Cobertura Minuto HM – Orphaned Land – São Paulo – 7/abril/2024 – resenha

Salaam Aleikum!

Na versão aportuguesada, ficaria “salamaleico”. Independente da grafia, o significado é o mesmo: que a paz esteja sobre voz! E foi com essa saudação que Kobi Farhi, vocalista do Orphaned Land, iniciou o show dos israelenses no Carioca Club, em São Paulo, nesse último domingo, dia 7.

E sim meus amigos, eu gastei um cartucho com o Orphaned Land, feliz e contente. Como é bom poder ver algo totalmente diferente e fora da mecânica musical que estou acostumado. Da última vez que pisaram no Brasil, 11 anos atrás, é óbvio que eu não os conhecia. Precisei de muito evolução musical, conhecer muita coisa fora da caixa, ouvir muita banda manjada por aí, para que um dia eu colocasse meus ouvidos no álbum Mabool (terceiro álbum de estúdio, de 2004) e entender que é possível uma mistura de música árabe com heavy metal. À propósito, a banda, com mais de 30 anos de existência, é a pioneira nessa mescla.

Inclusive, ninguém aqui sabe disso, mas eu só conheci o álbum Mabool por causa desse blog aqui. Tinha uma série aqui junto da Consultoria do Rock que eu achava demais (tanto que o projeto Novidades HM é baseado na farra que acontecia entre o pessoal daqui e da Consultoria) e eu fui ler também o que rolava por lá. Em meio a diversas coisas interessantes, me apareceu um post sobre bandas fora do eixo, onde foi citado o álbum Mabool.

E não achem vocês que eu sou especialista em Orphaned Land. Coisa nenhuma, conheço bem os álbuns Mabool e Unsung Prophets & Dead Messiahs (que trouxe para um dos podcasts nossos), além de um hit aqui outro ali de outros álbuns. Fui sem saber o que iria encontrar e sem nunca ter visto a banda ao vivo em DVDs e streamings da vida. Como é uma banda de Israel, também estava muito curioso para saber como eles iriam tratar dos conflitos atuais com a Palestina, pois eles possuem um grande hit, All Is One, que justamente coloca o fato de que somos um só, independente de quem você é, do que você crê, o que você come, lê, etc, e queria muito ver a posição deles sobre o assunto agora com o conflito atual.

Com abertura da casa às 17:00 e fim do evento previsto para 20:00 (afinal, o metal nosso de cada dia não pode atrapalhar o pagode do paulistano), pisei no Carioca Club às 17:40, assumindo que a apresentação começaria 18:00. Deu tempo de sobra para passar na lojinha. Todo o material veio da própria banda e todos os LPs e CDs estavam autografados (LPs custavam R$ 130,00 e CDs custavam R$ 120,00 – vi gente reclamando que o valor era alto, mas era material importado da Inglaterra e autografado; estava era de graça, isso sim). Me chamou a atenção que havia muito mais discos que CDs (nas fotos do slide show eu tirei uma foto do estoque de discos trazido pela banda), até porque quando eu comprei o único CD que tinha (o último ao vivo em Tel Aviv – A Heaven You May Create), o carinha da loja me avisara que eu estava comprando o penúltimo (e tinha umas 50 pessoas naquela hora dentro do local).

Em termos de público, já vi o Carioca Club extremamente lotado, como em bandas como Sonata Arctica ou Pain of Salvation. Não foi o caso. Deu para encher um terço da casa, o que significa um público pouco significativo. Mas também temos que considerar que essa banda nem lado B é aqui no Brasil – só doido que nem eu para deixar a família em um domingo para ver música israelense misturada com metal.

Entraram por volta das 18:30. Contei quatro integrantes. Cadê o baixo? Pois é. Eu não sabia, mas o baixista Uri Zelcha, que é um dos integrantes da formação original ao lado do vocalista, teve um problema na coluna e não estava fazendo a perna América Latina. E banda pequena é assim mesmo. Não tem músico substituto ou um técnico de som para quebrar um galho. São os caras mesmos que montam e passam o próprio som. Lembrei inclusive de uma apresentação do Pain of Salvation, que vi no mesmo local, que a corda da guitarra estourou e o baterista teve que improvisar um solo enquanto o próprio Daniel, líder da banda, colocava uma corda nova em seu instrumento. Banda pequena não tem dessas coisas mesmo.

Moral da história: vamos sem baixo mesmo. Impossível não dizer que o som ficou comprometido. E ainda assim, na primeira faixa, uma das guitarras entrou com o som bem mais baixo que a outra – foram consertar durante a execução do primeiro solo, quando eu acredito que o pessoal da mesa se tocou da diferença de som.

Uma coisa que eu fiquei decepcionado foi que não houve instrumentos característicos. Eu sei que esperava demais, mas pensei que iria ver algo diferente sendo executado, principalmente em termos de cordas – algum violão, cítara ou qualquer coisa voltada para o árabe. Mas tudo ou foi feito nas guitarras ou tinha um playback (inclusive os coros de vozes e o vocal feminino no início da primeira faixa, The Cave, foram playback – em apresentações mais regionais, como em Tel Aviv, sei que eles usam músicos contratados como apoio).

Quanto aos músicos, dois pontos: técnica e … idade. Primeiro vamos falar da idade, me chamou demais a atenção: o vocalista, membro fundador, é literalmente um tiozão perto dos demais integrantes, que são bem, mas bem mais novos. Nada que mude algo, mas esse ponto visual me saltou aos olhos quando a banda entrou no palco.

Já com relação à técnica, os guitarristas, Chen Balbus e Idan Amsalem, tocam bem, mas nada de virtuosismos extraordinários. Agora, o baterista é um herói. Matan Shmuely tirou água de pedra com o kit de bateria que ele trouxe. Claramente um fã de Dream Theater, ele estudou as técnicas do Portnoy. Tocou com muita energia, cantando as músicas como se fosse um fã, além de não ter rodie e ele mesmo ter que trazer e tirar o microfone quando ia fazer algum backing vocal. A batera vinha com um tambor bem oriental (desculpem, não manjo de nada do universo que não seja com cordas e ainda mais do Oriente; com certeza o nome do instrumento não é “tambor” – é até ultrajante eu escrever assim – mas não consigo descrever de outra maneira), que foi tocado com as mãos em uma única música para acompanhar o vocalista em um canto nativo.

O set foi bem diversificado e eu consegui acompanhar bastante coisa. Havia um telão de led muito fera acompanhando a banda (nessa eu não esperava mesmo – só achava que teríamos um pano de fundo). Quando a música possuía clipe, ele era transmitido junto da execução. As luzes e o gelo seco complementaram o show com uma qualidade muito boa.

Kobi, o vocalista, tem muita interação com a plateia. As palmas que ele pedia para o pessoal acompanhar não eram em batidas quatro por quatro, pois o ritmo árabe sempre tem uma quebra. Ele ensinava os ritmos e até alguns excertos de cantos em hebreu para o público cantar em coro. Sobrou até uma piada: “Oficialmente essa é a última música que temos no set, mas eu sou judeu, então posso negociar com vocês”.

Ah, e sobre a posição política deles, não houve nenhum tipo de discurso, ataque ou qualquer outro tipo de pedido. Kobi colocou no início do show que estávamos todos lá para celebrar o amor e a paz e isso era uma celebração que o Orphaned Land fazia questão de criar. No anúncio de “All Is One”, ele enfatizou que essa frase deveria ser comunicada a todos os cantos do mundo, independente da difícil situação que vive Israel atualmente.

A última faixa foi cantada em hebraico. Não conhecia e achei sensacional. Teve gente cantando a plenos pulmões. Houve foto da banda com o público mas, no final, eles não se juntaram e agradeceram todos juntos como a imensa maioria das bandas faz. Eles agradeceram com as mãos em posição de reza e saíram.

Fiz alguns vídeos, que deixo abaixo. São três canções do álbum que trouxe para o blog: “The Cave”, “Like Orpheus” e “All Knowing Eye” (que eu gravei porque adoro o solo de guitarra). Também gravei “All Is One”. É meu celular, então já viu né…

Se eles voltarem, vou de novo! Seguem algumas fotos:

Beijo nas crianças! E paz para todo mundo!
Kelsei Biral



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4 respostas

  1. Acabo de ouvir uma playlist do Orphaned Land, de quem nunca tinha opuvido falar até esta resenha aqui. Interessantíssimos seus comentários Kelsei, desde os desafios de banda “pequena” à diferença de idade dos integrantes – fiquei pensando se é a formação original ou se músicos mudaram (o que poderia ter “rejuvenescido” a banda), e uma visita à Wikipedia me mostrou que apenas o vocal e o baixista (que não foi) são integrantes originais. Sobre a mistura de sons “locais” (neste caso, música árabe) com metal, bom, o Angra sempre fez isso e atingiu em cheio muitos públicos ao redor do mundo e não só o brasileiro. Já peguei bandas da América do Sul e da Ásia que misturaram elementos de forma parecida, e também gostei. Mas foi a primeira vez que peguei algo mais árabe mesmo pra ouvir, e não me desagradou em nada. 😀 Agradeço então o post e a indicação, e vou colocar mais coisas assim de vez em quando para aprender mais. Abraço!

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  2. Bem Kelsei, é complicado, pelo menos também pra mim, assistir um show sem baixista. A minha primeira pergunta é: Havia um backing track trigado de baixo ou realmente eles ficaram sem o instrumentos na mix?

    Independente disso, imagino que a banda precisava cumprir as datas e que é justificável que um problema de saúde tenha impedido a presença do baixista. Ainda assim, acho que o Orphaned Land deveria pensar em um roadie que desempenhasse a função de baixista e guitarrista base, que seja. O que nos faz imaginar se o problema fosse com o baterista…

    Falando em baterista, o que o cara faz em uma bateria do ” Chacrinha” é de estarrecer, vi um pouco dos vídeos acima, e , cara, parabéns para esse monstro….

    Em relação aos sons pré gravados, eu já sabia da prática desde quando ouvimos o álbum Unsung Prophets & Dead Messiahs aqui nos podcasts. E já havia reclamado , mas isso era apenas um prenúncio do que viria de forma mais constante nos dias atuais.

    São raras as bandas que não trazem nada como áudio de suporte além dos músicos que estão no palco performando. Precisamos nos conformar com isso ( ou desistir de vez..)

    Eu curto o som dos caras, acho uma ótima banda e mesmo que essa sonoridade me remeta a um passado bastante distante ( Kashmir, do Led Zeppelin, é de 1975), acho que quando são eles que tocam a coisa parece mais real.

    Muito boa a banda, muito boa a resenha, é claro…

    Sds

    Alexandre

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