Série Novidades HM – Ano 2008

E vamos para mais um episódio da série Novidades HM onde eu não acerto o tamanho da imagem destacada para o post! Ahhh como eu amo o WordPress! Mas deixemos as mágoas desse editor para trás e vamos nos preparar para mais um ano! Já já completaremos uma década de álbuns ouvidos – quem diria! Só tenho a agradecer pela galera me aguentando!

Nesse ano de 2008 não teremos novamente a presença do Flávio, que, por motivos particulares, está enrolado. Torcendo para que tudo se resolva logo, camarada!

Lembrando que a ordem abaixo é alfabética pelo nome da banda.

Atualização: acesse nosso guia da série, com todos os anos até o momento resenhados, clicando aqui.


Benedictum – Seasons Of Tragedy

Sugestão de: Flávio Remote
Ouça você também:

Alexandre: Começa com toda a cara de power/metal espadinha óbvio na faixa introdutória, mas na verdade há, logo depois, uma transição para um heavy metal mais clássico em Shell Shock, com um vocal mais agressivo e calcado nos riffs de guitarra, que é o que se percebe no restante do álbum. A novidade é um ótimo vocal de Verônica, agressivo na medida certa na maior parte do trabalho, com alguns poucos momentos cleans onde se percebe mais claramente o timbre feminino. Se não fossem esses momentos, uma audição mais desavisada talvez não percebesse a questão. A banda conduz boa parte dos refrãos a lá Accept e uma pegada próxima da sonoridade da banda Dio, um pouco mais acelerada e pesada em boa parte do tempo, em verdade. Os músicos são bastante competentes em funções, me chamou a atenção o ótimo timbre do baixo, cortesia e ajuda do produtor, eventualmente. O teclado é mais discreto, a cargo de um músico convidado. A guitarra solo na faixa Bares Bones é do George Lynch, que dá uma força provavelmente pelo pedido do seu colega no Dokken e então produtor aqui Jeff Pilsen. A faixa-título é um pouco mais ambiciosa com longa duração e mais recheada de teclados, assim como a balada Steel Rain, e essas no meu entender destoam um pouco no trabalho, mas num geral é um disco é bem coeso. Destaco Nobodies Victim, um vocal mais linha do Judas Priest. O bônus é uma agradável versão do clássico Catch to the Rainbow (Rainbow), funciona bem, apesar de algum exagero vocal mais no fim da canção e um arranjo meio equivocado de bateria. O cover principal, encaixado entre as inéditas, é do clássico Balls to the Wall, do Accept, também me agradou, ou seja, tá aqui uma ótima oportunidade para os apreciadores do heavy metal mais clássico dos anos 80 e 90. Fica na minha lista, vou atrás de conhecer os outros trabalhos.

Eduardo: Excelente começo de álbuns de 2008. Uma banda de heavy metal tradicional, com uma excelente vocalista mulher – Veronica Freeman. O co-criador da banda, Pete Wells, apresenta uma coleção muito interessante de riffs. A maioria das composições vicejam em um andamento acelerado e um timbre de voz rasgado. George Lynch e Craig Goldy fazem participações especiais. Jeff Pilson, baixista experiente, que já tocou em bandas como Dokken, Foreigner e Dio, faz as funções de produção. Esta produção é pontuada de escolhas um tanto “modernosas” que não me soam as melhores, mas modo geral o trabalho é bom. Eu destaco as canções “Legacy”, Shell Shock e Nobodies Victim. E, agradeçamos aos céus, uma balada de boa qualidade: pesada, arrastada, com profundidade. A versão de Balls to the Wall, ainda que faça justa homenagem a este clássico absoluto, não acrescenta muito ao petardo sonoro. Bem feito, e só.

José Paulo: U.S. Metal clássico, que nos faz lembrar de grupos como Savatage, Jag Panzer, Vicious Rumors e Chastain, este último também pelo fato de ter uma vocalista, mas apesar das boas referências e influências, o Benedictum ainda segue em um nível bem abaixo das bandas citadas. Porém se não é aquele som descartável, tão pouco empolga em sua primeira audição, já que pelo menos para mim, na maioria do tempo me soou um pouco genérico e comum, sem grandes atrativos. Penso que ouvir um Heavy Metal tradicional não é sacrifício nenhum e este Seasons of Tragedy, mesmo com todos os defeitos citados logo acima, até passou bem, porém com muitas ressalvas. Confesso que em vários momentos um certo incômodo invadiu minha alma, principalmente o péssimo hábito de tentar impor um certo groovy que não combina com o tipo de som abordado e o maior exemplo disso foi o cover de Balls to the Wall. Bare Bones começa muito bem, com boas ideias, tem até a participação do George Lynch, mas no final da música a banda resolve colocar uns efeitos de DJs ou sei lá do que se trata aquilo e ferra tudo! O começo de Beast in the Field me lembrou algo do Savatage e tem um ótimo refrão, mas os backing vocals e alguns timbres de guitarra são de gosto duvidoso. Legacy é outra boa faixa, mas os teclados, principalmente aquele que faz a base é enjoativo, assim como Steel Rain que é boa, mais cadenciada e me fez lembrar de Queensryche, mas aquele sonzinho da “cama” de teclado é chato demais. O ponto alto do disco é a faixa título, ótima interpretação da vocalista Veronica Freeman e belas melodias, além disso uma guitarra muito inspirada chama a atenção, porém um sintetizador e o tal tecladinho continuaram me causando um desconforto e uma indagação: para que isso em todas as músicas? O resultado é um disco OK, nota 5.

Kelsei: Mais um álbum que sou enganado pela capa. Pensei que iria vir um death metal das profundezas da terra do fogo ardente e vem uma banda de heavy rock com vocal feminino. Enquanto ouvia o álbum, lembrei da primeira vez que ouvi a Doro Pesch: era tudo muito bem tocado, mas não empolgava. Aqui é a mesma coisa: uma gelatina de chuchu! Tudo muito igual, inclusive igual a muita outra banda por aí, e o som não passa emoção. Tanto que a primeira vez que eu fiquei empolgado (tirando o início do álbum, já que eu achava que vinha um death metal) foi quando o cover de Balls to the Wall, do Accept, apareceu. A melhor faixa autoral deles fica com a faixa homônima ao álbum, mas a banda será esquecida por mim tão logo eu finalize esse parágrafo.


Eclipse – Are You Ready To Rock?

Sugestão de: José Paulo, o JP – A Enciclopédia
Ouça você também:

Alexandre: Começa o álbum e eu penso logo de cara quantas mil vezes o autor da faixa de abertura ouviu a faixa título do álbum Slip of The Tongue, tal a semelhança estrutural entre as canções. O vocal, no entanto, não é chupado da linha Coverdale, apesar de ter um timbre bastante comum. E o resultado é um hard rock menos farofa do que o mais conhecido na cena clássica de Los Angeles e tão competente quanto esquecível. As músicas se situam em um lugar bastante comum ao gênero e a produção me soa diluída até para os padrões californianos. O final acústico de To Mend a Broken Heart me lembra do trecho também final do clássico Heaven and Hell e é algo que melhor consigo destacar deste óbvio hard rock sueco pós anos 2000 lançado obviamente, pela gravadora Frontiers. A música que pior incomodou do ponto de vista de ser clone de algo foi a faixa 2 souls, que começa promissora, com uma introdução de banjo – depois vira uma mistureba dentro de um razoável peso não encontrado dentro do resto do cd. O final do solo é igual ao final do solo de No More Tears. Fazer o quê, né? Do ponto de vista individual, o guitarrista obviamente se destaca, com um solo à la Ritchie Blackmore (em Death Alley Driver, do Rainbow) na faixa Hard Time Loving You e bases chupadas das frases palhetadas por John Sykes na bíblia do gênero, o Whitesnake 87. Pelo menos não é uma esquisitice musical não digerível. A produção, no entanto, bota um pé no pop/rock enquanto o outro tenta se sustentar em um hard para lá de manjado, embora bem tocado e cantado. Assim, eu passo. Só pros nerds do gênero vale.

Eduardo: Um álbum que abre com uma cama de teclados com aquela sonoridade de comercial de família feliz e um pote de margarina, não é um bom presságio. Pois no presente caso, no terceiro álbum desta banda proveniente da Suécia, a primeira impressão não é totalmente confirmada pelo restante da bolacha. A banda apresenta um hard rock muito bem produzido e composto. Passa por todas as convenções do gênero, incluindo aí a introdução em camadas de teclados. Refrões que grudam e em coros harmônicos. Para quem gosta do gênero é um prato cheíssimo, transbordando. Apesar de em pouca quantidade e duração, gostei dos solos de guitarra. Destaco as faixas “Hard time Loving You”, que possui um andamento mais acelerado (e lembra uma sonoridade de Glenn Hughes solo) e “Call of the Wild” com um riff bem animado. Em resumo, esta audição trará, para os apreciadores do estilo, satisfação garantida, diversão à pampas, ainda que não traga novidades artísticas a cada acorde. Enjoyable.

José Paulo: Capitaneado pela dupla de multi-instrumentistas e multi-bandas Erik Martensson e Magnus Henriksson, os suecos do Eclipse fazem aquele típico som dos grupos que integram o cast da gravadora italiana Frontiers, ou seja, Hard Rock melódico e pasteurizado. Conheci o Eclipse percorrendo o caminho inverso, pois resolvi ouvir a banda por causa do projeto paralelo dos músicos, o W.E.T. grupo esse que acho simplesmente fantástico. E de certa forma, ao ouvir o disco pela primeira vez não deixei de me decepcionar um pouco, talvez por estar com uma expectativa muito acima do que a banda pode entregar, justamente por causa do W.E.T. Tudo bem que são grupos do mesmo estilo, possuírem alguns músicos em comum, até estão na mesma gravadora, mas a grande diferença é que o Eclipse não tem um vocalista chamado Jeff Scott Soto e o W.E.T. sim! Analisando friamente, Are You Ready to Rock nos oferece uma bela produção/gravação, músicos muito acima da média e composições bem construídas e consistentes, arranjos, harmonias e melodias muito agradáveis e letras Hard Rock clichês. As minhas preferidas são: Unbreakable, Hard Time Loving You e Million Miles Away, que nos remete aqueles grupos clássicos do estilo, como o Journey por exemplo. Já como ponto fraco, podemos citar as letras genéricas, as fórmulas musicais meio repetitivas e as faixas Young Guns e 2 Souls. Se você não for muito exigente e gosta de um Hard Rock melódico e muito bem executado, músicos talentosos, talvez o Eclipse possa lhe proporcionar momentos bem agradáveis.

Kelsei: Apesar de uma enchurrada de chavões oitentistas escancarados ao ouvido (a primeira faixa já entrega muito bem esse cartão de visitas), a audição desse álbum me passou bem positiva. Um hard rock bem para cima, que flerta com momentos mais acelerados, com pequenas frases usadas no metal. E, por razões óbvias, foram nessas faixas, que eu me calquei para falar muito bem desse álbum: Hometown Calling (desculpem, mas fui pego pelo refrão grudento), Wylde One (que beleza o solo de tapping!) e Hard Time Loving You (até lembrou o Helloween no fraseado rápido) pode ouvir sem medo, mesmo se você não gostar de bandas do estilo Hard. Agora, não pense que esses competentes músicos deixam barato não. Unbreakable, Miliion Miles Away e Call Of The Wild são faixas bem mais voltadas ao hard, mas que eu gostei bastante (olha aqui eu falando bem de novo do estilo … quem nunca!). Depois eu fui pesquisar um pouco e vi que os guitarristas também formaram o W.E.T. (aqui, com o Jeff Scott Soto – essa banda é imperdível!). Toda geração tem seu Whitesnake e, pelo jeito, a dupla Erik Martensson / Magnus Henriksson podem muito bem representar o estilo hard para os novos ouvintes!


Protest The Hero – Fortress

Sugestão de: Alexandre B-Side
Ouça você também:

Alexandre: Impressionante a capacidade técnica observada aqui, impressionante o vigor físico do baterista, tal a sorte incomensurável de blasts beats que o mesmo desfila durante todo o álbum. O restante da banda também é admirável do ponto de vista do virtuosismo, mas evidentemente que isso precisa necessariamente se traduzir em canções. Confesso que neste quesito tive bastante dificuldade de enxergar uma música mais específica como um conjunto de ideias (que em um geral são bem boas) que se conectam durante os seus minutos. Talvez faltasse ouvir mais vezes para poder entender melhor um som tão complexo, mas aí esbarro na minha segunda dificuldade muito pessoal, que é esse vocal urrando em boa parte do tempo, e ainda que não seja o somente isso que o moço faz, ele arrisca esse gutural mais agudo em todas as músicas e de forma bem abundante. Nem posso considerá-lo tecnicamente um ponto fraco do trabalho, pois o vocal, quando limpo, tem bastante qualidade, lembra-me o Joey Belladonna (Anthrax) dentro da pancadaria por vários momentos. A desejar também fica certo exagero de vozes dobradas onde ele não “urra”. Se fosse um vocal mais limpo e não exagerado na dobra, como por exemplo, em cerca de 3 minutos e meio da faixa Bone Marrow, acho que eu conseguiria fazer uma análise mais isenta. Preciso então encerrar este comentário ressaltando que não entendo ser um álbum ruim, muito pelo contrário, acho-o além de inovador, especialmente competente. Destaco, obviamente, as vinhetas de piano onde mais uma faceta dos excelentes músicos apareceu, são dois trechos (um ao final de Bone Marrow e o outro, ainda mais bonito, também no final da faixa Spoils) espetaculares e que me agradaram bastante. E também destaco a faixa final, Godess Gagged, por tê-la entendido melhor do que as demais.

Eduardo: Este é o segundo álbum da banda de rock progressivo canadense. O álbum é dividido em três porções, separadas por interlúdios de piano. A banda apresenta uma sonoridade bastante agressiva, com pitadas de vocal gutural. Desde os primeiros acordes, chama atenção às diversas mudanças de andamento, e “quebradas” ao longo de cada composição. Impossível não destacar a performance do baterista Moe Carlson. Destaco as canções “Spoils” e “Sequoia Throne”, com uma intricada linha melódica de guitarras, bem interessante. É um trabalho com uma presença bem marcante. Não passa despercebido. Não é para todos os ouvidos (haja vista a presença de vocais guturais – sempre divisivo no mundo musical). De qualquer modo, merece atentiva consideração.

José Paulo: Ao ouvir este disco cheguei a uma simples conclusão: o Alexandre nunca foi tão “B Side” quanto nessa indicação de 2008! Afinal de contas nunca tinha ouvido falar dessa banda e confesso que tive uma certa dificuldade de saber mais sobre esses canadenses, porém essa dificuldade nem chega perto daquela que temos ao tentar entender o som da banda. Fazendo uma certa analogia, tentemos imaginar que um certo dia um cozinheiro resolve fazer a melhor comida do mundo então ele pensa “se eu usar só ingredientes saborosos não tem como a comida ficar ruim”. Aí ele pega um caldeirão e vai colocando dentro dele um bom pedaço de bacon, cebola, arroz, decide colocar macarrão também, uma feijoada cai muito bem, para agradar quem gosta de peixe sushi e sashimi, uma bela picanha e porque não misturar a tudo isso salada de fruta e sorvete, mas tem que ser napolitano afinal tem três sabores e vai colocando, colocando… O som do Protest the Hero é mais ou menos isso, em uma mesma música ouvimos um instrumental prog metal com uns riffs thrash anos 80’s, a banda consegue misturar algo na linha de Dream Theater e Fates Warning com o já citado thrash americano como o Anthrax, “metal pula-pula”, com pitadas de metal melódico e o que mais dá pra imaginar. O vocalista Rody Walker consegue a proeza de cantar na mesma estrofe de forma melódica, gutural, gritar e urrar, a impressão que temos é que estamos ouvindo aquelas bandas com dois ou três vocalistas. Apesar de tudo isso, podemos dizer que é um disco ruim? Não. Então é um disco bom? Ainda não posso dizer isso também! O fato é que Fortress é um disco no mínimo desafiante, diferente e que na segunda audição melhorou consideravelmente, como destaque inicial cito o baixista Arif Mirabdolbaghi, apesar de que todos os músicos estão bem acima da média. E no final cheguei à uma conclusão bastante simples: não conclui nada e que com toda a certeza tentarei me aprofundar mais no som que a banda faz. Porém se tivesse que citar algum grupo (que conheço) que mais se aproxima do som feito pelo Protest the Hero, mesmo que bem distante, esse seria o Anacrusis.

Kelsei: Já diria um chavão de um conhecidíssimo quadro de comédia: … mas a vida … a vida é uma caixinha de surpresas. Tenho certeza que a maioria aqui deve passar o som feito pelo Protest The Hero, banda canadense que eu, particularmente, nunca tinha ouvido falar. Mas a questão aqui não é a estruturação musical, que deixa melodias de lado para se calcar em um ritmo pesado e quebrado, aglomerado a fraseados complexos, curtos e bem rápidos, colocados de maneira esporádia e em momentos que não estamos acostumados a ouvir (como no meio de um refrão, por exemplo – ou seja, totalmente independente das linhas vocais); ou então da voz, que é uma bipolaridade ambulante entre gritos rasgados, urros e, do nada, torna-se limpa e voltada ao mainstream. Para você entender a importância dessa indicação, coloque na sua cabeça que esse álbum entrega a semente musical de tudo (repito, TUDO!) o que será produzido em termos de metal contemporâneo da última década que vivemos. Eu achava que o Periphery era quem tinha inventado esse som! Mas não! Eles foram influênciados pelo Protest The Hero, que entrega a gravação mais antiga que tive (agora) conhecimento: o som que moldaria a nova geração desse planeta! O arsenal de bandas novas nasceu através disso aqui: Periphery (que eu conheço e ouço) e uma chuvarada de bandas ao estilo The Raven Claw (a banda do filho do Steve Harris), os exemplos extrapolam o meu pequeno conhecimento desse mundo, que não sei rotular até hoje (que tal hard death metalcore thrasheiro melódico”?!). O estilo Djent, que hoje domina parte do cenário (infelizmente), como o Jinjer (a sensação do momento), não existiria sem isso aqui. Estava eu lá, quietinho, achando que conhecia alguma coisa, quando o B-Side chega com uma tocha e me tira da caverna. Um mundo novo se abriu. Se o álbum é bom? Imperdível! Indicação mais que certeira! Ganhei uma nova banda preferida!


Seventh Wonder – Mercy Falls

Sugestão de: Kelsei
Ouça você também:

Alexandre: Aqui voltamos para a Suécia, em mais uma experiência na linha prog-metal pós a influência que o Dream Theater deixou em quase todos que buscam essa linha. Trata-se de um álbum conceitual, cuja história é uma verdadeira tragédia, e que pode ser acompanhada em parte, se em uma audição atenta às letras, com um razoável conhecimento de inglês. Confesso que a parte do enredo lírico me prendeu mais a atenção do que o instrumental. Esse é perfeito, e ao mesmo tempo previsível dentro da imprevisibilidade que um som progressivo pode trazer. O vocal é muito bom, bastante calcado nos padrões do AOR americano; ou seja, mesmo muito bom, é muito comum. Os backings passam do ponto da artificialidade. Ao vivo a banda nem se preocupa em tentar esconder que eles são pré-gravados, outra lástima. Não gostei, pasteurizados demais. O instrumental é de excelente nível, mas algo já bastante conhecido dentro do estilo e as canções não saltam aos ouvidos, a que mais me chamou a atenção é um quase metal melódico que fecha o disco, The Black Parade. O disco é grande demais, cansa. Então, trazidas essas linhas acima acerca da parte musical, apenas acrescento que gostei da participação com bastante espaço para o baixista Andreas Blomqvist, há em algumas faixas um virtuosismo nele (acrescido ao guitarrista Johan Liefvendahl) que saiu um pouco do lugar comum. Em especial, na parte inicial de Break The Silence, após a introdução mais lenta. Aliás, essa introdução atesta a capacidade vocal do tal Tommy Karevik. Há um alcance agudo espetacular e mesmo em um timbre comum preciso ressaltar sua competência. Falta canção (em especial originalidade) dentro da inquestionável capacidade técnica dos músicos, o que se ouve aqui é um Dream Theater pra cá, um Stratovarius ali, um Pain of Salvation por lá, ou um Symphony X acolá. Não percebi uma passagem mais “chupada de uma faixa específica de alguma dessas bandas, exceto num trecho de Destiny Calls, onde a levada de guitarra/bateria lembra muito Home, do álbum Scenes From a Memory (Dream Theater). De resto, são influências explícitas, mas quase não percebi referências imediatas. Sobra então a tragédia lírica que, como citado acima, me prendeu um pouco mais da atenção. A história traz um cara em coma após um acidente de carro, que passa por uma intervenção cirúrgica e não sobrevive. Sua esposa então tem a pesada decisão de desligar os aparelhos após a tentativa infrutifera. O disco assim vai acabando e a faixa Back in Time, a penúltima, traz um retorno ao momento do acidente, onde a tragédia que a princípio me fazia até sentido, perde totalmente o propósito e se torna uma novela mexicana de quinta categoria, em função deste momento da batida de seu carro. O que se percebe é que a esposa resolve, no meio de um temporal e com o seu marido ao volante, que aquele era o melhor momento para contar-lhe que seu filho não era dele. Aí eu fui ler a sinopse em detalhes, em pesquisa pela internet, e descobri que a novela mexicana pode e é ainda muito pior e mais sem sentido, mas isso eu nem vou me dar ao trabalho de escrever aqui, pois é muita xaropada e algo que beira a incredulidade. Desculpem, não deu…

Eduardo: Esse é o terceiro álbum dessa banda de metal progressivo, criado na Suécia. Vou direto ao ponto: o álbum é muito sólido. Composições que destacam a habilidade técnica dos componentes, mas que também deixam espaço para uma construção emocional. O vocalista não tem o timbre mais bonito do planeta, mas faz um excelente trabalho com as cordas vocais que tem à disposição. Para ser extremamente criterioso, provavelmente não usaria os coros vocais do jeito que foram, mas isso é um detalhe menor. Normalmente não me preocupo tanto com as letras, mas nesse álbum conceitual, as músicas refletem perfeitamente o estado emocional do trecho da história sendo contada: uma pessoa, após um grave acidente automobilístico, enquanto em coma, cria uma cidade fictícia em sua cabeça – Mercy Falls – enquanto sua família lida com as consequências reais do acidente. Muito interessante. Merece, e muito, ser ouvido.

José Paulo: A primeira vez que tive contato com a banda foi há alguns anos atrás com o álbum The Great Escape, inclusive se este Mercy Fall não fosse indicado pelo Kelsei agora, possivelmente a minha escolha de 2010 também seria o Seventh Wonder. Cheguei a esta banda após saber que o vocalista escolhido para substituir o grande Roy Khan no Kamelot era um sueco chamado Tommy Karevik e então a curiosidade de conhecer seus trabalhos anteriores acabou falando alto. Ainda bem!! Posso dizer com toda a certeza que Mercy Falls não é só (de longe) a melhor indicação deste ano, mas sim um dos melhores discos da década! Um trabalho que prima pelo bom gosto do início ao fim, lindo, lindo, uma verdadeira obra de arte conceitual que conta uma história meio trágica, mas que musicalmente é simplesmente perfeito! Penso que o estilo adotado pelo Seventh Wonder segue uma linha entre o Evergrey, o Elegy, um pouco de Power Quest e o próprio Kamelot, porém com melodias vocais bem Hard/AOR que em alguns momentos me lembram os primeiros discos do grupo britânico Ten. É difícil destacar alguma música, pois estão todas muito niveladas e se tivesse que citar só algumas acho que Welcome to Mercy Falls, Paradise e Hide and Seek são as minhas preferidas. Não há muito mais o que falar, se você ainda não conhece e acima de tudo gosta dos grupos citados não perca mais tempo, ouça Mercy Falls o mais rápido possível!

Kelsei: Papo reto: esses suecos formam uma banda espetacular! Eu fiquei na dúvida de qual álbum deles eu indicaria e acabei escolhendo o ano de 2008 por eliminação frente minhas indicações de outros anos. Portanto, não se deixe enganar pelo erro cometido em Mercy Falls, quando você ouve duas (sim, duas!) faixas introdutórias para o álbum conceitual proposto (fica aquela sensação de agora vai começar e de repente continua mais historinha), que gira em torno de um acidente que coloca um pai de família em coma. São 15 faixas que beiram 75 minutos de audição, o que vai exigir do seu ouvido uma boa preparação para a chuva de excelentes riffs, fraseados, solos e guerras instrumentais, tudo dentro de um metal progressivo de tirar o chapeu. É né?! Você lembrou do Scenes From A Memory. Eu sei, ele é uma referência no meio e não tem como ele não vir à mente, ainda mais que a banda é sim influênciada pelo Dream Theater (quem não foi?!), mas eu diria que com mais protagonismo de teclado, menos protagonismo na bateria e com bem, mas bem menos matemática. O vocal é o Tommy Kaverik, que fez seu trabalho de estreia no Seventh Wonder com esse álbum e que também foi substituir um tal de Roy Khan em um tal de Kamelot. Preciso realmente falar algo mais!? Ah, preciso sim. A irmã dele, Jenny Karevik, faz um palhinha na acústica One Last Goodbye, e se o álbum tem um outro erro além de duas introduções é não ter aproveitado Jenny em outras faixas, pois é uma voz lindíssima. Agora, bonito mesmo são as linhas de baixo. Que trabalho faz Andreas Blomqvist, que inclusive é o fundador da Seventh Wonder – solos incríveis e lindíssimas frases! Mercy Falls resgata uma musicalidade limpa e rápida que há muito não se ouvia! De longe, um dos melhores álbuns de metal progressivo da década passada. Pode ouvir sem dó!


The Black Keys – Attack & Release

Sugestão de: Eduardo Schmitt
Ouça você também:

Alexandre: Aqui chegamos ao momento mais insuportável dessa lista de 2008. Um duo que consiste em um guitarrista com a sonoridade 90% equivocada, cheio de vibrato curto e fuzz e um baterista medíocre cujo uso dos pratos é inadmissível. O estilo predominante é o hypado indie / alternativo. O som me lembra (talvez motivado pelo péssimo baterista) o White Stripes, banda pela qual eu nutro uma sincera desaprovação. O vocal se situa entre o Jack White (do famigerado White Stripes)  e o Mick Jagger. Isso definitivamente não é um elogio, ressaltemos. E, às vezes, vem aquela tentativa sem muita força de emular um blues de raiz, que deve ter feito remexer todos os blues man do delta do Mississipi em seus caixões, uma vez que essa tênue lembrança remete aos músicos dos anos 50. Essa falta de força para mim é o grande problema do álbum. Se o projeto optasse por ir mais diretamente neste caminho mais tradicional, acredito que seria algo bem mais interessante. Vi a banda ao vivo (a dupla, na verdade, com vários convidados para compor o som) e percebi que o vocal tem uma característica mais próxima desse blues, descaracterizando o som mais modernoso da época. Mesmo o baterista me pareceu mais à vontade. Assim, entendo que a produção atirou para o citado som “hypado” e no meu entender, estragou com timbres e arranjos que muito tenuamente lembram algo mais interessante e voltado às influências que provavelmente os músicos têm como suas referências sonoras. Como se não bastasse, lá pro meio dos intermináveis pouco mais de 37 minutos surge uma flauta no modo Jethro Tull (?????) completamente fora de propósito. Salvam-se levemente os poucos momentos onde o timbre do Hammond domina o centro do arranjo, trazendo um blues mais característico, em especial a faixa de abertura e a de encerramento. Essa, a de encerramento, é a melhor. Isso pelo simples fato que a tortura acaba depois dela.

Eduardo: Este é um trabalho um pouco “fora da caixa” para o meio “minuto hm”. É uma banda de blues/country rock, formada por apenas duas pessoas: um guitarrista/vocalista e um baterista. O presente álbum começou com um pedido para que os músicos escrevessem músicas para um projeto do Ike Turner, e que acabou sendo carregada para esta bolacha. A maioria das composições tem um andamento arrastado, que combinam bem com a guitarra sem distorção, dedilhada e com bottleneck, muito bem tocada. Também se destaca as adições de partes de harmônica e teclados. No entanto, em algumas músicas, os vocais distorcidos, atrapalham em muito a experiência. Ou seja, a banda faz um som interessante, inovador, mas com um forte pé na tradição blues-country-rock e que poderia se beneficiar intensamente da adição de um vocalista de verdade.

José Paulo: O disco inteiro posso definir em apenas uma frase: definitivamente não gosto nem um pouco desse tipo de som!!! O disco já começou judiando de mim, a faixa de abertura All You Ever Wanted é uma das músicas mais chatas que tive que ouvir (inteira) nos últimos meses. Pelo que li, The Black Keys é uma dupla que faz um Indie Rock e eu não entendo nada disso. Como absolutamente leigo no assunto, penso que eles tentam fazer de tudo para que o som com fortes influências de grupos dos anos 60 soe moderno. Lies, Same Old Thing e Things Ain’t Like They Used to Be foram torturantes. Pode até ser que esse Attack & Release seja um bom disco para a grande maioria que aprecia música, mas definitivamente não é pra mim!

Kelsei: zzzzzzzzzzzz … zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz … zzzzzzzzzzzzzzzzzzzz … zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz …. zzzzzzzzzzzz … rrrrrrrooooonnccccc zzz roooooooooooooooooooooonnnnc … zzzzzzzzzzzz … errrrrrr … zzzzzzzzzzzzzzzz … zzzzzzzzz .. err, ahhh, oi?! Oi! Desculpa gente, eu peguei no sono… também, pudera, o único momento mais criativo desse álbum é uma introdução de guitarra com flauta (peruana?!) na faixa Same Old Thing. O resto é uma tentativa de resgatar o que o Jefferson Airplane fazia lá na década de sessenta, mas com uma única guitarra, que passeia sob riffs de country-blues e com uma intenção bem mais caipira. Melhor eu voltar a dormir …


Vamos para o ano de 2009, fechando a primeira década! Se você quiser resenhar ou indicar álbuns, deixe nos comentários.

Beijo nas crianças!
Kelsei



Categorias:Artistas, Curiosidades, Discografias, Músicas, Resenhas

1 resposta

  1. Pessoal, novamente agradeço os comentários acima e as discordâncias ( saudáveis ) continuam cada vez mais presentes , o que é muito bom.
    Como indiquei todos os álbuns dessa série há muito tempo, nunca mais vou saber qual indiquei. Eu não sabia, por exemplo, que tinha indicado o Fortress, álbum tão competente quanto controverso.
    No fim das contas, acho que a série tem sido válida para ler comentários como :
    “..Um mundo novo se abriu. Se o álbum é bom? Imperdível! Indicação mais que certeira! Ganhei uma nova banda preferida!”

    Ou também :
    …”E no final cheguei à uma conclusão bastante simples: não conclui nada…”

    Ambos os comentários são do mesmo álbum. E sabem o que eu acho disso ? Sensacional….

    Que venha 2022 , ou melhor que venha 2009 !

    Alexandre

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