Cobertura Minuto HM – Rush no RJ – 10/10/10 – resenha

Rush – Praça da Apoteose – 10/10/10

Desculpem a demora….

Algum de vocês devem saber, eu estou ficando velho…mas espero ficar tão bem velho quanto os caras do Rush. Pela segunda vez no Rio e felizmente em ambas presenciados por este que aqui vos escreve, a sensação é novamente de dever cumprido, ainda que com algumas dívidas pessoais a serem pagas quem sabe numa outra oportunidade. Num mesmo formato do show de 2002, a banda vem repetindo o mesmo set list durante a turnê Time Machine, mas ainda assim surpreende até aqueles que já sabem a sequência do que vão ouvir. Isto por que poucas bandas tem a qualidade que esses três caras conseguem fazer multiplicar ao vivo. Multiplicar é a palavra, pois é inacreditável que sejam apenas três a fazer o que pude novamente presenciar.

No Rio, com uma plateia até surpreendente para um domingo à noite, o show começa de forma pontual (assim como em São Paulo) às 20 horas, com um vídeo muito engraçado trazendo performances igualmente divertidas de Lee, Lifeson e Peart. Arrisco a dizer que Lifeson poderia arriscar-se como ator, se quisesse. O vídeo mostra o hit The Spirit of Radio executado por uma banda fictícia RAsh com instrumentos e arranjos inusitados. O enredo propõe uma engenhoca comandada pelo gordíssimo personagem interpretado por Lifeson que leva os personagens e banda a diversos momentos onde diversas interpretações da canção são mostradas, em estilos como dance e folk. É a deixa para o Rush entrar em cena e atacar o single do álbum Permanent Waves levando os aproximadamente 20 mil espectadores ao delírio. Alguns ajustes no som (a guitarra de Lifeson quase não é ouvida na introdução de The Spirit of Radio) e temos a sequência do show com Geedy usando a camisa da tal RAsh. A primeira parte do show não traz mais músicas dos anos 70, exceto pela maravilhosa Freewill (presente também no set list de 2002), do mesmo Permanent Waves.

O show traz músicas não tocadas aqui antes, como Time Stand Still (numa aparição rara de Lifeson tocando teclados) ou a excelente Stick it Out , faixa em que Geedy Lee troca seu baixo Fender Precision por outro, provavelmente em outra afinação. Alex troca de instrumentos praticamente a cada música, basicamente utilizando Gibsons Les Paul, sendo uma delas utilizada também nos sons originalmente tocados por instrumentos acústicos (graças a novas tecnologias, basta um pequeno ajuste e estamos ouvindo o que deveriam ser violões – a sonoridade é próxima à perfeição). Assim, músicas como Presto (do homônimo álbum de 1989), Workin’ Them Angels e Faithless (do recente Snakes and Arrows) são executadas sem dar tanto trabalho aos roadies de Lifeson (exceto por Faithless, que tem um solo num bandolim momentaneamente colocado à beira do palco já que Lifeson ainda não consegue reproduzir tal sonoridade nas guitarras). O cenário impressiona, em especial pelos detalhes que remetem ao conceito da Time Machine Tour e mais impressionante ainda são os pratos da bateria de Peart, desenhados como se fossem relógios com números romanos). Outra música ouvida aqui em 2002 é a instrumental Leave That Thing Alone, onde Lifeson abre uma exceção e utiliza uma guitarra Paul Reed Smith. O desempenho de Peart é soberbo, e desta vez o músico está menos contido, chegando até a esboçar alguns sorrisos com Lee e Lifeson. A primeira parte do show está acabando, e após a novíssima e pesada BU2B e Freewill, a banda encerra este primeiro ato tocando duas da fase mais calcada nos teclados, Marathon e a sensacional Subdivisions, uma das melhores letras de Peart, na minha opinião.

Após o intervalo “pedido” por Lee, o telão mostra uma contagem que inicia em 1974 e aponta para 1980, o ano do clássico Moving Pictures, que seria mostrado em sua íntegra. Outro vídeo no telão, trazendo novamente a banda RAsh gravando um videoclipe e o gordo personagem de Alex dá a deixa para Tom Sawyer, recebido sob a catarse coletiva praticamente todos os presentes. Reação quase igual da plateia se segue na execução de YYZ, que sucedeu a ótima Red Barchetta, como no original álbum de 1980.

Limelight, outro single do superpremiado Moving Pictures é tocada, o que me faz refletir como uma banda pode soar acessível, sem deixar de ser brilhante e técnica. O álbum tem em sua sequência três excelentes canções, e em especial The Camera Eye, não tocada desde a turnê de 1981, foi eleita a minha favorita no show. O artefato que se move remotamente e é responsável pela excelente iluminação chama a atenção e talvez aqui em The Camera Eye ele tenha se mostrado mais presente. Parecido com um robô e disparando luzes de variadas cores para todos os lados, jamais vi tamanha tecnologia e usada com muito bom gosto. O telão também é dividido, muitas das vezes trazendo detalhes dos três músicos ao mesmo tempo. Difícil é decidir quem olhar….o telão também mescla as imagens do show com vídeos relacionados às músicas, como a “bruxinha” que aparece durante a exibição de Witch Hunt, penúltima música do Moving Pictures. Lifeson pega uma Fender Telecaster para terminar o álbum com a música Vital Signs, canção muito influenciada pela sonoridade que o The Police mostrava ao mundo naquela época. Esta música seria tocada aqui em 2002, mas a banda optou na ocasião por deixá-la de fora para incluir músicas mais conhecidas do público brasileiro como Closer to the Heart. Outra nova canção é trazida para a sequência do show: Caravan, que será incluída no álbum de 2011 Clockwork Angels, é mais técnica que a anterior, com intervenções de Peart e Lee de tirar o fôlego. Falando em fôlego, Neil Peart traz um solo de bateria que me faz novamente considerá-lo o melhor que vi na vida, se mantendo em excelente forma aos 58 anos. Ainda que não tenha superado o que vi em 2002, o homem sobra na turma… um violão de 12 cordas finalmente entra em cena (confesso que gosto mais das sonoridades dos tradicionais violões ao invés de sons acústicos emulados tecnologicamente em guitarras) e Lifeson faz uma bela introdução, para novamente tocar o hit Closer to the Heart no Rio de Janeiro, recebida de forma bastante calorosa pelo público e inicia uma sequência das canções clássicas dos anos 70 que são usadas para fechar o show e o obrigatório bis. Essas são interrompidas apenas por Far Cry, ótima faixa de abertura do último álbum Snakes and Arrows usada aqui para fechar a segunda parte do show. Antes dessa, Geedy Lee troca novamente de baixo, e provavelmente usando uma afinação mais grave, traz as partes 1 e 2 da faixa título do álbum de 1976, 2112. Geedy mantém a voz estridente em excelente forma durante todo o show, mas nesta canção demonstra certa dificuldade de atingir os tons originais, assim como vimos em 2002.

Após breve intervalo, o Rush vem para o bis com improvisos em La Villa Strangiatto e Working Man, executadas com a maestria por esses invejáveis músicos. Um novo vídeo no telão e saio da Apoteose esperando que quem sabe um dia possa novamente vê-los. Não posso dizer que este show foi melhor que o de 2002 (afinal naquela ocasião eles tocaram a minha música favorita, The Trees), mas depois desta segunda vez posso atestar que assistir um show é garantia de cada centavo vai valer à pena, ainda que eles tenham ficado me devendo pelo menos outras duas favoritas: Xanadu (do a Farewell to Kings, de 1975) e Jacob’s Ladder (do Permanent Waves). Quem sabe um dia?

Alexandre Bside



Categorias:Agenda do Patrãozinho, Artistas, Cada show é um show..., Curiosidades, Discografias, Instrumentos, Músicas, Resenhas, Rush, Setlists, The Police

11 respostas

  1. O que dizer sobre este review, eu me pergunto… não sei como posso defini-lo… “aula” talvez seja a melhor opção…

    B-Side, paro para pensar e vejo como realmente é um orgulho te conhecer, cara, mesmo que mais nos comunicando por aqui, no Minuto HM.

    Seu review está impecável (aproveitei para fazer alguns mínimos ajustes finos, para deixá-lo 110%). O nível de detalhe é assombroso, no bom sentido. Eu vi este show um pouco antes mas, se não tivesse visto, eu teria lido e entendido perfeitamente.

    Seus detalhes sobre a instrumentação usada também é digna de quem realmente manja muito, coisa que eu, de verdade, nem penso em falar sobre, apesar de me interessar bastante.

    Fico muito feliz em ter visto esse show, uma das melhores coisas que já vi ao vivo na vida. E fico feliz também por aí no Rio ter dado tudo certo e o show também ter sido impecável.

    Tomara que ainda tenhamos a oportunidade de rever este trio… e quem sabe todos juntos – seu irmão, Rolf, Marcus Batera, Andrezito… quem sabe?

    Valeu pelo excelente material que aqui se imortaliza com seus outros sempre excepcionais conteúdos.

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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  2. Menos, Eduardo, pelo menos um pouco menos, por favor….

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  3. Ao ler tua resenha fiquei com a nítida sensação de desespero por ter perdido esse show. Estou aqui olhando para o ingresso do show que tive de cancelar(passagem aérea, hotal, dispensa do trabalho, etc…)Vou imprimir essa resenha e juntá-la ao ingresso e arquivar para a posteridade. Para encerrar, suas palavras do último parágrafo, são as minhas. Posso dizer que os vi no primeiro show em terra sulamericana (Porto Alegre, 2002) e até hoje tenho em mente que esses trêss caras não são desse planeta!

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  4. Jefferson :

    Obrigado pelas palavras, pela idéia de guardar a resenha para posteridade, e por compartilhar da apreciação por estes formidáveis 3 seres que fazem obras-primas musicais como pouquíssimos na face da Terra!!

    Alexandre Bside

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  5. B-side, resenha impecável

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  6. Rolf, vindo de você, um baita entendor do assunto, só posso agradecer imensamente….

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  7. Apenas trazendo as músicas da noite na ordem…

    First Set:

    The Spirit Of Radio
    Time Stand Still
    Presto
    Stick It Out
    Workin’ Them Angels
    Leave That Thing Alone
    Faithless
    BU2B
    Freewill
    Marathon
    Subdivisions

    Second Set:

    Tom Sawyer
    Red Barchetta
    YYZ
    Limelight
    The Camera Eye
    Witch Hunt
    Vital Signs
    Caravan
    Drum Solo
    Closer To The Heart
    2112 Part I: Overture
    2112 Part II: The Temples Of Syrinx
    Far Cry

    Encore:

    La Villa Strangiato
    Working Man

    Fonte: http://www.setlist.fm/setlist/rush/2010/apoteose-rio-de-janeiro-brazil-3bd52010.html

    [ ] ‘ s,

    Eduardo.

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