Localizado no Midtown de Manhattan, o Carnegie Hall, inaugurado em 1891 (!), é um daqueles lugares que, mesmo diante da bonita arquitetura desta parte da cidade, chama a atenção logo de cara, até de quem não relaciona a história de eventos musicais destas duas quadras ao sul do Central Park.
A passagem no início de maio deste ano encontrou a lindíssima fachada inspirada no renascentismo italiano com os famosos andaimes que são vistos com muita frequência por toda Manhattan – eles estão sempre restaurando estes edifícios históricos, e isso é ótimo. Mesmo assim, foi possível conferir a parte de fora, feita de tijolos romanos. Nomeado a partir de Andrew Carnegie, responsável pelo pagamento da obra de apenas um ano (!!), a intenção era o lugar abrigar a Oratorio Society of New York e a New York Symphony Society.
Ao longo dos anos e aproveitando os privilégios acústicos de suas salas (Main Hall (Isaac Stern Auditorium/Ronald O. Perelman Stage para 2.804 pessoas; Zankel Hall para 599 e o Weill Recital Hall para 268), muitos e muitos nomes dos mais diversos estilos musicais já se apresentaram por ali. O destaque, claro, é para o Main Hall e seus 5 andares, que começou a receber a New York Philharmonic no ano seguinte à sua inauguração e que, em pleno 2014, ainda nos dá o privilégio de conferir.
Mesmo com suas grandes e controversas reformas ao longo destas décadas, muitas delas onde há a alegação da diminuição acústica do auditório, o Main Hall, frequentemente apontado como uma das principais salas em termos de qualidade sonora no mundo, é algo que qualquer apreciador de boa música que tiver a oportunidade deve conferir na vida. Isso sem contar a Carnegie Hall Tower, um edifício administrativo de 60 andares contruído entre 1987 e 1989.
Falando do tema que mais interessa por aqui no blog, são muitos os nomes do rock e suas variações que já se apresentaram, sendo muitas destas apresentações memoráveis tanto em termos de história quanto performance, especialmente nas décadas de 1960 e 1970.
Anos 1950/1960: Bill Haley and the Comets (maio/1955) | Bob Dylan (novembro/1961) | Beatles (fevereiro/1964) | Rolling Stones (junho/1964) | Chuck Berry (junho/1965) | Mamas & the Papas (novembro/1966) | Elephant’s Memory (fevereiro/1968) | Byrds (setembro/1969) | Led Zeppelin (outubro/1969) | Steppenwolf (dezembro/1969).
Anos 1970: James Taylor (junho/1970) | Jethro Tull (novembro/1970) | Neil Young (dezembro/1970) | Moody Blues (dezembro/1970) | Free (janeiro/1971) | Poco (fevereiro/1971) |Beach Boys (fevereiro/1971) | Tina Turner (abril/1971) | Chicago (abril/1971) | Emerson, Lake, and Palmer (maio/1971 com Mussorgsky’s Pictures na Exhibition and Bartók’s Allegro barbaro, “The Barbarian.”) | Elton John (junho/1971) | Frank Zappa and The Mothers of Invention (outubro/1971) | Pink Floyd (novembro/1971) | Kinks (novembro/1971) | Marc Bolan and T. Rex (novembro/1971) | The Doors (novembro/1971) | Allman Brothers Band (novembro/1971) | Jerry Lee Lewis (dezembro/1971) | David Bowie as Ziggy Stardust and the Spiders from Mars (setembro/1972) | America (fevereiro/1973) | Doobie Brothers (maio/1973) | Renaissance (junho/1975).
Anos 1980: Stevie Ray Vaughan and Double Trouble (outubro/1984) | Bruce Springsteen (dezembro/1987).
Anos 1990: Sting (março/1991) | 10,000 Maniacs (setembro/1992) | David Byrne (fevereiro/1995) | Band (março/1996) | R.E.M. (fevereiro/1999) | Jefferson Starship (setembro/1999).
Anos 2000: B-52s (dezembro/2000) | Spin̈al Tap (junho/2001 – “reunião” da banda factícia) ; Yo La Tengo (fevereiro/2004) | Björk (novembro/2005) | Cowboy Junkies (fevereiro/2006) | Sigur Rós (fevereiro/2007) | National (fevereiro/2009)| U2 (outubro/2009).
Anos 2010: Living Color (março/2010) | Indigo Girls (outubro/2010) | Flaming Lips (março/2011) | Chris Cornell (novembro/2011) | JAY Z (fevereiro/2012) | Gomez (março/2012) | Lisa Marie Presley (novembro/2012).
Realmente, a lista é grande e credencia com muitas sobras o Carnegie Hall em qualquer disputa em ser um dos mais importantes templos da música de todos os tempos.
Neste 05/maio/2014, a New York Philharmonic abriria os trabalhos do Spring For Music do ano. Iniciado em 2010, o Spring For Music contou com 23 orquestras em 25 concertos no Carnegie Hall. Para 2014, os shows foram do dia 5 ao dia 10, com 6 orquestras diferentes.
Logo na entrada, o visitante se depara com o Carnegie Hall Archives que, como o próprio nome sugere, é uma espécie de museu, trazendo desde ferramentas usadas para a construção desta lendária venue, autógrafos, registros administrativos, fotos em painéis lindíssimos e originais da história da música clássica e mesmo de outras áreas de entretenimento, como fotografia, teatro e arte, além de fatos políticos, protegidos com os devidos e esperados sistemas de segurança.
Assim, quem chega cedo pode aproveitar para curtir a história e, claro, fazer compras na estratégica lojinha (como o americano saber fazer como ninguém), tudo isso em um ambiente onde o branco é fundo para a predominante decoração em ouro.
Vamos ao pleonasmo vicioso: a organização, para variar, é impecável. As indicações de lugares são claríssimas e a casa conta com um staff educado e prestativo, especialmente aos deficientes e pessoas mais velhas. Ao chegar no lugar, estava disponível em cada cadeira um folder com os detalhes do espetáculo e uma bandana do Spring For Music – Carnegie Hall 2014.
Mas antes do show, pude andar um pouco por todo hall, de ambos lados e até mesmo chegar a pisar no sagrado palco, bem rapidamente e de forma permitida por ainda estar vazio. O show já estava sold out há dias e em pouco tempo, a casa encheu e todos se direcionaram aos seus lugares.
Com o show programado para as 19h30, a apresentação do evento aos presentes se deu alguns minutos antes, e enquanto a orquestra fazia seus últimos ajustes e começava a preencher todos os espaços, o ator, produtor e comediante Alec Baldwin foi convidado ao palco para fazer esta apresentação. Ele é um dos “supporters” do evento e aproveitou a oportunidade para se defender de algumas críticas que a imprensa vinha fazendo à ele, de cunho pessoal, mas também apresentou com muita desenvoltura tanto a orquestra como o próprio evento. E, claro, fez uma ou outra piada, daquelas que só os americanos riem…
E tudo que se fala sobre a acústica do local se justifica logo que a orquestra inicia os trabalhos. E mesmo os mais ínfimos detalhes de um músico no meio de uma verdadeira avalanche de instrumentos podem ser escutados com clareza. A qualidade é impressionante e leva o público para dentro do mundo do palco.
Conduzida por Alan Gilbert, a orquestra se apresentou por 90 minutos + intermission (intervalo), com direito a um lindo coral de crianças. Não vou me meter a besta aqui e tentar falar mais do show porque realmente eu não conheço o material apresentado na noite, mas os interessados podem acessar este link para uma resenha. O máximo que consegui aprender um pouco na noite foi acompanhar a apresentação pelo material – um americano ao meu lado me dava algumas dicas apontando com o dedo, e logo fui entendendo, mesmo que timidamente, o “esquema” nada elementar aos que não estão acostumados com este tipo de espetáculo.
O que fica disso tudo são ótimas lembranças, vontade de voltar um dia e ver mais e, claro, a dica a todos que puderem presenciar esta verdadeira história-viva da música, seja em um concerto, fazendo a tour, não importa – vale a pena. E, quem sabe em uma próxima oportunidade, poder conferir algum show com guitarras, baixo e bateria, por que não?
[ ] ‘ s,
Eduardo.
Categorias:Artistas, Cada show é um show..., Curiosidades, Entrevistas, Jethro Tull, Led Zeppelin, Living Colour, Off-topic / Misc, Pink Floyd, Resenhas, Rolling Stones, The Beatles
cara, sensacional. excelente esse relato
que fotos extraordinárias
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Rolfístico, excelente que gostou e obrigado.
Ainda imagino um dia a turma do blog reunida em algum lugar icônico como este… seria sensacional…
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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alias, esse apoio ao deficientes a as pessoas com dificuldade é algo impressionante. percebe-se que o grande numero de pessoas portadoras de necessidades especiais são bem numerosas por que são tratados com dignidade.
Living Colour….ai sim
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Rolf, é sim. A preocupação deles não é apenas para “cumprir uma lei” como vemos normalmente por aqui. Sem contar o preparo diferenciado dos funcionários, a boa vontade e com a educação em geral superior, tudo contribui para um evento melhor em todos os sentidos.
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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Eduardo,
ótima oportunidade.
Embora raras, essas oportunidades de encontro com a música erudita (muitas a chamam de “clássica”, quando este é o nome dado apenas a um período da música instrumental na Europa) são sempre nostálgicas para mim.
Fui criado em um ambiente cristão, que entre outras vantagens, temos o encontro proporcionado pela música sacra com as grandes orquestras; trago como exemplo Ave Maria (Gounod), Jesus Alegria dos Homens (Bach) e Aleluia (Handel). Estes são clássicos da música feita sob inspiração religiosa.
Estudei clarinete – instrumento sem doce de médio à grave – mas infelizmente hoje não sei tocar uma nota nele. Papai foi músico de orquestra de câmara, numa formação que reunia ele ao clarinete, um cello e um violino e um baixo. Essa linguagem me é peculiar e repito, em outra palavra, saudosista.
As grandes óperas e peças somadas às canções de Wagner (o compositor favorito de Hitler), Chopin, Mozart, Beethoven – pra falar dos mais populares – estão entre as canções que me emocionam pela sensibilidade, riqueza e devoção musical.
As similaridades com o metal, fez com que este casamento ocorresse algumas vezes, com alguma felicidade, das quais a que eu mais gosto chama-se “Moment of Glory” do Scorpions. A música alemã – sobretudo a música alemã – tem uma forte dose de erudição e tecnicismo oriundo das tradições elaboradas do período barroco. (obrigado pelo insight pensei em algo para as próximas semanas).
Em outra oportunidade, havendo tickets (sold out é a melhor expressão para significar: “é bom mesmo, por isso, sorry”), quero sentir deste aroma novamente.
Abraço,
Daniel
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Daniel, valeu pelo comentário e obrigado pela observação sobre a questão da nomenclatura. Como não sabia disso, fiz uma rápida pesquisa na internet e vi as duas terminologias usadas como sinônimos, mas enfim, foi uma pesquisa rápida e nada em locais teoricamente especializados, por isso, valeu.
Excelente ainda os detalhes do seu background, sem dúvidas tal ambiente proporciona uma riqueza imensurável.
E sobre o aroma, sim, tendo a oportunidade, o retorno será, com certeza, inesquecível.
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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Cara, eu estava hospedado praticamente ao lado do Carnegie Hall, mas o pouco que pude ver deles foram trechinhos das fachadas que estavam cercadas de andaimes por todos os lados. É outra das atrações que vão ficar para uma próxima visita, não há dúvida. Também não sou um entendor de música erudita, clássica , seja o que for, mas tenho um profundo respeito pelo estilo e normalmente gosto muito de ver espetáculos do gênero. Junte-se isso a um monumento histórico da cidade americana, e temos um programa imperdível, quem sabe em breve eu resolvo isso….
Ah: As fotos estão lindas , by the way !
Alexandre
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B-Side, os andaimes estavam por lá também, por todos os lados. Olhando ele do nível da “rua”, nem dava o impacto do prédio. Olhando mais de longe, aí sim, principalmente pelo impacto da torre anexa.
O programa é ótimo mesmo e como comentei, as lembranças justificam com sobras um encaixe de agenda quando por lá, sem dúvidas.
Valeu pelo comentário!
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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Ah, eu não comentei , mas esse live do Renaissance no histórico ” venue ” é uma das coisas mais maravilhosas do gênero, e um dos três melhores álbuns da banda, na minha opinião.
Alexandre
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Não foi destacado por aqui à toa, mestre… eu vou aprendendo e agradeço sempre a vocês por isso…
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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Um melhor conhecimento e entendimento da música erudita é um gap que ainda pretendo “cobrir”. Comprei um livro, que ainda não li, que chama-se algo como “música erudita para idiotas” – perfeito para mim. Um dia chegarei lá.
Quanto ao post, se destacam as fotos, maravilhosas. E certamente, em uma ida a Nova York tentarei incluir uma visita ao lugar. Presidente, compraste o ingresso com antecedência? E será que eles fazer algum tipo de tour pelo lugar? Fiz algo parecido no Teatro Colon (Buenos Aires), Solis (Montivideo) e Municipal (Rio de Janeiro) e sempre foi muito interessante.
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Xará, quero agradecer primeiramente pelo comentário e assim como você, eu também devo um conhecimento um pouco maior. Estes passeios sempre ajudam neste sentido, de qualquer forma, e também fomentam o interesse.
Sobre o ingresso, sim, comprei com antecedência e isso é mais que necessário, pois se esgotam rapidamente. Ao planejar a viagem, recomendo dar uma olhadinha no calendário para ver o que pode interessar e quando abrem as vendas.
Com relação a fazer o tour, a resposta é sim também, assim como para a maioria das casas americanas. É aqui: http://www.carnegiehall.org/Tours/
Ainda devo alguns posts desta série por aqui no blog, dois deles muito especiais, e relacionados a tours em lugares lendários como este. Eu chego lá! 🙂
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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