Por Marcelo Kenji Miki. Edição: Eduardo [dutecnic]
Resenha da Biografia: Paul Stanley – Uma vida sem máscaras, Editora Belas Letras Ltda, 2015
Introdução
Separar a obra do criador pode se tornar uma árdua tarefa principalmente quando somos condicionados como fã de um determinado artista. Logo esperar um julgamento objetivo é algo difícil de ser atingido por esta resenha, já que me considero um grande fã da banda Kiss, mas não a ponto de ser considerado um die-hard, já que para atingir este posto é necessário ter uma máquina de fliperama pinball, guitarras e baixos oficiais do Paul Stanley, Gene Simmons e Ace Frehley, um caixão de enterro e outras várias obsessões.
Por outro lado, tenho vários Livros e Revistas Estrangeiras, principalmente referente a fase da 2a Vinda Mascarada do Kiss, do final da década de 1990.
Em termos de discos de vinil, quase completei a discografia completa dos relançamentos de 2015 e tenho mais algumas prensagem japonesas.
Já em termos de biografias, eu só li há muito tempo atrás a do Gene Simmons, Kiss and Make Up, e confesso que não gostei muito. As biografias do Ace Frehley e do Peter Criss não surtiram nenhum atrativo e também deixei passar. Em termos de biografia do grupo, considero “Nothin’ to Lose – A formação do Kiss 1972-1975”, Ken Sharp, Editora Benvirá, 2013 como uma melhores livro que já sobre o Kiss.
Talvez a minha curiosidade sobre os principais membros do Kiss tenha referência principalmente as suas declarações, insights e trollagens que vivem dando a torto e direito e que sempre achei inteligentes, bombásticas e cortantes, desconcertando os repórteres mais desprevenidos.
Para quem gosta de livros de desenvolvimento pessoal/auto-ajuda e é fã do Kiss certamente vai adorar o livro devido às sacadas de Paul Stanley. É óbvio que o livro está longe de ser um clássico, como os livros “Em busca de Sentido”, Viktor Frankl ou “Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes” de Stephen Covey, mas com certeza o próprio Kiss é uma obra cujo principal autor é Paul Stanley, que na prática conseguiu esculpir um grandioso empreendimento, fonte de inspiração para muitas pessoas.
A filosofia Kiss está muito longe daquelas besteiras de “Knights in Satan’s Service”, sendo bem mais apropriado “Keep It Simple Stupid” (ou seus variantes ,”Keep it Simple, Silly”, “Keep It Short and Simple”, “Keep It Simple and Straightforward” and “Keep It Small and Simple”), frase esta utilizada tanto pela Marinha como pela Aeronáutica dos EUA. Ou seja, se tem o KISS ARMY, por que não KISS NAVY e o KISS AIR FORCE?!
Stanley, o Monstro
Uma das primeiras máscaras a serem retiradas é a da infância, onde revela um segredo guardado por décadas, superando até mesmo a máscara do Starchild. Este segredo guardado a sete chaves foi revelado a público somente em 1999, quando estava encenando a peça “Phantom of the Opera” no Canadá. O segredo é que nasceu com uma deformação na orelha direita, conhecida microtia, o que o torna surdo deste lado.
O que o Paul Stanley revela nesta sua biografia é sua profunda dor psicológica que o acompanhou desde sua infância, acentuada por um certo descaso de seus próprios pais, que preferiam negar o problema e não lhe dando um devido suporte emocional. Outro problema que atingia a família era a irmã Julia, dois anos velha e que apresentava desde muito cedo problemas mentais. Um ambiente familiar um tanto disfuncional. Na escola sofria bullying e era chamado de Stanley, o Monstro de uma orelha só. Tudo isto o levou a uma vida extremamente solitária até mesmo após o atingir o estrelato.
Apesar deste caos familiar, Paul Stanley herdou deles o gosto pela apreciação da música, escutando rádio junto com a mãe e assim conhecendo o rock ‘n’ roll com Eddie Cochran, Little Richard, levando posteriormente a comprar junto com a avó um compacto dos Everly Brothers.
A tábua da salvação estava sempre associada à música, pois lá com seus pais permanecia a mais completa indiferença. Para ilustrar este tipo de comportamento, Stanley comenta que havia se perdido com do grupo escoteiros e que ao avistarem o chamaram, mas sendo surdo de uma orelha, não tinha o senso de direção. Ao falar com os pais de situação como essa, os pais se limitavam a dizer “ignora que passa””.
Um grande momento de relevante impacto e que serviria de inspiração para várias pessoas seria a icônica apresentação dos The Beatles no Programa de Ed Sullivan em fevereiro de 1964, quando Paul Stanley tinha 12 anos. A partir daí põe na na cabeça que quer ter uma guitarra elétrica. A deficiência física associada ao gosto musical o levou naturalmente a deixar os cabelos crescerem e acobertar por décadas este segredo.
A Percepção Realista
Um dos maiores mistérios da vida é a questão da percepção. Hoje em dia, a Internet abriu as portas das informações. Mas mesmo assim com toda oferta de conhecimento, as pessoas reagem das formas mais diversas. A música também pode ser entendida como uma linguagem, em que pode ser decifrada em diferentes níveis. O nível mais elementar é aquele em a pessoa aprecia a música em si em contraposição a pessoas que nem sentem falta da música em suas vidas. É o lance de curtir ou não a música. E em um degrau acima, tem aqueles que se dispõe a pagar e escolher o que querem ouvir e não aceitar o que imposto pelos meios de comunicação como rádio e TV, que muitas vezes acaba se transformando em música de fundo.
Em um nível mais elevado, o sujeito compreende do ponto de vista intelectual como a música é formada na divisão rítmica, harmônica e melódica.
O que me estranha é que para muitas pessoas isto me parece um dom inato, mesmo que não tenha havido um treinamento formal. Fico com a impressão de que o domínio da linguagem musical é um aprendizado natural da mesma forma que uma criança adquire a capacidade da fala. E tem gente que por mais que tente, progredirá muito pouco tanto em língua estrangeira como em música. Se bem que também há um monte de picaretas que ficam enrolando seus alunos por anos com métodos que em nada agregam e fogem ao ponto.
Toda esta embromação foi apenas introduzir a percepção realista de Paul Stanley.
Neste ponto da vida, após o Programa de TV de Ed Sullivan, Paul Stanley teve a iluminada percepção de que queria se tonar um músico e artista, mesmo não tendo um guitarra. Este insight sobre sua própria vida é um dos fios condutores de sua vida, que nada mais seria o mote grego Conhece-te a ti Mesmo, cabendo destacar em sua próprias palavras (pág. 360, Edição Impressa, Capítulo “Sob a Mira do Revólver”): “O negócio de Gene era a autopromoção constante; o meu era o autoconhecimento contínuo.”
E neste autoconhecimento é necessário ter humildade suficiente para reconhecer aquilo em você é bom e naquilo em que não é tão bom assim (pág. 510, Edição Impressa, Capítulo “Para Sempre”): “Não sou o que chamo de otimista passivo. Não acredito que tudo vai dar certo se eu desejar com força suficiente. Sou um otimista realista: sei que, se for realista quanto às minhas capacidades, posso fazer as coisas darem certo, ou ao menos encaminhá-las na direção certa. Por um lado, não importa o quão duro você seja consigo mesmo, continuará não sendo capaz capaz de voar, por exemplo. Se não tiver nenhuma aptidão, pode fazer algo dez mil vezes e continuar ruim. Até onde sei, se for atrás de algo que está além do seu alcance, você é um tolo; não é possível repor o tempo e você é a única pessoa que viverá o impacto de suas decisões. Por outros lado, metas realistas podem ser conquistadas através de trabalho duro. Não há nada errado com as limitações. A questão é que muitas limitações são autoimpostas ou advinda da opinião de outras pessoas. Você precisa conhecer suas próprias limitações para então trabalhar para ampliar seus limites.”
Estas sacadas não são meras frases de efeitos construídas para impressionar os leitores. A preocupação de Paul Stanley em relação a saúde mental remonta desde os primórdios de sua vida ao ter que enfrentar seu defeito físico.
A força mental e de espírito veio muito de sua atitude de recusar-se a ser uma vítima. Mesmo assim sua vida não permaneceu nada fácil.
Em seu aniversário de 13 anos, Paul Stanley ganhou de aniversário um violão japonês usado com cordas de nylon, com tampo consertado e consertado de maneira precária. Em 1965, um produto japonês não era sinônimo de qualidade, coisa que só mudou na década seguinte. A abordagem dos pais de Paul Stanley era que de que as famílias deviam enfatizar a importância de frustrar as crianças ao invés de estimulá-las. Com isto, Paul Stanley ficou mais uma vez desolado e devolveu o presente para debaixo da cama. Somente após praticar vocal com uma banda de seus amigos, resolve aprender uns acordes básicos. Sempre com o sonho de comprar uma guitarra elétrica, visitava lojas de instrumentos musicais na 48th Street, onde os vendedores não deixavam tocar em nada até que após 1 ano de economias, adquire uma cópia de uma Stratocaster fabricada pela Vox, não sem antes mostrar a grana para o petulante vendedor da loja Manny’s.
Fonte: http://www.premierguitar.com/articles/Big_Apple_Guitar_Shops_Then_and_Now_
Já com sua guitarra elétrica em mãos, o caminho traçado era tocar um instrumento e escrever canções. Stanley, o Monstro, já havia sumido pois o cabelo comprido cobria as orelhas. Mas seu sarcástico pai não querendo deixar barato, chama-o de “Stanley Bundão”, pois seu cabelo comprido e alisado dava-lhe a aparência do Príncipe Valente.
Terapia – O que não me mata me fortalece
Com 15 anos, Paul Stanley teve outra sacada ao andar de bicicleta que fortaleceria a sua identidade, já que constatava que a sua família não lhe dava o apoio necessário, somada ao fato de ter uma irmã deficiente mental. Decidiu fazer uma consulta em uma clínica psiquiátrica no Mount Sinai Hospital em Manhattan e logo na segunda sessão, pede para trocar de médico, já que não havia gostado da primeira experiência, e começa sua terapia semanal todas às quartas após o colégio com o Dr Jesse Hilsen.
Ao comentar com seu sensível pai sua reação foi: “Você só quer ser diferente. Você acha que só você tem problemas?”.
Este desprezo pelos pais era algo que Gene Simmons não tinha conhecimento, pois era paparicada por sua mãe (pág. 89, Edição Impressa, Capítulo “Nas ruas para sobreviver”): “ Aos olhos de sua mãe, Gene era incapaz de errar. Se por acaso eu ligava quando ele estava no banheiro, ela dizia ‘o rei está no trono’, pois acreditava que ele fazia um bom trabalho até no toalete. Eu, por outro lado, não conseguia arrancar um parabéns de meus pais nem se minha vida dependesse disso. Eles desviavam de seu caminho para não ter que me parabenizar. Acho que pensavam que assim me tornariam mais forte. Gene não era capaz de errar: eu era capaz de acertar.”
A frase de Nietzsche “o que não me mata me fortalece” ilustra bem como foi moldado a persona de Paul Stanley. Já nos estágio iniciais do Kiss, Paul Stanley decide assumir a posição de frontman diante de seus parceiros (pág. 121, Edição Impressa, Capítulo “Nas ruas para sobreviver”): “Eu seria exibido e cheio de mim. Passaria a imagem de alguém desejável e atraente. Seria o cara de quem todos querem ser amigo. Sabe todas aquela pessoas que não haviam sido legais comigo e me rejeitaram? Elas se arrependeriam. Mas, na verdade, eu seria o Mágico de Oz: o homem pequeno e esquisito que operava esse personagem imenso detrás da cortina.”
Pulando um pouco no tempo, já após o estrondoso sucesso do Alive!, que cimenta de vez o caminho do sucesso, Paul Stanley, então com 24 anos, decide retornar procurar o Dr Jesse Hilsen, pois sabia que sucesso também tinha seu lado perverso (pág. 212, Edição Impressa, Capítulo “Nas ruas para sobreviver”): “A sensação de montanha-russa que tive na Hara Arena se tornou algo mais ou menos constante: eu estava sendo levado para cima de uma grande queda, ciente de que atingiríamos o topo a qualquer momento e então despencaríamos do outro lado, caindo e gritando em total descontrole. Eu podia sentir o impulso, o processo de ser jogado montanha abaixo. Eu sabia que tínhamos chegado a um ponto sem volta. Só o que fazer era me agarrar com força. A questão era: a que eu deveria me agarrar? A nada. Na minha vida, não existiam relações de significado emocional. Eu bem sabia que os caras da banda não ajudariam muito. O mundo em que vivíamos agora estava repleto de vítimas da fama. Drogas eram oferecidas como sinal de amizade. Todo. Santo. Dia. As pessoas se tornavam autodestrutivas. As pessoas se entorpeciam. As pessoas morriam. Por causa de minhas dúvidas e inseguranças, eu tinha medo de me tornar preza daquelas tentações. Meu dispositivo de autopreservação entrou em cena. Vou precisar de algo em que me agarrar. A queda daquela montanha-russa começaria a qualquer momento, estivéssemos preparados ou não. Então pensei no Dr. Jesse Hilsen. Naquela época, algumas pessoas desprezavam as terapias como se fossem uma ‘bengala’ ou consideravam-na uma demonstração de fraqueza. Eu mesmo me convencera disso, tanto que parei de ir ao Mount Sinai depois que a vida pareceu ficar mais tranquila, quando formamos o Wicked Lester. Eu queria acreditar que estava bem. Mas não estava. Telefonei para o Mount Sinai. O Dr. Hilsen havia deixado o hospital e estava trabalhando com consultas particulares. Mas eu o encontrei. ‘Minha banda está prestes a se tornar grande’ expliquei. ‘Não sei se consigo me virar nesse mundo. Preciso de um plano de vida.’ Eu estava determinado a sobreviver. Talvez a terapia fosse a maneira de manter meus pés (e as botas de plataformas) no chão.”
A autenticidade – The Originals
Outra boa sacada de Paul Stanley refere-se a questão da autenticidade (pág. 299, Edição Impressa, Capítulo “Estive para cima e para baixo, estive por todo lado”): “Tentar mostrar às pessoas como você é brilhante e talentoso é a melhor maneira de fazer papel de idiota e acabamos fazendo isso em versão brilhante”.
Isto meio que explica a completa aversão de Paul Stanley e Gene Simmons em relação ao “The Elder”, apesar de achar particularmente que não saiu tão ruim como seus membros o taxam.
Outros erros admitidos neste tipo de abordagem ocorreram muito no começo da carreira do Kiss, como por exemplo, a maquiagem de Peter Criss realizada por um artista externo para a foto da capa do primeiro disco, a gravação da faixa “Kissin’ Time” ‘para um concurso de beijos e de certa forma a produção dos 3 primeiros discos que não conseguia captar a energia da banda nos shows ao vivo.
Partners in Crime
Em termos de valores de vida para Paul Stanley, pode-se destacar duas características: não se fazer de vítima e trabalho duro/hard work.
Se por por um lado nota-se esta valorização destes comportamentos, por outro, quem não tem estas características é massacrado por Paul Stanley. E neste viés, o baterista Peter Criss é caracterizado por Paul Stanley como um sujeito que é sempre vítima dos acontecimentos, sendo relatado que fez vários jogos de sair da banda. Já Ace Frehley é pintado como um sujeito um tanto desleixado e também cheio de manias, como deixar todo mundo no suspense se ia ou não chegar no horário combinado do show.
E nestes julgamento severo, por pouco Gene Simmons não cai no mesmo balaio de gatos após deixarem as maquiagens, já que Paul Stanley sentiu que seu companheiro havia meio que abandonado o barco e estava mais focado em ser uma figura do show business da TV ou cinema. Como Gene foi tão mala assim, Paul Stanley meio que relevou afinal ninguém é perfeito e o sujeito cumpria as tarefas, se bem que de forma um tanto burocrática.
Outra figura emblemática citada na biografia de Paul Stanley é a presença de Bill Aucoin, que apoiou a banda desde os primórdios e conseguindo um contrato com gravadora Casablanca de Neil Bogart. Em uma ocasião no começo da carreira, Paul Stanley sentiu que devido ao sucesso da banda já merecia um aumento de salário e se dirigiu ao escritório de Bill Aucoin. Ao chegar na mesa, reparou que Bill Aucoin estava calçando um sapato com furo na sola e viu que as coisas não estavam tão bem assim do ponto de vista financeiro. Quando Bill Aucoin o questionou por que ele estava lá, no final inventou uma desculpa esfarrapada e deixou de lado a solicitação do aumento. Bill Aucoin foi o cara que utilizou o cartão de crédito para fazer a máquina do Kiss no começo da carreira.
Sexualidade
Desde a década de 1980, me lembro que Paul Stanley com sua figura andrógina era sempre pintado como afeminado por vários de meus amigos. Apesar de concordar que em muitas ocasiões achá-lo meio afetado, nunca me preocupei muito com este fato, afinal quantos amigo nossos tinham um comportamento afetado na infância e depois o cara toma outro rumo (e o contrário também ocorre).
Mas nesta biografia Paul Stanley faz questão de afirmar que é heterossexual quando revela sua treta com o guitarrista Slash, que dizia pela suas costas que ele era gay e outras coisas. Quando Slash resolveu um dia pedir uma ajuda a Paul Stanley para arranjar uma guitarras, Paul deu troco e jogou na cara dele para ele se fod**.
E ao longo do livro, Paul Stanley deixa claro que que teve várias parceiras com interesse meramente sexual e sem nenhum compromisso e envolvimento emocional.
Depressão
Apesar da retaguarda da terapia, Paul Stanley não se viu livre da depressão, da qual foi acometido justamente na época do Creatures of The Night e a vinda o Brasil. Nesta época, teve uma desilusão amorosa com a atriz Donna Dixon, que preferiu ficar com o ator Dan Ackroyd.
Ao ler esta revelação do período depressivo de Paul Stanley faço uma associação da sonoridade do álbum Creatures of The Night que sempre achei meio dark e sombrio. Em minha opinião, este álbum apesar de ser bom e pesado não tem aquele clima de festa de Rock and Roll All Nite and Party Every Day. Será que a música “I Still Love You” nada mais é que a dor de corno devida ao amor não correspondido de Donna Dixon?
Paul Stanley e Donna Dixon
Fonte: http://fanpix.famousfix.com/1761611/024135934/paul-stanley-and-donna-dixon-picture.html
E mesmo neste período depressivo, Paul Stanley acaba decidindo tomar uma das decisões mais da carreira, que é a retirada das máscaras.
Rompimento com os antigos Managers
Na época do álbum Asylum, em uma conversa com Keith Richards, confidencia que podia ter comprado várias parafernálias do Kiss, cuja fonte eram os próprios cofres deles em Nova York, oferecidas no submundo. A ficha de Paul Stanley não caiu até que recorreu de novo a seu terapeuta Dr Jesse Hilsen, que o bombardeou de perguntas financeiras que são sabia responder, como por exemplo, fundos de aposentadoria. O Dr Jesse começa então a conhecer a realidade financeira da banda e revela que eles devem milhões a Receita Federal. Paul revela esta triste realidade a Gene, que a princípio não acredita e até tira um sarro nesta parte do livro, revelando o gênio das finanças nem sabia o quão fud*** estavam do ponto de vista dos negócios. Rompem então com os companheiros de longa data, Bill Aucoin e Howard Marks. Bill estava tendo vários problemas com drogas e também foi chutado por Billy Idol.
Mais a frente do livro, Paul revela um certo reconciliamento com Biil Aucoin antes de sua morte e atende um desejo seu comprando uma residência para seu parceiro de vida.
Pisadas na bola
Durante a turnê Crazy Nights, Eric Carr começa a não falar mais com Paul Stanley, colocando-se como vítima de não ser o baterista original. Logo começam problemas com álcool e drogas, que passam despercebidos num primeiro momento por Paul.
Nestes momento turbulentos e confusos o Kiss durante a Hot in the Shade, decide contratar o próprio terapeuta de Paul Stanley, o Dr Jesse Hilsen para gerenciar o Kiss, não sem antes de se abdicar do seu papel de médico. E nesta nova empreitada, o Dr Jesse traz a reboque um advogado empresarial de Wall Street, Bill Randolph e um Aaron Van Duyne, para a área de contabilidade. Estas duas pessoas se tornariam elementos chave na condução dos negócios do Kiss até hoje, ao contrário do que ocorre com o Dr Jesse, que na mesma época se separa da mulher e nega-se a pagar a pensão de seus filhos, em um lance recheado de mistérios e paranóias, culminando em uma fuga, desaparecendo da vida de Paul desde 1994. Na verdade, o Dr Jesse Hilsen também tinha uma máscara em sua vida pessoal. Apesar de ter ter dado todo um suporte emocional para Paul Stanley desde os tempos em que era um adolescente, como profissional, não era capaz de fazer o mesmo pela sua própria família.
A descoberta do câncer de Eric Carr ocorreu na mesma época em que Paul Stanley decide que quer se casar e compartilhar uma vida com sua namorada na época, a atriz Pam Bowen.
A banda é convidada a tocar God Gave Rock ’N’ Roll to You e praticamente chutam Eric Carr neste momento delicado da vida e chamam o outro Eric, Eric Singer.
A demissão de Eric Carr durante o álbum Revenge é um erro explicitamente admitido por Paul Stanley neste livro, cujo falecimento ocorre no mesmo dia em que Freddy Mercury.
The Phantom of The Opera
Quem cresceu com o Heavy Metal da década de 1980 associa imediatamente The Phantom of The Opera como a clássica música do Iron Maiden de seu primeiro disco, com estonteantes passagens instrumentais, que fazem qualquer fã do gênero empunhar uma “air guitar” e “head-bangear”. Mas The Phantom of the Opera, além de ser a música do Iron Maiden, é um livro que sofreu uma série de adaptações para o cinema como para o teatro, através um musical. Este tipo de associação com outras coisas também me ocorre com o Mapa Mundi, que tenho mais gravado o Tabuleiro do Jogo War da Grow do que a própria realidade ou no que aprendemos no passado nas chatas aula de geografia, levando-me a cantar The Road Crew do Motörhead: “…Another Europe map to learn,…., We are the Road Crew…”.
As tratativas relativas a entrada de Paul Stanley na peça The Phantom of the Opera iniciaram-se no final de 1998, cuja estreia estava prevista para maio de 1999 e a turnê Psycho Circus terminava em abril de 1999, sendo justamente os shows do Brasil um dos últimos shows desta turnê.
E nesta aventura de Paul Stanley na Peça The Phantom of The Opera é que tem que confrontar de novo com o problema de seu defeito de nascença da qual escondeu durante anos. Pelo fato do personagem Fantasma da peça ser solitário e esconder-se debaixo de uma máscara é que Paul identificou-se de tal forma que sua performance foi muito elogiada e chamou a atenção de muitas pessoas, inclusive de Anna Pileggi, da Abot-Face, associação que cuida de crianças com defeitos faciais.
E nesta cruzada, Paul Stanley resolve encarar de frente este problema do passado e resolve ajuda a About-Face participando de encontros e ajudando as crianças compartilhando sua história, que somente quem passou por verdadeiros momentos de dor é capaz de transmitir estes sentimentos.
E neste redemoinho de sentimentos, Paul Stanley retira outra máscara que foi admitir que seu casamento com Pam não estava dando certo, bem como confrontar seu pai de histórias passadas, como a falta de apoio no psiquiatra, descobrindo que seu pai tinha uma amante por muitos anos.
Palavras Finais
Enfim, a vida de Paul Stanley é uma lição de superação diante de vários problemas que todos nós temos. Muitas vezes pensamos que o estilo Larger Than Life dos Rock Stars é algo que blinda a vida de frustrações, mas na verdade não é isto que acontece.
Paul Stanley decidiu apostar suas fichas no que acreditou, quer as pessoas apoiem ou não esta suas opiniões. Tudo tem um preço na vida, mas cada um tem sua responsabilidade na tomada de decisão, inclusive não tomar decisão alguma.
Muitas vezes tenho a impressão que ler um livro é diferente que ver um filme, pois mexe de forma mais profunda em nossas crenças, permitindo ter nossos próprios insights. Este livro foi mais um que me fez valorizar o aspecto humano diante da vida.
Depois que terminei o livro, descobri que na Livraria Cultura tem uma edição especial, com capa dupla com o rosto de Paul sem e com maquiagem. Como não sou um die hard, deixo passar, mas fica a dica para quem quiser adquirir esta biografia.
Categorias:Artistas, Curiosidades, Entrevistas, Guns N' Roses, Instrumentos, Iron Maiden, Kiss, Motörhead, Resenhas, Rolling Stones
Olá Marcelo.
Excelente resenha. O Kiss foi a primeira banda a que me tornei fã e que tem feito parte intima da minha vida desde 1981/82 quando fui apresentado a banda através do Killers. O sentimento pela banda foi responsável por exemplo por fortes amizades que surgiram e perduram até hoje como nossos queridos gêmeos. As carteiras do colégio eram maltratadas pelo logo da banda.
Desde as primeiras reflexões sobre Kiss já comentava com os gêmeos que o Paul era a alma do Kiss, o que se percebia pelo álbum solo. Naquela época a informação era escassa, o que nos fez ingressar num fã clube do Kiss por intermédio de outro amigo conhecido na da 5a série do Colégio.
Paul Stanley realmente é uma pessoa ímpar tanto como músico, quanto como pessoa.
Só quem aprecia a música compreende esse tipo de sintonia.
Long live Paul Stanley!!!
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Marcelo, eu só queria registrar aqui um agradecimento especial pelo seu texto (por compartilhá-lo conosco) e pela sua paciência comigo na demora em publicar este verdadeira petardo no blog.
A leitura é um deleite aos fãs de Stanley, Kiss e de música em geral.
Por fim, queria destacar apenas a parte abaixo, algo que procuro sempre me policiar também em minha vida, e achei sensacional ler isso…
“Não sou o que chamo de otimista passivo. Não acredito que tudo vai dar certo se eu desejar com força suficiente. Sou um otimista realista: sei que, se for realista quanto às minhas capacidades, posso fazer as coisas darem certo, ou ao menos encaminhá-las na direção certa. Por um lado, não importa o quão duro você seja consigo mesmo, continuará não sendo capaz capaz de voar, por exemplo. Se não tiver nenhuma aptidão, pode fazer algo dez mil vezes e continuar ruim. Até onde sei, se for atrás de algo que está além do seu alcance, você é um tolo; não é possível repor o tempo e você é a única pessoa que viverá o impacto de suas decisões. Por outros lado, metas realistas podem ser conquistadas através de trabalho duro. Não há nada errado com as limitações. A questão é que muitas limitações são autoimpostas ou advinda da opinião de outras pessoas. Você precisa conhecer suas próprias limitações para então trabalhar para ampliar seus limites.”
Até um próximo post/comentário por aqui e seja sempre bem-vindo – inclusive em nossos podcasts, seria uma honra poder contar contigo.
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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Marcelo, parabéns por trazer alguns ótimos detalhes deste livro.
Quem é fã do KISS e aprecia uma boa leitura, não deve deixar de lê-lo. Eu, conhecedor da banda desde o início da década de 80, li muita coisa que não tinha o menor conhecimento de que havia acontecido, sempre lembrando que esta é a visão de Stanley, a qual pode ser contestada por alguns de seus antigos e atuais companheiros.
Eu já li o livro duas vezes, tenho também em casa o No Regrets , do Ace Frehley, e já dei uma folheada no escrito por Gene . O Daniel, sempre atento, já indicou também o livro do Peter , assim entendo que a formação original já cumpriu o seu papel dentro do mercado literário, embora o livro do Gene Simmons seja mais focado em auto ajuda e business do que propriamente sobre a parte musical de sua vida.
Eu também indico o do Ace, embora não saiba se ele saiu em alguma versão brasileira.
Mas este, do Paul Stanley , é ainda melhor. Acho apenas que ele poderia ter trazido mais impressões sobre Bruce Kuliick, que tanto tempo ficou na banda, e parece , na minha percepção, ter sido menos citado até que Mark St John durante o decorrer do livro.
No mais, algumas estórias são realmente surpreendentes, como a questão envolvendo a audição e problemas da microtia , o envolvimento com um número de mulheres que o coloca em questão praticamente de igualdade com o falastrão Simmons e seu respeito e paixão pela música e por sua família.
Excelente todo o post, gostaria de ver mais conteúdos deste quilate sob sua autoria aqui no Minuto HM
Saudações,
Alexandre
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Olha Marcelo!!!!Uma história surpreendente!!!!
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Olá Rita, valeu pelo comentário e seja bem-vinda ao Minuto HM.
Continue participando por aqui!
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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Stanley falando do estado “mais recente” de sua voz: http://www.wikimetal.com.br/paul-stanley-voz-kiss/
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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Pra mim , um comentário bastante infeliz.
Às vezes a gente deve admitir simplesmente.
Não precisa passar a sensação que não sabe perder.
Alexandre
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KISS’s PAUL STANLEY: ‘Is My Voice What It Was 20 Years Ago? No’: https://www.blabbermouth.net/news/kisss-paul-stanley-is-my-voice-what-it-was-20-years-ago-no/
[ ] ‘ s,
Eduardo.
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[ ] ‘ s,
Eduardo.
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