Discografia Rush – Parte 11 – álbum: Exit… Stage Left – 1981 – (Rush Replay x3 – 2006)

“If somebody asked me how to describe a power trio, I would answer that is a group of three lunatics making the job of five or six normal musicians.” –  Ivan Melgar-Morey (honorary collaborator of site progarchives.com)

Ao fim da turnê de “Moving Pictures” não havia qualquer dúvida de que o power trio canadense tinham chegado ao seu auge. A sequência, já desenhada e recosturada no primeiro semestre de 1980, era em entregar um novo souvenir duplo ao vivo para seus fãs. Assim, após a turnê no primeiro semestre de 1981, a banda voltou ao Le Studio em Morin Heights em Quebec, Canadá, para editar e mixar as gravações que fizeram nas duas turnês, não só a do “Moving Pictures”, mas também utilizando parte do áudio gravado nos shows de divulgação de “Permanent Waves”. A produção neste álbum ao vivo é apenas de Terry Brown, ao contrário dos outros álbuns de estúdio, nos quais Brown dividiu os créditos com a banda. Eles tinham uma grande quantidade de músicas gravadas, de vários shows. Neil Peart estima que eles tinham à disposição o equivalente a 50 rolos de fita. O grupo aproveitou aquele momento, reunidos em estúdio, também para compor e gravar “Subdivisions”, que estaria no álbum seguinte da banda. Para o projeto ao vivo, inicialmente, ao definir o repertório do álbum, o conjunto procurou as melhores performances de cada música escolhida.

As gravações são creditadas ao Fórum de Montreal, no show do dia 27 de março de 1981, exceto o lado B, que foi gravado quase um ano antes, nos dias 10 e 11 de junho de 1980, excursionando com o álbum “Permanent Waves” no Reino Unido, mais especificamente no The Apollo em Glasgow, Escócia. No entanto, o grupo posteriormente alegou que para a gravação deste álbum ao vivo, sempre que eles encontravam uma falha técnica ou uma nota errada afetando uma performance aceitável, eles a substituíam usando material de outros shows em sua coleção de fitas.  Então, apesar dos créditos indicarem que três dos 4 lados do novo álbum ao vivo viriam de apenas uma data, o mais crível é entender que naquele show de 27 de março de 1981 encontra-se a grande base, mas não a totalidade da qual foi formado o “Exit…Stage Left”.  Mais shows foram gravados: Toronto, Ottawa, Vancouver e Edmonton, e, segundo Neil Peart, todos aparecem de um jeito ou de outro nos lados A, C e D da versão em Lp de “Exit…Stage Left”. Em 1993, Geddy Lee revelou que a banda teve que adicionar novas seções no estúdio para corrigir passagens com guitarras desafinadas. Geddy Lee entende que o produto final ficou muito perfeito e que deixou o ruído das plateias muito baixo.    Alex Lifeson, por sua vez, achou que o álbum soava muito limpo e não tão cru quanto “All the World’s a Stage”, mas ainda assim o grupo considera muito mais este novo ao vivo do que o álbum anterior ao vivo.  O álbum continua sendo um favorito dos fãs, por trazer uma seleção de músicas da época que nunca mais foi batida em criatividade e qualidade.

“Exit…Stage Left” é tão grandiosamente quanto simplesmente isso. Um álbum que define a maturidade do conjunto e a incrível capacidade de ser uma grande banda ao vivo. Em 1981, depois de tantos anos de luta para conseguir o seu espaço, o grupo realmente não precisava provar mais nada. Um exemplo clássico desta afirmação se dava em pequenos episódios, como por exemplo ali no segundo semestre de 1981, quando o Rush teve como atração de abertura a banda solo de Joe Perry, saído do Aerosmith após um período bem conturbado na banda americana.

Nos primeiros anos de carreira o Rush tinha sido a banda de abertura do Aerosmith e os canadenses sofreram com o diretor de turnê da banda americana. Ele não era um cara muito agradável, segundo relatos do trio canadense e de sua “touring-crew”.  O Aerosmith tinha 600 luzes no palco e deixava apenas 16 para o Rush. Não era permitido que jantassem com a equipe do Aerosmith. O Rush só podia comer as sobras.  Eles tinham muito problema para fazer passagens de som. O PA durante os shows de abertura nunca passava de 50% do volume possível.  Quando Perry saiu do Aerosmith e buscava bandas para atuar como opening-act não havia muitas na estrada. De fato, por coincidência, praticamente só havia o Rush. Nada como um dia após o outro…

Quando consultados, Geddy Lee não somente abriu as portas para Perry, como quis garantir que ele tivesse acesso ao som total, tempo para passar o som e tudo mais que a estrutura do que era uma banda consolidada como Rush na ocasião o permitiria ter. Quase ao fim daqueles shows, Geddy perguntou ao agente de Perry se ele o receberia, para um papo pré-show, no que foi respondido afirmativamente. Lee foi lá e perguntou: “Oi, Joe, como está?’” E Joe disse: “‘Ótimo, cara”. Geddy continuou: “Está conseguindo fazer a passagem de som todos os dias? Estão trazendo comida e essas coisas?” Ele respondeu: “Sim, mais do que pedimos. Realmente, tudo está ótimo”.  Geddy então disse: “Bom, isso é ótimo. Porque eu jamais iria querer que você se sentisse mal como me senti quando fazíamos turnê com o Aerosmith e eu estava abrindo para vocês”.

E o que quer dizer este título “Exit…Stage Left”? Incialmente o grupo pensou em buscar um título que fizesse uma conexão com o álbum ao vivo anterior, assim o fizeram, utilizando a palavra Stage para essa ligação.  O título do álbum é também uma homenagem aos artistas que se apresentam nos palcos do mundo, dos teatros, especialmente, pois normalmente nos bastidores há sinalizações que orientam o caminho para entrar ou sair de cena. Não se trata apenas do conceito literal de uma sinalização, ressaltemos. A frase ganhou sentido também de urgência. Ou seja, é usada quando é preciso sair de forma o mais rápido que for possível. Nas situações de cotidiano, é bastante usada quando é melhor escapar rapidamente do que ficar e arrumar problemas. E definitivamente mais do que tudo isso, vem o lado bem-humorado da escolha do grupo, pois o título do álbum também é principalmente uma citação, e aqueles que apreciam os desenhos animados certamente vão notar, de uma cena clássica vinda dos cartoons. Sabemos que trio canadense era apreciador dos cartoons, algo que já vimos, por exemplo, em “La Villa Strangiato”. A frase era usada como jargão de um de seus adorados personagens dos desenhos de Hanna-Barbera, clássico estúdio de animação americano desde o fim dos anos 50. Um leão da montanha de cor rosa, chamado Snagglepuss, que sempre fugia ao se deparar com algum problema, falava nos desenhos animados: “exit…Stage Left” ou em uma tradução livre, “saída pela esquerda”.  Houve a ideia de colocar a cauda de personagem do desenho animado na capa, mas não foi possível devido a questões de direito autoral não solucionadas. 

A arte da capa, novamente feita por Hugh Syme, traz pelo menos um item que está em uma das oito capas de álbuns de estúdio anteriores do Rush. Temos a coruja de “Fly By Night” que voa acima de Apollo, o homem de terno de “Hemispheres” e este situa-se ao lado da modelo de “Permanent Waves” que é quem mais se destaca na capa. O rei fantoche de “A Farewell to Kings” está sentado em cima de uma caixa com o logotipo “Rush“, citação ao primeiro álbum. Ao lado dele está uma pintura da capa do álbum “Caress of Steel”, segurada por um dos carregadores de “Moving Pictures”, com outro carregador de pé atrás. Ao lado disso está Dionísio, o homem nu de “Hemispheres”. Atrás desta cena, o “Starman” de “2112” está pendurado no fundo, ao lado de uma placa de “EXIT”.

Mike Dixon, o carregador mais famoso de “Moving Pictures” traz os detalhes do projeto desta capa nessa entrevista. Toda esta cena foi executada em primeiro plano, filmada na época abandonado Winter Garden Theatre de Toronto, e está no lado esquerdo do palco, portanto “Exit…Stage Left”.

Além dos álbuns de estúdio, podemos também considerar que há também uma referência ao “All the World’s a Stage”, representada pela imagem no lado direito, que é uma foto de um show em Buffalo, Nova York, no Buffalo Memorial Auditorium, já que   ambas as capas dos álbuns mostram momentos prévios ao show, sem a banda estar no palco. “Exit… Stage Left” ganhou disco de platina, chegando à posição número 10 das paradas da Billboard, número 6 no Reino Unido e 7 no Canadá. Uma versão em vídeo, bem mais curta que o álbum, foi lançada no ano seguinte, com boas vendas para o segmento, até então um mercado em plena expansão, com poucos consumidores aptos a apreciá-los. Nos créditos do álbum, há transcritas para o inglês as frases que Geddy Lee canta no fim de “La Villa Strangiato” e também uma menção meio mórbida aos colegas canadenses do grupo Max Webster, que tinha encerrado suas atividades. O trio canadense simplesmente desejou aos seus colegas que descansem em paz (R.I.P.). Uma outra curiosidade, é que há uma versão para promoção de “Exit…Stage Left” intitulada “6-track vinyl sampler: Rush ‘N’ Roulette” que traz trechos de seis faixas com 2 minutos cada nos lados A e B com o propósito de divulgar o álbum nas estações de rádio. O item tornou-se uma raridade para colecionadores.

As primeiras versões em CD simples, lançadas no fim da década de 80 e até 1996, por restrições do máximo de duração que um CD poderia ter, não traziam a faixa “A Passage To Bangkok”. Com o passar dos anos, os CDs passaram a caber cerca de 80 minutos de áudio, o que permitiu que todos os relançamentos, em especial os remasters de 1997, trouxessem o conteúdo total que está lançado no Lp duplo em 1981.

Ficha Técnica:

Lado A

“The Spirit of Radio” – (5:17)

“Red Barchetta” – (6:45)

“YYZ/ Drum Solo(7:44)

Lado B

“A Passage to Bangkok” – (3:44)

“Closer to the Heart” – (3:07)

“Beneath, Between & Behind” – (2:32)

“Jacob’s Ladder” – (8:42)

Lado C

“Broon’s Bane” – (1:35)

“The Trees” – (4:30)

“Xanadu” – (12:33)

Lado D

“Freewill” – (5:31)

“Tom Sawyer” – (4:58)

“La Villa Strangiato” – (9:37)

I: “Buenos Nochas, Mein Froinds!”
II: “To sleep, perchance to dream…”
III: “Strangiato theme”
IV: “A Lerxst in Wonderland”
V: “Monsters!”
VI: “The Ghost of the Aragon”
VII: “Danforth and Pape”
VIII: “The Waltz of the Shreves”
IX: “Never turn your back on a Monster!”
X: “Monsters! (Reprise)”
XI: “Strangiato theme (Reprise)”
XII: “A Farewell to Things”

Reedição em cd:

“The Spirit of Radio” –(5:11)
“Red Barchetta” –
(6:46)
“YYZ/ Drum Solo” –
(7:43)
“A Passage to Bangkok” –
(3:45)
“Closer to the Heart” –
(3:08)
“Beneath, Between & Behind” –
(2:34)
“Jacob’s Ladder” –
(8:46)
“Broon’s Bane” –
(1:37)
“The Trees” –
(4:50)
“Xanadu” –
(12:09)
“Freewill” –
(5:31)
“Tom Sawyer” –
(4:59)
“La Villa Strangiato” –
(9:38)

I: “Buenos Nochas, Mein Froinds!”
II: “To sleep, perchance to dream…”
III: “Strangiato theme”
IV: “A Lerxst in Wonderland”
V: “Monsters!”
VI: “The Ghost of the Aragon”
VII: “Danforth and Pape”
VIII: “The Waltz of the Shreves”
IX: “Never turn your back on a Monster!”
X: “Monsters! (Reprise)”
XI: “Strangiato theme (Reprise)”
XII: “A Farewell to Things”

Geddy Lee: Baixo, sintetizadores, Moog Taurus Bass Pedal, guitarra base ocasional e vocais.
Alex Lifeson: Guitarras e violões, Moog Taurus Bass Pedal.  
Neil Peart: Bateria e percussão

Produzido
por: Terry Brown
Gravadas no Reino Unidopor Mobile One:  A Passage To Bangkok, Closer To The Heart, Beneath, Between & Behind, and Jacob’s Ladder  
Engenheiro: Andy Rose;  Técnico de gravação: Barry Ainsworth
Set-up: Tim and James
Gravadas no Canadá por Le Mobile e Record Plant Mobile:  The Spirit Of Radio, Red Barchetta, YYZ, Broon’s Bane, The Trees, Xanadu, Freewill, Tom Sawyer and La Villa Strangiato
Engenheiro: Terry “Broon” Brown ;  Técnicos de gravação: B Guy Charbonneau e Jack Crymes;
Set-up: Cliff, Mark and Hutch
Mixado: no Le Studio, Morin Heights Quebec
Engenheiro de mixagem: Paul Northfield
Masterizado por: Bob Ludwig e Brian Lee no Gateway Mastering Studios, Portland, Maine, EUA.
Direção artística: Hugh Syme

Fotografia: Deborah Samuel
Produção executiva: Moon Records
Empresariamento: Ray Danniels, SRO Productions, Inc., Toronto.

Mercury, October 29, 1981
© 1981 Mercury Records © 1981 Anthem Entertainment

Notas adicionais do encarte:

Special guest: Ian Melhuish as the Puppet King
Road Manager and Lighting Director: Howard Ungerleider
Concert Sound Engineer: Jon (Mushy) Erickson
Stage Manager: Michael Hirsh
Stage Right Technician and Crew Chief: Liam (Calculator-Head) Birt
Stage Left Technician: Skip Gildersleeve
Centre Stage Technician: Larry (The Green Shrav) Allen
Guitar and Synthesizer Maintenance: Tony (Jack Public) Geranios
Stage Monitor Mixer: Greg Connolly
Security Chief: Ian Grandy
Projectionist: Lee Tenner
Personal Shreve: Kevin (Barney Rubble) Flewitt
Concert Sound By: National Sound–Tom Linthicum, Dave Berman, and Fuzzy Frazer
Concert Lighting by: See Factor International–Nick Kotos, Mike Weiss, Mark Cherry, John Quinton, Steve Tuck, Robbie Gilchrist, et cetera
Bus and Truck-Faces:Tom Whittaker, Pat Lynes, Mac MacLear, Billy Barlow, Richard Owens, Steve Connelly, and Al Posner
U.K. Transportation: by Edwin Shirley Trucking, Len Wright Travel, and “The Red Flash” – Bill Churchman
Concert Rigging by: Bill Collins-Southfire Rigging

People of the Wonderful Thing: The cast and crew of Le Studio, especially André for making the new all-colour Jack Secret Show a reality, Raru Ponce de Leon, Dr. Carl Zbourg, Major Seventh, Lou, Suzanne, Ronnie, Bjorn Erlichmann the Stunned Man, Punjabi, Dirk the Cameraman, and Daisy O’Williams and the Dogmatics, The Fabulous Projecting Men, featuring a Chorus of Fools, Nick the cat, Explosion Magazine, the lovely Rushka, Joe E. Ross-ooh ooh!, the people of Fooland, the Expos, the Great White North, and the members and crew of “FM” for their important comedic and musical support – Öfshnatzen d’Rötz!!

Max Webster R.I.P.
This album is dedicated to the world-renowned they- (Slider’s uncles, Eddie and Glen).
Alex’s performance in Broon’s Bane is dedicated to Elliot.
A special tribute to the Glaswegian Chorus for the background vocals on Closer To The Heart. Nice one, folks!
Our personal thank you to the Griffin family for their wonderfulness, and to the people of NASA for their spectacular launch of the Columbia which we were privileged and thrilled to witness.
We also should include a (loose) translation for the new lyrics to the Danforth and Pape section of “La Villa Strangiato”
“Patty-cake, patty cake,
Mother’s going to buy you shoes,
Father’s going to buy you socks,
Baby’s going to have red cheeks.”

Enough said.

Well, just a few more words! In seven years of touring we have made many friends in many different places. Some have worked for us, some have cheered for us, and some have just been nice to us.
For reasons beyond our comprehension, we have become increasingly more popular, and hence stretched ever more thinly among ever more people.
If sometimes we can’t give the time they deserve to our friends and loved ones, we hope that they will understand and forgive us.
After all, we didn’t change, everybody else did!

NOTA DOS AUTORES: Tendo em vista que as faixas já foram exaustivamente analisadas nos álbuns de estúdio desta discografia, teceremos comentários sobres as diferenças mais relevantes em relação a qualquer versão até aquele momento executada, seja ao vivo, seja em estúdio, considerando também a divisão entre os lados do vinil no detalhamento do álbum. Afinal, “Exit…Stage Left” foi um álbum concebido para o formato de vinil, com a sequência criteriosamente selecionada, assim como as pausas para as trocas de lado dos vinis. Vamos lá:

1 –“The Spirit of Radio”

“This is The Spirit of Radio”, anuncia Geddy Lee, para começar em alto nível o álbum. O som do álbum nos permite ouvir cada detalhe, como o ótimo uso dos pratos e contratempos por Neil Peart já no início da canção. Em 1:31 vem o sequenciador e o Moog Taurus Bass Pedal para o trecho no qual Alex traz novamente o riff inicial da música. Em 2:59, um ligeiro trecho instrumental, percebe-se claramente o uso do pedal flanger por Lifeson, enquanto o baixo entrega linhas poderosas. A passagem para a parte que antecede o característico trecho em reggae com todos juntos entregando uma frase bastante é ousada e extremamente sincronizada. Vem o trecho em reggae, mais acelerado em relação à versão de estúdio. Em 4:03 a plateia explode, após Lee cantar “concert hall”. Segue-se uma versão do solo em wah-wah ainda melhor do que o gravado em estúdio por Alex. O riff principal na parte final não está acompanhado pelo piano como na versão de estúdio, mas por um poderoso timbre de strings tocado no Moog Taurus Bass Pedal. Esta é uma das versões definitivas de uma canção deste álbum, melhorando o que foi feito no “Permanent Waves”.

2 –“Red Barchetta”

“This a song about a car, this is call Red Barchetta”, novamente temos Geddy anunciando a canção. O som do baixo no pequeno solo se destaca no início. A plateia reage na pequena parada para os harmônicos de Lifeson, em 2:06. Em 2:36 começa o trecho que representa a perseguição entre os carros, novamente a plateia responde de forma entusiástica. A versão é outra que se define por perfeição tanto no vocal como no instrumental. Em 3:26 vem o ótimo solo de Alex, seguido por Peart entregando uma virada em “cascata” nos seus toms. Cada instrumento, cada peça de bateria, tudo é ouvido com impressionante definição. Em 5:30 Lee entrega o solo de baixo que nos leva ao fim da canção. O arranjo redefinido para substituir o fade-out do original, em que Lifeson transpõe os harmônicos para um bonito dedilhado, transforma a canção em uma versão ainda melhor do que a de estúdio.

3 –“YYZ”

Segue outra canção de “Moving Pictures”, a instrumental “YYZ”. A parada em 0:37 é novamente de uma precisão ímpar, coisa que poucos músicos conseguem fazer tão bem em conjunto. É possível ouvir Lee juntando duas ou mais cordas em determinados momentos, fazendo com que o baixo soe ainda mais poderoso. O trecho anterior ao solo novamente traz os músicos no auge de sua capacidade, com Peart e Lee estraçalhando em suas linhas de forma revezada. As versões da ‘Moving Pictures tour’ de “YYZ” trazem antes do solo de guitarra, o “drum solo”. É um solo muito próximo ao que está no “Live in YYZ”, porém com ligeiras variações, em especial no trecho final, a partir de 4:59, ainda melhor do que na outra versão oficialmente conhecida. Em 5:32 vem um dos solos de Lifeson que no nosso entendimento encontra aqui sua melhor versão, entre todas as performances conhecidas da canção. É apenas o primeiro de vários, conforme veremos na sequência desta análise música a música.

4 – “A Passage To Bangkok”

A primeira música do segundo lado é uma das gravadas em Glasgow e uma das que não pertencem a considerada fase clássica do grupo, pois vem originalmente no “2112”. Novamente temos uma versão que supera a original. O uso dos cow-bells e do contratempo por Peart se destaca dentro do arranjo completo da condução de sua bateria. Em 1:50 temos novamente um dos solos da vida de Alex, sem dúvida a melhor entrega na música. Ao fundo se ouve Geddy tocando a guitarra de sua doubleneck enquanto acrescenta o Moog Taurus Bass Pedal. Não bastasse tudo isso, ainda dentro deste espetacular solo de guitarra, Peart dá uma aula de como variar o uso de seu contratempo. Momento singular e genial dentro do duplo ao vivo, com os três músicos brilhando ainda mais intensamente. Em 2:59 Alex lança um acorde arpejado duas vezes em sincronia perfeita com a bateria, aumentando ainda mais a qualidade desta versão. Alguns fãs poderiam até reclamar da inclusão desta canção no duplo ao vivo, visto que não faz parte da fase que o álbum procura cobrir, e sim da fase anterior, mas a performance dos canadenses é tão espetacular que por si só justifica a decisão de incluí-la aqui.  A música foi retirada das primeiras versões em cd, por questões de restrição de tempo dos primeiros cds, o que até hoje consideramos um verdadeiro “crime”.

5 – “Closer To The Heart”

A plateia de Glasgow recebe a canção icônica de forma efusiva, cantando junto com Geddy a primeira estrofe. Vem o trecho com sinos e Moog Taurus Bass Pedal em 1:03, novamente a plateia reage muito claramente. O solo de Lifeson também se segue de nova ovação do público. Geddy entrega um agudo vocal perfeito nas linhas finais da canção, que emenda na faixa seguinte.

6 – “Beneath, Between & Behind”

Novamente a plateia reage ao reconhecer a energética faixa que segue “Closer To Heart”. Por ser uma versão em medley, a canção não traz a segunda estrofe, partindo da primeira parte para a terceira e final estrofe. Novamente Neil dá aquela aula no uso dos contratempos em 1:27. O eco na guitarra de Lifeson ao fim da canção, nas pausas, está do jeito que tem de ser, marcante sem embolar o som. Ainda que seja novamente uma versão perfeita, se tivéssemos de optar por alterar o set list, talvez fosse aqui que mexeríamos, visto que é outra canção da fase anterior do grupo. Mas não se enganem, é uma ótima interpretação no álbum, que se contemporiza com as músicas da fase atual.

7 – “Jacob’s Ladder”

O lado B do formato em vinil termina com uma faixa de “Permanent Waves” que não consta em Live in YYZ 1981. Assim como “A Passage To Bangkok”, “Jacob’s Ladder” fez parte dos shows da ‘Permanent Waves Tour’. Assim, no bônus disc entregue na versão dos 40 anos de “Moving Pictures” que contempla um show de 1981 não há estas duas canções. Se no nosso entendimento era imprescindível não abrir mão de ter a canção do “2112” neste “Exit…Stage Left”, o que falar desta canção tão apreciada pelos fãs e um daqueles exemplos máximos do estilo progressivo do grupo, em toda a sua carreira. A versão é sim muito bem-vinda e obrigatória no álbum, um dos destaques dentro de um álbum perfeito em suas performances.

A canção começa com a banda atacando o que teoricamente é conhecido como um trecho de um standard gravado por vários artistas, entre eles os Righteous Brothers, chamado “Ebb Tide”. Essa é uma informação que consta de diversas fontes que fizeram parte de nossa pesquisa. Cabe aqui, no entanto, uma consideração dos autores, discordando esta afirmativa. Para nós, o que Alex toca no início da música, com a plateia de Glasgow acompanhando nas palmas, é um trecho de “Unchained Melody”, que também foi gravada pelo Righteous Brothers. Abaixo trazemos as duas canções, para comparação de todos.

Retornando a “Jacob’s Ladder”, ainda enquanto Lifeson está tocando o trecho citado acima, Lee anuncia que vão tocar uma velha canção, anunciando a música. O baixista-vocalista-tecladista informa que a música é de T.C. Broonsie, uma espécie de brincadeira com Terry Brown, aliás não é a única com o produtor em “Exit…Stage Left”, como veremos mais à frente. Em 0:49 a música propriamente se inicia, o dedilhado de Lifeson marcado pelo baixo de Lee, com o som de teclados ao fundo e Peart desfilando rufadas marciais na bateria. Em 2:27 temos mais um solo de guitarra que encontra a sua versão mais brilhante em “Exit…Stage Left”.  A obscura canção recebe as linhas caóticas de teclado em 3:40, aumentando o clima fechado da música. Em 4:35, praticamente é este teclado que permanece, com algumas sutilezas da percussão de Peart ao fundo. Os vocais de Lee são saudados pela plateia, talvez em função do efeito de envelope que é acrescentado. Vem o riff genial da canção, tocado por Alex, perto dos 6 minutos, enquanto Lee permanece nos teclados e Peart entrega uma complexidade única em forma de condução “multi-ritmada” da música. Em 7:10 Lee se junta a Alex neste espetacular riff, preparando aquela sequencia impressionante de paradas, que o grupo entrega de forma precisa. Ao fim, Lifeson acrescenta o flanger para as frases finais da canção. A plateia novamente reage com estusiasmo. As canções captadas em Glasgow são aquelas onde claramente se percebe uma participação ainda maior da plateia no álbum. A decisão por incluir essas canções da tour anterior tornou-se uma excelente sacada, e “Jacob’s Ladder” ainda se destaca, por ser uma das faixas obrigatórias no set que não consta na turnê seguinte. E mais do que isso, a música encontra aqui em  ”Exit…Stage Left” sua versão mais preciosa.

8 –“Broon’s Bane”

O trecho ao violão de nylon de Lifeson, que precede “The Trees” originalmente foi concebido, em um arranjo provavelmente ainda embrionário, para estar na abertura da música, nas gravações de “Hemispheres”.  Terry Brown, o produtor, mais conhecido pela alcunha de Broon, vetou a inclusão do trecho no álbum de 1978. Ouvindo a delicadeza da peça clássica, com Lifeson performando com a destreza de um Steve Howe, percebe-se que o produtor não teve a mais feliz das decisões. O nome da canção é a outra brincadeira e uma espécie de “homenagem” ao produtor no álbum, pois “Bane” significa simplesmente “maldição”.  Assim, finalmente em “Exit…Stage Left”, assim como em “Live in YYZ 1981”, a peça clássica chegou ao conhecimento dos fãs da banda e é uma linda introdução, que comprova a qualidade exuberante do músico ao instrumento. Diferentemente da versão tocada com palheta constante no “Live in YYZ 1981”, Lifeson aqui dedilha com a mão direita, e esta versão tem o dobro do comprimento, sendo que na segunda passagem Lifeson a enriquece com algumas frases de embelezamento, tornando-a a versão definitiva disponibilizada ao público.

9 – “The Trees”

Uma das favoritas na discografia da banda, The Trees é outra das canções que encontra uma versão definitiva em “Exit…Stage Left”. Em 1:39 os teclados do Minimoog de Geddy entregam uma linha ligeiramente diferente da gravada em estúdio, ainda mais bonita. É uma versão mais pesada e poderosa que a original. A música emenda com “Xanadu”, tornando-se outro ponto alto nos shows do trio canadense na época. A execução é majestosa, com os segundos finais que preparam para a entrada da canção seguinte através de uma bela sequência harmônica servindo de ponte, mostrando todo o clima viajante necessário para que o show prosseguisse.

10 –“Xanadu”

O que escrever de um lado tão perfeito como esse lado C de “Exit…Stage Left” ? O mais incrível, no entanto, é perceber que essa sequência que traz “Broon’s Bane”, “The Trees” e agora “Xanadu” teoricamente algo que não encontra rivalidade tamanha a qualidade das músicas, se comparada a qualquer dos outros lados, vai encontrar rivalidade suficiente para nos deixar em dúvida. Esse é o grande mérito de “Exit…Stage Left”. O álbum é uma sequência irretocável de canções. A ambiciosa faixa de “A Farewell To Kings” também encontra neste duplo ao vivo uma performance arrebatadora, , que já foi mostrada antes aqui no Minuto HM, num post inteiramente dedicado a ela. Os vocais estão impecáveis, a nova aula de bateria de Peart, o uso dos instrumentos doublenecks, os diversos momentos do multi-instrumentista Geedy, se revezando entre tantos papéis. É uma versão que se traduz também em maturidade, tantos anos foram até aquele momento que o grupo já tocava a canção, que até então não saía dos set-lists.

11 – “Freewill”

“Freewill” abre o último lado, que também, para variar, não tem qualquer ponto sequer mediano. É até difícil acrescentar algo a um lado que traz três canções que são destaques em seus álbuns, álbuns estes que fazem parte do ápice da carreira dos canadenses. Antes da música começar, com bastante atenção, dá para perceber a contagem que Neil Peart. E o que se segue é o óbvio, uma entrega que novamente podemos considerar perfeita da música. Ali perto dos 3 minutos, vem o trecho intermediário instrumental, onde os três músicos estraçalham em seus instrumentos. O timbre do baixo é particularmente voraz e distorcido, assim devemos dar destaque à precisão rítmica da bateria. É realmente muito difícil escolher para qual deles devemos dar maior atenção. Podemos apenas ressaltar que o incrível solo de Lifeson aqui é mais um dos que encontra sua versão definitiva. E claro, por fim, os vocais agudíssimos no refrão após o solo merecem ser reverenciados neste momento áureo de Geddy.

12 –“Tom Sawyer”

É hora do clássico mais absoluto na discografia da banda, em outra versão perfeita. Todos os detalhes do arranjo, em seus mínimos acréscimos, estão ali, como por exemplo a oscilação do Minimoog que precede o solo de guitarra de Lifeson. A versão deste solo nos pareceu mais robusta que a gravada no álbum, devido à perfeita ambientação da banda no palco tocando ao vivo. A mixagem é outro ponto bastante favorável no álbum e entendemos que “Tom Sawyer” é talvez a que mais próxima ficou da versão em estúdio, exceto, é claro, por trazer o excelente arranjo que finaliza a canção, uma vez que a original terminal em fade-out.

13 – La Villa Strangiato”

Geddy anuncia a última canção, e como o tempo passa voando ao ouvir este álbum. O início traz, como nas outras versões ao vivo, Lifeson trocando o trecho acústico por uma impressionantemente rápida e virtuosa execução na guitarra. Os teclados soam mais altos no início do trecho seguinte, com o Minimoog entregando nuances muito bonitas. A canção vai crescendo, segue-se o riff característico da banda, teclados bem presentes na mixagem. Chegamos o momento do solo de Alex, em 3:58. E novamente o que se ouve é a melhor entrega do guitarrista, melhorando o que já era um dos melhores momentos do músico durante toda a carreira da banda. É um solo simplesmente espetacular e definitivo, que se junta aos diversos outros que foram citados durante a análise do álbum. Em 06:32 vem aquela linha “impossível” de baixo, tocada com extrema maestria por Geddy. Perto dos 7 minutos, Geddy improvisa um trecho cantado na música, algo que não aparece em “Live in YYZ 1981”. A letra é de uma cantiga de ninar tradicional da terra dos pais do músico, em uma alusão ao tema central de “La Villa Strangiato” que se baseia nos pesadelos de Alex Lifeson. O trecho consta do encarte do álbum em uma tradução livre para o inglês , já que o original é Geddy cantando em língua Ídiche, uma língua da família indo-europeia, pertencente ao subgrupo germânico, tendo sido adotada por judeus, particularmente na Europa Central e na Europa Oriental.  Ao fim da canção, há uma mudança no arranjo em 08:25, que encontra no fundo uma reação contida da plateia, provavelmente em estado de transe, tamanha é a precisão dos canadenses ao executar peça tão complexa. Destaca-se a rápida frase de baixo aos 8:55, que não consta da original. Lee se despede rapidamente e assim chegamos ao fim deste duplo ao vivo impecável.

Abaixo citamos o trecho cantado por Geddy Lee, na língua original, na tradução do encarte e em uma tradução para o português, a partir do inglês trazido no encarte.

Em ídiche:

“Patchy patchy kikhelekh
Zaydie v’kayfn shikhelekh
Bubie v’kayfn zekhlekh
A gezunt un (child’s name)’s bekhlekh!”

Em inglês:

“Patty-cake, patty cake,
Mother’s going to buy you shoes,
Father’s going to buy you socks,
Baby’s going to have red cheeks.”

Em português:

“Patty-cake, patty cake,
A mãe vai comprar sapatos para você,
O pai vai comprar meias para você,
O bebê vai ficar com as bochechas vermelhas.”

Uau!  Talvez essa seja a “palavra” que melhor define este duplo ao vivo. E é um desafio incrível acrescentar algo que já não foi dito sobre o que podemos considerar a obra-prima maior da discografia da banda. E tudo que for escrito sobre este trabalho ainda é pouco, insuficiente para defini-lo. Se tivéssemos de indicar qualquer álbum como momento principal nestes diversos capítulos que estamos trazendo, certamente “Exit…Stage Left” seria, senão o primeiro, um dos primeiros a serem citados. O álbum, como todos os álbuns que pertencem ao olimpo do seu formato (duplo ao vivo) é perfeito, embora, novamente como todos os melhores álbuns ao vivo de todos os tempos, tenha espaço para considerações que podem retirar esta perfeição dele. Assim, sabemos que não se trata de um show em sua sequência original, mas sim uma espécie de coletânea ao vivo, que privilegia as canções dos últimos álbuns e não traz qualquer música que esteve no álbum ao vivo anterior. Desta forma, canções como “Working Man” ou as partes iniciais de “2112”, tocadas nos shows da época, não estão aqui. As restrições de tempo que mesmo um duplo ao vivo tem fizeram também que faixas como “Vital Signs”, “The Camera Eye”, “A Farewell To Kings”, “Cygnus X1 Book II: Hemispheres” e principalmente “Limelight” ficassem de fora da escolha final.

Isso tudo acima é perfeitamente plausível e não pode ser desconsiderado, mas honestamente cai por terra no momento em que o ouvinte coloca o álbum, na íntegra, para tocar. Não dá, por exemplo, para prescindir de uma versão tão maravilhosa quanto a que temos aqui de “Jacob’s Ladder”. O material é soberbo, as performances são as definitivas, os músicos estão no auge de suas carreiras. Os solos de Alex Lifeson encontram, em grande parte, suas melhores execuções neste duplo ao vivo. É possível perfeitamente citar os de “The Spirit of Radio”, “YYZ”, “A Passage To Bangkok”, “Jacob’s Ladder”, “Freewill” e para fechar com chave de ouro o de “La Villa Strangiato” como momentos no qual o guitarrista entrega a sua melhor performance. Podemos então elencar “Exit…Stage Left” como mais um exemplo dos duplos ao vivo perfeitos que não exatamente o são. E é justamente este grupo de álbuns ao vivo que pertencem ao nível maior do formato. A ele juntam-se, por exemplo, o “The Songs Remains The Same” (que não tem “Black Dog” ou “Since I’ve Been Loving You”), do Led Zeppelin, o “On Stage” (que não tem “Stargazer”) do Rainbow ou o “Alive II” do KISS, que não traz “Do You Love Me?”, entre outros álbuns icônicos que são perfeitos por simplesmente também não serem.

O Rush sempre foi uma banda que se destacou em seus shows ao vivo. Este é o Rush no seu melhor, e embora raramente encontremos álbuns ao vivo que mereçam nota máxima, este é definitivamente um que merece. Não é longo demais para que não possa ser ouvido de uma só vez e com energia suficiente para explodir sua cabeça, este é um álbum ao vivo que todos deveriam ter. “Exit… Stage Left” figura com extrema facilidade entre os dez melhores álbuns ao vivo de todos. Para os autores desta discografia, certamente está entre os três melhores. É tão difícil escolher qual é esse melhor duplo ao vivo de todos os tempos, mas este é, sem dúvida, um dos que mais concorre. O álbum virou uma geração de apreciadores do estilo de ponta a cabeça, ele balançou as estruturas de todos. É o momento máximo da discografia da banda, fechando de forma contundente a era de ouro do trio canadenses.

Reconhecimentos:

“Exit… Stage Left” atingiu a certificação de álbum de ouro nos EUA em 05 de janeiro de 1982, chegando ao status de platina quase seis anos depois, em novembro de 1987. Ele recebeu disco de prata no Reino Unido por mais de 60 mil álbuns vendidos e disco de platina no Canadá (vendagens acima de 100.000 unidades). Como singles, “Tom Sawyer” foi lançado na Europa e atingiu 25º lugar nas paradas britânicas. Já “Closer To The Heart” chegou ao 69º lugar nos EUA na parada Billboard, sendo o 7º no segmento Mainstream Rock. Entre as críticas especializadas, há opiniões bem diversas, várias das resenhas atribuíram nota máxima para o conteúdo, mas há aqueles que consideram o álbum previsível ou burocrático. A revista americana Rolling Stone, que historicamente cercou a banda de opiniões desfavoráveis, deu apenas 2/5 para o álbum. A Classic Rock Magazine fez uma pesquisa em 2004 e “Exit…Stage Left” foi considerado um dos melhores 10 discos ao vivo de todos os tempos.

Este 11º capítulo da discografia inaugura também um novo segmento, que é a análise também dos home vídeos que a banda lançou durante todos esses anos. Assim, em quase paralelo ao lançamento do duplo ao vivo, o grupo disponibilizou seu primeiro home video, com o mesmo título “Exit…Stage Left”, porém com um conteúdo que contém algumas diferenças. O vídeo foi inicialmente disponibilizado via MTV, no dia 13 de fevereiro de 1982. O material deste home vídeo é inteiramente obtido através da performance do grupo em 27 de março de 1981, no Fórum de Montreal, cidade da província de Quebec, Canadá.  Em novembro foi apresentado em formato CED, que é um vinil com capacidade de armazenar e reproduzir vídeos.

Este formato foi descontinuado em 1986, com a ascensão dos demais formatos de reprodução de imagens. Como curiosidade, abaixo há uma demonstração do uso do mesmo, ainda quando era comercializado.

Em 1983, o vídeo de “Exit…Stage Left” é lançado em junho e julho através de Laserdisc, VHS e Betamax e finalmente pode atingir um público maior. Em 2007 atinge o formato DVD simples, com vendas de 50 mil unidades nos EUA (gold status pela RIAA) porém um ano antes, em 2006, fez parte de um box-set chamado Rush Replay X3, com áudio remasterizado em versão 5.1 Dolby Surround. Os três shows que compõem este dvd triplo são “Exit… Stage Left”, “Grace Under Pressure Tour” e “A Show of Hands”. Além dos citados vídeos, o box-set traz um cd de áudio da “Grace Under Pressure Tour”. Os box sets comprados na Best Buy contêm as seguintes faixas exclusivas, neste citado CD de áudio: “Limelight” e “Closer to the Heart” do “Exit… Stage Left”, entre outras faixas extras. O restante do material do Replay X3 será mais bem detalhado em capítulos mais à frente na discografia HM.  O vídeo conseguiu chegar ao status de platina quíntupla, com 50 mil vendas, no Canadá.

O conteúdo do vídeo de “Exit…Stage Left” é exatamente o mesmo contido no dvd disc 1 do box set Replay X3. O material, que contém cerca de 60 minutos, é:

Intro (“The Camera Eye“) – (2:15)

Limelight” – (4:38)

Tom Sawyer” – (5:00)

The Trees” – (4:47)

Xanadu” – (12:32)

Red Barchetta” – (6:37)

Freewill” – (5:50)

Closer to the Heart” – (3:30)

YYZ” – (1:25)

By-Tor and the Snow Dog” – (4:13)

“In the End” – (1:42)

In the Mood” – (1:35)

2112: Finale” – (2:42)

Assim como é o formato da discografia para os álbuns da banda, pretendemos para a seção de vídeos trazer breves comentários sobre cada track disponível. Os links do YouTube que estamos colocando, como em qualquer post do Minuto HM, servem para facilitar o acesso ao conteúdo visual, porém podem,a qualquer momento, serem bloqueados .O contéudo do vídeo “Exit…Stage Left”, como citamos, é diferente do material que está em aúdio e assim começa:

1 –“The Camera Eye”(Intro)

O vídeo começa trazendo as imagens de bastidores da produção dos shows da banda, a montagem dos equipamentos, com o “touring-crew” trabalhando na enorme estrutura que era o palco da banda em 1981. Neil Peart aparece no áudio, trazendo suas impressões acerca deste momento, quando o palco já está sendo montado e ao mesmo tempo transmitindo já desde o primeiro instante, segundo o baterista, a eletricidade de um concerto. O playback desta introdução é composto da versão de estúdio de “The Camera Eye”. No fim do trecho, há um depoimento de Geddy Lee, atestando o papel de um músico em ser também um entertainer.

2 – “Limelight”

A primeira canção ao vivo de fato do home vídeo é a mais desejada, pois “Limelight” não está nas versões em áudio do álbum. Alex está com a sua Fender Stratocaster branca, com “pickguard” preto e Lee com o indefectível baixo Rickenbacker preto, com “pickguard” branco. A versão em muitos momentos parece ser a de estúdio, tal a precisão de sua execução. Há já neste início alguns takes da linda bateria de Peart. O solo é um momento especial, pois é o favorito de Lifeson em toda a sua carreira. É executado com perfeição, com a bateira de Peart também se destacando, com vária viradas. Percebemos também que no trecho Lee está também usando um dos Moog Taurus Bass Pedal que tem a disposição. O músico se reveza entre os dois disponíveis, utilizando o outro quando tem de estar mais próximos dos demais sintetizadores.

3 – “Tom Sawyer”

O clássico absoluto do grupo começa com Lifeson portanto uma Les Paul Howard Robert Fusion, e ajudando a construir as linhas de sintetizadores no Moog Taurus Bass Pedal que fica do seu lado no palco. Pouco antes do solo, percebemos Geddy fazendo o riff principal da canção no Minimoog. Após o solo segue-se aquelas sequencias de viradas de bateria que devem ser as mais reproduzidas nos “air drums” da plateia. Lee precisa ficar quase o tempo inteiro próximo aos teclados em virtude do constante revezamento entre o baixo e os teclados, enquanto canta. O final do vídeo alterna a performance dos músicos com imagens do telão.

4 – “The Trees”

Um pequeno trecho final de “Broon’s Bane” é tocado enquanto Geddy anuncia Lifeson no violão. Segue-se a introdução da canção, e Lifeson está novamente com a Stratocaster. Percebe-se claramente no vídeo o momento que o guitarrista aciona o pedal de efeito flanger, quando começa o primeiro refrão.  O close na parte intermediária se reveza entre o uso dos diversos elementos percussivos por Peart e os teclados de Lee. No fim deste trecho, Alex aparece mais, os detalhes mostram o dedilhado feito no pedaço inferior do seu instrumento, próximo ao corpo. O solo é mostrado em mais detalhes, com o Lee mais solto no palco, pois se encarrega prioritariamente apenas do baixo. É impressionante ver com o músico consegue realmente dar conta de três funções ao mesmo tempo.

5 – Xanadu”

Essa é sem dúvida a mais impressionante música do ponto de vista também visual do material. O começo ainda traz algumas imagens em desenho de “Xanadu”, com mais impressões de Neil Peart sobre as motivações de ser músico. Segue-se um trecho hipnotizante, com Alex trazendo as linhas viajantes da canção em seu pedal de volume Morley acrescido de eco. A música segue para o trecho onde podemos ver Lifeson usando o braço de 6 cordas para tocar o riff agudo da canção, enquanto Peart estraçalha em diversas viradas de bateria. As imagens que ilustram o tema ficam até em segundo plano. Vem aí o trecho mais impressionante, Lee e Lifeson juntos no centro palco com seus instrumentos doublenecks, enquanto Peart não para de trazer contribuições incríveis da bateria. Há muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, Lifeson já está no braço superior de sua doubleneck. Neil ainda consegue jogar a baqueta pra cima, no meio de uma das tantas viradas do trecho inicial da música. Vemos em detalhe o belo baixo doubleneck preto de Geddy, enquanto ele começa a cantar a primeira estrofe. Ao terminar, Lee toca uma pequena linha melódica no Minimoog antes de começar uma nova estrofe. Alex já retorna para o braço inferior de seu instrumento. Há agora o momento em que Lee e Lifeson se juntam novamente no meio do palco, brincando entre si.  Após Lee cantar o nome da música, ele retorna ao Minimoog, enquanto Alex está novamente usando o braço de 12 cordas e Peart usa o tubular bells para reforçar o clima de “Xanadu”. Mais uma linha no Minimoog é tocada por Geddy e segue-se o solo de Lifeson, voltando a usar a parte debaixo do instrumento. Ao fundo ouve-se a guitarra tocada por Lee. Quase no fim da canção há um close em Geddy mostrando que ele faz acordes na guitarra enquanto mexe nos teclados. O final da canção mostra uma imagem de longe com a enorme bateria e os dois instrumentos doublenecks protagonizando a cena. Este trecho do home video, precisamos reforçar, é algo que as palavras não conseguem traduzir de forma apropriada. O expectador, ao ver estas imagens de “Xanadu” ao vivo (que já foi um assunto exclusivo neste blog, como citamos acima) pela primeira vez, vai invariavelmente ficar perplexamente estupefato. Hoje, com a proliferação dos ” reacts” na internet, o que mais se vê são vídeos e mais vídeos trazendo as reações de incredulidade que é ter a experiência de ver a perfomance do trio canadense nesta canção.

6 – “Red Barchetta”

Lee novamente informa o nome da música que tocarão a seguir, enquanto ouvimos o comentário de Neil acerca do tema da canção, que já explicamos em detalhes aqui. Essa música, segundo algumas fontes, é a única do vídeo que é exatamente a mesma versão que foi para o duplo ao vivo. Novamente Alex empunha a Stratocaster. No meio da execução, há uma inserção de imagens (hoje bastante datadas) de uma estrada sendo percorrida, no formato videogame. O solo da canção é divido entre essas imagens e os closes em Lifeson, por vezes mostrando também as viradas em cascata de Neil Peart. Geddy novamente está cantando, tocando baixo e trazendo o teclado acionando o Moog Taurus Bass Pedal com os pés. Infelizmente o solo de baixo no fim da música não é mostrado em detalhes.

7 – “Freewill”

Para “Freewill”, Lifeson usa uma terceira guitarra, a branca Gibson ES 355. Geddy se situa distante dos teclados durante toda a canção, apenas utilizando volta e meia o Moog Taurus Bass Pedal para sublinhar a canção. Ele está com o seu Rickenbacker principal, e de fato ele só não usa o instrumento durante todo o concerto ao trocar pelo doubleneck em “Xanadu”. E já que estamos mencionando Lee em seu baixo, segue-se o trecho intermediário, que é inicialmente protagonizado pela maestria do baixista. Em seguida, percebe-se que todos da banda parecem solar ao mesmo tempo, uma condução muito técnica é trazida por Neil enquanto Lifeson entrega um de seus mais rápidos solos. O trecho cantado após o solo é aquele que Geddy diz ser um dos mais difíceis que efetuou e está em close.

8 – “Closer To The Heart”

Alex está brincando no seu violão, trazendo uma melodia flamenca, enquanto Geddy anuncia este outro clássico da banda. A plateia reage efusivamente quando ele começa a cantar. Alex está utilizando um violão Ovation. As imagens são um tanto escuras nesse início de canção, mais ficam mais iluminadas no momento que a canção cresce, com Alex usando a Les Paul Tobacco Sunburst. Após o solo, as imagens focam mais em Geddy e Peart, em especial nas suas viradas. Todos se juntam no palco no fim da canção, é uma versão de 1981, sem a emenda que está no duplo ao vivo, com “Beneath, Between & Behind”.

9 – “YYZ – (trecho)

Quase ao fim do vídeo, há um novo trecho de entrevistas e ouvimos no fundo trechos do solo de guitarra, do trecho de teclado e do solo de bateria da versão de “YYZ” ao vivo. Os músicos trazem novos comentários sobre querer fazer músicas complexas, detalhes sobre a bateria ou sobre a forma de compor, é um trecho muito curto.

10 – Medley –By-Tor and the Snow Dog;In the End;In the Mood; “2112: The Grand Finale

O medley começa com “By Tor & The Snow Dog”, com Alex bastante agitado no palco, pulando para todos os lados. O trecho instrumental mostra um close de Geddy arrebentando no baixo, segue para a cacofonia que é como Alex desenvolve o solo. Alguns trechos de animação (em freeze) são mostradas. Lee e Lifeson brincam com o eco da parte final da canção, antes de uma virada inacreditável de Peart. Nas paradas que vêm a seguir o baterista continua sendo bem focado. Alex enche a guitarra de efeito chorus para seguir em “In The End”, que tem um pequeno trecho executado. Eles seguem para “In The Mood”, que traz imagens da plateia, por vezes mostrando o público de uma câmera situada no fundo do palco. O trecho final do medley é o “The Grand Finale” de “2112”. Vemos Geddy bastante ativo no palco, já que o medley não utiliza os teclados que por vezes deixam o músico mais preso. Ao fim se ouve o playback do fim de “2112” e no telão o pentagrama que é a imagem do álbum. A banda se despede.

11 – “YYZ” – (trecho)

O fim do vídeo mostra novos depoimentos do grupo, enquanto as imagens em slow motion, entre outros efeitos, são mostradas com os créditos apresentando os integrantes do Rush. No fundo, um trecho em playback do início de “YYZ” fica em loop, enquanto todos os demais créditos aparecem. O trecho final da música é tocado ao fim do home vídeo.

Bem, se ouvir já era impressionante, o que dizer da experiência em ver os canadenses mostrando seus arsenais e destilando as suas incríveis habilidades? No Brasil, no início da década de 80, estávamos engatinhando quando o assunto era tecnologia ou acesso às novas utilidades para ouvir e ver os grupos de nossas predileções. Assim, ter a possibilidade de ver este vídeo só se tornou uma realidade para grande parte de nós depois do Rock in Rio, em exibições pagas em locais específicos e mais tardiamente, após a chegadas dos videocassetes importados ao país, tendo cópias piratas dos originais. Estes, os originais em vídeos, eram artigos de arqueologia, por assim dizer. Muito tempo depois, saiu enfim a versão de banca de jornal em DVD de “Exit…Stage Left”, que, mesmo sendo um grande presente para nós, enfim, por assistir as imagens com uma melhor qualidade, convenhamos, ainda não era a edição que o material realmente merecia.

Certo é que, independentemente do formato que nós, brasileiros, tivemos inicialmente para assistir este “Exit…Stage Left”, algo fica muito claro. Era ver e não acreditar no que estava vendo. A parte de “Xanadu”, então, era como se estivéssemos assistindo a invasão de alienígenas. Em parte, isso não era realmente uma ilusão. Afinal, são ou não são esses canadenses os alienígenas musicais do nosso tempo?

E se você quiser apreciar o duplo ao vivo e o home vídeo na sequência, corra aqui:

Para promover o novo duplo ao vivo, o grupo saiu novamente em turnê no fim de outubro de 1981, dividindo as apresentações entre os EUA (17 datas) e a Europa (18 shows, sendo 9 no Reino Unido, 8 na Alemanha e um único na Holanda). A turnê terminou em dezembro daquele ano. O grupo inicia o ano de 1982 com merecidas férias. O set-list da “Exit…Stage Left” tour quase não se alterou em relação aos que fizeram para promover “Moving Pictures”. As poucas mudanças foram a inclusão da faixa inédita “Subdivisions”, no lugar de “Natural Science” e uma troca de posição entre “Red Barchetta” e “Closer To The Heart”. Abaixo, um dos exemplos do set-list da turnê:

Na turnê Alex usa violões Ovation e dois modelos Stratocaster que estavam pouco a pouco aposentando a única Gibson Es-355 que Lifeson ainda levava. O guitarrista também levava a doubleneck branca Gibson EDS-1275 e um modelo Les Paul Howard Robert Fusion, Tobacco Sunburst. Os amplificadores usados foram os Marshalls e os Hiwatts. Para efeitos, manteve os seus adorados Boss CE-1 Chorus Ensemble e Electro-Harmonix Electric Mistress Flanger, além de um pedal de Wah-Wah, um de volume Morley e um Tape Echo da Roland. Os sintetizadores são prioritariamente os Oberheim (OB-1, OB-X, OB-Xa (32 Program/Patch version), 3 Moog Taurus Bass Pedal trigados ao OB-Xa, um sequenciador Roland MC-8 e o Minimoog. Lee continuou a usar o seu Rickenbacker 4001, além do 4080 doubleneck, mas trouxe vários outros Rickenbackers para a turnê, entre eles pelo menos um 4002. A bateria de Neil seria em breve alterada, mas o baterista ainda manteve a versão Stained de sua Tama.

Como esse capítulo 11, finalmente, encerramos o que é considerada a fase de ouro do trio canadense. O grupo viveu anos de intenso crescimento, chegando à maturidade musical, além de terem se estabilizados comercialmente sem abrir mão de seus conceitos, de sua integridade. O próximo passo na caminhada traz a banda lidando com o dilema de como continuar a serem relevantes, tendo chegado ao alto da montanha russa com “Moving Pictures” e “Exit…Stage Left”. Isso e muito mais descobriremos juntos no próximo capítulo. Enquanto isso, pedimos permissão para…sair pela esquerda!

Keep bloggin’

Abilio Abreu e Alexandre Bside



Categorias:Aerosmith, Artistas, Backstage, Cada show é um show..., Curiosidades, Discografias, Entrevistas, Instrumentos, Kiss, Led Zeppelin, Letras, Músicas, Pesquisas, Rainbow, Resenhas, Rush, Setlists

Deixe um comentário