Cobertura Minuto HM – Rockfellas em SP – Manifesto Bar – 18/set/2008 – resenha

Difícil aceitar que isso aconteceu há 16 anos… Era uma quinta-feira quando um amigo ligou e me convidou para ir ao Manifesto Bar para uma apresentação do Rockfellas! Eu não sabia do que se tratava, mas naquela época eu raramente recusava uma ida a um dos bares de rock de São Paulo para ver uma (normalmente) boa banda cover e beber alguma coisa a preço justo com os amigos. As opções eram muitas: além do Manifesto tínhamos o Blackmore, Café Aurora, Black Jack, Little Darling, Café Piu-Piu, Alcatraz, e tantos e tantos outros que frequentei do fim dos anos 90 e por toda a década de 2000.

O Manifesto já tinha passado por sua reforma, perdendo seu “aspecto garagem” e tornando-se algo mais próximo de uma “mini casa de shows” que viria a receber nomes de peso, desde ex-integrantes de bandas renomadas (vêm à mente Blaze Bayley e Ripper Owens, por exemplo) a bandas da cena do metal nacional. Claro que a casa não poderia comportar shows de grande porte, mas não deixava nada a desejar em qualidade e estrutura para “pocket shows” e, naturalmente, apresentações das tradicionais bandas tributo.

O Rockfellas não era uma banda cover qualquer, mas um projeto que reuniu um line-up, digamos, inusitado. Formavam a banda Marcão, do Charlie Brown Jr.; Canisso, baixista do Raimundos; Jean Dolabella, então baterista do Sepultura, e ninguém menos que Paul Di’Anno nos vocais – seu recente falecimento foi motivo pelo qual resolvi escrever este tardio review.

O projeto nasceu com a intenção de ser algo de tiro-curto: algumas apresentações, uma mini-tour por cidades próximas e casas de menor porte, e cada um voltaria para suas bandas e projetos particulares com algumas boas histórias para contar. À distância os integrantes discutiram quais as músicas que formaríam o set, com a regra de que não haveria sugestão absurda. E o resultado foi bastante agradável, com músicas clássicas e conhecidas mas também com outras menos convencionais. Essa mistura de estilos dos integrantes e de seus gostos musicais tornou o projeto algo único, com repercussão internacional (um exemplo aqui).

Fazia frio, caía uma chuva fina em São Paulo e era um dia de semana afinal de contas. Tudo isso contribuiu para uma casa não tão cheia, mas ainda assim com bastante gente para ver a banda. Quem já esteve no Manifesto sabe que o ambiente é mais “intimista”, é tudo muito próximo, parece mesmo que você está na casa de um amigo e o pessoal resolveu fazer uma jam ali mesmo. E era exatamente o que estávamos para ver: os “Caras do Rock” tocando algumas de suas músicas favoritas – ou talvez não tão favoritas assim, como veremos abaixo.

Sem muita cerimônia a banda foi ao palco, cumprimentou o pessoal e iniciou o set com “Detroit Rock City”, do Kiss. E eu preciso ser honesto, embora eu me lembre muito bem daquela noite eu não seria capaz de citar o setlist na ordem, e talvez nem mesmo completo. Após conversar com amigos e fazer uma breve pesquisa na internet (os shows do Rockfellas não está no Setlist.fm) cheguei à seguinte lista, em ordem alfabética:

AC/DC – Highway To Hell
Alice Cooper – School’s Out
Joan Jett – I Love Rock and Roll
Judas Priest – Breaking The Law
Kiss – Detroit Rock City
Led Zeppelin – Rock And Roll
Megadeth – Symphony Of Destruction
Motorhead – Ace Of Spaces
Ramones – Blitzkrieg Bop
Sex Pistols – Anarchy In The UK
Steppenwolf – Born To Be Wild
Stevie Wonder – Superstition
The Clash – I Fought The Law
The Kinks – You Really Got Me
The Police – Message In a Bottle
The White Stripes – Seven Nation Army
Van Halen – Ain’t Talking About Love

E o set fechava com “Paranoid”, do Black Sabbath, e “Wrathchild” do Iron Maiden. Eu e os amigos ainda discutimos se a banda tocou também “Sanctuary” mas não conseguimos chegar a um consenso – esta música sempre fez parte dos sets de Paul em seus shows solo no Brasil então poderíamos estar fazendo confusão. Se alguém sabe ao certo por favor comente abaixo. O que NÃO aconteceu, apesar dos pedidos do público, foi a execução de “Iron Maiden”. Curiosidade: em seu show no mesmo Manifesto (pré-reforma) em 2001 o público chegou a cantar “Iron Maiden” inteira (e bater cabeça) durante o encore, e Paul voltou ao palco dizendo que era um desperdício de fôlego porque ele não cantaria de jeito nenhum.

As versões pareciam mais rápidas (depois li que foi proposital, uma “pegada mais punk” como Canisso descreveria) e com linhas de bateria bem mais complexas que as originais (afinal tínhamos ali o então baterista do Sepultura). O show em si foi totalmente informal, descontraído, com conversas entre as músicas e risadas quando algum erro acontecia (ou microfonia), tudo entre um cigarro ou gole de cerveja e outro.

Paul lia o set list em uma folha de papel, e chegou a comentar “ODEIO esta música, não sei por que a mantemos no set” antes de “Seven Nation Army”. Em outro momento o corintiano Di’Anno comentou que tinha estado na sede da torcida Gaviões da Fiel no dia anterior, que tinha bebido muito lá e por isso estava de ressaca. Eu gritei que naquela noite a cerveja dele seria por minha conta, já que provavelmente a carteira dele tinha sido roubada por lá. Paul mandou um f… you pra mim, fora do microfone, antes da música seguinte, dando risada. Não sei nem descrever o que rolou depois, tentamos conversar no meio do solo da música seguinte, não conseguíamos nos ouvir e então ele me me chamou pro palco (ou pareceu me chamar, só sei que eu subi) e tiramos uma foto (abaixo)!

Após o show banda subiu ao camarim pela escada lateral do palco e o Manifesto seguiu como em uma noite normal, com música de fundo e bar aberto. Eu e meus amigos ficamos mais algum tempo, e antes de ir embora subimos para usar o banheiro. A porta do camarim estava aberta, e vimos Di’Anno lá dentro quando passamos. Na maior cara de pau, pedi licença e entrei. Ficamos batendo papo por vários minutos, falando aleatoriedades sobre a tour e outros projetos – “tudo menos Iron Maiden”, ele pediu. Di’Anno lembrou da minha brincadeira, vestiu a camisa da Gaviões e mandou eu pagar uma cerveja. E ainda nos corrigiu: disse que por conta da sua descendência italiana a pronúncia correta era Paul “DAIANO”, e não “DIANO” como todos falam. Aliás, todos MESMO, até Bruce em sua recente homenagem disse “DIANO”. Desde então eu passei a falar DAIANO e era sempre corrigido – mais ou menos como acontece quando digo Neil PEERT ao invés de Neil PÃRT ao falar do Professor, maior baterista de todos os tempos, do Rush. Oh well…

Os celulares da época nos renderam estas poucas, horríveis e distorcidas fotos, mas fica como curiosidade. E pelo mesmo motivo há poucos registros online das apresentações do Rockfellas – afinal, as câmeras dos celulares eram muito inferiores às que conhecemos hoje e para fazer uma gravação um pouco melhor alguém teria que entrar na casa com uma câmera digital, o que nem sempre era permitido (e nem todo mundo tinha uma). É possível encontrar trechos de alguns dos shows no YouTube, vou buscar alguns e colocar nos comentários abaixo.

Foi uma noite divertida, tanto pra banda quanto pra nós, e que acabou com um encontro e bate-papo com um ex-Iron Maiden e tornou-se inesquecível. O projeto durou poucos shows depois deste, e apesar deles terem falado sobre uma reunião posterior os integrantes não conseguiram agenda, e o Rockfellas acabou ficando apenas na memória daqueles que puderam acompanhar os poucos shows daquele segundo semestre de 2008.



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5 respostas

  1. Muito Maneiro isso aqui ……..que história maneira Nunca ouvi falar disso aqui Achado arqueológico!!!!!

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  2. Um relato incrível, que bom que,mesmo tanto tempo depois, você teve a possibilidade de fazer este resgate e nos trazer por aqui.

    Aliás, uma bela banda, pelo menos pelo Marcão também, ótimo guitarrista do Charlie Brown, além do Dolabella, cuja capacidade foi mencionada no post.

    Acho que o relato nos mostra um pouco mais do que foi a vida deste autêntico rock-star , vivendo cada momento como se fosse o último. É uma escolha, que tem seus acertos, mas normalmente expõe os erros.

    E eu vou concordar com o Paul DAIANO . No meio de tanta música boa, pra quê botar a Seven Nation Army???

    Sds,

    Alexandre

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  3. Watch: BLAZE BAYLEY, Other Ex-IRON MAIDEN Members Pay Tribute To PAUL DI’ANNO At Germany’s KEEP IT TRUE RISING V

    Mais:

    https://blabbermouth.net/news/watch-blaze-bayley-other-ex-iron-maiden-members-pay-tribute-to-paul-dianno-at-germanys-keep-it-true-rising-v

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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