Série Novidades HM – Ano 2012

Antes de tudo, peço desculpas pelo imenso atraso. Ao criar o projeto, eu tinha o compromisso de ter um novo ano publicado a cada três (ou quatro) meses. O último capítulo foi em Fevereiro e, de lá para cá, as minhas atividades paternas quadruplicaram com uma criança a mais na casa. É tanta coisa junta que uma simples caminhada no parque é um motivo de comemoração pessoal.

Acho, inclusive, que essa minha canseira influenciou nas minhas resenhas. Manja quando acabou a pandemia e tinha gente levanto caixa de cerveja em inauguração de lombada na rua?! Então, no meu caso, acho que conseguir parar para ouvir algo era tão emocionante (ou o meu lado crítico estava exausto – ou os dois) que enquanto eu montava esse post e lia as resenhas dos meus amigos, fiquei espantando com certos comentários, que passaram longes dos meus (e que você lerá abaixo).

Lembrando que já temos tanta banda que entrou nessa série, que clicando aqui você se depara com nosso guia de sobrevivência, para você se achar no meio desse matagal de álbuns que você nunca ouviu falar.

As resenhas estão ordenadas por ordem alfabética de banda! Partiu!


Baroness  Yellow & Green

Sugestão de: Alexandre B-Side

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Alexandre: Eu realmente gostaria de entender o porquê dessa adoração a um som que fica empastelado, todo borrado de lama fuzz, entre outros efeitos como oitavações e reverbs exagerados, que entregam uma massa sonora sem muita definição onde se baseia todo o restante do desenvolvimento musical desse tal indie / sludge / alternativo. Que tal voltarmos ao bom Marshall + Guitarra? Que tal, então, usar o tal efeito aqui e ali, em um solo, e olha que eu sou um defensor de Chorus e Delay e tenho o Somewhere in Time (Iron Maiden) como um dos álbuns de melhor escolha de timbres de todos os tempos. Tudo, no entanto, tem um limite. Se hoje eu não aguento mais tanto wah-wah nos solos de uma das minhas bandas de criação (MetallicA), por que eu vou ter de ficar aturando tanta lamaceira? Bastou tirar um pouco do barro (na parte inicial de Board up the house, por exemplo), para que a sonoridade melhorasse consideravelmente. Nesse quesito de que menos é mais, Stretchmarker foi a única música que realmente o desenvolvimento dos timbres não é um desastre, tem um violão bem bonito, aliás. O vocal lembra a parte ruim do Lacuna Coil (que é o vocal masculino, desnecessário em 90% das partes na citada banda italiana). O som da bateria em boa parte do álbum parece um teclado infantil na posição rock pop 1 e, quando isso não acontece, se esparrama na mixagem em espancamento lamentável dos pratos. Isso em um álbum duplo com 18 músicas que beiram os 80 minutos. Está aqui um caso onde eu certamente não consegui entender a proposta da banda, ainda que talvez possa ser algo deste específico álbum e não na totalidade da carreira. Eu não busquei conhecer o restante da discografia, confesso que faltou motivação. Então talvez esta seja uma das análises mais pessoais que fiz na vida, pois os efeitos de guitarra se revezam na irritação que me trazem, faixa a faixa. Com certa dificuldade, consegui avaliar que a faixa Eula poderia ter um potencial, se não fosse outro apanhado de elementos que acima citei. Infelizmente, o som da guitarra está empastelado de efeitos (acrescido de um Whammy datado) e o vocal entrega uma agressividade equivocada. Que saudade do Alex Lifeson….

José Paulo: Por coincidência esse foi justamente o primeiro disco desta banda americana que ouvi. Foi uma descoberta tardia, mas bem interessante. A primeira coisa que chama a atenção em Yellow & Green é o bom gosto do trabalho gráfico, que é belíssimo! A parte musical não poderia começar melhor, a faixa instrumental de abertura, que é uma pequena introdução de pouco mais de 1 minuto e meio traz uma sutil, mas muito bonita melodia preparando o ouvinte para uma das melhores músicas do disco, a pesada e densa Take My Bones Away, contando com um fabuloso trabalho de guitarra, com destaque para o incrível riff e ótimas melodias vocais. March to the Sea, mantem o mesmo nível da faixa anterior, com belas melodias e uma base igualmente pesada, impressionando o ouvinte; afinal de contas já tínhamos uma bela capa e duas canções matadoras! Porém, a partir deste ponto, o peso das músicas diminuiu consideravelmente e, consequentemente, passam a ficar mais arrastadas e com uma certa dose de influências pop. Podemos resumir esse pensamento nas faixas Twinkler, Cocainium e Back Where I Belong, todas em sequência – o que faz o nível do álbum cair consideravelmente. A partir daí o disco começa a melhorar com temas que até me lembraram o King´s X, porém sem atingir o alto nível das faixas iniciais, se mantendo às vezes um pouco morno e alternando momentos bem interessantes como em The Line Between, com outros mais tediosos como em Stretchmarker. Com toda a certeza esse Yellow & Green está longe de ser considerado um clássico, mas por outro lado não chega a ser um disco descartável e vale muito à pena uma audição atenta. Penso que este disco foi de longe o melhor das indicações deste ano de 2012.

Kelsei: Achamos o primo otimista do Opeth! Por várias, mas várias vezes me peguei achando trechos nas canções desse álbum que se encaixariam como uma luva em álbuns do Opeth. Linhas de guitarra bem fora do convencional com certas distorções bem únicas, mas sempre em um ambiente bem menos denso instrumentalmente. As linhas de guitarra, inclusive, são hipnotizantes – as construções melódicas das cordas me chamaram tanto a atenção que a cozinha ficou apagada. Isso se deve ao fato do tal pedal de Fuzz” (é assim que fala B-Side?!) ser usado com tanta intensidade, que aquilo acaba grudando no seu ouvido e você vira um zumbi hipnotizado. Os vocais são dobrados e cheios de efeito e eu achei muito interessante a maneira como as melodias vocais e de cordas se sobrepuseram. Um álbum que entrega uma maneira diferente de fazer rock, muito criativa, cativante e que por vezes chega a acalmar a alma! Audição muito positiva, mesmo sendo um álbum muito longo (tem 1 hora e 15 min). Confesso que cansou um pouco – esse estilo se encaixaria muito bem em um álbum com uns 50 minutos. Saindo um pouco do quadrado de Yellow & Green, fica uma preocupação: eu peguei um outro álbum deles (sem pesquisar, chutei mesmo) e as músicas eram iguaizinhas, o que significa um certo desinteresse em sair dessa “zona de criação”. Mas olhando só esse álbum, abra uma garrafa de vinho e aperte o play!


Eluveitie  Helvetios

Sugestão de: Flávio Remote

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Alexandre: Vamos de Terra Média, tragam os duendes e os gnomos, pois o fole escocês já está garantido. Brincadeiras à parte, o meu ponto negativo crucial aqui é o vocal, não somente o harsh, que domina a quase totalidade do trabalho, mas também quase não curti o vocal clean muito calcado no folclore dos refrões que se misturam ao Thrash Metal desenvolvido. Em A Rose for Epona, lá para o meio do disco, finalmente apareceu um vocal mais limpo, competente, mas é isso. É uma faixa inegavelmente de proposta mais comercial, com refrão mais grudento e uso de bateria eletrônica, mesmo assim não se destaca. Em Alesia, volta o vocal limpo, um tanto inexpressivo. Outro ponto durante todo o trabalho é que a combinação  vocal + gaita de fole dão, por vezes, uma “murchada” no restante do instrumental, talvez aqui uma dificuldade de mixagem. Apesar de ter dois bumbos em profusão, não se percebe com perfeita clareza, ficaram meio abafados, principalmente na parte inicial do álbum. Imagino que seja mais desafiador juntar tanta coisa ao mesmo tempo, talvez seja isso. Os riffs de guitarra a lá “John Petrucci” até apresentam uma maior definição, maior qualidade do uso do instrumento no álbum, mas senti falta de solos também, estes ficaram restritos aos teclados e instrumentos de sopro. Não há o que questionar do trabalho, instrumental perfeito, vocal dentro do estilo que se propõe, exceto pela falta de solos. É no mínimo estranho que um trabalho que aposte nos riffs pesados deixe de lado os solos de guitarra, mas ao que parece isso se modificou nos próximos anos da banda. Eu tive a curiosidade de ver a banda ao vivo e ali os guitarristas largam o dedo. Voltando ao álbum,  as gaitas trazem um contraponto que incomoda em alguns trechos, quando somados ao restante do instrumental, mas até encontram seu espaço, por exemplo, quando usadas para contrapor a pancadaria. Para mim, no entanto, pouca coisa se destaca, é uma questão pessoal. Honestamente? Lá vai: achei um porre! Então é uma indicação para quem curte o estilo, o vocal (em especial) me coloca muito à margem de qualquer avaliação mais precisa. Embora eu talvez não tenha qualquer propriedade para uma análise mais consistente, considero que vai atingir os apreciadores do gênero, apenas faço uma ressalva à mixagem, que talvez pudesse ser mais acurada.

José Paulo: Nunca tinha escutado nada da banda, quando comecei a ouvir Helvetios pensei que se esse disco fosse lançado nos anos 90 e, se por acaso eu tivesse acesso a ele, com certeza ele ficaria no meu aparelho de som por muito, muito tempo!!! Mas hoje em dia, hummm… esse tal Folk / Celtic / Death Metal… procuro passar longe desse tipo de banda. O Eluveitie “aposta todas as suas fichas” em uma fórmula manjadíssima: instrumentos tradicionais folclóricos a exaustão, misturados com guitarras pesadas e batidas tribais, vocais bem agressivos e guturais, fazendo contraponto a suaves e melódicos vocais femininos e refrões mais acessíveis que os versos. Instrumental beirando o Death Metal em alguns momentos e, em outros, flerta com elementos e arranjos que se aproximam ao pop / rock. Ah, não podemos esquecer das narrações bem ao estilo Manowar. Então o disco é ruim? Talvez até não seja. Mas o problema é que, pelo menos para mim, esse formato já encheu. Um exemplo claro é a faixa título, o primeiro minuto da música é magnifico, mas depois disso cai na mesmice abusando de todos os clichês do gênero e toda aquela expectativa inicial vai para o espaço. Se tiver que destacar algumas músicas, diria que as que mais me agradaram, apesar do que citei anteriormente sobre os clichês, Home e The Uprising foram as que mais me agradaram.

Kelsei: Se os Vikings pulassem Carnaval, o Eluveitie ia puxar um trio elétrico sensacional! Imagina “Havoc” tocando no meio do fervo! Aquela gaita de fole junto com o violino e a flauta no meio da pancadaria da bateria! Ia ter tacape na cabeça, flechada no peito, machadada na perna… rapaz, a pipoca ia ser louca! Brincadeiras a parte, aqui, como diria o Rolf, foi ultrapassada uma fronteira. Entramos no território do Black Metal Celta, estilo que mistura regiões do norte e do centro-oeste da Europa. Aqui, em Terras Brasilis, deve dar para contar nos dedos o número de ouvintes disso. Afinal, imagina você pegar o Black Metal, com todo o gutural, distorções características e o discurso anti-cristo, e incluir as influências da música Celta (com instrumentos como gaita de fole, flauta, harpa, apitos e tambores específicos) e fraseados muito singulares de uma cultura que não tem ligação nenhuma com música feita com eletricidade (no sentido literal da palavra). Conhecia a banda, assim como um parente mais próximo, o Fintroll. Ouvia uma música aqui, outra ali, mas, em particular, nunca tinha parado para prestar atenção ao que era tocado. Eu não consegui até agora reunir os adjetivos corretos para rotular o quão sensacional é esse álbum. A quantidade de influências diferentes misturadas musicalmente aqui beira o ridículo! Helvetios é uma palavra usada para denominar os habitantes da cultura celta (que aqui englobam vários povos – o mais conhecido talvez sejam os gauleses; manja o Asterix e Obelix!?) e o álbum, pelo que eu entendi, é uma interpretação de um livro do imperador Julio Cesar, das batalhas entre Roma e os Celtas (que tem a canção “Meet the Enemy” como cerne dessa guerra). A mistura do ódio do Black Metal com a atmosfera feliz da música celta soa estranho no começo, mas depois de algumas audições a sua mente abre. As canções usam do inglês e de um dialeto gaulês (como em “Scorthed Lands” e “Luxtos”). Entre canções pesadas como “The Siege”, instrumental de metais celta em “Hope” e até no popularesco mainstream de “Rose for Ephona” (a única música que tocaria em uma rádio no Brasil), todo o álbum trabalha um único conceito: o de manter o povo celta vivo através de canções que contam a sua história. O encerramento de “Epilogue”, quando acaba a fala do narrador e entram os instrumentos de sopro, te remetem para os créditos de um filme de época (me deu vontade de ver “Coração Valente”). É história de verdade trabalhada em um álbum. Vou perder uns bons anos estudando-o. De aplaudir de pé!


Periphery  Periphery II (This time it’s personal)

Sugestão de: Kelsei

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Alexandre: Mais um álbum da lista cuja avaliação é meio prejudicada pelo gutural que permeia o trabalho todo, mas além disso não curti os teclados a lá Linkin Park que aparecem na primeira música, Muramasa. Os vocais limpos também parecem os de Chester Bennington, assim a semelhança é meio óbvia. No entanto, a partir da segunda faixa, Have a Blast, há um maior uso de riffs em afinações baixas e tempos intricados, com sonoridade que remete ao prog-metal. E é nesta mistura que entendi o estilo da banda neste instante, ao menos. Metal que mistura de prog com elementos pop / eletrônicos que criam ambiência ao som. Há alguns refrões mais acessíveis (com vocal mais limpo) dentro da pancadaria (com vocal gutural) aliados a momentos de um saudável apuro técnico, onde se destaca o baterista Matt Halpern. Como eu não curti nem a parte gutural nem a parte pop / eletrônica, não sobra muita coisa para atestar, exceto, evidentemente, pela inquestionável capacidade instrumental da banda, em especial quando se aventuram pelas linhas mais intricadas. Também há pouco espaço para solos, que são de considerável virtuosismo (quando aparecem, como, por exemplo no fim da faixa Luck as Constant). Outra passagem que consegui destacar foi o espaço dado ao citado ótimo baterista Matt, antes do outro ótimo solo de guitarra no fim da música Erised, mas em geral confesso que me perco um pouco entre a pancadaria gutural e a ambiência eletrônica que se alternam quase que ininterruptamente. E é um álbum muito longo para quem não tem conexão com o mesmo. Cansa! Considero um bom exemplo para quem gosta do estilo nu metal / eletrônico surgido ali no fim do século passado, mas gosta de mesclar com certo cuidado técnico instrumental. Seria essa a definição do tal Djent?

José Paulo: Outro grupo que não fazia a menor ideia do que se tratava. Quando ele começou já imaginei que teríamos que ouvir mais uma daquelas bandas americanas de Metalcore / Industrial ou algo desse tipo. Porém, no decorrer da audição, o som foi me causando uma boa impressão, afinal de contas, tem muito de prog metal ali… apesar do Metalcore estar sempre presente (infelizmente). Muramasa é uma boa faixa de abertura e Have a Blast continua mantendo nosso interesse na música, com suas guitarras rápidas e um instrumental que em vários momentos nos remete ao som do Dream Theater. Já a partir da terceira faixa a fórmula do disco começa a cansar. Uma canção intitulada Ji chega a causar um certo incomodo, assim como Ragnarok, apesar das suas mudanças de tempo. E o disco vai passando sem que nada chame realmente a atenção até chegar em Erised, que achei a melhor do disco, não por coincidência tem a participação de John Petrucci – realmente o cara faz a diferença. Por falar em participação, o exímio guitarrista Guthrie Govan (Asia, GPS) também toca em Have a Blast. Mile Zero e Masamune”, embora sejam boas músicas, não chegam ao ponto de me fazer ter vontade de ouvir o disco mais uma vez além das audições feitas para a resenha. A conclusão que cheguei após 68 minutos de Periphery II: This Time It’s Personal é que ele cansa… e muito.

Kelsei: Antes de iniciar a resenha, vale lembrar que saio atrás do placar antes do jogo começar. Vamos voltar alguns episódios atrás e relembrar 2008, quando a banda canadense Protest The Hero foi indicada e eu acabei citando o Periphery na minha resenha. Os americanos usam e abusam do que é possível para entregar um som ritmicamente quebrado, tecnológico, agressivo e criativo. Não interessa se uma música vai começar com um violino, se entre duas canções haverá um interlúdio de bateria eletrônica com sons computadorizados ou se do nada a pauleira acaba para dar espaço a um dueto de violões, os caras não tem medo de arriscar. O resultado acaba sendo uma senóide musical diferente a cada minuto dos quase 70 minutos totais, o que exige do ouvinte ao passar as 14 faixas. O trio inicial Muramasa / Have a Blast / Facepalm Mute para mim é imbatível, mas muitos são os destaques do álbum, como Luck As A Contest, Erised e a minha preferida, Mile Zero. O guitarrista dessa banda, Misha Mansoor, inclusive, foi quem inventou o termo “Djent”, que nem era para se referenciar a um estilo musical, e sim à uma base rítmica criada fora dos padrões das palhetadas convencionais, mas que hoje dá nome ao mais novo estilo musical existente (mas que não é, ok?! Djent é um rótulo errado – inclusive esse tema perdeu tanto o controle que o quinto álbum do Periphery leva o subtítulo “Djent is not a genre”). A partir daqui temos uma maior popularização de bandas que vão deixar as estruturas musicais clássicas (Verso / Ponte / Refrão) para trás e vão trabalhar o ritmo de uma maneira muito mais dinâmica e sem regras. Nos próximos anos me arrisco a dizer que certamente vamos trombar com essa ideia musical novamente. Vale uma audição carinhosa e cuidadosa! Pode mudar sua vida! Mudou a minha.


Silver Horses  Silver Horses

Sugestão de: José Paulo, o JP – “A” Enciclopédia

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Alexandre: Impossível não identificar a voz do Tony Martin logo no início do trabalho, e que surpresa, com uma sonoridade que remete ao Led Zeppelin, especificamente, e não ao Black Sabbath, que era o mais esperado. E não é que o trabalho é bem “bacanudo”? Sem soar como uma cópia descarada, com um bom instrumental e ótimo vocal, esse Silver Horses se destaca na lista, facilmente. Ainda que não haja qualquer novidade aqui, é um disco bem agradável de ouvir. Já na primeira faixa, a harmônica de Martin se complementa a um Hard de primeira. Aliás, outra boa surpresa é saber que Tony não faz feio mesmo na gaita. Run, a segunda faixa, se distancia um pouco da influência principal, mas agrada bastante também. Simples, direta ao ponto, tudo no lugar certinho. Life and Soul, que se segue, aposta nos violões e quebradas de bateria, bem calcado no Zeppelin, mas o vocal de Martin não tenta ser uma cópia de Robert Plant, e simplesmente se prende a melodia da canção. O resultado é muito bom também. Entendo que esse é o maior trunfo do álbum. Apesar de ser bastante influenciado pelo Led Zeppelin, o resultado não é uma mera cópia pelas escolhas de Martin, que foge das linhas de Plant e entrega um vocal que imprime a sua marca. A mistura é muito bem vinda, ainda que a banda talvez tenha exagerado em alguns arranjos. A faixa Diamond Sky tem muito de Friends, do Led Zeppelin 3.  Quando se distancia da influência principal, como na balada Suddenly Lost, recheada de pianos, o trabalho é ainda mais elogiável. Aqui fica, então, a minha maior preocupação: ainda que o trabalho mereça justos parabéns, a banda precisa ficar atenta a não cair no lugar comum do que pode ser simples cópia da influência principal. Isso não depõe contra uma banda que é cirúrgica nos solos, tem um competente baterista, aposta com competência nos violões e acha espaço até para uma ou outra passagem de baixo fretless durante o álbum. Aqui todos complementam muito bem o vocal de Martin. No entanto, em trechos de determinadas faixas, eles beiraram o “copy and paste Zeppeliano”, na faixa-título e em You’re Breaking My Heart, por exemplo. Martin soube fugir disso, entregar um ótimo vocal que se soma a um competente instrumental. O resultado final é muito legal, indicado a quem gosta da sonoridade dos anos 70 somada ao talento de Tony. E quem curte o trabalho dele no Sabbath pode ir sem susto também.

José Paulo: Primeiro trabalho do grupo italiano que conta com o vocalista Tony Martin, eterno ex-Black Sabbath. Antes de ouvir o disco, confesso que esperar algo no nível de um Cross Purposes ou Headless Cross estava muito além da minha expectativa, mas quem sabe poderia soar como um Forbbiden, pois, afinal de contas, a gente pensa que quem escolhe chamar o Tony Martin para ser vocal de sua banda é porque quer seguir um som tipo Sabbath e com toda a certeza um Forbbiden para uma banda desconhecida como o Silver Horses já seria satisfatório. Quando começou Rub It on Me até acreditei que isso seria possível: uma linha de baixo “bem na cara” e um riff de guitarra bem legal; mas o som, apesar de não ser ruim, estava longe do Black Sabbath. Fazendo uma grotesca analogia, seria como ouvir o primeiro disco do Badlands, em vez de soar Black Sabbath, o que “explodia” nos alto-falantes era um Hard influenciado por Led Zeppelin. E é mais ou menos isso: o Silver Horses tem muito mais de Zeppelin no seu som do que Sabbath, mas a maior diferença entre o Badlands e o Silver Horses é que o primeiro tinha em suas fileiras Jake E. Lee, Ray Gillen, Greg Chaisson e Eric Singer, enquanto o Silver Horses tem Tony Martin, Gianluca Galli, Andrea Castelli e Bona Bonini. Só por este quesito temos a noção da gigantesca diferença entre os lançamentos de estreias das duas bandas citadas. O disco tem até uma música ou outra legal, como a acelerada Run, que tem um solo de guitarra curto, mas bem eficiente. O tema que leva o nome do grupo em uma linha mais acústica é outra que apesar de simples é bem agradável de ouvir, mesmo não trazendo nada de extraordinário. Mas também tem o lado ruim do disco e canções bem chatas por sinal, como a Life and Soul e Diamond Sky que são uma tentativa de soar como Badlands ou Led Zeppelin, realmente até lembra, mas ao invés de ter a qualidade das bandas citadas se parece mais com uma indigestão causada por overdose de toicinho de porco. Algumas coisas são difíceis de entender, como por exemplo, a faixa Secret Service que tem um bom riff e um refrão agradável, bem melódico, mas o restante é de um mau gosto absurdo, assim como o riff principal de Me (sabe aquele riff que gruda?). Quando o disco acaba a gente fica com esse riff na cabeça, para dizer o mínimo: irritante. É, o tal de Tony Martin não se ajuda mesmo…Ps. Agradecimentos ao Alexandre, que foi o verdadeiro responsável por este disco estar aqui.

Kelsei: Cavalgando desde à Itália para chegar aos nossos ouvidos, esses cavalos de prata tem em seu debut uma grande influência de Led Zeppelin e rock setentista em sua essência, com pitadas de Black Sabbath e blues-country em certas bases. Nesse álbum especificamente, o vocalista é um tal de Tony Martin, que tem a mãe dele e o Rolf entre seus principais fãs! A primeira faixa, Rub It On Me, tem uma gaita que, se eu fosse o produtor, ia obrigá-los a usá-la em todo o álbum, porque ficou muito autêntica ao som proposto. Outros elementos trazem um pouco de versatilidade às canções, como um fraseado de violino em Diamond Sky, certa orquestração em Secret Service (que faixa do ursinho hein!?) e um lindo piano em Suddently Lost (acompanhados de solos de guitarra de arrepiar). O violão também dá as caras em algumas canções, como na excelente faixa homônima. Esse álbum é um exemplo certeiro de como lapidar um estilo que já é muito bom! A turma do Zepellin deve estar orgulhosa! Eu estou! Baita álbum! Quero mais desse molho italiano no meu macarrão! Li que o ídolo do Rolf não está mais na banda, o que é uma pena, pois achei que o Tony Martin tinha se encontrado em um estilo mais Hard do que aquele que o popularizou.


Threshold  March of Progress

Sugestão de: Eduardo Schmitt

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Alexandre: Well……Se a questão a se ater às regras desta série, talvez esse álbum devesse ficar de fora, pois o surgimento da banda remete ao fim dos anos 80. Não é, no entanto, que o álbum é bem interessante, e “sobra“ nessa turma? Então que tal deixar a tal regra de lado? Vejamos, eu não me apaixonei completamente pelo trabalho, mas curti bastante o conteúdo, que remete principalmente ao neo progressivo do início dos anos 80, mas também agrega o prog-metal com bastante harmonia, aposta em climas positivos com dedilhados e teclados, refrões cativantes, ótima cozinha, espaço para intervenções instrumentais e excelentes solos de guitarra. Novamente considero que o álbum é um pouco extenso e pode cansar boa parte dos ouvintes. No meu caso, no entanto, ele vem entrando em uma outra categoria: quanto mais eu ouço, mais eu gosto dele. Há uma certa polidez (em especial nos backings, que remetem ao Yes dos anos 80) que pode passar do ponto para alguns apreciadores, mas para mim ficou dentro de uma super saudosa zona de tolerância. Se há alguma dúvida do que quis aqui exemplificar, basta ouvir o refrão de Colophon. E boa parte dessas faixas, onde destaco Liberty, Complacency, Dependency, uma das minhas favoritas, entraria facilmente no 90125 (Yes em 1983, um clássico absoluto da fase 80s da banda) sem comprometer em nada o álbum. Ao mesmo tempo que a polidez citada pode ser um empecilho, é preciso elogiar a claridade e transparência de cada frase cantada pelo ótimo vocalista Damian Wilson – se destacando no meio de tanta gente boa. Outra influência muito evidente e que também é impossível não citar (novamente) o Dream Theater, nos solos, nos riffs, no timbre das guitarras de Karl Groom e Pete Morten.  Então, misture o Yes dos anos 80 com o Dream Theater dos anos 90 e vem ser feliz. Se você não curte nenhum dos dois, nem perca seu tempo. 

José Paulo: Neste décimo álbum de estúdio do experiente grupo britânico de Metal Progressivo temos a volta do vocalista Damian Wilson, que gravou o excelente Extinct Instinct lançado em 97. March of Progress, me pareceu um pouco mais acessível e melódico que os álbuns anteriores, apesar da guitarra de Karl Groon continuar com seu timbre pesado. É notório até uma influência mais forte de Hard Rock misturada com uma pequena dose de Angra em alguns momentos. Ashes, a faixa que abre o disco é um bom exemplo disso, penso que é uma das melhores justamente por entregar uma composição mais enxuta. Por outro lado, Liberty, Complacency, Dependency, apesar de ter bons momentos e um ótimo trabalho vocal, seus quase 8 minutos cansam o ouvinte (acho que se seguissem o exemplo da faixa de abertura e limassem uns 2 minutos, poderia melhorar um bocado). Por falar em vocais, as linhas de Colophon me lembraram algo como se o Yes ou Asia resolvesse fazer Heavy Metal… bem interessante. Nesse mesmo sentido segue Don´t Look Down, com elementos e melodias vocais que me fez lembrar imediatamente o Asia da fase John Payne, com certeza essa é outra que está entre minhas preferidas, apesar dos seus mais de 8 minutos. A conclusão que chego ao final do disco é justamente tudo aquilo que podemos esperar de um grupo de Prog Metal e a canção The Rubicon sintetiza tudo isso, ou seja: músicos habilidosos, boas melodias vocais e muitos solos de guitarras, na maioria das vezes bem inspirados, temas que poderiam ser mais sucintos e menos cansativos. Um bom disco que surpreende pela boa pegada Hard. Recomendo!

Kelsei: Aqui temos algo bem oposto ao intuito da série, pois se você acha que os britânicos da Threshold são mais uma banda influenciada pelo Dream Theater, saiba que eles já existiam antes de Portnoy e Petrucci entrarem na Berkley. A banda foi formada no final da década de 80 e tem uma vasta discografia. Infelizmente eles não são conhecidos aqui no Brasil da forma que deveriam. Talvez esse fato enganou o indicador do álbum por achar ser uma novidade. Essa banda tem músicos bem talentosos e excelentes álbuns. March of Progress é um álbum muito bom, apresentando um metal progressivo com um lado mais Marillion / Rush em certas faixas, além de doses de Yes. A banda aposta em riffs pesados contrapondo com um teclado muitas vezes mainstream, deixando a sonoridade mais leve e não cansando o ouvinte. Certas entradas do teclado são tão à moda “Disney” e ao mesmo tempo de uma genialidade absurda. Faixas como “Ashes” (à propósito, uma das melhores faixas de abertura que ouço em muito tempo), “The Hours” e “The Rubicon” são para lá de sensacionais. Certas faixas são mais enxutas, o que acaba por não me prender quando o estilo é mais complexo, mas ainda assim dou créditos à ótima “Coda”. Mesmo não sendo uma novidade, uma excelente indicação!


Insisto: se você quiser resenhar, deixe nos comentários o seu email e mandarei a leva do próximo ano. Que venha 2013 (e que venha bem antes de mais sete meses adiante)!

Beijo nas crianças!

Kelsei



Categorias:Artistas, Curiosidades, Discografias, Linkin Park, Músicas, Resenhas

1 resposta

  1. Bem, isso vem virando uma salada de percepções diferentes, e ainda que eu entenda que cada um de nós tenha o saudável direito de divergir do outro, que é o que respeitosamente acontece, entendo que nesses recentes anos dificilmente vai haver algo que 1) esteja mal gravado, tecnicamente ruim e 2) seja ao mesmo tempo inovador e memorável.
    Assim, cada um de nós vai baseando mais em gosto pessoal e talvez sem tanto entusiasmo, aqui eu escrevo mais por mim, mas vejo algo parecido em boa parte das demais resenhas. E acaba trazendo contradições como a minha indicação, veja só, talvez seja eu o que menos gostou dela.
    Bom de fato neste ano foi o Threshold. Esse eu apostaria mais fichas, embora ainda não tenha feito e sabe-se lá se farei. O projeto do Tony Martin é ótimo, mas é um projeto sem muita continuidade. Vale com um único ás de ouros de um baralho.
    Vamos para 2013!

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