Discografia Bruce Dickinson – Episódio 01: 1990 – Tattooed Millionaire

Nunca duvide do potencial de um filme de terror de quinta categoria…

É sério isso? Sim! Vamos começar a desbravar a discografia de nosso Air Raid Siren preferido! O fã de Arthur Brown, Ian Gillan, Paul Rodgers e Robert Plant que se tornou ídolo de milhares mundo afora: Paul Bruce Dickinson, mundialmente conhecido por ser o principal vocalista da história do Iron Maiden, a maior banda de Heavy Metal hoje em atividade, que teve sua discografia dissecada por esse blog.

Bruce é músico, escritor, diretor, esgrimista, historiador, piloto, diretor de marketing, empreendedor, degustador de cerveja… O rapaz nascido em Worksop, Nottinghamshire, na Inglaterra, só não é a discografia do MetallicA desse blog, porque, senão, ela estaria completa.

Estava eu trocando algumas ideias com nosso Presidente, Eduardo Rolim, sobre possíveis próximas discografias, e eu até tinha uma ideia concreta de uma banda para iniciar quando me dei conta do óbvio: pera aí, eu simplesmente não posso iniciar qualquer outra coisa sem passarmos pela discografia solo de Bruce Dickinson, já que trabalhamos na do Maiden. E é por isso que damos início aos capítulos de seus álbuns solo de estúdio, iniciando por Tattooed Millionaire.

O álbum que colidiu de frente com a história da Donzela e que eu dei uma palhinha para iniciar o episódio do No Prayer For The Dying!

E tudo começou com um convite para uma trilha sonora do filme A Hora do Pesadelo 5 (título original A Nightmare On Elm Street 5: The Dream Child), que foi intermediada pelo Rod Smallwood e que resgatou a vida musical do guitarrista e amigo de Bruce de longa data, Janick Gers. De tão certo que deu, a gravado liberou uma verba para um álbum solo e Bruce juntou a fome com a vontade de comer. Além de Janick, o baixista Andy Carr e o baterista Fabio DelRio também vieram da gravação dessa trilha sonora. Andy tocava com o primo de Bruce em uma banda chamada Three Rivers e Fabio tocava na banda Jagged Edge.

Singles de Tattooed Millionaire

O primeiro álbum solo de Bruce Dickinson teve (pasmem!) quatro singles.

Tattooed Millionaire

Lançado em 28 de Abril de 1990. Por razões óbvias, o primeiro single precisava vir com a música homônima – era o mínimo que se esperava da gravadora para promoção do artista que estava, pela primeira vez, levando seu nome aos holofotes ao invés de sua antiga banda. E há de se lembrar: Iron Maiden aglomera multidões; Bruce Dickinson solo, não. O single vinha com uma tatuagem (dãããã) na capa e continha as seguintes faixas:

  1. Tattooed Millionnaire: mesma versão que está no álbum de estúdio;
  2. Ballad of Mutt: um blues acústico que Bruce, inclusive, interpreta em um dos episódios da série The Paradise Club, bem no comecinho do episódio.
  3. Winds of Change: outra canção acústica de Bruce, essa é mais bonitinha e de churrasco miado.

All The Young Dudes

Lançado em 23 de Junho de 1990, continha as seguintes faixas:

  1. All The Young Dudes: mesma versão que está no album de estúdio;
  2. Darkness Be My Friend: um acústico de dois minutinhos, que tem um solo de “tecladinho do Steve Harris” simulando o timbre de uma flauta;
  3. Sin City: cover do AC/DC.
Fotos de Bruce dentro do Vinil do single All The Young Dudes

Dive! Dive! Dive!

Lançado em 25 de Agosto de 1990, foi o primeiro single lançado fora da linha de pensamento “faixa homônima + cover de outro artista que as pessoas conhecem” e também levava em consideração o termômetro do álbum, que já estava no mercado. O single vinha com as seguintes faixas:

  1. Dive! Dive! Dive!: mesma versão que está no album de estúdio;
  2. Riding With The Angels (Live): cover de Russ Ballard, gravada ao vivo;
  3. Sin City (Live): cover do AC/DC, gravada ao vivo;
  4. Black Night (Live): cover do Deep Purple, gravada ao vivo.

Todas as faixas ao vivo foram gravadas no show de Londes, no Astoria Theatre, em 27 de Junho de 1990.

Born in ‘58

Lançado em 25 de Março de 1991, além de ter uma capa ridícula, vinha com as faixas:

  1. Born in ‘58: mesma versão que está no album de estúdio;
  2. Tattooed Millionaire (Live): versão ao vivo;
  3. Son Of A Gun (Live): versão ao vivo;

Todas as faixas ao vivo foram gravadas no show de Londes, no Astoria Theatre, em 27 de Junho de 1990.

“Tattooeed Millionaire” (1990)

Coisas que ninguém presta atenção Ficha Técnica:

  • Produtor: Chris Tsangarides
  • Engenheiro de som: Nigel Green
  • Gravado e mixado nos estúdios Battery, em Londres
  • Fotos: Alastair Thain e Ross Halfin

Tattooed Millionaire foi lançado na Inglaterra em 8 de Maio de 1990. Foi um disco escrito, gravado e produzido muito rápido: um total de dois meses para todo o processo – isso muito mais para produção e mixagem, pois as canções foram escritas em duas semanas, em conjunto com Janick Gers, na casa do guitarrista, depois de Bruce mentir para a gravadora que tinha músicas prontas quando foi questionado se tinha mais de onde saíra Bring Your Daughter … To the Slaughter. Isso explica por que o guitarrista assina também a maioria das músicas do álbum.

E o objetivo principal era fazer um bom rock’n’roll e se divertir. Bruce, nessa época, não tinha (ainda) aspirações concretas para seguir uma carreira solo. Conseguir se reunir com seu amigo Janick, de longa data, e fazê-lo não abandonar o instrumento, era um ideal mais concreto, visto que a gravadora tinha liberado dinheiro para um álbum solo. O tom é de tanta descontração, que dentro do encarte, na apresentação dos músicos, ao invés de “musicians” está escrito “musos”, que significa “bonitões” em espanhol. Também há um agradecimento especial ao “Captain Pugwash e Seaman Staines”, que é um gibi da década de 70 que virou desenho e passou na BBC na década de 80. Bem, no caso só o Capião Pugwash, porque Staines é um personagem que nunca existiu – explicarei com mais detalhes na sessão faixa a faixa.

Tattooed Millionaire foi lançado sob um selo criado pelo próprio Bruce, a Duellist Enterprises Ltd., fundada em Novembro de 1988 sob o nome B. Dickinson Enterprises Ltd. Essa empresa, obviamente, está sob o chapéu da Sanctuary Records, gerenciada por Rod Smallwood.

E cuidado com a pegadinha: não tire suas conclusões sobre Janick Gers ao ouvir o álbum de estúdio! Ele até parece um bom guitarrista, com frases e solos limpos! Trabalho primoroso de Chris Tsangarides, isso sim – dê o crédito ao produtor, que fez milagre! E se você duvida, vou te provar. Segura aí!

A capa é o rosto do nosso conhecido cantor frente a tatuagens de cunho Japonês, não sei por qual motivo específico. O rosto de Bruce está escurecido e com uma mancha à direita, que lembra tinta escorrida, como se seu rosto também fosse tatuado à capa.

Tracklist

  1. Son of a Gun (Bruce Dickinson / Janick Gers) – 5:53
  2. Tattooed Millionaire (Bruce Dickinson / Janick Gers) – 4:27
  3. Born in ‘58 (Bruce Dickinson / Janick Gers) – 3:38
  4. Hell on Wheels (Bruce Dickinson / Janick Gers) – 3:36
  5. Gypsy Road (Bruce Dickinson / Janick Gers) – 4:01
  6. Dive! Dive! Dive! (Bruce Dickinson / Janick Gers) – 4:39
  7. All the Young Dudes (David Bowie) – 3:47
  8. Lickin’ the Gun (Bruce Dickinson / Janick Gers) – 3:15
  9. Zulu Lulu (Bruce Dickinson / Janick Gers) – 3:25
  10. No Lies (Bruce Dickinson) – 4:35

O Line-up de Tattooed Millionaire – Esq. para dir.: Fabio Del Rio (bateria), Andy Carr (baixo), Bruce Dickinson (vocal) e Janick Gers (guitarra):

Faixa a faixa

Por ser um álbum criado pela ambição da gravadora, sua estrutura segue aquele padrão “músicas mais legais e trabalhadas no início com músicas mais medianas do meio para o final”. Em uma única ouvida se percebe isso e não precisa ser nenhum crítico musical. Também é notório o abismo musical com o que o Iron Maiden tinha composto até àquela altura, dado que muita gente, à época tinha a expectativa que Bruce Dickinson faria algo nos mesmos moldes da Donzela.

Son of a Gun é, de longe, a melhor faixa do álbum. A abertura é mais heavy rock, com ênfase nos fraseados de guitarra; discursando sobre os cowboys das telas de cinemas. Claramente possui linhas melódicas que não é possível de se tocar com um único guitarrista (e o álbum possui várias canções com mais de uma linha de guitarra). Detalhe que na letra tem o excerto “Take me to Jesus, with Judas my guide”, que até hoje eu entendo ser influência para batizar a canção Judas Be My Guide, do Maiden.

Segunda faixa, homônima ao disco e o single principal de trabalho. Tem aquele boato que Bruce escreveu essa música para o Nikki Sixx, do Motley Crew, que teria um caso com sua ex-mulher, ou algo assim; mas isso é balela. Bruce usou o termo “tattooed millionaire” como um estereótipo que tinha surgido na última metade da década de oitenta, dos roqueiros metidos a músicos, mas que estavam no meio daquilo só pelo dinheiro e mulheres. Ela nasceu depois de conversarem sobre Graham Bonnet (vocalista que passou pelo Rainbow e que de longe não é o melhor exemplo para esse estereótipo), sendo que ela não é uma referência direta nem indireta sobre o cantor. A música é legal e tem um bom solo, que eu duvido que o Janick tenha acertado alguma vez ao vivo.

Terceira faixa, Born in ’58 é uma autobiografia de Bruce, que nasceu no ano de 1958 (inclusive, o título dessa faixa é o título do primeiro capítulo de sua biografia, What Does This Button Do?). Faltou um solo de guitarra, que traria um bom punch após o interlúdio, que fica “perdido” com a volta do refrão.

Hell on Wheels, a quarta posição, é um hard rock farofa. Bruce canta os versos bem arrastado aqui, muito característico do que ele faria nos próximos álbuns com o Maiden. Gosto do solo final, que tem um dedilhado rápido. A letra é bem bobinha, sobre o demônio dirigindo um carro de maneira descontrolada. Notou que no finalzinho Bruce imita o carro indo embora, de gozação?!

E temos a primeira balada hard com Gypse Road, nossa quinta faixa. Musicalmente, não temos muito o que dizer sobre uma balada, ainda mais uma calcada no hard. Ela fala sobre destino. Ou não ter um destino; quando como estamos sozinhos em uma estrada e simplesmente seguimos em uma direção, tomados por nossa intuição e nossos senhos. O título e a letra da canção é uma metáfora para esse sentimento.

Batizada por uma frase escrita em um banheiro que Bruce leu enquanto esvaziava uma cerveja (“no muff too tuff, we dive at five”, que eu não vou traduzir aqui), Dive! Dive! Dive! talvez seja a faixa que tem a maior pegada setentista. O riff me lembra um country-blues, só que mais acelerado. Figura entre as melhores do álbum, junto com as faixas iniciais. Bruce imita o Capitão Pugwash no início e no fim (com as frases “Frankly Seaman Staines, I don’t give a damn” e “Seaman Staines, consider yourself discharged”), que ganhou agradecimentos especiais no encarte, junto do marujo Seaman Staines, que, de fato, nunca existiu. Ele foi um personagem inserido pelas Fake News da época, quando Capitão Pugwash começou a passar na televisão. Alguns personagens fictícios com nomes de conteúdo sexua viraram um mito urbano de estarem em edições antigas das tirinhas em quadrinhos e acabaram famosos de boca em boca. Manja o Tomás Turbando que já passou ao vivo no ESPN?! É a mesma ideia, já que “Seaman” (marujo) tem o som muito parecido em inglês à “Semen” (sêmen). A letra é uma brincadeira de cunho sexual, misturada com a temática do desenho.

Sétima faixa, All the Young Dudes é um cover do Mott The Hoople, mas que foi escrita por David Bowie. Todo álbum solo iniciante que se preze precisaria de um cover e Bruce à escolheu porque um pouco antes de saber que teria um álbum solo, ele participou de um evento de caridade (conhecido como Prince’s Trust) onde deram essa música para ele cantar. Originalmente ela é de 1972, então Bruce fez uma pequena adaptação: na letra original, em “My brother’s back at home with the Beatles and the Stones“, Bruce trocou o “brother” por “father”, já que se tinha passado um bom tempo que os Beatles e os Stones dominaram a cena e, com isso, o cover foi contextualizado e muitos ouvintes se identificaram com seus próprios pais, que ouviam essas bandas. No videoclipe logo abaixo temos Dick Fliszar na bateria, que substituiu Fabio Del Rio na turnê de 1990:

A oitava faixa, mesmo sendo a mais curta, pode pular sem medo. Lickin’ the Gun é uma mistura de funk americano com rock. Não dá! Ficou forçado demais! Em termos líricos é pornograficamente explícito demais! Soma-se aqui um ritmo dançante e um back vocal de rapper horroroso. Sério, pula!

Nona Faixa, Zulu Lulu, é uma musiquinha divertida, sobre um homem e uma mulher que se conhecem, ficam bem à vontade, tiram a roupa, ela se ajoelha (talvez fosse religiosa, como a própria letra diz) e um tempo depois a mulher some e o rapaz fica de coração partido. Em termos musicais, nenhum grande destaque.

E na décima posição, temos o encerramento com Bring Your Daughter to the … não pera, é No Lies. A entrada dos acordes iniciais é praticamente um plágio, mas como foram esses mesmos músicos que compuseram e gravaram Bring Your Daughter … To The Slaughter, então eles não infringiram nenhuma lei. É uma faixa que faz bem seu papel de encerramento, sendo que a parte do “solo” é praticamente o que Janick faz ao vivo, no Maiden, quando tocam a faixa que foi parar no No Prayer For The Dying. Tirando a letra, a música inteira é um semi-plágio, o que é justo com os músicos, já que o Steve Harris deu um jeito de ganhar dinheiro levando os direitos autorais ao Maiden (e é por esse motivo é que Bring Your Daughter não pôde fazer parte de Tattooed Millionaire). Considere No Lies como um protesto.

O álbum acaba aqui, sendo que temos algumas edições que possuem bônus tracks. Aqui no Brasil, a minha versão em CD, por exemplo, tem o bônus Winds Of Change e Ballad of Mutt, ambas do primeiro single. Inclusive, em 2005, o álbum foi relançado na versão remasterizada junto a um segundo CD, contendo todas as faixas que estavam nos singles aqui descritos.

Se você nuuuunca ouviu Tattooed Millionaire, nunca é tarde. Diferente da discografia do Maiden, que o ursinho do YouTube retirou TODOS os vídeos dos áudios que eu coloquei nos episódios devido direitos autorais, o Bruce tem um canal oficial no site em questão com todos os áudios liberados. Então bora:

A turnê não contou com Fabio Del Río, então temos um segund lineup, com Dick Fliszar nas baquetas:

E agora vem a prova que eu comentei antes da sessão de faixa a faixa, onde iria mostrar que você não pode se enganar achando que Janick Gers toca bem guitarra em Tattooed Millionaire. Em 14 de Agosto de 1990, no último show da turnê nos Estados Unidos, no Town & Country Club, em Los Angeles, foi gravado o show batizado como Dive! Dive! Live!, onde você pode conferir Janick estragando as músicas do debut de Bruce Dickinson. Eu particularmente nunca tive esse DVD em mãos, mas ele é o único registro oficial dessa turnê, já que no início da década de 90 a Internet engatinhava e não tínhamos equipamentos poderosos de vídeo em nossos celulares. Divirta-se:

O Setlist tocado na turnê foi:

  1. Riding With The Angels (*)
  2. Born in ‘58
  3. Licking The Gun
  4. Gypsy Road
  5. Dive! Dive! Dive!
  6. Drum Solo
  7. Zulu Lulu
  8. Ballad Of A Mutt
  9. Son Of A Gun
  10. Hell On Wheels
  11. All The Young Dudes
  12. Tattooed Millionaire
  13. No Lies
  14. Fog On The Tyne (**) / Winds Of Change
  15. Sin City (AC/DC cover)
  16. Bring Your Daughter… To The Slaughter (Iron Maiden “cover”)
  17. Black Night (Deep Purple cover)

(*) Muita gente vai falar por aí que a faixa Riding With The Angels é um cover do Samson, banda que Bruce integrou antes de entrar no Maiden. Só que ela é original de Russ Ballard, sendo que o Samson também a gravou como cover. Portanto, essa aqui é a original:

(**) Fog On The Tyne é um cover da banda Lindisfarne e é o segundo cover, junto com Riding With The Angels, que Bruce não lançou dentro de seus singles de Tattooed Millionaire, até porque Bruce a usou em seus shows mais para interagir com a plateia do que realmente cantar.

Até hoje Andy Carr trabalha como baixista. Ele tem uma página oficial, que pode ser acessada aqui. Já Fabio Del Río, sumiu ainda na década de 90, após alguns outros trabalhos. Se alguém souber do seu paradeiro na música, comenta aí, por favor.

No próximo capítulo, discorreremos sobre a relação direta entre bolas e lágrimas.

Beijo nas crianças!

Kelsei



Categorias:AC/DC, Artistas, Covers / Tributos, Curiosidades, Discografias, Iron Maiden, Músicas, Resenhas

4 respostas

  1. Impressionante a base de conhecimento desse post + os comentários adicionais. Kelsei manja demais.

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  2. Kelsei, esse post passou batido por mim.
    Certamente vou voltar para fazer um merecido saborear dele. Aliás, já estou devendo o último do Maiden, de qualquer maneira é ótimo ficar com esses deveres de casa para fazer.

    Alexandre

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