Todos nós temos algo de TOC, isso deve ser uma verdade. Atesto que deve ser por que eu não sou médico, então isso é chute. Bem, quando eu fiz a resenha do Promised Land do Queensrÿche, eu deixei unicamente pra mim em aberta a questão de resenhar esse álbum, pois é o último com a formação original. Esse TOC foi crescendo, crescendo (“e me absorvendo”, segundo o Peninha) e aqui está . Este post não está sendo feito em homenagem ou pensando em alguém. Não sei se alguém vai ler com vontade esse post ou não, por que o disco foi mal demais das pernas. Ou melhor, na verdade este post está sendo feito pra alguém, de verdade foi feito pensando neste que aqui escreve. Então vamos lá, acabar com esse TOC….
Estamos em 1997 e o Queensrÿche tinha acabado uma tour não muito bem sucedida do ponto de vista financeiro, relativa ao citado álbum Promised Land. De qualidade, eu não discuto, a tour foi sensacional, todas as faixas sendo tocadas ao vivo, ótimos elementos cênicos que complementavam o conceito do disco. Promised Land tinha saído com muita expectativa, mas os detalhes desse momento, consideremos, fracassado, você lê aqui. Então a banda se vê em uma encruzilhada pois tinha de retomar a ascenção que era vista desde o primeiro álbum e que encontrou no EMpire seu ápice comercial. Era uma época do grunge e este Hear in the Now Frontier é tido como o álbum grunge da banda. Eu não o consideraria assim, eu posso pensar no álbum de som alternativo do conjunto. Alternativo também era um estilo meio em voga na época e pra mim cai melhor para definir o disco. A questão principal dessa análise na verdade não é o álbum ser definido como isso ou aquilo. O que é mais importante,visto que a banda já havia transitado por diversos caminhos , sem fórmula alguma entre seus álbuns até então, era que o material tivesse qualidade.
Daqui pra frente o que se lerá é uma análise bastante pessoal do álbum, assim considero que o Hear in the Now Frontier tem 2 lados . O primeiro é ser o último álbum que eu ainda ouço da banda na íntegra, embora não seja nem próximo de ser uma obra coesa. O segundo lado se refere aos dois erros fundamentais neste álbum, quais sejam:
– A quantidade de canções;
– A qualidade delas como um todo.
A banda falha em lançar um álbum com 14 faixas, o que foi um problema de vários álbuns de outras bandas,recheados de porcarias somente por que havia espaço para tal. Posso entender que aqui faltou o dedo do produtor ( o renomado Peter Collins, que produziu EMpire e Operation:Mindcrime, além de discos do Rush, entre outras bandas). O problema é que isso também veio de forma tardia, pois esse chamado “erro” aconteceu na maioria das bandas no fim da década de 80 ou inicio dos anos 90. Vendo o espaço em CD aumentar para mais de uma hora, muitas delas lançaram um monte de porcaria para encher o espaço disponibilizado. O Queensrÿche já havia lançado pelo menos o EMpire e o Promised Land privilegiando o formato CD e ali já havia espaço suficiente para eles colocarem o que bem quisessem, inclusive encher os citados álbuns de porcaria. Ainda assim, eles não o fizeram antes. Já aqui….
Em relação à qualidade das canções, tivesse o álbum cerca de 10 faixas e ele estaria mais próximo à coesão que se via (e ouvia) nos 5 álbuns anteriores . Eu escrevo próximo por que de verdade o que se encontra em qualidade plena aqui quase não é suficiente para encher os dedos de uma mão. Há, no entanto, um pequeno punhado de faixas que se situam entre o razoável e o bom, o que, para o Queensrÿche, considerando seus citados 5 álbuns anteriores, é pouco…
Então, para tentar resumir o que já está começando a ficar muito grande, o fã do Queensrÿche pode justificar que esse Hear in the Now Frontier tem algumas boas canções, o que é verdade. Sign of the Times, que abre o disco, tem vários ótimos elementos que puderam ser ouvidos antes na banda. Backings, qualidade suficiente pra abrir o disco, ótimo refrão com violões e um final com violinos que é muito legal. Além disso, mostra que Chris DeGarmo, em seu derradeiro álbum na banda , descobriu o uso do slide.
Voltando a citar a questão do slide, De Garmo passeia no álbum inteiro experimentando com boa desenvoltura o uso do apetrecho, como se ouve no solo da faixa The Voice Inside, que abriu os shows da banda. Aqui vemos a faixa ao vivo (imagem e áudio bem longe da perfeição) , no Rio de Janeiro,em 1997, show que eu tive oportunidade de ver ” de cara pro gol” , já que a banda abria para o Megadeth e Whitesnake, e nessa hora a maioria da platéia ainda se encontrava enchendo a cara do lado de fora do local do show (o então e atual Metropolitan). Esse foi o último show de DeGarmo na banda, em dezembro daquele ano. Pra entender a proximidade que estávamos, fiquei intrigado com a escolha por um sapato de cor amarela que DeGarmo usava….
Voltando ao álbum, You e principalmente Reach tem bons riffs de guitarra, o que não se encontra tão facilmente dentro do disco. Se You não é perfeita, mas passa, Reach é um outro ótimo momento do álbum e justifica sua indicação com bom solo, boas viradas de bateria e um estilo próximo á igualmente ótima My Global Mind, do Promised Land.
All I Want vem depois de Reach e traz a curiosidade de um vocal feito por Chris DeGarmo, único momento na banda. A faixa traz um som de rock mais clássico, guitarra com solo retrô, uso de pianos, bom baixo e embora diferente de tudo que a banda fez até então, não compromete. O vocal tem competência, mas longe da maestria do vocalista principal.
As duas faixas finais também se salvam, a mediana Anytime/Anywhere com guitarras em afinações baixas, mas principalmente SpOOL, que é a melhor faixa do álbum, sempre na minha opinião. Essa é certamente a música que eu encontraria espaço em quase toda a discografia da banda e poderia até ser um pouco maior, desenvolver-se mais…
E o que escrever em relação ao resto do álbum? Infelizmente não posso trazer boas críticas . Pensei que há baladas em excesso, mas esse não é o problema para o Queensrÿche . O Rage for Order ( 1986) tem pelo menos 3, talvez 4 delas em 11 faixas, e o álbum é excelente, recheado ou não de baladas. Não há também qualquer questionamento sobre a qualidade dos músicos, continuava tudo sendo entregue de forma inquestionável. Bons vocais, bons solos, bom baixo, boas e diferentes viradas e levadas de bateria. A gravadora também fez a sua parte em atrapalhar, entrando em sérias dificuldades financeiras e acabando com qualquer suporte na tentativa de buscar um sucesso comercial para o disco. Não há um singelo video clip , a tour foi encurtada por motivos também financeiros.
A pura verdade, no entanto, é simples. Bem menos inspirado que seus antecessores, o conteúdo de Hear in the Now Frontier, ressalto, é bastante irregular. Ainda que a capa, embora estranha, seja bem legal e a parte gráfica do restante do cd bastante elegante.
Trazendo de volta a parte musical, a coisa realmente dá uma bela desandada no meio do álbum, entre as faixas 2 e 8, onde só se salvam as já citadas The Voice Inside e a mediana You. Boa parte do crédito dessa desandada pode ser atribuída ao próprio Chris DeGarmo, que compõe a maioria do material. Li recentemente um artigo sobre Hear in the Now Frontier que aqui parece sim que o capitão largou o leme de lado, uma pergunta que está em Sign of the Times, a faixa que abre o álbum (… “has the captain let go of the wheel?…”). Talvez seja uma boa definição, mas na verdade o Queensrÿche tinha dois capitães, um abandonou o barco, o outro tomou pra si tal navegação e o que se viu dali pra frente, nos álbuns seguintes, já se pronunciava, ainda que em menor grau, neste álbum.
Coisas como Miles Away, de refrão muito enfadonho e Get A Life jamais deveriam ser gravadas pela banda. Acontece são essas exatamente as faixas que acabaram por pavimentar um caminho de engodos como uma segunda parte enganosa do Operation:Mindcrime ou a suposta volta que não houve do próprio Chris, que mal e mal participou do álbum Tribe. Esse, no entanto, não é assunto para esse post. Quem sabe num futuro eu escrevo como resolvi me desfazer de todos os álbuns de estúdio da banda pós Hear in the Now Frontier até a saída de Geoff Tate? Talvez trazer as poucas boas faixas que ali aparecem….
Quem sabe?
Saudações,
Alexandre Bside
Categorias:Curiosidades, Discografias, Músicas, Queensrÿche, Resenhas
Com toda a certeza já fazia uns 20 anos que não ouvia o disco, sem muita certeza acho que o cd que está aqui em casa provavelmente nesse tempo todo não saiu da caixinha mais de duas vezes, tal foi a minha decepção ao ouvi-lo na época.
Por causa do post do Bside, resolvi dar mais uma chance ao Hear in the Now Frontier e tentar encontrar alguma coisa boa no trabalho, pois pra falar a verdade nem me lembrava mais como era. Então fico pensando como o tempo faz com que mudemos de opinião, realmente ouvindo melhor hoje, acredito que é um trabalho até bem agradável, é logico, não da pra comparar com aquele Queensryche clássico nem de longe, mas é um disco que sem muitas pretensões chega ser gostoso de ouvir. É logico, tem umas coisas meio chatas no decorrer do disco, mas no geral o som faz a balança pender para o lado positivo.
O que me chamou mais a atenção, além da tentativa de soar grunge é que o som me lembrou o que o King’s X estava fazendo nesta mesma época, algo totalmente inadmissível no século passado, mas que hoje em dia não chega a ser tão maluco assim. Também acho que o maior responsável por esse direcionamento seja o Chris DeGarmo, visto que mais tarde iria participar de alguns trabalhos com os caras do Alice in Chains.
Para terminar, gostaria de agradecer ao Alexandre por mais esse excelente texto, me fazendo redescobrir um disco que provavelmente nunca mais iria ouvir na vida e que apesar de todos os defeitos (em se tratando de Queensryche) é bastante agradável.
Agora que venha Q2K…
CurtirCurtir
Cara, muito obrigado por se dar ao trabalho de revisitar o album e eu acho que sua opinião em termos gerais bate com a minha. Na época realmente o disco decepcionou por ter várias faixas aquém da qualidade da banda. Ha boas músicas, se o estilo proposto não for um problema, eu acabei por elencar as 5 que eu entendi serem dignas. Outras 2 que ficam num meio termo. Fossem 10 músicas ao invés de 14 teríamos um cd bem mais decente, ainda que ficasse distante da fase clássica.
Em relação ao Q2k , a ideia que vem na minha cabeça hoje e talvez fazer um post compilando os demais álbuns até a saída de Tate e indicar faixas que eu salvaria neles. Do Q2k, adianto , eu só indicaria uma música. Não dá pra fazer um post só dele…
De jeito nenhum…
Saudações
Alexandre Bside
CurtirCurtir
Uma resenha perfeita. O Álbum está no limite do aceitável e é uma grande decepção para os fãs da banda na época. Na verdade só não foi pior, porque alguns já reclamavam do ótimo Promised Land. Ao procurar um som mais cru e quiça alternativo, a banda perdeu o nível de qualidade. Então há coisas que se salvam aqui e ali, mas no fim é um 5 ou 6 e passa de raspão. E o pior não é isso, e que essa marca o fim de uma era, já que daí pra frente o caldo entorna de vez..
CurtirCurtir
Fim de era e por consequência um mergulho na falta de qualidade é o que eu tambem vejo
quando o barco ficou unicamente no comando de Tate.
E aqui não venho desancar o vocalista, pois se sabe que os demais acabaram aos poucos se omitindo e deixando o barco à deriva…
Difícil elencar um único culpado para o que viu na banda após a saída de Chris.
CurtirCurtir