor…
Terceira posição, Gods of War tem uma levada mais calma, dando espaço para o timbre de Bruce ganhar força, explorando tanto pontos graves quanto mais agudos, quando chegamos no refrão. Essa faixa escancara o que eu acho que deveria ter em todas as faixas: interlúdio. Mesmo que simples, uma melodia de guitarra melhora (e muito) a atmosfera musical. A letra faz um paralelo entre um desejo de menino, que achava que matar poderia ser motivo de orgulho e o adulto que agora vê que é possível sim ser um deus de guerra, mas com as armas do mundo dos homens, e que isso não é motivo de orgulho nenhum.
Quarta posição e primeiro ponto alto do álbum, 1000 Points of Light se aproveita do gingado de Roy Z, que criou um ritmo mais swingado, permitindo Bruce cantar sobre uma linha de rap. Um refrão poderoso e muito bem construído, um dos melhores do álbum. Antes da entrada do solo, temos o presidente dos Estados Unidos, George Bush, discursando. Ele que inclusive criou o termo “Thousand Points of Light” para se referenciar às pessoas de bem que trabalhariam em sua campanha política e que ele jamais teria a oportunidade de conhecer pessoalmente, como uma forma de agradecimento.
O excerto do discurso (que não tem no encarte) é esse aqui:
What is it that produces the light?
What is it that makes these thousand points of light shine?
What is it that will make America a kinder and gentler nation?
Perhaps I should ask who, who is it?
Na letra, Bruce coloca o mundo como um lugar sufocante e que pressiona as pessoas a construírem paredes e se isolarem ao invés de olharem para esses pontos de luz, que eu entendo como uma metáfora para a bondade que muitos desconhecidos têm a oferecer ao mundo, mesmo com todas os infortúnios afora. É algo muito interpretativo e nunca achei nada do Bruce comentando sobre essa canção.
Laughing in the Hiding Bush, quinta posição, tem em sua frase de guitarra introdutória o cartão de visitas que apresentou Roy Z a Bruce, quando os dois se conheceram, conforme Bruce conta em sua biografia. Tem em seu solo o ponto mais alto. Apesar de muito falarem dessa faixa, não acho essa cocada toda, mesmo com o riff principal tendo muito peso A letra é bem curta e é uma homenagem a seu filho, que quando era criança ele dizia que estava “laughing in the hiding bush” ao invés de “hiding in the laughing bush” (sic). Ou seja, ele fazia um trocadilho infantil com um arbusto que ele brincava. Esse arbusto existiu, ficava no quintal da casa onde moravam e seu apelido era “laughing bush”.
Sexta faixa, Change of Heart, se aproveita de frases e de um ritmo mais latino. Essa canção não foi feita para Bruce, mas sim para a banda Driver, onde Roy Z tocou com o vocalista Rob Rock. Bruce pegou a demo já gravada e mexeu na letra (e se aproveitou que Roy Z tinha os direitos autorais). O legal é que muito tempo depois a canção foi lançada por sua “banda original”. As duas canções falam do mesmo tema: o de uma necessidade de mudança de postura frente aos problemas da vida. Eu adoro essa música. A comparação é toda sua:
Na sequência, Shoot All The Clowns entrega uma das canções mais cheias de vibe do álbum. Tem um ritmo mais rock’n’roll misturado com elementos dançantes e uma guitarra que se destaca sem precisar de peso. Mesmo com várias repetições dos mesmos versos (algo que na maioria das vezes me incomoda), Bruce entrega pontos vocais mais altos que a média do álbum e uma excelente performance, inclusive fazendo uma estrofe em rap. Divertidíssima e leve. Os palhaços na letra são uma metáfora para aquele clichê bem conhecido de ser humano: os gananciosos, mentirosos e fúteis. No (horrível) vídeo-clipe, isso fica bem evidente:
Oitava faixa, Fire, é um arroz com feijão: base pesada, solo característico, timbre hard rock, andamento padrão. São quatro minutinhos que não chamam a atenção e não atrapalham. Se a letra é direcionada a alguém em específico, nunca descobri. Nela, alguém fez uma grande bobagem e, mesmo com todo o dinheiro que ela possui, ainda não se safará.
Penúltima faixa, Sacred Cowboys, abre com uma palhetada que já faz mais que toda a Fire. Bruce canta os versos em um ritmo bem peculiar aqui – arrastado, mais falado que cantado (só que não acho que a intenção foi de um rap). A letra é uma crítica ao mundo complexo que vivemos, onde tudo é cercado de arrogância, falsidade, e não temos um herói como nos tempos que o ator John Wayne bancava o mocinho do velho-oeste que matava todos os índios. O refrão coloca que “não sobraram índios para serem mortos”, o que condiz com essa complexidade do mundo atual: antigamente você matava os índios e virava o herói; hoje, sem os índios, os vilões da história são muito maiores e complexos e nenhum herói aparece. Além de John Wayne, a primeira-dama Betty Ford, esposa do presidente americano Gerald Ford, também é citada na letra.
E, para fechar, temos só Tears Of The Dragon, uma música que virou clássico absoluto, até mesmo para muita gente que não conhece muita coisa da carreira solo de Paul Bruce Dickinson. Eu não acredito que a segunda faixa mais longa do álbum tivesse essa intenção de virar clássico e viralizar em rádios mundo afora, senão ela não estaria na última posição. Gravadoras pensavam nisso na década de 90 ao lançar um álbum. Se você parar para analisar musicalmente essa faixa, perceberá realmente que ela não tem uma influência de Roy Z até acabar o solo (quando aí sim temos uma virada no timbre da guitarra e a aparição de um tambor na percussão). E não é engraçado tudo isso?! O fato de Bruce não ter gostado das gravações com a Skin e a única música que sobreviveu às críticas do vocalista ser o principal hit do álbum e um dos hits mais conhecidos de sua carreira solo?! São as voltas que o mundo dá…
Se você nuuuunca ouviu Balls to Picasso, nunca é tarde. Diferente da discografia do Maiden, que o ursinho do YouTube retirou TODOS os vídeos dos áudios que eu coloquei nos episódios devido direitos autorais, o Bruce tem um canal oficial no site em questão com todos os áudios liberados. Então bora:
A Tribe of Gypses já tinha compromissos contratuais, o que os impossibilitou de saírem em turnê com Bruce Dickinson. Na verdade, eles foram contratados só para gravarem o material, pois sequer conseguiram continuar quaisquer tipos de trabalho pós-gravação. Bruce precisou chamar novos músicos para continuar o trampo. E é por isso que já no single de Shoot All The Clowns, que eu coloquei a foto lá em cima, aparecem outros músicos que não Roy Z, David e Eddie.
Meses depois do lançamento de Balls to Picasso, Bruce era acompanhado por Alex Dickson na guitarra (não, não era parente dele – a grafia do sobrenome é diferente), Chris Dale no baixo e Alessandro Elena na bataria.

Durante 1994 a banda passou em turnê por vários locais, o mais inusitado deles na Bósnia, que muitos anos depois renderia um DVD intitulado Scream For Me Sarajevo, já que Bruce foi tocar no meio da guerra, mas que eu vou falar a respeito quando chegar a hora, já que preciso obedecer a linha do tempo da discografia.

Durante a turnê, pelas minhas contas em algum momento entre o fim de Agosto e meio Setembro de 94, outro fator bem relevante ocorreu com o vocalista: Bruce cortou o cabelo, deixando-o na altura do pescoço.

Em 1995, o mesmo quarteto foi responsável pelas gravações do Alive in Studio A, álbum duplo: no primeiro CD havia performances gravadas no estúdio Metropolis e o segundo CD com faixas ao vivo gravadas no Marquee Club, tudo em Londres. E para efeitos de Marketing, note que a foto usado na capa é de Bruce com cabelo comprido. Mesmo sem mais a longa cabeleira, o marketing do cabelo curto só seria usado em materiais oficiais do próximo álbum solo.

Durante 95 Bruce também passou pelo Brasil e, se você morava em São Paulo, pode conferir três (sim, três!) noites com o vocalista tocando no extinto Olympia. O setlist tocado na turnê de Balls To Picasso teve poucas modificações entre 94 e 95, com adição de “música nova” em 95 (que entraria no futuro álbum, que é o próximo episódio da discografia), chamada “I Will Not Accept The Truth”, além de um cover aqui, um cover ali.
O set principal tocado foi:
- Cyclops
- 1000 Point of Light
- Born in ‘58
- Gods of War
- Change of Heart
- Laughing in the Hiding Bush
- Hell No
- Tears of the Dragon
- Shoot All the Clowns
- Sacred Cowboys
- Fire
- Tattooed Millionaire
Em 2005 tivemos o relançamento remasterizado, com um disco bônus com diversos singles. Foi tanta coisa bônus que é mais fácil colocar uma imagem. Além das canções extras que acompanhavam os singles, também havia os “arquivos perdidos” da época de Keith Olsen e gravações mais antigas ainda. Nesse caso em específico, vou deixar a imagem no tamanho grande para que se possa ler as faixas bônus.

E como diria o escritor Henry Miller: “All growth is a leap in the dark, a spontaneous unpremeditated act without the benefit of experience”. Foi lendo essa frase que Bruce tomou a decisão de sair do Iron Maiden e respirar novos ares. Conclusão: tínhamos um vocalista muito feliz em ter criado um material criativamente inédito em sua carreira, independentemente da posição da crítica especializada. E ele estava disposto a continuar nessa toada, junto aos riscos da carreira. Como já conhecemos a história, nada mais justo do que, pelo menos, agradecer a Henry Miller pelo incentivo.
No próximo capítulo, vamos acompanhar o nascimento (e morte) do projeto Skunkworks e entender que em certos pulos no escuro você pode se machucar feio.
Beijo nas crianças!
Kelsei
Categorias:Artistas, Discografias, Resenhas








Discografia Rush – parte 15 – Power Windows – 1985
Discografia Rush – Parte 14 – álbum: Grace Under Pressure Tour – 1984 – (Rush Replay x3 -2006)
Discografia Rush – Parte 13 – álbum: Grace Under Pressure – 1984
Discografia Rush – Parte 11 – álbum: Exit… Stage Left – 1981 – (Rush Replay x3 – 2006)
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Eduardo.
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Estou de volta, com o disco bem melhor que o primeiro do Air Siren. Eu não morro de amores por esse Picasso, mas gosto o suficiente para até ter a mídia oficial, em cd. A banda, sem dúvida, dá de dez a zero no line-up da primeira aventura solo. O disco é mais experimental, até porque Bruce queria sair da fórmula Maiden, mas também reflete um pouco os tempos meio alternativos da metade da década de 90.
Ele começa bem com a Cyclopes e aí quando chega o primeiro solo, com wah-wah, de Roy Z, cara, que dádiva não termos de novo o Gers aqui. A música tem uma levada meio hipnótica, só dispensaria aquele efeito meio talk box robótico atualizado pros anos 90, que foi modinha na época, mas graças a quem você creditar, ficou por ali mesmo. Bruce canta muito na primeira música. Hell No é uma boa canção também, meio tribal, levada cadenciada, diferente do que o Bruce fazia no Iron, assim acho que ele atingiu o objetivo. O título é o pior da música, meio bobo. O vocal está ótimo e que maravilha ouvir o Roy Z. Quando temos alguém que realmente sabe o que está fazendo é muito bom. O timbre grave nos solos é escolhido à perfeição. Outra boa canção. Mais uma boa canção é a terceira faixa, Gods of War, mais uma com ótimos vocais e solo feito por quem sabe fazer. O tal interlúdio citado no seu texto é a essência do hard/metal clássico. Destaco também a levada de bateria. 1000 Points of Light é a música que menos gosto no lado A, a única que realmente eu dispensaria, mas não é exatamente uma faixa ruim, é apenas menos boa que as outras. Nessa nós discordamos, Kelsei. A ex pretendida faixa titulo fecha o lado e pra mim é um clássico, com boas vocalizações, um ótimo solo, linhas lentas com belos dedilhados, refrão pesado, essa entra em qualquer coletânea do vocalista.
Change of Heart abriria o lado B, mas na época todo mundo só comprava cd. Eu não teria colocada a canção para abrir o lado B do vinil, exclusivamente por ser uma balada. É uma boa balada, que ficou melhor na versão operística do Dickinson, pra mim. A grande diferença pra versao do Driver é o vocal mais americanizado lá. O arranjo deles é também um pouco mais acessível, uns sutis teclados e backings. São duas boas versões. O solo limpo de Roy também agrada. Aprovei as duas versões. Shoot all the clowns é outra faixa que ficou bem conhecida, mais moderna para a época. Eu gosto da música, mas encrenco com o vocal rasgado de Bruce. O rap é discreto, a guitarra meio funkeada, com moderação, funciona. Eu salvo a canção também. Fire não é uma música ruim, mas é meio óbvia. O refrão, principalmente, poderia ser melhor. Essa ficou devendo um pouco. A penúltima faixa tem muito falatório e um refrão melhorzinho, mas para mim é um “filler” pouco atrativo. Não é exatamente ruim, aliás não há uma faixa bomba neste álbum. O disco é bem coeso e fecha com o clássico dos clássicos na discografia do nosso herói, Tears of a Dragon é muito boa, mesmo com aquele reggae que Dickinson deve ter reclamado um pouco.
Acho que o álbum envelheceu bem. Aliás, nós todos, né , Kelsei. Vi você ressaltando os mais de 30 anos que esse álbum hoje já tem. Seu texto está muito bom, como sempre, muito informativo, sempre uma aula pra mim.
Tô devendo um comentário só, pois essa discografia entrou no modo “MetallicA” Minuto HM. Vai aqui essa espetada também.
Alexandre
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Eu estou fazendo o capítulo do Accident ….
E digo que vou terminar a discografia do Bruce ANTES de um novo EPISÓDIO da discografia do MetallicA. Isso sim é uma alfinetada! 🙂
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Ninguém, nem mesmo o Eduardo, tem dúvidas disto.
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Bom, frequentemente sou “mencionado” aqui, então vamos confirmar algo de uma vez por aqui, e quero que fique claro:
SIM, VOCÊS TÊM RAZÃO! 🙂
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Eduardo.
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Eduardo.
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