Talvez esse seja um post tardio. Ou, talvez não…
A euforia passou. As entrevistas e o suspense por trás do álbum fizeram exatamente o que manda a cartilha do marketing musical. O Angra estampou capa de revista. As resenhas profissionais foram muitas. Os vídeos amadores de “primeiras impressões” e seus comentários já deram o que tinham que dar.
No dia 16 de abril faremos dois meses do lançamento de ØMNI e agora eu me pergunto: o álbum é tudo isso que falaram por aí?
Quando se fala em heavy metal no Brasil é praticamente um karma se pensar automaticamente em Angra e Sepultura. Isso é muito triste, mas isso é para outro post. Fato é que essas bandas alcançaram um nível de exposição mundial que a propaganda alavanca muito os negócios. Mas mantenhamos o Sepultura só nesse parágrafo, pois o post é sobre o nono álbum de estúdio da banda Angra, que veio com a “missão” de trazer uma história conceitual que mostrasse a origem de tudo, não só reforçando a nova cara da banda, mas extrapolasse o conceito para outros discos, fazendo com que a história se entrelaçasse com fatos contados em Holy Land e Temple of Shadows, por exemplo.
Com uma formação totalmente nova – só o Rafael Bittencourt da formação original – é esperado que as harmonias e composições fossem diferentes (quem ouviu o Secret Garden e não concorda com isso, atire a primeira pedra). E não dá para dizer que o disco é ruim. É um disco bom e realmente, parafraseando muito do se foi dito por aí, é o melhor álbum do Angra desde Temple of Shadows. Só que é um disco cuja exposição marqueteira foi maior do que qualquer outra coisa …
A abertura com Light of Transcendence dá ao fã raiz aquilo que ele queria ouvir. É a sonoridade “arroz com feijão” inconfundível do Angra. Travelers of Time é uma boa emenda, com participação direta da pegada do Marcelo Barbosa, já que o Kiko Loureiro saiu (saiu?) para se dedicar à banda do Dave Mustaine.
E aí entra a tal da terceira faixa, Black Widow’s Web, que fez a banda ficar na primeira posição no tal do Spotify Radio Station Sei Lá Como Chama, que mostra as tendências do que é ouvido em uma determinada semana. E o Angra fez mesmo uma música matadora assim, pra cair no gosto até do popular? Não! O que ele fez foi trazer a Sandy para fazer um dueto com a Allisa White-Gluz, naquele mais que manjado tipo de música onde temos a voz angelical e a voz demoniaca misturada. Boa música? Sim, boa música, mas nada demais! A poeira subiu mais pelo fato da filha do Xororó estar cantando com uma banda de Power Metal do que qualquer outra coisa. A Sandy abre e fecha a canção (com um estilo nada desafiador para os padrões da moça), com a condução sendo da Alissa com o Fabio Lione (o vocalista mais sem sal do mundo do Heavy Metal, mas que, na minha opinião, achou seu lugar e está fazendo muito bonito – mas isso também é assunto para outro post).
Chamar a Sandy não é inovador. Milton Nascimento já tocou com o Angra na belíssima Late Redemption, do Temple of Shadows. Muitas bandas na Europa sobrevivem desse tipo de música (anjo vs. demônio com voz feminina) e não achei que dentro das inovações que o Angra está acostumado a fazer, isso venha a ter sido um diferencial. Nada para os alardes que causou.
Chegando no meio do álbum, perdemos consistência. Insania e War Horns não se sustentam, apresentando estruturas bem simples e falta de melodias (apesar de uma linha de baixo legal e um solo featuring Kiko Loureiro, muito distante da versatilidade que estamos acostumados). No meio dessas duas temos The Bottom of my Soul, uma excelente faixa … para o Bittencourt Project. Eu sei que ela foi feita para o projeto do líder do Angra e que a banda decidiu incorporar ao álbum, mas perdeu muito mais o Bittencourt Project do que ganhou o Angra nessa troca. As lamentações pessoais do Rafael precisam ficar em um lugar só…
Caveman, sétima faixa, é uma das melhores do álbum, pois simplesmente faz o que o Angra tem de melhor: a mistura de sons nacionais com o metal. O coro em português sempre me remete ao início de Unholy Wars, do álbum Rebirth, não importa quantas vezes ouça. Na sequência, Magic Mirror é outra música que não se sustenta, emendando seu final com a introdução de Always More, uma boa balada.
O encerramento do álbum fica em torno dos mistérios e conexões conceituais de ØMNI, dividido em duas faixas: Silence Inside e Infinite Nothing. A primeira, disparada a melhor música do álbum. A segunda, um apanhado instrumental de todas as faixas do álbum, típica faixa para abertura ou fechamento de show.
Passada a euforia é possível sim afirmar que ØMNI é o melhor álbum desde Temple of Shadows, mas com milhas de distância entre os dois. O novo Angra perdeu pegada, perdeu muita velocidade, perdeu a “guitarra dobrada”. Enfim, perdeu um pé no power metal. Para mim, isso faz falta.
ØMNI é tudo isso? Não, não é … ouve aí:
Categorias:Angra, Curiosidades, Discografias, Músicas, Resenhas
NuncA é trade pra nenhum post
Acho que o heavy metal sempre deve fazr parcerias com o pop. Isso traz visibilidade pro gênero. O Angra poderia ate de certa forma prescindir disso – ao contrário de outras bandas – portanto acho válida a iniciativa
Então eu vou entrar por Silence Inside
Continua a leitura ………………..
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O post e excelente, no meu entender, nada tardio. As primeiras impressões são normalmente as do tipo ” o melhor ” ou ” o pior ” de todos os tempos , ou desde sei lá quando ( um momento marcante da tal banda).
Passados alguns meses a audição é mais amadurecida, consegue-se enxergar melhor os prós e contras.
E ningúem melhor neste blog que o Kelsei para trazer uma opinião sobre o Angra. Não acredito existir um melhor especialista.
Este comentário, no entanto, tem um problema : eu.
Se a preocupação do autor é que o post não seja tardio, que tal a minha que mais atrasado estou ainda em relação não só a esse disco ( ainda falamos isso? disco?) como à carreira da banda desde o já mencionado Temple of Shadows .
Assim, vou tentar iniciar uma corrida contra o tempo ( inimigo dos maiores que conheço), para tentar trazer algo que contribua nesse conteúdo.
Só deixo claro que a participação da Sandy na canção pra mim é ok. Não é espetacular, mas de forma alguma é ruim. Ruim é o gutural da outra participante, algo que não encontra minha aprovação.
Eu volto sabe lá quando como uma opinião mais embasada deste álbum.
Parabens, Kelsei, post certeiro.
Ate algum momento
Alexandre
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Interessante a análise.
Gostaria de dizer, como apreciador do Angra há 14 anos, que achei muito bom o “distanciamento” com o powermetal. Obviamente ainda há muito de powermetal no álbum porém são justamente esses elementos que ao meu gosto ficaram abaixo do restante do nível em OMNI, pois as músicas estão com uma riqueza harmônica muito grande porém o refrão está muito “fácil” redondinho demais, talvez até um pouco forçado para ser mais facilmente digerido (credito essa questão dos refrões ao lado powermetal).
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Oi Artur. Eu tinha escrito uma vez por aqui e ele foi apagado devido problemas com a ferramenta que administra o blog. Então, vamos novamente …
A proposta do Angra sempre foi misturar música brasileira com metal – e isso ainda está no álbum. Eu aprecio Angra há um pouco mais de tempo que você e talvez isso seja um fato agravante em torcer o nariz para Omni, pois eu vi o Angels Cry nascer. Posso estar virando um velho turrão – é uma possibilidade…
Em termos de composição, a cozinha ainda está boa, e harmonicamente existem sim coisas belíssimas. Mas a identidade construída pelo Angra sumiu em algumas canções. Eu vou ter que insistir: é um bom disco, mas não é Angra.
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Eduardo.
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