Cobertura Minuto HM – Helloween e HammerFall em Chicago, IL, EUA – United Forces Tour – resenha

Longe de terras brasileiras já há quase um ano acabei perdendo os grandes shows e festivais pós-pandemia, incluindo aí uma sequência de shows “fáceis de ir” no eixo entre RJ e PR (incluindo parada em Ribeirão Preto) que daria pra fazer de carro, como nos velhos tempos. Os posts de cobertura aqui do Minuto HM me fizeram ficar com aquela inveja boa dos colegas. 🙂

É óbvio que há muitos shows aqui nos Estados Unidos também, e eu tive ano pasado a oportunidade de ver o Iron Maiden no United Center, em Chicago – se me for permitido posso depois fazer um review atrasado. Grandes bandas têm por aqui sua base cativa de fãs, mas nao são comuns camisetas de bandas de metal da Europa, por exemplo. Bandas como Blind Guardian, Nightwish e Avantasia (pra citar algumas bandas que estiveram recentemente no Brasil) não fazem escalas por aqui, e até mesmo o Deep Purple fez apenas meia dúzia de shows na costa leste.

Por isso fiquei muito feliz ao ver que Helloween e Hammerfall trariam a Unifed Forces Tour para os Estados Unidos. Compromissos profissionais não me permitiram ir a mais de um show, mas não deixaria de ir ao de Chicago em uma sexta-feira à noite véspera de fim de semana prolongado. Sou morador dos subúrbios a oeste da cidade e normalmente levo pouco mais de uma hora para chegar ao centro, mas com o trânsito acabei chegando em cima da hora para o show marcado para as 7 da noite.

O local foi o Riviera Theatre, no distrito histórico de Uptown Chicago. É de fato um teatro clássico centenário, inaugurado ao início do século passado, que mantém os setores originais como os balconies e platéias superiores com suas decorações originais. O lugar poderia estar mais bem conservado, mas tem ainda seu “charme” arrancou elogios até de Andi Deris durante o show tanto pela beleza quanto pela espetacular acústica. O que me chamou a atenção já na compra dos ingressos foi o fato da pista premium ficar ATRÁS da pista comum. O ingresso general admitance saiu por 50 dólares enquanto o premium chegava a 75, sendo que o benefício era ficar num patamar de meio metro acima da pista normal, e muito mais longe do palco. Fui de pista comum, e mesmo chegando quase no horário do show pude ficar a “três pessoas” da grade, e chegando facilmente à grade em si durante os shows.

E às sete em ponto o Hammerfall iniciou seu show (apesar do horário indicado na marquee, 7:15). Sempre gostei muito da banda, embora não os visse desde 2014 em São Paulo no Free Pass Metal Festival. Minha principal crítica às apresentações ao vivo (incluindo os álbums oficiais) sempre foi a “economia” de Joacim Cans em seus agudos, além do excesso de momentos em que aponta para a platéia para que eles cantem. Pois esta noite foi exatamente o oposto! Sim, houve momentos em que ele apontou para a platéia mas logo percebeu que os presentes não respondiam a altura (ou sequer conheciam as músicas). Então ele não economizou em nada, cantou todos os versos e demonstrou uma grande presença de palco.

Aliás, a banda toda estava on fire, mesmo com a recepção gélida do público (em minha opinião, acostumado com os shows na América do Sul). O espaço era limitado, com a bateria colocada à frente da bateria do headliner e atrapalhando um pouco a movimentação, mas nada impediu cada um dos integrantes de agitar (ou tentar) cada um dos setores da platéia. O set list, correto, trouxe duas músicas do mais recente trabalho e exatamente uma dos demais – exceto por um medley de Crimson Thunder em comemoração aos 20 anos de lançamento do álbum (um dos meus favoritos). Medley este que teve até propaganda no Twitter oficial da banda, e do qual eu esperava mais do que os dois minutos de riffs de quatro músicas. Dada a limitação de tempo – o show durou exatamente uma hora – é compreensível.

Cans perguntou quem estava gostando do show, e quem tinha ido lá para vê-los também (e não só o Helloween). Disse então que “uns 40%”, mas o nível de resposta foi bem menor que isso. Nada abalou a banda, que parecia estar se divertindo muito e agradeceu bastante o público. Oscar deu palhetas nas mãos das pessoas que estavam realmente curtindo – não me alcançou, infelizmente.

Durante os 30 minutos de pausa entre as bandas eu pude olhar ao redor perceber a “demografia” do lugar: o lugar estava tomado por pessoas da América Latina e do leste europeu (ou assim acredito eu). Pouco se ouvia o idioma inglês. Um grupo que identifiquei ser da Colômbia era o mais barulhento (chegando a ser inconveniente durante o show) e numeroso, e protagonizou momentos “vergonha alheia” durante o set seguinte… melhor nem comentar.

Começo falando do telão do Helloween, um espetáculo a parte, em altíssima definição com animações e imagens sinconizadas com as músicas e e que interagem com a banda, além de artes bem humoradas e detalhadas. Este telão “morreu” nos shows de São Paulo em 2017 durante a Pumpkins United Tour, e não foi utilizado nos festivais em 2019 (Rock in Rio e Rockfest). Aqui ele estava inteiro, e a intro trouxe imagens do novo álbum acompanhando “Skyfall”, a primeira da noite. Deris e Kiske em lados opostos do palco e a banda se divertindo como sempre.

Diferentemente do show de 2017 em que Deris e Kiske dividiram o palco em boa parte da apresentação, desta vez eles revezaram música a música com um deixando o palco na vez do outro. “Eagle Fly Free”, a segunda música, teve só Kiske no palco. Deris voltou em seguida, agradeceu ao público e relembrou um fato engraçado da última passagem da banda por Chicago, há 5 anos: Kiske caiu do palco, mas o público estava tão “compactado” que o segurou e o devolveu ao vão entre a grade e o palco. “Pensei que ele tinha tido um ataque cardíaco”, disse o Deris. Claro que fui pesquisar e encontrei registros da queda aqui e aqui.

Deris comenta que não precisaria traduzir o que “make some noise” significa, pois finalmente estavam tocando novamente aos Estados Unidos. A música “Mass Pollution”, das novas, foi a que menos funcionou ao vivo em minha opinião. É uma música que tem a cara de Deris e caberia tranquilamente como coadjuvante num Master Of The Rings, com direito a “efeito megafone” na voz tal como em “From Where The Rain Grows”. Mas que fique claro que não é por causa de Deris – o que ele fez no palco esta noite foi de deixar qualquer um boquiaberto! Existe o endeusamento de Kiske por parte dos fãs mas é inegável o que Deris representa não só como vocalista mas como principal (sim, principal) frontman, conectando com cada um dos presentes com seu já conhecido carisma. E o público, agora sim, muito mais empolgado e responsivo.

A banda seguiu alternando seus vocalistas, e antes de “Future World” Kiske brincou com Kai Hansen, tocando e cantando o início de “Trouble” de Elvis Presley antes de emendar “Future World” – e a banda já tinha o público nas mãos. Nova troca de vocalistas e agora Deris comanda “Power”, sempre uma paulada ao vivo. Aqui Weikath saiu de sua cadavérica feição de sempre para dar um sorriso: um fã na grade estava fazendo uma live transmitindo o show para a esposa e filha pequena, que batia palmas do outro lado da tela. Weikath foi à frente e apareceu na live dando tchauzinho pra menina. Weikie sempre foi “discreto” no palco, mas sempre foi o estilo dele ser parado, fumando, vez ou outra fazendo uma graça com a mão. Nesta noite eu vi ele se comunicando com Kai Hansen por diversas vezes, porém, durante solos e riffs, como se perguntassem “e aí, foi bom?” um pro outro, e trocavam sorrisos.

Outro ponto legal: o primeiro efeito da introdução de “Save Us” uma pessoa gritou “eles vão tocar f*cking ‘Save Us’, sério mesmo?”. Assim como eu ele deve ter evitado reviews e set lists para ter surpresas, e foi exatamente o que aconteceu. Aparentemente uma das músicas favoritas dele, o cara estava maravilhado! O tipo de sensação que só um show ao vivo pode nos dar.

Tivemos então o “Momento Kai Hansen” com o medley “old school” (palavras dele) dos primeiros álbuns da banda, com ele nos vocais, um tanto mais curto em comparação com o show da Pumpkins United. Kai é outro frontman espetacular, dá gosto de ver o cara se comunicando com o público (e usando um chapéu “quase” de Tio Sam), e se divertindo no processo. O medley culminou em “Heavy Metal (Is The Law)” e em seguida tivemos tanto Kiske quanto Deris para “Forever And One” – nesta, Kiske fez a segunda voz nos refrões num tom bem mais grave enquanto Deris arrebentava nos agudos originais.

Sascha Gerstner, o mais unnappreciated dos membros da banda, acaba ficando de lado no final das contas e talvez por isso tenha seu momento para um solo. Ele teve um trabalho gigantesco para substituir guitarristas anteriores e está na banda há 20 anos – obviamente tem seu valor. Ficou bons minutos sozinho no palco, agitando seu cabelo “emo”, para então emendar “Best Time”, que funcionou muito bem ao vivo com os três vocalistas. A banda ficou inteira no palco para “Dr. Stein” (com um cômico fundo no telão com os pés de cadáveres com os nomes dos integrantes) e “How Many Tears” (esta curiosamente SEM a participação vocal de Kai Hansen), as duas últimas antes do encore.

Com Deris a caráter, a banda volta com “Perfect Gentleman” e então “Keeper Of The Seven Keys”, um momento sempre especial desde que a banda voltou a tocá-la ao vivo (desde 2003), com os vocalistas se alternando. Mais uma breve pausa e, infelizmente, a última da noite: “I Want Out” com os já tradicionais balões em formato de abóbora, tradição esta que creio eu (ou quero acreditar) foi criada pelos fãs no show de São Paulo em 2017.

É chover no molhado dizer o que Helloween significou pra mim na adolescência e significa até hoje, e ver esses caras com esta formação esbanjando vitalidade e entregando um show de duas horas e meia com esta qualidade é um privilégio – mesmo com a “ressaca auditiva”  já que o zunido dura até agora. Longa vida à banda, novos álbuns e tours, e que possamos todos ter a chance de desfrutar por muitos anos ainda.

E agora – e somente agora, pós show e depois de escrever minhas impressões a respeito – vou ao post do Kelsei sobre o show no Brasil em 2022 para comparar opiniões sem risco de spoilers! 😀



Categorias:Cada show é um show..., Curiosidades, HammerFall, Helloween, Músicas, Resenhas, Setlists

8 respostas

  1. Anos depois acabo escrevendo um novo post – peço desculpas aos colegas se fiz algo errado, se o formato está ruim, etc, e aceito quasiquer correções. 🙂

    Curtido por 1 pessoa

  2. Caramba o Caio voltou a escrever aqui
    Que maneiro
    Que post muito bom. Muitas fotos e info de quem conhece
    Ta na gringa…..

    Muito bom

    Curtir

    • Valeu Rolf! Sim, tô na gringa, rs. Sempre que der trarei mais coisas que acontecem por aqui. Estou planejando uma ida a cervejaria Brewdog em Ohio pra ver a produção da Iron Maiden Hellcat, que vende bem aqui (e inclusive durante o show). Se realmente rolar, relatarei aqui. Abraço!

      Curtir

      • Que maneiro, Caio. Você esta em Chicago mesmo ou se deslocou pra ver o show?

        Sobre a Brewdog, é uma excelente cervejaria. Aqui em São Paulo fechou, acredito que por conta da pandemia. Não me lembro. Era uma excelente cervejaria.

        Cara, manda sim um post aqui se possível. Vamos gostar de ver. Só agradecemos

        Curtir

  3. Caio, antes de tudo |(aspas para você mesmo no post) :
    “…É óbvio que há muitos shows aqui nos Estados Unidos também, e eu tive ano pasado a oportunidade de ver o Iron Maiden no United Center, em Chicago – se me for permitido posso depois fazer um review atrasado.”
    Bem, eu não sou o dono disso aqui, mas já lhe ” autorizo”, se é que essa palavra ainda deve ser considerada aqui. Aliás, para esse do Maiden e qualquer outro, entendo eu…
    E em relação ao texto acima ? Só posso agradecer pela ótima construção do texto, descrição dos shows e por favor, se possível, traga mais daqueles que passam por aí.
    Eu também gosto bastante da fase Kiske do Helloween e hoje digo que é uma das bandas que talvez ainda me tire de casa, dependendo das possibilidades de ter um show nas proximidades ( aqui no Rio, cada vez mais raros). Eu os vi apenas no Rock in Rio , mas foi um show curto e um tanto caótico, chegamos muito em cima, ainda tentando avaliar um melhor local pra assistir. E Rock in Rio, convenhamos, não facilita ninguém nessa tentativa.
    É bom a banda ter encontrado um formato que atende a base de fãs em possivelmente toda a sua totalidade, não à toa eles continuam a manter essa formação mais “cheia”.
    Em relação ao Hammerfall, não conheço nada. Ouvi o trechinho do vídeo acima, aliás com ótima qualidade sonora, e me lembro de imediato o Saxon, banda que curto. Então de repente vem aí um gatilho para procurar entender melhor a banda.

    Parabéns pelo texto, espero que venham mais em breve!

    Alexandre

    Curtido por 1 pessoa

  4. Obrigado, Alexandre. Eu reli o texto depois e não fiquei muito contente, mas é efeito da ferrugem haha. Uma pena que você tenha conseguido vê-los apenas no Rock in Rio, porque realmente é outra experiência – e outro set list. Em 2019 Kiske até chegou a comentar que tinha apenas uma hora, então “nada de épicos de mais de 10 minutos”. Se vale de algo, sim, Helloween com esta formação e entregando o que vem entregando é sim um bom motivo para sair de casa! Hammerfall eu conheci em minha época “vou em todos os shows e depois decido se gosto da banda ou não”, e definitivamente gostei. Vai definitivamente de cada um, mas há sem dúvidas alguns pontos que lembrarão Saxon e que você vai curtir. Vou pensar numas recomendações aqui. Abraço!

    Curtir

  5. Olha, em comparação ao show que foi feito em São Paulo, achei esse palco pequeno hein?! Para um sexteto a movimentação deve ter ficado complicada. Pelas fotos você ficou na cara dos alemães – um dos privilégios da pista “comum” dos americanos.

    Caio, vou mudar de pato pra ganso aqui. Você ouve a Kiss FM ai dos USA? Eu ouço o programa do Bruno Sutter todo dia quando vou pegar minha filha na escola e direto vejo o Babu comentar algo do Caio Beraldo quando aparece um Angra ou Avantasia no programa! Eu mandei isso no grupo do whats, mas acho que você não está lá…

    Curtir

    • Fala Kelsei! Cara, vim revisitar este post por motivos (que se tornarão) óbvios e peguei este seu comentário aqui que tinha perdido por algum motivo. Sim, sou eu mesmo, eu ouço a Kiss aqui dos EUA e direto mando comentários em todos os programas. Os em que mais “apareço” são mesmo o do Sutter e o do Rodrigo Branco no fim da noite, hahaha. Abraço!

      Curtir

Deixar mensagem para Kelsei Biral Cancelar resposta