
A notícia surgiu no final da tarde de ontem. Inicialmente veio a confirmação de que Ace Frehley, o original herói espacial do grupo KISS, apresentava-se em estado bastante crítico de saúde, mantido apenas por aparelhos. Ace sofreu uma queda em setembro deste ano, em um dos seus locais mais preferidos, em seu estúdio, e como estava sozinho, houve certa demora no atendimento inicial, fato que pode ter colaborado para que sua condição de saúde estivesse bastante comprometida desde aquele primeiro momento.
A agenda de Frehley para as restantes apresentações do guitarrista em 2025 foi cancelada, mas já naquele momento o músico encontrava-se numa improvável luta por recuperação, uma hemorragia cerebral o havia acometido. A família acompanhou os esforços médicos durante os dias seguintes ao evento, mas tomou ontem, dia 16/10/2025, a difícil decisão de desligar os aparelhos que ainda o mantinham vivo, já que o quadro não apresentou qualquer sinal de reversibilidade durante todas as tentativas médicas.
Morre um ídolo, fica a obra….

Ace nos deixa um legado indiscutível como um dos mais criativos guitarristas de hard rock, mas sobretudo tem sua importância ligada a dois fatores cruciais. Sem ele, não haveria o KISS. Pelo menos, o KISS que nós conhecemos. Antes de sua entrada, o trio, já formado por Gene, Paul e Peter não tinha a fagulha que faltava para que o KISS se desenvolvesse no estilo que nos mostrou. Sem seus solos e frases que tanto permearam os três primeiros álbuns, o grupo não teria aquela “pimenta” que faltava, que os fazia entregar ótimas composições desde o primeiro clássico álbum da banda, que os faziam se diferenciarem das muitas bandas emergentes do estilo no início dos anos 1970. Ace fazia escolhas cirurgicamente perfeitas, simples, memoráveis, assobiáveis. Seus solos e frases eram novas melodias dentro do arranjo principal de ótimas composições. E desde o início trouxe, como compositor, canções como Parasite, Cold Gin, Getaway e Strange Ways que ajudaram o KISS nos seus primeiros álbuns.
Além disso, ele se tornou um dos mais influentes músicos de uma grande geração de novos guitarristas, como John 5, Kirk Hammett e DImebag Darell, para citar alguns nomes. A influência se dava pelos riffs e escalas clássicas, que tanto buscou ao ser influenciado por Page, Clapton e Hendrix, mas também por Ace ter sido a porta de entrada para esses músicos como garotos querendo aprender um instrumento e para outros incontáveis músicos amadores que ousaram tentar se aventurar pelas 6 cordas de uma Les Paul.

E é aqui que dou uma parada na descrição de sua trajetória musical para simplesmente agradecer o senhor Paul Frehley. Não fosse ele, o pouco que eu sei do instrumento talvez não existiria. Esta primeira referência musical, de ídolo que nos encanta musicalmente e, no caso de Ace e de vários outros, também pela referência visual que ele tão bem desenvolveu no KISS é algo precioso na vida de quem aprecia a arte, querendo se aventurar pela guitarra ou mesmo por ter uma grande apreciação pela música em si, pelos discos, pelos trabalhos lançados. Ace é, sem dúvida, um dos maiores heróis de sua geração.
Quando fiquei mais velho e com um pouco mais de recursos financeiros à disposição, eu prestei tributo a alguns dos meus heróis de infância, anônimos ou não. Se eu ainda hoje tenho uma Gibson Les Paul, a culpa é sua, Mr. Frehley. Náo há como lhe agradecer o suficiente. Foi por fotos como essa abaixo que eu me desloquei mais de 400 km para comprar um modelo parecido.

Eu termino este post, que é uma obrigatória homenagem à sua incrível jornada na Terra, citando alguns álbuns preciosos de sua discografia. Não vou citar muitos, serão apenas três em uma carreira pouco linear, mas com intensos momentos de brilhantismo. Pra começar, ninguém que conhece Ace Frehley pode deixar Alive!, do KISS, de fora de qualquer lista. O duplo ao vivo que fez a banda decolar é um atestado da importância de Frehley para a banda, música atrás de música. Mas se é pra escolher uma, não dá para não escolher “Let Me Go, Rock’n’Roll”.
Minha segunda sugestão nos leva a 1978, no seu ótimo disco solo, lançado dentro do KISS. Ali já se percebia claramente que Frehley musicalmente se movia por motivações, motivações estas que haviam sido deixadas de lado pelo abuso químico que passou a ser um catalisador de sua preguiça, após o KISS tê-lo feito independente financeiramente. Em 1978 certamente havia a pressão de se mostrar competente sem o apoio dos colegas. O álbum é um apanhado de ótimas canções, com generoso espaço para seus criativos solos e mostra um Ace lidando bem com as características únicas de sua voz. Frehley está em todos os papéis musicais do álbum, exceto pela bateria e algumas outras participações esporádicas, como backing-vocals ou algumas poucas faixas nas quais não atua no baixo. Nada como um desafio para nos mostrar sua real capacidade.
Por fim, fora do KISS, em 1987 ele lançou, sob a alcunha de Frehley’s Comet, um ótimo álbum de estreia, que obteve disco de platina nos EUA. Novamente, Ace entrega ótimas composições, faixas obrigatórias nos seus shows desde então, e mais uma vez atestou sua capacidade artística. A infeliz notícia de hoje talvez me faça continuar um projeto que está guardado na minha cabeça, que é trazer em detalhes um pouco da vida artística dos integrantes do KISS fora da banda.
Infelizmente, os problemas de relacionamento, entre eles destaco a imensa diferença de ritmo de trabalho, a resistência que Ace tinha a acompanhar os compromissos incontáveis de uma super banda como o KISS, que tinha dois workaholics na presença de Paul Stanley e Gene Simmons, não lhe proporcionaram trabalhos tão consistentes também durante toda a sua carreira solo e certamente o fizeram não ter mais tempo para mostrar seu brilho no KISS. É público também que Frehley viveu muito tempo em volta com as tentações do alcoolismo, entre outras drogas. Nada disso o favoreceu, não há como contestar isso. O músico, no entanto, nos anos mais recentes atestou que estava sóbrio, uma sobriedade duradoura, segundo Frehley.

Tudo isso, hoje, vai permanecer no passado, e não vale mais tanto assim.
Ficam sim, os incríveis momentos de rara criatividade artística e o seu impagável papel de herói de todos os garotos que cresceram ouvindo seus solos e vendo sua performance nos palcos do mundo. Para isso, eu me junto aos incontáveis fãs de todos os tempos no planeta e obrigatoriamente lhe agradeço.

Vá em paz, Spaceman. Muito obrigado !
Alexandre B-side
Categorias:Artistas, Entrevistas, Instrumentos, Kiss, Minuto HM, Off-topic / Misc
29º Podcast Minuto HM – 19/agosto/2017
Muito obrigado
Nossa, Let me go rock and roll acho que é um consenso …..é uma música que com a capa que retrata a energia do Kiss Essa foto dessa Lest Paul com esses 06 captores é sua? A camisa da Capa do Kiss é sensacional
Seu sumário ficou ótimo
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Rolf, que bom ler seu comentário aqui, sei por experiência vivida quando nós éramos adolescentes que o seu final de tarde ontem deve ter sido dificil. A homenagem era uma obrigação.
Em relação à Les Paul, não, essa é um modelo Custom que tem todas as características de um dos modelos de Ace. A minha é um pouco diferente.
Ele usou esse modelo no final da primeira parte da carreira com o KISS, ali na época do Unmasked e nas poucas aparições do The Elder.
O meu modelo, que você mesmo meu deu a honra de ter usado, é uma mistura do modelo de início de carreira ( Uma Les Paul Standard com 2 captadores) com alguns especificidades deste, em especial a cor e o pickguard creme. O toque final foi um desejo meu , as ferragens douradas.
Graças ao Ace e ao Peter Framptom , eu pude sonhar com essa guitarra e pude realizar o sonho.
Long Live to the SpaceMan!
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Uma notícia bem difícil de digerir. Ace ocupa um lugar no imaginário de muitos fãs como eu. Desde 1982 quando vi aquelas figuras no pôster da som três, do álbum Killers e depois no Creatures of the Night. Sim! Mais um vazio! Descanse em paz 🙏🏼
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Obrigado pelo comentário, meu irmão. Ficamos todos em choque ontem, sem dúvida. Fica a história e o legado!
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Perder nossos heróis nunca é fácil… mas perdê-los de forma inesperada é ainda pior… e esse é o caso aqui, infelizmente.
Fica difícil dizer algo construtivo aqui, ou algo que faça qualquer diferença, mas é sempre pensar no legado, no que ele conseguiu “tocar” momentos da vida da gente – e aqui ainda mais de quem viveu de mais “perto” as diferentes fases do Kiss, e falar de Kiss aqui no blog é praticamente falar do motivo de tudo aqui existir e se “conectar”, seja no mundo digital, seja na infância e adolescência de Claudio, Rolf, e obviamente dos gêmeos.
É um super-herói – fez o bem, fez um monte de besteiras, nada importa mais. A dor é a dor da perda de um ídolo, uma espécie de amigo imaginário da infância que nunca existiu na vida da gente de maneira física, mas sempre esteve lá nos momentos difíceis e nos bons também. É perder uma referência. O Kiss original criou e desenvolveu muitos caminhos do estilo que tanto gostamos, e talvez seja o quarteto que mais influenciou “novidades” depois dos Beatles, não apenas musicalmente, mas em termos de produção, palco, maquiagem, enfim, um pouco de tudo – eles inventaram ou pelo menos aperfeiçoaram muitas dessas coisas que depois viraram ponto comum no mundo do entretenimento.
Ao Ace, o agradecimento por, sem educação formal de música, ter criado e entregado tanto. Obrigado por Cold Gin, Shock Me, obrigado mais ainda mais por Parasite. Obrigado por tocar do jeito que você tocava o solo de Detroit Rock City, uma das coisas mais emblemáticas que existem. Obrigado pelo álbum solo, considerando o melhor mesmo dos seus “concorrentes principais” de Kiss. Obrigado por ter me dado a oportunidade de, sendo mais novo que a galera que tanto ama Kiss por aqui, ter visto a formação original em 1999, naquela fria noite em Interlagos. Obrigado pelo show solo que Rolf e eu pudermos ver você liderando uma boa banda e tocando Parasite na nossa cara.
Obrigado Kiss, Hotter Than Hell, Dressed To Kill, Destroyer, Rock and Roll Over, Love Gun, pelo seu álbum solo, Dynasty (que você se meteu mais), Unmasked… vou pular os próximos, já que são complicados para você, hehehe… obrigado Psycho Circus. Obrigado Alive!, Alive II, pela participação em Kiss Unplugged, e nos outros ao vivo menores… obrigado pela banda Frehley’s Comet, que preciso conhecer melhor.
Ao Gene e Paul, e a todos que continuam separados musicalmente por “problemas financeiros”, fica sempre a reflexão: é isso que vale a pena? Depois de tanto dinheiro do showbusiness, não tocar pelo menos de vez em quando juntos é o melhor a ser feito?
Que você esteja “Comin’ Home”, Ace…
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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Bonitas palavras, Eduardo, muito legal ler cada frase , li seu comentário com atenção não uma, mas duas vezes.
Tenho quase nada a acrescentar. Talvez pelas recentes perdas, e pelo histórico de Ace (assim como o de Ozzy) o inesperado ,o súbito, o susto, talvez tudo isso pra mim até se diluiu um pouco quando soube da notícia.
Assim foi algo inesperado, mas ao mesmo tempo esperado. Ainda assim, foi um final de dia muito triste essa quinta-feira..
Te agradeço por parar essa vida maluca sua para prestigiar minhas obrigatórias homenagens. E deixo uma dica. Do Frehley’s Comet, vá direto no primeiro álbum. Pode ouvir ele todo, ainda que o lado A seja melhor que o B. Não acho voce precisa ouvir os outros , são bem mais irregulares. Mas posso citar uma ou outra música dos dois subsequentes. Para os demais , aí esquece.
Mas o primeiro álbum sob alcunha Frehley’s Comet é bem legal mesmo
Pode ir sem susto
Alexandre
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B-Side, realmente o tempo anda difícil, tendo que priorizar o que já deveria ser prioridade, aquela coisa… mas olha, aqui virou prioridade – o impacto de uma perda dessas é enorme e, neste espaço, é perder praticamente 1/4 da essência do blog ser o que é pós-discografia Kiss, a coisa que elevou o nível deste espaço e fez a base para tudo…
Sei o quanto você e Flavio, especialmente, “cresceram” com o Kiss e o que a banda significa… é família. E aí devemos parar tudo. São nossos amigos, ainda que eles não tenham a mínima ideia disso… mas nós temos…
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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Sim, Eduardo, eu, o Flávio, mas sempre precisamos também lembrar o Rolf, que era muito fã desde o primeiro minuto (hm) no qual o conheci. E também o Bruno, que espancava as poltronas de sua casa e o Cláudio que sempre cita os posters que ele via de dentro do ônibus nas paredes da minha casa.
Ou seja, lembranças valorosas da adolescência. Tudo graças a Ace e companhia.
Obrigado pelo seu disputado tempo.
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Esta entrevista de Vinnie Vincent está ali do lado na página do blog, mas eu achei legal dar mais um destaque por aqui, há alguns detalhes interessantes, da pequena convivência dos dois, no depoimento.
https://blabbermouth.net/news/vinnie-vincent-pays-tribute-to-ace-frehley-he-possessed-that-special-something-a-magic-that-touched-his-fans
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É muito triste perder alguém que criou muito para milhares. O Kiss teve essa função – não só influenciou muitas bandas como trouxe gente que não é do rock para o mundo do rock – hinos que levantam até “a tia do cachorro quente” em shows.
Eu gosto muito do Hotter Than Hell e do álbum debut. Não cresci ouvindo Kiss e quando conheci a banda a formação clássica não existia mais.
Foi de sopetão, que nem foi com o Ozzy e esse baque causa um efeito muito mais chocante dos fãs da banda – que inclusive aqui no blog tem muitos!
Aquele abraço para todo mundo!
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Sem dúvida, Kelsei, foi uma perda súbita para todos nós. A do Ozzy também ninguém esperava, fica aquela sensação de vazio mesmo.
Os dois primeiros álbuns são ótimos, o primeiro então é quase todo um clássico.
Sds
Alexandre
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[ ] ‘ s,
Eduardo.
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[ ] ‘ s,
Eduardo.
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KISS co-founders Gene Simmons, Paul Stanley and Peter Criss attend Ace Frehley’s private funeral: https://nypost.com/2025/10/23/entertainment/kiss-co-founders-attend-ace-frehleys-private-funeral/
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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[ ] ‘ s,
Eduardo.
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https://x.com/ssikfandk/status/1988000671916847360?s=46&t=hTfuwWxj-RIYtPvPyLo0Kw
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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[ ] ‘ s,
Eduardo.
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Maneira a homenagem. Claramente estava tentando se aproximar de algo que não tem tanta referência com suas origens. Muito legal o esforço.
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