[OFF TOPIC] – Capitão Nascimento faz mais uma vítima: o Legião Urbana

Por Cláudio Francioni. Dica: Rolf.

A MTV Brasil transmitiu na noite de ontem o primeiro dos dois shows “Tributo ao Legião Urbana”, realizado no Espaço das Américas em São Paulo. Como já se sabe, a emissora convidou o (excelente) ator Wagner Moura para cantar com os legionários Bonfá e Dado Villa-Lobos. Ao fazer esta escolha, percebe-se que a emissora (que hoje em dia abandonou seu propósito inicial para se especializar em humor adolescente) anda meio enferrujada quando o assunto é música. Nem o ator e muito menos os fãs do Legião precisavam ter passado por isso.

Foto: AgNewsWagner cometeu todos os erros possíveis para um amador. Brigou com a distância do microfone, se atrapalhou nas respirações e sobretudo teve muita, mas muita dificuldade para acertar a afinação. Não alcançava as notas baixas e berrava pra tentar buscar as mais altas. Foi, sim, prejudicado pelas falhas do seu microfone nas primeiras músicas. Talvez os únicos pontos positivos de sua presença foram ter levado a emoção de fã para cima do palco e ter dado tudo de si ao evento. Mas neste caso o “tudo de si” foi pouco. Substituir Renato Russo para o Brasil inteiro não é o mesmo do que tocar numa bandinha em Salvador para meia dúzia de amigos. Minha filha, com seus nove anos e do alto de sua autoridade de fã de Justin Bieber, Demi Lovato e Selena Gomez, sentou-se ao meu lado e com dois minutos de show declarou: “papai, esse moço tá desafinando demais”.

Opções não faltavam. Toni Platão foi muito bem no tributo apresentado no Rock in Rio no ano passado ou até mesmo Dinho Ouro Preto, que pode não ser um exímio cantor mas tem carisma o suficiente e estaria totalmente dentro do contexto. Não foi só. Dado também penou com a afinação de sua guitarra em alguns momentos. Uma pena, pois o público estava ali pra cultuar a obra de uma das bandas mais influentes da história da música brasileira e não fosse a escolha errada da MTV, o show tinha tudo pra ser lindo.

Foto: AgNewsRepertório muito bem escolhido

O set list beirou a perfeição. Um início arrasador, com “Tempo Perdido”, “Fábrica”, “Daniel na Cova dos Leões”, “Andrea Doria” (esta também é a minha preferida, caro Wagner) e “Quase sem Querer”, todas pinçadas do “Dois”, um dos mais perfeitos álbuns da história do rock no Brasil. A seguir, um passeio por todos os discos da banda e um final apoteótico com “Será”. De lavar a alma dos fãs, não? Tentei pescar nas expressões de Dado e Bonfá algum sinal de descontentamento com os erros do “Capitão”, mas ambos disfarçaram muito bem. Como atores, se saíram melhores do que Wagner como cantor. Assim como no Rock in Rio, Bonfá cantou “Teatro dos Vampiros”, dando uma aliviada nos ouvidos da rapaziada. Dado dividiu vocais com Andy Gill em “Damaged Goods” (do Gang of Four), que também contou com a participação de Bi Ribeiro. Outro ponto positivo da noite foi o telão colocado no teto do palco, servindo para projeções e dispensando efeitos de iluminação. Dado chegou a deitar-se para “viajar” pelo cosmo durante “A Via Láctea”.

Apesar da tudo, a apresentação parece ter conseguido emocionar o público presente. Talvez muita gente tenha saído dali satisfeita por ter, mesmo sem Renato, participado de um show do Legião Urbana, afinal de contas lá se vão 17 anos da última apresentação ao vivo da banda. Mas na noite de ontem [NOTA: 29/05/2012], faltou alguém com a coragem do Capitão Nascimento para chegar no camarim antes do show e falar: “NÃO VAI SUBIR NINGUÉM”, ou então “VAI DAR M…, CAPITÃO”.



Categorias:Artistas, Cada show é um show..., Curiosidades, Off-topic / Misc, Resenhas, Setlists, Tá de Sacanagem!

19 respostas

  1. Claudio, gostaria de agradecer a cortesia do seu texto ser publicado aqui, por intermédio do amigo Rolf.

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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  2. Pessoal, apesar de não curtir Legião, e acredito que a grande maioria que acompanha o blog tambem não, parabéns ao Minuto HM pela mente aberta e sem preconceitos ao publicar este texto por aqui. Independente do gosto de cada um, não há como negar a influencia que o Legião Urbana teve no rock nacional.
    Lendo o texto e diversos outros comentários pela internet sobre a performance horrível do Wagner Moura, não da mesmo pra entender porquê ele foi escolhido pra cantar nesta noite. Acredito que tenha sido uma imposição da MTV…
    E por fim, parabéns ao Claudio pelo excelenta qualidade do texto. Sempre fico muito satisfeita quando leio um texto bem escrito e feito por quem entende do assunto que está falando.

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  3. Beleza, rapaziada. Eu é que agradeço pelo espaço aberto por vocês! Estou sempre por aqui, acompanhando o Minuto HM com frequência. Grande abraço!

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  4. Claudio, muito obrigado pelo seu texto e pela sua visão como músico e conhecedor absurdo de música, principalmente do BRock anos 80

    Acho que a Suellen já disse tudo. Muito bom o comentário dela. Já tivemos Raul Seixas, Titãs e agora Legião.

    Talvez aqui do blog eu seja o mais eclético. Respeito a genialidade do Renato Russo que fez trabalhos de uma qualidade jamais alcançadas no rock nacional ao misturar melodias, simples acordes e uma dose lisérgica e crítica as coisa de uma forma muito equilibrada.

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  5. Triste, nem culpo tanto o Wagner Moura, afinal de contas o cara não é e nunca será cantor, parece que ele tem uma banda com amigos e nela ele é o vocalista, mas obvio que ele apenas levou a emoção de um fã, …o cara foi um desastre cantando, mas nada a que me espantasse…parecia que ele tava num karaoke onde vc consegue maiores notas berrando kkk
    mas o que falar dos “músicos” originais, Dado e Bonfá, mesmo depois de tantos anos não evoluiram nadinha como músicos, Bonfa é o pior “baterista” da história, o cara toca sem emoção alguma, tecnicamente ele nem nasceu pro instrumento, está engatinhando, e Dado é um “guitarrista” incapaz de fazer solos de uma dificuldade minuscula,,,
    só Bi Ribeiro e Andy Gill deram alguma dignidade instrumental ao show…
    só falta virar DVD…
    o rock nacional tá na lama amigo

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  6. O post é excelente , não esperaria nada diferente do Cláudio, que é uma fera e conhecedor como poucos no Rio de Janeiro. Em relação à banda, confesso que passo longe de ter alguma predileção por suas músicas, ainda que considere o finado Renato Russo um cantor de timbre como poucos no rock nacional e um ótimo letrista, algo que deve ser quase uma unanimidade . Tenho graves “reservas” bem parecidas com as citadas pelo Carlos no comentário acima no tocante à qualidade instrumental da banda, em especial ao Dado Villa Lobos.
    O post , no entanto, é de uma coerência sem tamanho, não há sentido em se fazer uma homenagem contendo integrantes oficiais de qualquer banda nacional ao lado de Wagner Moura, independente de sua capacidade como ator.
    Parabéns ao Claudio pelo excelente material ! Parabéns à democracia no Minuto HM.

    Alexandre

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  7. Como é democracia… Eu não concordo em quase nada do texto! O Wagner Moura não estava lá para se fazer de cantor, mas para representar uma geração que cresceu ouvindo Legião, não sendo cantor(a), mas cantando no chuveiro.

    Temos inúmeros cantores (de rock/heavy) que são bons no Protools, mas ao vivo são uma baixaria.

    Sou fã do Legião e não me senti agredido ou algo parecido. Foi uma homenagem, como também foi a do RiR 2011.

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    • Valeu, Glaysson, por comentar por aqui.

      Vou dar minha opinião GENÉRICA – não sobre este show, este tributo, mas sim sobre uma apresentação ao-vivo de artistas ou banda – e sempre considerando que é apenas a minha opinião – vamos lá..

      Eu acho que se um artista se propõe a fazer algo ao-vivo, anuncia como show e mais que isso, como uma apresentação PAGA (e bem paga), há de se entregar algo descente. Eu (de novo: EU!) não vou a um show pago, por exemplo, onde o artista faz playback como base – e também raramente me interesso por amadores no palco.

      Acho que público que foi a este show não estava preocupado com isso que estou falando, e que você bem trouxe, e foi no espírito de homenagem. Novamente para mim, tudo é uma questão de “configurar” a expectativa prévia e, neste sentido, o show pode ter atingido seu objetivo, tanto para eles quanto para o público…

      [ ] ‘ s,

      Eduardo.

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    • Sim, viva a democracia. A materia é controversa e traz no minimo duas vertentes:
      Há os que gostaram da homenagem – independente da qualidade vocal apresentada e Há os que esperam mais fidelidade ou mais qualidade na apresentação da banda, incluindo-se o vocal, que era talvez o destaque na banda brasileira.
      Para os que se satisfazem com a primeira opção, a apresentação foi ótima e adequada – a emoção do ator transparece nos vídeos, foi uma homenagem sem maiores comprometimentos com a qualidade ou fidelidade da reprodução das músicas.
      Para os dos segundo caso, foi desastrosa e concordo em tudo que foi exposto, inclusive que não há como adequar o vocal do Wagner às melodias criadas pelo Renato Russo, que tinha muito mais extensão vocal tanto para o grave, quanto para o agudo.
      Eu não gosto da banda e aprecio um vocal bem feito, não gostei da apresentação pelos dois motivos que não são atendidos para minha apreciação.
      Quanto ao protools – ele existe para todos – pagodeiros, sertanejos, rockeiros, pop, funkeiros..
      Ao vivo algumas bandas dos vários estilos que possuem bons vocalistas não decepcionam àqueles que procuram uma boa qualidade musical. Existem também vários outros exemplos de bandas de todos os estilos que não conseguem reproduzir bem o que é gravado no estúdio, tocando ao vivo, aí cabe ao fã/apreciador considerar este fato como importante ou não.
      Claudio – parabéns pelo post.

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  8. Assim como disse para o amigo daniel , repito aqui.
    Não sou muito fã da Legião Urbana, não conheço todas as canções, apenas o básico msm e tb não assisti apresentação. Mas respeito e sei da importância que ela teve e tem até hj para o povo brasileiro.
    Só que se a proposta desse show era um tributo, sem pressão alguma , apenas juntar um pessoal para fazer um som e por alguém para cantar as músicas e transmitir aquela nostalgia das antigas, acho válido por alguém que mesmo sem noção vocal, mas que tenha vivido esse movimento e saiba o que a canção significa. Tudo bem, sem grandes problemas, neste caso a emoção se sobressai à técnica.

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    • Julião, valeu pelo comentário. Como o Remote comentou, temos sim estas duas vertentes – os que focam apenas na questão da homenagem/tributo, sem contar como principal foco a qualidade final e os que buscam o inverso em um show.

      Como comentei, eu sou da segunda vertente acima – e isso para qualquer apresentação ao-vivo ou mesmo algo em estúdio. Aliás, para qualquer coisa na vida – inclusive na forma como tento direcionar o blog.

      [ ] ‘ s,

      Eduardo.

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  9. O Legião Urbana nunca foi e nunca será referência em termos técnicos, instrumentais e blablabla… O “pede pra sair” então… Ali realmente foi algo direcionado a quem é fã, e quem não era não se tornou por causa deste tributo. Eu, como fã, fiquei satisfeito com a proposta, ou pelo menos o que pareceu ser – um fã cantando.
    Parabéns ao blog, texto de qualidade e opiniões maduras e respeitosas!
    Eu, que acompanhei a galera dos tempos da list, fico feliz pelo crescimento do grupo!
    Abraços aos amigos

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    • André, muito legal seu comentário e sim, dá muito prazer ver a democracia, educação e a maturidade da galera por aqui – itens fundamentais para o blog ser o que ele é hoje.

      Considere-se parte disso, pois sei que você está sempre acompanhando e comentando quando possível por aqui, seguindo esta mesma linha…

      [ ] ‘ s,

      Eduardo.

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